quinta-feira, 31 de maio de 2018

A cruzada da oposição após Dhlakama


EDITORIAL
Se, até há um par de dias, era compreensível que a Renamo viesse a público argumentar que o debate da sucessão e do futuro da Organização não era uma prioridade, com o corpo do líder ainda quente, começamos agora a entrar para uma fase em que esse debate já não se pode catar nem por sentimentalismos funerários nem por cinismo. A vida deve continuar, e a variedade de perguntas que se levantou logo que a morte do presidente da Renamo foi oficializada começa a reivindicar resposta e com alguma legitimidade.
A forma como a Renamo vai gerir o fim do "mito Afonso Dbiakama vai ser determinante para a sua própria sobrevivência como força políti­ca relevante. A Renamo viveu, desde a sua criação, com uma identidade circunscrita ás habilidades do seu dirigente, num sistema de "one man show", que conciliava dos dons da politica à sua maneira e os dons mihtares, com os quais forçava consensos e respeito com a situação.
Se o general Ossufo Momade reúne essas duas condições numa só pessoa, o tempo vai dizer. Mas, para já, o tempo é o recurso que se apresenta menos disponível para a própria Renamo.
Do nosso ponto de vista, a escolha do general Ossufo Momade, tran­sitória ou não, só tem mento de for a única entidade capaz de garantir articulação entre Maputo e a Serra da Gorongosa. Se for por aí, tudo bem. Mas se Ossufo Momade for para responder a questões de expo­sição como a nova cara da Renamo também na frente politica e inte­lectual, então podemos afirmar com alguma segurança que o processo após Dbiakama começou com um pecado original
Poderá argumentar-se que Ossufo Momade, em termos de percur­so ou carreira politica, tem a bagagem aceitável e o mínimo exigível, respondendo em sua defesa o facto de ter sido secretáho-geral da Or­ganização e com experiência parlamentar, mas falta ao general Ossufo Momade o mais importante para um dirigente politico do século actual: o carisma político e o necessário dom da oratória capaz de trazer uma nova mensagem.
Nisto de uma nova mensagem inchii-se a mudança de paradigma do modus operandí" da Organização, a flexibilidade no raciocínio e um espirito mais aglutinador de ideias que estavam dispersas, abandonando por completo a ciência do sectarismo que o grupo havia adoptado e que foi combustível para o isolamento de muitas boas mentes que um dia apenas quiseram apresentar uma ideia um pouco contrária ao grupo não muito famoso que durante uma década e picos cercou o general .Afonso e usou dessa confiança e privilégio não para fortalecer a organização, mas para se fortalecer a si próprio junto do líder E necessário uma ruptura.
Se isso impbcar uma Direcção bicéfala, em que de um polo surge o candidato e do outro polo surge a Direcção partidária, talvez a Renamo dê um passo para resolver a "questão Ossufo Momade".
Pode-se questionar, por exemplo, por que tarda uma reunião nacional da Renamo para o reencontro da família da "Perdiz", para se estudar a inadiável revitalização da Organização. Fazer depender dos Estatu­tos essa necessidade urgente é concordar em que nada precisa de ser mudado, o que, em si, é uma posição que afasta qualquer possibilidade
de fortalecimento e democratização da Organização, o que, em última instância, é um exercício de recusa de conferir mais relevância à Orga­nização.
Há muita gente com ideias que a Renamo atirou para fora ou, por algum desencontro intelectual as próprias pessoas se afastaram, mas continuaram a acompanhar com interesse a Organização e continuam a acreditar na relevância e validade desse partido. Esta gente tem de ser rhamaHa para o reencontro não para depois ficar em divida psico­lógica de reintegração para com a nova Direcção, mas para contribuir com ideias. Mas isso vai requer da nova Direcção um espanto aberto e um projecto cujo objectivo principal seja a conquista e o exercício do poder, porque, definitivamente, os erros de Afonso Dhlakama devem ser escola para a nova Direcção. A Renamo precisa e com urgência de deixar de se comportar como o garoto estagiário da política, aquele que, quando pensamos que já aprendeu o suficiente para entrar para a políti­ca real, trata ele mesmo de fazer algum disparate, para ser devolvido ao estágio. A Renamo precisa de se encontrar com os objectivos naturais da política
A par de ter a humildade suficiente para ir buscar os seus quadros que atirou para fora, a Renamo deve imediatamente abandonar o sec­tarismo e o ostracismo que, por exemplo, o grupo que cercava Afonso Dhlakama tem para com os outros partidos da oposição, mais concreta­mente com o Movimento de Democrático de Moçambique. Mas isso, é preciso que se diga, é uma síndrome que a Renamo teve durante muito tempo, ter acreditado que o objectivo da sua existência é ser o maior partido da oposição e não mais do que isso.
O momento que hoje atravessamos é crucial É preciso que a Renamo olhe para o MDM como parceiro e não como adversário a eliminar, mesmo que essa acção anacrónica signifique beneficiar o partido Fre-limo. Isso é que não pode voltar a acontecer. As eleições autárquicas estão ai á porta como um grande teste. Há municípios estratégicos onde a oposição só pode ganhar se se coligar: Maputo, Beira, Matola, Nam-puk, Quelimane, Gurué. Sabemos que havia negociações muito avan­çadas entre Afonso Dhlakama e Daviz Simango nesse sentido, mas é preciso que a nova Direcção olhe para isso com alguma seriedade. Mas, se o espírito do sectarismo falar mais alto, então nada feito.
E é preciso que alguém explique ã oposição que, com o novo mo­delo de cabeça-de-hsta e de maioria simples, já não há possibilidade de empate técnico que force uma segunda volta Ganha quem tiver o maior número de votos. E se a Renamo e o MDM quiserem concorrer em separado apenas vão dispersar os votos e beneficiar a Frelimo, em última instância. E há muito que temos estado a alertar que chegou o momento de não haver Renamo nem MDM, mas haver um movimento organizado de moçambicanos verdadeiros patriotas para salvarem este pais desta cruzada de destruição que temos vindo a trilhar Isso ultrapas­sa os egos partidários.
Até onde entendemos, o MDM está disponível. Estará a Renamo dis­ponível para mostrar uma nova perspectiva e defender o que realmente interessa? Os dados estão lançados.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 30.05.2018

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