Hoje deveria ser um dia de festa à moçambicana. Festa, sim. Os restos mortais de Afonso Dhlakama vão, finalmente, jazerem no cemitério familiar em Mangunde, Chibabava. E este momento ímpar devia ser acompanhado com cânticos. Hossanas. Este momento jamais se irá repetir. Pouco-se-nos importa, nós, moçambicanos de verdade, que o governo haja dado ou não tolerância de ponto para a cidade da Beira, na quarta-feira. O que nos interessa é esta última vénia ao líder.
Pouco se-nos-importa se vai ou não à cripta reservada aos Heróis Moçambicanos. Dhlakama, provavelmente, é mais herói se comparado com muitos os que ali estão à coberto da História oficiosa. O povo conhece os seus heróis. E se de alguma forma ao Dhlakama roubou-se-lhe a justeza, a História encarregar-se-á pela correcção. Adeus não se diz ao homem do povo. Jamais deixará de viver entre nós, em cada um de nós. Ele tem um lugar especial no coração do povo. E não pediu. Merece. Conquistou. Não ludibriou a ninguém.
Dhlakama não era apegado a bens materiais, como alguns bem conhecidos que até roubam ao povo. Dhlakama abandonou casa, família e tantas outras benesses que lhe quiseram oferecer para lhe tapar a boca. Foi às matas, lutar por ti e por mim, compatriota, para que tivéssemos um país melhor, longe da corrupção, da ganância doentia dos que nos governam.
Se ele nos ensinou uma coisa valiosa, é que a vida pode ser melhor se reivindicarmos os nossos direitos. Não podemos calar. Nenhum governo tem força para amordaçar o povo. Nenhum arsenal governamental pode acabar com o povo. Por isso, nada de medo. Nada de cobardia. Eles podem calar um ou dois moçambicanos. Ao povo é que não.
E pode ser que alguns moçambicanos não hajam percebido. Mas ficam, também, engrandecidos. Testemunharam a presença nesta terra de um verdadeiro herói. Não esses que vos foram impingidos e que têm barrigas avantajadas por mamarem dos cofres do Estado.
Povo moçambicano: um dia tu te recordarás deste homem. Falarás dele com certa nostalgia. Socorrer-te-ás do seu nome sempre que fores espezinhado. Contudo, existe uma forma de mantê-lo vivo. Não apague a chama que ele acendeu.
Obrigado, Dhlakama!
Nini Satar



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