sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

A HISTÓRIA DA PONTE DONA ANA, SOBRE O RIO ZAMBEZE ENTRE SENA E MUTARARA.

Joaquim Constantino

A ponte ferroviária de D. Ana – o nome vem-lhe de uma célebre D. Ana Cativa, arrendatária do grande Prazo de Mutarara, que se estendia pelas margens do Zambeze, Ziuziu e, muito provavelmente, do Chire – foi aberta ao tráfego em 14 de janeiro de 1935. Os seus 3.677 metros de comprimento, distribuídos por trinta e três arcos principais (arcos metálicos triangulados, sobre pilares maciços), com oitenta metros de altura cada, tornaram-na, na época, a maior ponte ferroviária de África e a terceira a nível mundial, sendo sem dúvida ainda hoje uma das peças mais valiosas do património arqueológico industrial moçambicano. A sua existência prende-se com a linha ferroviária ligando Moçambique à Niassalândia (atual República do Malawi), cuja inauguração ocorreu em 1 de julho de 1922, por iniciativa da Trans-Zambezia Railway. Até à construção da ponte, a passagem do Rio Zambeze, entre Sena e D. Ana, fazia-se usando os antigos barcos de rodas que prestavam serviço naquele rio. A ponte começou a ser pensada em junho de 1922, tendo a empresa de engenharia civil Liversey Son & Henderson enviado a Moçambique Seager Berry, já conhecido pelos trabalhos realizados no Porto de Buenos Aires. Instalado num banco de areia, perto de Mutarara, dedicou-se durante cerca de quatro meses ao estudo do rio, tendo fixado a sua opção num local próximo de Sena, no vilarejo de D. Ana. O desenvolvimento do tráfego ferroviário e as dificuldades de transbordo fizeram pensar na necessidade absoluta de construção naquele local da referida ponte. Em 1930, a recém-constituída Nyassaland Railway Ltd. decidiu estabelecer uma ligação direta entre as linhas da Central Africa Railway Co. Ltd. e da Trans-Zambezia, garantindo assim o tráfego ferroviário contínuo entre a Niassalândia e a Beira. A construção iniciar-se-ia do lado de Sena, em janeiro de 1932, tendo sido projetada por G. A. Hobson e construída pela empresa Cleveland Bridge & Engineering Co. Ltd., de Darlington (Inglaterra). O trabalho de construção foi muito difícil, em virtude de não se terem encontrado fundos de rocha no leito do rio (dos trinta e quatro pilares principais, apenas dois são cravados diretamente na rocha, na margem esquerda), tendo-se empregado cerca de 6.000 trabalhadores durante a realização da obra. Durante a década de 1960, as populações pediram como solução de recurso, embora perfeitamente viável, o lançamento de uma passadeira rodoviária na ponte, para evitar onerosas e demoradas travessias de automóveis em cima de vagões. Porém, a inauguração da ponte rodoviária (Ponte Marcelo Caetano/Ponte Samora Machel) ligando a cidade de Tete ao Matundo, em 20 de julho de 1972, veio pôr fim a estas reivindicações. Após a independência, e no decorrer da guerra civil em que viveu o país, viria a ser convertida em ponte rodoviária, situação que se manteve até setembro de 2008, quando se realizaram trabalhos que a reconduziram à sua vocação inicial, no âmbito da reabilitação da Linha de Sena.

(António Sopa)



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53 Luís George Generoso, Joaquim Constantino e 51 outras pessoas
Comentários

Joaquim Constantino 1925. Fim da Linha do comboio em Sena. Não havia ponte ainda.

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Joaquim Constantino 1931. Um dos futuros acessos ferroviários à ponte

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Joaquim Constantino 1931. A Vila de Dona Ana, no outro lado do Zambeze. Acho que hoje dá pelo nome de Mutarara.

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Joaquim Constantino 1931. Início do trabalho. Aqui, a testa da futura ponte.

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Joaquim Constantino 1931. O término da linha de caminho de ferro junto ao rio Zambeze.

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Joaquim Constantino 1931. O rio Zambeze no local onde vai ser construída a ponte.

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Joaquim Constantino 1933. Aspecto da construção dos pilares da ponte.

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Joaquim Constantino 1933. Outra imagem dos pilares em construção.

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Joaquim Constantino 1933. Um dos acessos da ponte, já praticamente concluído.

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Joaquim Constantino 1933. Uma parte da ponte já mais ou menos concluída

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Joaquim Constantino 1933. A plataforma já com aspecto final, os acessos ainda por fazer.

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Joaquim Constantino 1933. Um dos pilares a ser feito....a tecnologia do tempo

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Joaquim Constantino 1933. Outra imagem de um dos pilares a ser construído.

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Joaquim Constantino 1933. A obra de um dos lados da ponte avança.

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Joaquim Constantino 1933. Um dos lados da ponte, já concluída, os carris a serem instalados.

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Joaquim Constantino 1933. Os tramos da ponte do lado de Sena já instalados.

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Joaquim Constantino 1933. Viadutos e tramos concluídos.

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Joaquim Constantino 1934. A passagem pedestre, num dos lados da Ponte Dona Ana.

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Joaquim Constantino 1934. A ponte, já mais ou menos concluída

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Joaquim Constantino A Ponte Dona Ana, em 1936. Começou a prestar o seu serviço em Julho de 1935.

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Joaquim Constantino 1936. A ponte, então recém-inaugurada.

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Joaquim Constantino 1936. Mais uma imagem da ponte acabada de inaugurar

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Joaquim Constantino Uma última imagem da Ponte Dona Ana em 1936.

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Higino Ndapassoa Tenho orgulho por já ter passado nela de carro
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2 respostas

Queran Esmael parabéns pela informação
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Capitao Barulhento https://www.youtube.com/watch?v=92OtwzzPXKc



ponte D ANA Sena Mutarara
youtube.com
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Andre Mafavisse Esta mesma ponte foi reabilitado pela Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira CCFB A pois a guerra de reconciliação da independencia Nacional para ter imagem vesnunbrante de hoje. Foi investimento do Banco Mundial orçado em um pouco mais de 110.000.000 USD o presidente Chissano consegui esse investimento no seu urtimo mandato. Mas depois da conclusão da ponte tendo de seguida a linha. Para o governo do dia foi sucesso que curminou com o escoracar os Indianos que de princípio tinham um contrato de explorar a linha por 50 anos
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Veziano Armandi Muito interessante. Obrigado pela informação
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Joao Antonio Barros Obrigado pela lição de história
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Reinaldo Pereira Nessa ponte passei em 1970 num comboi da TZR, fiz quesaão de ir até Tete,para conhecer o meu pais, só faltava conhecer essa zona.Maningue saudades.
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Marcelo Moreno Ferreira VIAJEI NESTA PONTE EM 1955 ENTRE BEIRA E TETE NUM BELICHE DA CARRUAGEM-CAMA . --- AS CHEIAS IMPEDIAM O TRANSITO VANDUZI - TETE . PARECIA QUE ESTAVA NA EUROPA . AÍ , VI COMO MOÇAMBIQUE ERA GRANDE !
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Simon Collins
Traduzido do Inglês
Atravessou a ponte, em 1970, em uma viagem de comboio via beira de limbe, Malawi para harare, Zimbabwe - maravilhoso!Ver Original

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Simon Collins http://www.railwaywondersoftheworld.com/nyasaland...



Pioneering in Nyasaland
A SPECIAL TRAIN for the Governor of Nyasaland. The railways under his jurisdiction have 273 miles of 3 ft 6…
railwaywondersoftheworld.com
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Fifi Alfazema Quando vejo essa ponte me arrepia o corpo. Pois por um pouco em 2015 perdia minha filha , por um descuido dos taxistas E graças a Deus so ferriu E ela e tudo terminou bem.
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Isabel Santos Obrigada adorei ver
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Joao Rodrihues Tive o privilégio de ter esta ponte como um dos meus locais de trabalho, além de atravessar o Zambeze duas vezes por dia. D.Ana/Sena e regresso. Nessa altura só era possível atravessar o Zambeze pela ponte, de comboio, bicicleta ou motorizada,que era o meu meio de transporte. TZR.
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Aly Ibraimo ....atravessei de comboio e batelão ou jangadas
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Joao Rodrihues Sempre tive medo de atravessar de canoa! De batelão atravessei em Mopeia, com o Cabral e o Júlio Peguraro( que já não está entre nós) via Quelimane. Barco ( Marromeu/ Luabo)
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1 comentário:

Anónimo disse...

Joaquim Ferreira Lopes, 78 anos de Leiria. Vivi em Mutarara desde 1948 a 1968. Ainda hoje
me tratam por menino Quim (de Joaquim)
Passei essa ponte de motorizada e a pé centenas de vezes pois o meu pai construiu ali uma padaria para servir a linha até Beira e Chemba que ainda hoje lá tem o nome dele gravado Joaquim Lopes. Grande saudades e respeito pela gente chisena que ainda hoje falo e não quero esquecer. Viva Moçambique
lopescharre@gmail.com