terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

George Pell: o cardeal que fazia "guerra ao sexo" enquanto abusava de crianças


O tesoureiro do Vaticano foi suspenso pelo Papa Francisco e impedido de “estar em contacto, de qualquer maneira, com menores”. Ao longo de 30 anos, foram várias as posições conservadoras que tomou.
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O cardeal Pell numa missa para assinalar o Dia Mundial da Juventude, em 2008, em Sidney, Austrália DANIEL MUNOZ/REUTERS
É o número três do Vaticano e tornou-se, na noite desta segunda-feira, no clérigo católico mais importante do mundo a ser condenado por crimes sexuais contra menores. George Pell, tesoureiro do Vaticano e ex-conselheiro do Papa Francisco, foi considerado culpado de cinco crimes sexuais contra crianças, cometidos há mais de 20 anos, quando era arcebispo da sacristia da Catedral de São Patrício, em Melbourne – numa altura em que os dois rapazes faziam parte do coro da igreja e tinham cerca de 13 anos de idade.
O clérigo negou sempre todas as acusações. Neste momento, o cardeal está suspenso pelo Papa Francisco e impedido de “estar em contacto, de qualquer maneira, com menores”. 
Apesar dos crimes que cometeu, o cardeal apresentou, ao longo dos anos, uma postura conservadora e inflexível em questões relacionadas com o sexo – como a homossexualidade e a contracepção, opondo-se-lhes completamente. Num artigo de opinião, o jornalista David Marr, do Guardian Australia, chamou-lhe “brutal” e “dogmático”: “George Pell fez uma guerra ao sexo – mesmo quando abusava de crianças”.
Também se apresentava contra a ordenação de mulheres para o sacerdócio, era contra o divórcio e o aborto – que classificou, em 2002, como “um escândalo moral maior” do que os abusos a jovens. São estas as frases que o colocaram sob os holofotes mediáticos nos últimos 30 anos.

Abusos sexuais

Em 2013, admitiu que a resposta da Igreja Católica aos escândalos de abuso sexual nos anos 70 foi “imperfeita”, mas só nessa década “começaram a aparecer artigos sobre o significado e importância dos crimes de pedofilia”, e afirmou que o celibato podia ser “um factor” nestes casos de abuso. “80% dos casos de abuso são com rapazes. Por isso, está obviamente ligado ao problema da homossexualidade… Temos de ver que [a homossexualidade] não é tolerada entre os clérigos e outras ordens religiosas”.
“Se o condutor de um camião der boleia a uma senhora e depois a molestar, não acho apropriado (...) a liderança da empresa ser responsabilizada.” Esta foi uma das frases mais recordadas do cardeal, proferida durante a investigação da Comissão Real australiana em 2014, acerca da responsabilidade da Igreja nos casos de abuso sexual.

Homossexualidade

“A homossexualidade – sabemos que existe”, afirmou em 1990. “Acreditamos que essa actividade está errada e acreditamos que, pelo bem da sociedade, não deve ser encorajada”.
“Não é questão de recusar homossexuais ou alguém que seja orientado para a homossexualidade”, disse, em 2002, depois de se ter recusado a dar comunhão no domingo de Pentecostes, a 19 de Maio de 2002, a activistas dos direitos LGBT+. “Uma pessoa que publicamente se define como apoiante ou praticante de actividades contrárias às doutrinas da Igreja num assunto tão grave não merece receber a comunhão sagrada.”
“Não tenho estatísticas para as razões desses suicídios. Se estão ligados à homossexualidade, é mais uma razão para desencorajar as pessoas que querem ir nessa direcção. A actividade homossexual é um risco maior para a saúde do que fumar”, disse, mostrando-se contra uma manifestação em memória de estudantes católicos homossexuais que se suicidaram. 

Aborto, contracepção e reprodução

O aborto é um escândalo moral maior do que os padres a abusarem sexualmente de jovens”, disse, em 2002.
Em 2007, Pell entrou em rota de colisão com os políticos do estado da Nova Gales do Sul (Austrália) devido a um projecto de lei que legalizaria a investigação sobre células estaminais no estado. Descreveu a lei como “uma nova direcção perversa na experimentação humana”. “Não acho que nenhum político católico, nenhum político cristão ou nenhum político pró-vida que tenha informado devidamente a sua consciência deva votar a favor desta alteração."
[Os preservativos] encorajam a promiscuidade porque encorajam a irresponsabilidade”, disse em 2009 sobre o uso de preservativos para conter o surto de VIH/sida em África. “A ideia de que se consegue resolver uma enorme crise espiritual e de saúde como a sida com contracepção mecânica como os preservativos é ridícula.”

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