Foto: RIA Novosti/Andrei Stenin
Na noite de quinta para sexta-feira o presidente russo Vladimir Putin fez um apelo às milícias da Novorossiya: abrir um corredor humanitário para os militares ucranianos cercados poderem abandonar as zonas de combate.
“Eu apelo às forças milicianas que abram um corredor humanitário para os militares ucranianos cercados de forma a evitar vítimas inúteis, oferecer-lhes a possibilidade de abandonarem livremente a zona de combates, se reunirem às suas famílias, devolvê-los às suas mães, esposas e filhos e prestar cuidados médicos urgentes aos feridos resultantes dos combates”, refere a declaração.
“É evidente que as milícias alcançaram êxitos importantes no impedimento da operação militar de Kiev que constituía um perigo mortal para a população da bacia do Don e que já resultou em inúmeras vítimas civis. Em resultado das ações das milícias foi cercada uma grande quantidade de militares ucranianos que participam na operação militar, não de livre vontade, mas apenas cumprindo ordens.”
Tendo apelado à misericórdia, Vladimir Putin sublinhou que o lado russo, por seu turno, está disposto e irá prestar ajuda humanitária à população da bacia do Don que sofre uma situação de catástrofe humanitária.
Os milicianos responderam a esse apelo bastante depressa. O premiê da autoproclamada República Popular de Donetsk Alexander Zakharchenko anunciou a disponibilidade de criar um corredor humanitário para as unidades ucranianas cercadas, mas com a condição de estas entregarem o armamento pesado e munições. Entretanto, Zakharchenko sublinhou o caráter punitivo da operação realizada pelos militares ucranianos no leste do país:
“Todos estes meses a camarilha de Kiev utiliza contra os distritos de Donetsk e de Lugansk a tática de “terra queimada”, destrói instalações de fornecimento de gás, água e energia elétrica, as infraestruturas sociais e tenta semear o pânico e o medo entre a população civil. Mas eles não o conseguem.
“Nós nos preparamos durante muito tempo. Nós juntamos forças e finalmente contra-atacamos. Nós iremos continuar nossas operações de combate até que o último invasor abandone o nosso território.
“Para nós estas não são apenas operações militares. Para nós isto é uma luta pela sobrevivência. Para nós isto é uma operação militar humanitária. Um de seus objetivos principais é afastar o inimigo das nossas grandes cidades, impedi-lo de realizar bombardeamentos com artilharia e mísseis. Eles atacam-nos com tudo o que têm, indiscriminadamente. Eles não se importam com quem matam: sejam civis, velhos e mulheres, ou sejam militares. Nós iremos explicar que isso não se faz. Eu espero que eles compreendam muito rapidamente.”
É sintomático que a reação de Kiev à iniciativa de paz de Vladimir Putin se tenha limitado a acusações de ligação dos milicianos a Moscou. Entretanto, Kiev não apresentou, tal como anteriormente, quaisquer provas, se tendo limitado a fazer alegações.
Tudo indica que isso se deve à confusão provocada pela dificílima situação em que se viu o exército ucraniano no leste do país. Nos últimos dias ocorreu uma ofensiva fracassada dos militares ucranianos, operação que se tinha iniciado ainda na primeira metade de julho e que tinha como objetivo separar as repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk da fronteira com a Rússia, bloqueando seguidamente ambas as capitais e fragmentando as repúblicas em bolsas de resistência dispersas.
Subestimar o adversário resultou em cerco. As unidades ucranianas cercadas cessaram a resistência organizada e começaram a se render, inclusive passando para o território da Rússia.
Na opinião dos peritos, a razão principal para os fracassos poderá ser considerada a degradação sistêmica das forças armadas ucranianas e a grave carência de infantaria treinada e suficientemente motivada à disposição do comando militar ucraniano. Nesse contexto Kiev anunciou a terceira vaga de mobilização e começou preparando a quarta.
Surgiram rumores sobre o envio para a zona de combates de unidades sem o perfil adequado, incluindo forças especiais da Marinha e destacamentos mistos de marinheiros e policiais. Está planejado o envio para a zona de combate de veículos blindados de terceira e quarta categoria de armazenamento e que foram fabricados nos anos 60-70.
As tropas ucranianas se concentraram em bombardear com artilharia e mísseis as cidades controladas pelas milícias, tendo de fato adotado uma tática de terrorismo, refere o vice-diretor do Instituto de Estudos Estratégicos, Mikhail Smolin:
“No contexto de um conflito como o que ocorre neste momento no leste da Ucrânia, a única esperança das autoridades ucranianas é envolver neste conflito os europeus ou, ainda melhor, os norte-americanos. Kiev quer transferir todo o peso da luta contra os rebeldes para as tropas da OTAN e o financiamento desse projeto para a União Europeia. Eu penso que isso resulta da anormalidade do Estado ucraniano, que se revela incapaz de responder aos desafios que lhe são apresentados pela História.”
Contudo, é em vão que Kiev deposita suas esperanças nos EUA. O presidente norte-americano Barack Obama excluiu mais uma vez uma intervenção militar dos EUA na resolução da crise ucraniana. Isso é totalmente compreensível: Obama não é louco. Assim, em Kiev terão de resolver o problema sozinhos, uma situação com que eles claramente não contavam.
Nesta situação, o mais racional seria cessar a operação, retirar as tropas e sentarem-se à mesa das negociações com as milícias. Tanto mais que a Rússia, que presta ao Sudeste da Ucrânia apoio moral, não está evidentemente interessada numa escalada da tensão na região e quer que o conflito seja resolvido pela via pacífica diplomática, e não através das armas e da morte de pessoas.
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