No Vietnã muitos consideram que as armas estadunidenses ajudarão a aumentar a capacidade de defesa do país perante o crescente poderio militar da China e sua atuação no mar da China Meridional. Mas o preço que o país irá pagar pelo fornecimento dessas armas poderá ser muito elevado, considera o catedrático de história dos países do Extremo Oriente da Universidade Estatal de São Petersburgo Vladimir Kolotov:
“Se nos referimos a armas de alta precisão, estas têm chips incorporados capazes de receber comandos à distância. O uso desse armamento cria o risco de envolvimento do país em um conflito militar grave, porque um míssil pode ser lançado por tipo de armas do outro lado do oceano contra o lado que interesse ao fornecedor dessa arma. Além disso, ao fornecer armas ao Vietnã, os EUA irão aumentar sua presença no país e criarão terreno fértil para uma “revolução colorida” e para a derrubada de um sistema vigente desfavorável a Washington. Os resultados disso podem ser observados na Geórgia, na Líbia, na Síria e agora também na Ucrânia.
Aumentando o nível de equipamentos do exército e da marinha vietnamita, os EUA irão provocar o Vietnã a se opor militarmente ao seu principal adversário geopolítico – a China. Para os EUA o Vietnã é um território onde a China poderá se enterrar por muito tempo. Se recordarmos a expressão “língua de boi”, com que os vietnamitas batizaram a fronteira declarada unilateralmente pelos chineses como sendo seu território no Mar da China Meridional, podemos dizer que, ao vender suas armas ao Vietnã, os EUA irão tentar obrigar o “boi chinês fincar os cornos” no Vietnã, ficando aí atolado. Quais poderão ser os resultados disso, podemos observar mais uma vez nos muitos exemplos de um passado recente. Um deles é o Iraque. Saddam Hussein, que esteve em guerra com o Irã durante 10 anos, em nome dos interesses dos EUA, nem salvou a si mesmo, nem salvou seu país.”
Nesta situação é útil recordar a própria história do Vietnã, refere o professor Kolotov. Nguyen Phuc Anh, o fundador da dinastia Nguyen, durante sua guerra contra a dinastia Tay Son fez um acordo com os franceses, adquiriu-lhes armas, e simultaneamente fez concessões em questões como a liberdade de religião, plantando assim uma bomba-relógio no Estado por ele criado, o qual sucumbiu precisamente às mãos dos franceses.
As tecnologias para derrubar regimes indesejáveis, entretanto, evoluíram muito. O levantamento do embargo será condicionado por concessões em matéria de direitos humanos, de liberdade religiosa, de democratização e outras. No passado a elite vietnamita não percebeu os perigos do colonialismo, tendo preferido viver num mundo de ilusões. Ao tomar neste momento decisões administrativas fundamentais, é importante recordar as lições da história de seu próprio país e dos outros.
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