*Cipriano Mutota: a hilariante estória de um “caloteiro” também “calotado”*
Uma das estórias mais engraçadas e penosas do processo da contratação da dívida pública é a de Cipriano Mutota, então Director do Gabinete de Estudos e Projectos do SISE.
Mutota foi qiem recebeu em primeira mão a proposta do Projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva de Moçambique, trazida pelo representante da Abu Dhabi Mar LLC, do Grupo Privinvest, na África do Sul, Batsetsane Thlokoane, através de Teófilo Nhangumele.
Diferentemente do trio Ndambi Guebuza, Teófilo Nhangumele e Bruno Tandane Langa, que encaixou 50 milhões de USD depois de terem conseguido o GO AHEAD do antigo estadista moçambicano Armando Emílio Guebuza, para que o negócio fosse avante, Mutota não teve a mesma sorte.
O trio passou-lhe a perna.
Na linguagem de rua, deram-lhe uma cabeçada.
De acordo com a acusação, depois de o trio ter recebido as GALINHAS de Privinvest, seus integrantes não informaram Mutota, que tinha a expectativa de receber sua quota-parte da galinhada.
Mutota confiava em Nhangumele, de quem era amigo e antigo colega da faculdade, no ISRI.
Foi através de uma conversa com Ângela Leão, esposa de Gregório Leão, na altura Director do SISE, que Cipriano Mutota ficou a saber que a Privinvest afinal já tinha desembolsado as galinhas.
Depois de saber essa informação, Mutota interpelou Teófilo Nhangumele.
E A MINHA PARTE? Perguntou ele...
Nhangumele respondeu que nada sabia do assunto, porque o dinheiro que ele tinha recebido (8,5 milhões de USD) era seu.
A atitude de Nhangumele contrariava o compromisso que tinha sido assumido num encontro com Jean Boustany, de o dinheiro ser distribuído por todos od membros da equipa que abriu o decisivo caminho para a entrada da Privinvest em Moçambique.
A resposta dada pelo Teófilo Nhangumele à questão apresentada por Cipriano Mutota era a confirmação cruel de um golpe dado ao homem (Mutota) que recebeu a Privinvest em Moçambique.
Perante o cenário, e conforme reza a acusação, Mutota não engoliu a estória e telefonou para Jean Boustany, exigindo explicações sobre porquê tinha sido excluído da divisão do bolo.
O libanês limitou-se a dizer que Mutota devia abordar à Nhangumele, uma vez que este tinha recebido um valor com a recomendação de entregar parte a Cipriano Mutota.
O Ministério Público revela que na conversa entre Mutota e Boustany, este último disse que Ndambi e Tandane também tinham recebido o montante acordado.
Mutota voltou a contactar Nhangumele, e também Tandane, mas estes recusaram-se a partilhar o dinheiro com aquele oficial do SISE, aconselhando-o a ir ter com Ndambi, dado que o filho do primogénito de Armando Emílio Guebuza tinha recebido fatia de leão.
Mas o primogénito de Armando Emílio Guebuza também declinou satisfazer a exigência dz Cipriano Mutota.
Como Mutota insistisse em receber a parte que lhe cabia, Tandane propôs que cada um dos três tirasse 500 mil USD para entregarem ao comparsa revoltado.
Mas ninguém acolheu a proposta.
Desolado, Cipriano Mutota viajou até Pretória (África do Sul), onde identificou uma casa avaliada em 2.795.000,00 Randes.
Na tentativa de não ficar de mãos a abanar, Mutota enviou a Privinvest uma proposta de pagamento, que não pegou.
Mas depois de muita insistência, Boustany instruiu Cipriano Mutota no sentido de identificar uma pessoa a quem o libanês pudesse enviar o dinheiro.
A condição era que o receptor do valor repassasse a Mutota sem dar nas vistas.
Mutota contactou dois amigos seus, Chris Bruno Austin e Russel Edmunds, a quem pediu que recebessem o valor da Privinvest.
Austin e Edmunds não só anuiram ao pedido como demostraram a sua honestidade.
Os 656.417,88 de USD que Chris Austin recebeu da Privinvest foram parar às mãos de Cipriano Mutota.
O dinheiro enviado (igualmente pela Privinvest) para a conta de Russel Edmunds na Inglaterra foi convertido pelo seu receptor em sete camiões adquiridos ao preço de 105 mil Euros cada.
Deste modo, a acusação refere que Mutota recebeu da Privinvest 980 mil USD, um valor muito abaixo do que o arguido esperava.
Para justificar a recepção do valor transferido por Austin, Mutota enviou um email ao seu banco alegando o dinheiro provinha da venda de uma participação sua na empresa ESV GROUP, PLC, em Londres, o que não constituía verdade, porque as acções em causa, nunca estiveram a venda.
Quanto aos setes camiões, a acusação diz que Cipriano Mutota vendeu dz imediato três deles, ficando com quatro para transporte de carga.
Os veículos eram parqueados no Instituto Nacional de Gestão de Calamidades.
Posteriormente, Mutota desistiu do negócio, vendendo os quatro camiões.
Esta é a pequena história de um homem BURLADO num embuste que ele ajudou a montar.
Mutota é acusado de crimes de abuso de confiança, branqueamento de capitais, corrupção passiva para acto ilícito e associação para delinquir...
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