ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
“Trump é como um cubo de Rubik”
Não se diz chocado com a derrota de Hillary Clinton, não entende Trump, cuja performance promete contestar, e admite que pode concorrer às eleições presidenciais em 2020, caso ainda "consiga andar".
“Tentar perceber este homem é como [resolver] um cubo de Rubik. Não temos a mínima ideia do que ele vai fazer.” Joe Biden estava a referir-se ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e sobre o que este fará na pasta dos Negócios Estrangeiros. Foi no início de dezembro, a bordo do Air Force Two, que Biden conversou com o The New York Times sobre o futuro do país, a performance (incerta) de Donald Trump na Casa Branca e o seu papel antes e após as eleições presidenciais.
Num longo artigo, publicado esta terça-feira, o jornal norte-americano traça mais do que um perfil de Biden e descreve-o como um homem arrependido. Arrependido por, nos últimos meses, ter falado mais vezes da incapacidade de Donald Trump em exercer a função de presidente dos EUA do que no que Hillary Clinton iria fazer na classe média. Arrependido (ou mal resolvido) também de não ter entrado na corrida às eleições presidenciais, da qual acredita que poderia ter saído vencedor.
Na narrativa, que cruza discurso direto com indireto, há também um Joe Biden emocional e, de certa forma, emocionante. O jornalista que assina a peça escreve que já viu Biden chorar e os motivos, esses, são de cariz pessoal. Como daquela vez que o viu derramar lágrimas em Manchester, quando carregou nos braços uma criança com o mesmo nome do filho, Beau, que faleceu em 2015 vítima de cancro de cérebro. A vida de Biden está longe de ser um mar de rosas: um acidente de viação em 1972 tirou-lhe a primeira mulher e uma filha ainda bebé.
Mas é a vida profissional que vem ao de cima, sobretudo quando Biden afirma não estar chocado por Clinton ter perdido: antes da eleição, começou a aperceber-se de que Trump estava a chegar a pessoas com quem Biden tinha crescido na Pensilvânia.
Além de arrependido e emocionado, Biden é ainda descrito como alguém que “claramente odeia o novo presidente” Donald Trump, que toma posse daqui a três dias. Ao contrário do seu antecessor, George W. Bush, Obama não vai deixar de comentar a performance de Trump. Escreve o The New York Times que Biden é capaz de ir mais longe: em 2020, quando tiver 78 anos, diz que vai concorrer à presidência caso “consiga andar”.
Apesar de o jornal afirmar que essa candidatura será pouco provável, uma coisa fica clara: até chegar esse dia, Joe Biden jogar à defesa contra Trump. “Mesmo se o Partido Democrático não me quiser, eu não me vou afastar. Trabalhei nisto a minha vida toda.” Um último traço de Joe Biden? O otimismo presente no discurso, sobretudo quando diz que não faz sentido estar nesta área de trabalho a não ser que sejamos otimistas.