Começou o julgamento do homem acusado de matar os pais e a irmã, na Madeira. 18 testemunhas foram ouvidas. "Limpou a espingarda que estava na garagem” e usou munições que estavam "no quarto do pai”.
O suspeito de ter matado os pais e a irmã a tiro enquanto dormiam, em agosto do ano passado, ficou em silêncio no julgamento que começou esta quarta-feira no tribunal de Instância Central da Comarca da Madeira. O homem, de 51 anos, avisou que vai depor “mais tarde”, sobre o triplo homicídio qualificado de que está acusado.
O irmão encontrou o pai com um tiro “no olho direito”, a mãe baleada no “meio da testa” e a irmã atingida “no pescoço”. O suspeito ficou em silêncio mas ele — uma das 18 testemunhas arroladas no processo — relatou o que viu quando chegou a casa na noite de 12 de agosto de 2017, ao coletivo presidido pelo juiz Filipe Câmara e coadjuvado pelas juizas Teresa Miranda e Carla Menezes. Quer o irmão do arguido, quer o sobrinho concordaram falar em tribunal mas sem que o acusado estivesse presente na sala de audiências.
Todos os negócios que ele teve na vida foram abaixo e ele nunca assumiu a responsabilidade, arranjando sempre um terceiro para culpar”, contou o irmão.
Foi assim que tentou justificar o facto de o irmão, que se encontra em prisão preventiva, ter matado com tiros de uma espingarda de dois canos os pais e a irmã. Embora não sejam desconhecidos os motivos do crime, a Polícia Judiciária suspeitou na altura que estivessem relacionados com dinheiro e partilha dos bens da família.
O acusado discutia com a irmã por causa de problemas relacionados com a gestão de um restaurante que o arguido tinha na zona do Algarve. E discutia com os pais pelo facto de “o terem deixado na Madeira”, explicou o irmão. Os pais eram emigrantes em França e a irmã vivia no Algarve para gerir o restaurante do irmão, estando a passar férias na casa que os pais tinham na ilha. Mas discutiam também por causa de dinheiro. As discussões aconteciam sobretudo às horas das refeições.
Foi depois de uma refeição — o jantar da noite de 12 de agosto — que o crime aconteceu. Um dos filhos do casal e um neto foram a um arraial em honra da padroeira da Ilha, numa freguesia no concelho de Santana. A filha e os pais decidiram ficar em casa. O outro filho, agora constituído arguido, combinou encontrar-se com o irmão e com o sobrinho na festa depois de acabar um videojogo de póquer. Mas não chegou a ir. Ficou em casa à espera que os pais e a irmã fossem dormir.
O arguido seguiu um “plano que previamente elaborou” e “agiu de forma premeditada para tirar a vida aos pais e à irmã”, entende a acusação a que a agência Lusa teve acesso. “Limpou a espingarda que estava guardada na garagem” e usou as “munições” que estavam “no quarto do pai”.
Quanto os familiares foram dormir, o agora arguido deu início ao plano. Entrou no quarto da irmã, de 52 anos, e atingiu-a “a curta distância”. Depois, entrou no quarto dos pais e baleou a mãe, de 73 anos, na cara. O pai, de 78, acordou e tentou levantar-se mas o filho acabou por o atingir também na cara. Foi o sobrinho, filho da irmã, que encontrou os familiares mortos e alertou as autoridades.
O suspeito foi detido horas mais tarde num bar onde se encontrava. A mãe e a irmã tiveram morte imediato. O pai chegou a ser levado para o Hospital do Funchal mas acabou por morrer.
A espingarda de dois canos utilizada no crime não foi encontrada. “Está em parte incerta”, refere a acusação.