O autoproclamado Presidente invoca a Constituição venezuelana para um possível pedido de intervenção de militares estrangeiros, dizendo no Facebook que todas as opções estão abertas.
Juan Guaidó admite não descartar uma possível intervenção militar de países estrangeiros na Venezuela, diz a Folha de São Paulo. O líder da principal fação opositora do regime de Nicolás Maduro pode não ter, por enquanto, o apoio de grande parte dos militares venezuelanos, mas, diz Guaidó, tem o suporte abonatório da Constituição do país para pedir uma intervenção militar externa.
No passado sábado, Guaidó tinha escrito na rede social Facebook que os confrontos nas fronteiras da Venezuela o obrigavam a tomar uma decisão e pensar em alternativas: “Devemos sugerir à comunidade internacional de maneira formal que devemos ter abertas todas as opções para conseguir a libertação desta pátria que luta e que continuará a lutar”, disse o líder da oposição.
Em entrevista pelo telefone ao jornal brasileiro, Guaidó confirmou depois aquilo que se podia prever nas entrelinhas do seu post: está aberto a pedir uma possível intervenção militar estrangeira. “Foi mesmo isso que eu quis dizer. Temos de considerar todas as opções”, disse o líder da oposição a Maduro, acrescentando ainda que “a Constituição venezuelana dá o direito à Assembleia Nacional de solicitar apoio internacional. Não é aquilo que estamos à procura em primeira instância, mas é uma possibilidade que, responsavelmente, não podemos descartar”.
Juan Guaidó encontra-se agora em Bogotá, capital da Colômbia, para reunir esta segunda-feira com o Grupo de Lima, grupo de 12 países sul-americanos criado em 2017 para resolver e tomar medidas quanto à situação da Venezuela.
Venezuela. Grupo de Lima reúne-se esta segunda-feira para avaliar medidas contra o regime
Juan Guaidó tem encontro marcado com o vice-presidente dos EUA enquanto o secretário de Estado norte-americano admite "todas as opções". Já Portugal, alinhado com a UE, recusa intervenção externa.
O Grupo de Lima reúne-se esta segunda-feira, em Bogotá, para discutir a crise na Venezuela, num encontro que contará com o líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, que se reunirá também com o vice-presidente norte-americano, Mike Pence.
Portugal participa na reunião do Grupo de Lima como observador, sendo representado pela embaixadora em Bogotá, Gabriela Soares de Albergaria, disse à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
O Grupo de Lima é formado pelos chefes da diplomacia da Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia.
A reunião realiza-se após um fim de semana de violência nas fronteiras da Venezuela com a Colômbia e o Brasil, com um saldo de pelo menos quatro mortos e centenas de feridos, quando a oposição ao regime do Presidente de facto venezuelano, Nicolás Maduro, tentou fazer entrar no país ajuda humanitária.
Maduro justifica a recusa da ajuda humanitária por considerar que se trata de uma ação de propaganda política da oposição e um primeiro passo para uma invasão estrangeira.
No rescaldo da violência, Juan Guaidó anunciou que irá pedir formalmente à comunidade internacional que mantenha “abertas todas as opções para conseguir a libertação” da Venezuela.
Também o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, afirmou que “todas as opções estão sobre a mesa” para “garantir que a democracia prevalece” na Venezuela e avisou que Washington “vai tomar medidas” após os distúrbios no sábado.
Em reação, o ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano, Jorge Arreaza, disse que Mike Pompeo está “desesperado” em busca de um “pretexto para a guerra”. Portugal e Espanha disseram no domingo, pelos respetivos chefes da diplomacia, que se opõem a uma intervenção militar na Venezuela.
“Para nós, a solução política de que a Venezuela carece não se obtém através de uma intervenção externa. Essa intervenção só agravaria ainda mais o problema. Há países que têm dito que todas as soluções estão em cima da mesa. Não é essa a posição da União Europeia. Nós achamos que a solução por via de uma confrontação interna não é solução, e a solução por via de uma solução externa também não é solução”, declarou o ministro português Augusto Santos Silva à Lusa.
O Presidente da Colômbia, Iván Duque, que esteve com Juan Guaidó na fronteira com a Venezuela, disse que o Grupo de Lima deverá apertar o cerco diplomático ao regime de Caracas, sem se deixar levar por “discursos belicistas”. O cerco diplomático, disse Duque, permitiu que “um grupo muito importante de países já reconheçam Juan Guaidó”.
O presidente do parlamento da Venezuela, Juan Guaidó, autoproclamou-se Presidente da República interino há um mês, com a promessa de convocar eleições, e reuniu o apoio de meia centena de países, incluindo de Portugal e da maioria dos Estados-membros da União Europeia.
MNE. Solução para Venezuela passa por pressão internacional e não intervenção militar
O ministro dos Negócios Estrangeiros português segue na mesma linha. Augusto Santos Silva defendeu esta segunda-feira que a solução política para a Venezuela passa pela pressão política e diplomática internacional e não por confrontação interna, nem por uma intervenção militar externa.
Para nós, a solução política de que a Venezuela carece não se obtém através de uma intervenção [militar] externa. Essa intervenção só agravaria ainda mais o problema. Há países que têm dito que todas as soluções estão em cima da mesa. Não é essa a posição da União Europeia. Nós achamos que a solução por via de uma confrontação interna não é solução, e a solução por via de uma solução externa também não é solução”, vincou Augusto Santos Silva, em declarações à agência Lusa
Para o MNE português, o caminho passa pela pressão internacional a vários níveis, nomeadamente através da União europeia (UE).
“Manter e intensificar a pressão político diplomática que vimos exercendo, e ao mesmo tempo trabalhar no sentido de se poder favorecer uma solução. Nós temos um grupo de contacto internacional constituído, que reúne oito países europeus, a própria União Europeia e quatro países latino-americanos”, indicou o governante.