O anúncio foi feito pelo chanceler russo, Serguei Lavrov, em entrevista exclusiva à RIA Novosti.
Fazendo o balanço do ano que está findando, o chefe da diplomacia russa falou sobre as relações da Rússia com os EUA e a União Europeia, as perspectivas de regularização da crise ucraniana, o problema sírio e a vertente oriental da política externa russa.
– A Rússia está sofrendo com as sanções do Ocidente e, antes de mais, com as medidas restritivas impostas pela Europa. Os nossos parceiros da União Europeia estão sofrendo devido às contra-medidas russas. Até que ponto é eficiente tal linha política?
– Infelizmente, no relacionamento com a União Europeia chegámos ao limiar em que os gestos de boa vontade já não proporcionam resultados pretendidos.
Não se deve esquecer que o atual estado de coisas resulta da política conduzida por Bruxelas em relação à Ucrânia depois de apoiar o golpe de Estado realizado por forças ultranacionalistas e paramilitares que subiram ao poder empregando as armas. Na sequência disso, o país ficou à beira da cisão, tendo sido empurrado para o abismo da guerra fratricida.
Depois, a União Europeia, tentou, sem fundamentos, atribuir-nos a nós responsabilidade pela tragédia, introduziu sanções unilaterais, cuja prática é ilegítima, foi condenada pela Assembleia Geral da ONU por estar contrariando as normas da OMC. Com isso, a lógica de desdobramento da espiral das sanções tem pouca coisa a ver com o evoluir da crise ucraniana.
Temos afirmado reiteradas vezes que as tentativas de falar com a Rússia por meio de ultimatos são absolutamente inadmissíveis e não têm futuro. A nossa resposta foi equilibrada, tomando em conta os direitos e as obrigações da Rússia no âmbito de vários acordos internacionais, inclusive nos marcos da OMC.
Não pretendemos discutir quaisquer critérios relativos ao levantamento das sanções. A sua revogação diz respeito àqueles que as impuseram. Claro que, se a União Europeia demonstrar bom senso, poderemos proceder à interação nessa área.
Segundo acentuou o presidente Vladimir Putin, mesmo em casos quando certos governos se esforçam por edificar em redor da Rússia uma espécie de “cortina de ferro”, iremos intensificar a cooperação, promover os contactos empresariais e humanitários, bem como as relações nas áreas científica, educacional e cultural.
– Após as eleições na Ucrânia, o sr. disse que se encontraria com o seu homólogo de Kiev. Quando se realizará tal reunião? Encara a atual direção ucraniana como um parceiro nas negociações, disposto a encontrar a saída para a crise na Ucrânia?
– Estamos abertos para um diálogo construtivo. Tenho tentado manter boas relações de trabalho com meus colegas ucranianos. Costumamos debater as questões da agenda corrente, inclusive a realização dos acordos alcançados em vários níveis e ao mais alto nível também.
No processo da busca de solução do conflito no sudeste da Ucrânia, o nosso principal parceiro em Kiev tem sido Piotr Poroshenko. O seu plano de paz e as iniciativas avançadas pelo presidente Vladimir Putin passaram a ser um fundamento dos já conhecidos acordos de Minsk, cuja concretização constitui um elemento-chave para a regulação da atual crise.
Piotr Poroshenko fez reiteradas declarações públicas e oficiais quanto à inadmissibilidade da retomada das hostilidades na região de Donbass. Esperamos que as suas promessas sejam confirmadas por passos práticos no sentido de diminuição da escalada da tensão e estabelecimento de uma paz sólida nas regiões de Donetsk e Lugansk, marcando, deste modo, o início de um diálogo político interno inclusivo.
Achamos que uma contribuição para o processo de regularização deverá ser dada pelo novo Gabinete de Ministros, formado após as legislativas antecipadas, realizadas em 26 de outubro.
– Moscou apoia a integridade territorial da Ucrânia?
– O presidente Putin, em sua mensagem anual dirigida à Assembleia Federal, salientou que cada povo tem o direito soberano e inalienável à sua própria via de desenvolvimento. A Rússia sempre manteve tal abordagem. Isto, em plena medida, se refere ao povo ucraniano.
É óbvio que, sem acordos mutuamente aceitáveis, os ucranianos não estarão em condições de regularizar a crise.
Em nossa ótica, a ausência de um mecanismo constitucional equilibrado, no âmbito do qual, de forma adequada, fossem levados em conta os interesses de várias regiões ucranianas, de todos os grupos étnicos e linguísticos, se tornou a maior causa de cataclismos políticos que ao longo de décadas têm abalado os alicerces do Estado ucraniano, desequilibrando suas normas fundamentais.
Estamos convencidos de que o objetivo e o resultado final da preparação de um projeto-lei sobre a introdução de alterações constitucionais deverá ser não uma transformação cosmética de antigas cláusulas, mas a elaboração de um novo pacto social que seja aceito por toda a sociedade multiétnica como um documento básico de longo prazo, um fundamento do Estado de Direito que possa garantir a igualdade de direitos das regiões e etnias. Faremos os possíveis para que este compromisso seja implementado.
– Como avalia o trabalho da missão de observação da OSCE na zona de conflito nas regiões de Donetsk e Lugansk? Até que ponto a sua atividade é eficiente e objetiva?
– Com certeza, o fato da presença no território ucraniano de um elevado número de observadores internacionais, segundo as nossas estimativas, veio desempenhar um papel estabilizador. Ao mesmo tempo, nós tínhamos esperado um efeito maior.
A eficiência do seu trabalho, a sua contribuição para o processo de normalização depende mesmo da objetividade e imparcialidade das suas avaliações dos acontecimentos na Ucrânia. Convém reconhecer que em algumas ocasiões, os observadores carecem de firmeza e de apreciações objetivas.
À sua visão têm escapado os fatos de amplo emprego pelas tropas ucranianas das armas pesadas e munições proibidas contra a população local, os fatos de destruição de instalações econômicas no sudeste da Ucrânia.
Por vezes, se divulgam informações um tanto distorcidas sobre a situação humanitária em Donbass. Não foram divulgadas ou não foram veiculadas informações concretas sobre as tragédias ocorridas em Odessa e Mariupol, os ataques aéreos a Lugansk, a destruição gradual e planejada de Slavyansk, bem com os fatos de detenções sem culpa formada, espancamentos e homicídios de jornalistas russos. Em simultâneo, tem sido prestada enorme atenção à deslocações das milícias e de seu material de guerra.
Todos nós compreendemos em que condições os observadores têm de atuar. Se trata não apenas de uma forte pressão política da parte de Kiev e seus patrocinadores ocidentais. Está em perigo a própria vida dos observadores, cuja segurança havia sido garantida por Kiev, segundo viemos a saber, em termos nominais.
Fazemos recordar ao governo da Ucrânia os compromissos assumidos nos marcos da OSCE no sentido de garantir a segurança a todos os colaboradores da missão de monitoramento.
Entrevista resumida.
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