Passam hoje 25 anos depois que a Sede do Distrito de Manjacaze, na província de Gaza, foi vitima do mais sangrento ataque perpetrado pelos Bandidos Armados, naquele que terá sido o ano mais violent...
o da Guerra Civil ou, se quisermos, da Guerra de Desestabilização em Moçambique.
Era 2ª feira, 10 de Agosto de 1987, quando pela madrugada, eu e a minha família acordamos ao som de apitos e de balas de diferentes tipos de armas, disparadas contra pessoas indefesas.
Desse ataque, entre as mais de 300 pessoas que foram indiscriminadamente mortas, uma delas havia passado a noite anterior ao meu lado, na mesma esteira, lado-a-lado, qual corpo-a-corpo de meninos de idades compreendidas entre os 10 e 12 anos.
Quando o ataque começou, fomos acordados por um estrondoso som de uma arma disparada exactamente a frente da nossa casa, no pátio dos Caminhos de Ferro de Moçambique, no local onde na tarde do dia anterior havíamos jogado futebol.
Acordamos assustados, naturalmente, mas também desnorteados porque não sabíamos o que devíamos fazer.
Meu pai, que fora militar do exército colonial, tentou nos orientar a sair de casa, mas debalde.
Nessa saída, os meus irmãos, Ana Maria e André Francisco, caíram nas mãos dos bandidos.
Eu e outro meu irmão, José Bernardino, tomamos nosso rumo, meus pais, Isidro Massavane e Ana Dimande, acompanhados pelo mais novo da família, Salvador Joaquim, tomaram outro rumo na busca do escapamento.
Todos escapamos com vida, mas dentre os presos, Ana Maria conseguiu escapulir-se, não acontecendo o mesmo com André Francisco.
Depois de terem andado com ele pela Vila de um lado para o outro, enquanto matavam, saqueavam e sabotavam tudo o que encontravam pela frente, e como de alguns anos vinha sofrendo de perturbações de ordem emocional, para não lhes dar trabalho, mataram o meu irmão.
Mataram-lhe a sangue frio.
Eu era miúdo, de 10 anos, e por isso, meus pais não me deixaram ver o corpo do meu irmão, mas os mais velhos disseram que cortaram-lhe a garganta com uma baioneta.
Foi a morte mais cruel que alguma vez ouvi falar.
Mataram um adolescente que sonhava ser jogador de futebol, ser piloto de aviões e ser um homem útil a família e a sociedade.
Hoje escrevo esta carta com as lágrimas nos olhos, com o coração partido de saudades do meu irmão, mas também com a coragem de querer gritar bem alto em homenagem a ele e outros massacrados há 25 anos.
Escrevo para aqueles anónimos que foram sepultados em Valas Comuns.
A todos vocês, gente de Manjacaze, as minhas saudades e reconhecimento pelo sacrifício feito as vossas vidas.
Foram vítimas de uma guerra que mal vos justificaram porque houve.
Wherever you’re, valeu Chico.
Era 2ª feira, 10 de Agosto de 1987, quando pela madrugada, eu e a minha família acordamos ao som de apitos e de balas de diferentes tipos de armas, disparadas contra pessoas indefesas.
Desse ataque, entre as mais de 300 pessoas que foram indiscriminadamente mortas, uma delas havia passado a noite anterior ao meu lado, na mesma esteira, lado-a-lado, qual corpo-a-corpo de meninos de idades compreendidas entre os 10 e 12 anos.
Quando o ataque começou, fomos acordados por um estrondoso som de uma arma disparada exactamente a frente da nossa casa, no pátio dos Caminhos de Ferro de Moçambique, no local onde na tarde do dia anterior havíamos jogado futebol.
Acordamos assustados, naturalmente, mas também desnorteados porque não sabíamos o que devíamos fazer.
Meu pai, que fora militar do exército colonial, tentou nos orientar a sair de casa, mas debalde.
Nessa saída, os meus irmãos, Ana Maria e André Francisco, caíram nas mãos dos bandidos.
Eu e outro meu irmão, José Bernardino, tomamos nosso rumo, meus pais, Isidro Massavane e Ana Dimande, acompanhados pelo mais novo da família, Salvador Joaquim, tomaram outro rumo na busca do escapamento.
Todos escapamos com vida, mas dentre os presos, Ana Maria conseguiu escapulir-se, não acontecendo o mesmo com André Francisco.
Depois de terem andado com ele pela Vila de um lado para o outro, enquanto matavam, saqueavam e sabotavam tudo o que encontravam pela frente, e como de alguns anos vinha sofrendo de perturbações de ordem emocional, para não lhes dar trabalho, mataram o meu irmão.
Mataram-lhe a sangue frio.
Eu era miúdo, de 10 anos, e por isso, meus pais não me deixaram ver o corpo do meu irmão, mas os mais velhos disseram que cortaram-lhe a garganta com uma baioneta.
Foi a morte mais cruel que alguma vez ouvi falar.
Mataram um adolescente que sonhava ser jogador de futebol, ser piloto de aviões e ser um homem útil a família e a sociedade.
Hoje escrevo esta carta com as lágrimas nos olhos, com o coração partido de saudades do meu irmão, mas também com a coragem de querer gritar bem alto em homenagem a ele e outros massacrados há 25 anos.
Escrevo para aqueles anónimos que foram sepultados em Valas Comuns.
A todos vocês, gente de Manjacaze, as minhas saudades e reconhecimento pelo sacrifício feito as vossas vidas.
Foram vítimas de uma guerra que mal vos justificaram porque houve.
Wherever you’re, valeu Chico.
— with Luis Nhachote and 9 others.
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