sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Na África repartilham-se esferas de influência: Voz da Rússia

18.01.2013, 16:38, hora de Moscou
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guerra, França, África, Exército, Mali, Intervenção
EPA

O contingente militar da França prossegue com êxito a operação antiterrorista no Mali. Na quinta-feira, os militares retomaram o controle da cidade de Kona. Os islamistas sofreram pesadas perdas, reportam fontes militares oficiais. Sob este pano de fundo, se relega para o segundo plano uma pergunta legítima – o que estariam fazendo as Forças Armadas estrangeiras da Europa naquele longínquo país?

Entretanto, Paris tomou a decisão sobre a intervenção militar antes de receber uma respectiva sanção do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas. Mais tarde, a decisão foi aprovada, mas até essa altura, os ataques aéreos contra os rebeldes haviam sido realizados durante alguns dias. É difícil superar de vez as relações históricas entre a metrópole e as colônias antigas, considera Leonid Gueveling, vice-diretor do Instituto dos Países da Ásia e da África.
"Após a independência, a França conseguiu manter fortes laços com as ex-colônias. A cultura francesa lançou naqueles países africanos profundas raízes, o que se repercutiu, claro, na situação político-militar. As forças de intervenção rápida francesas tinham ficado em uma série de Estados africanos independentes, exercendo a influência sobre a sua política interna".
No período pós-colonial, Paris marcou a sua presença na pessoa de funcionários públicos e círculos intelectuais locais que se formaram em centros de ensino superior franceses. Por isso, Paris sempre se disponibilizou a ajudar os seus tutelados, realça Boris Dolgov, perito do Instituto de Orientalismo da Academia das Ciéncias (AC) da Rússia.
"A França interveio também no litígio na Costa do Marfim, tendo prestado apoio ao Chefe de Estado na sua luta política pelo mandato presidencial. Depois, os resultados das presidenciais foram contestados. Então, as forças de reação rápida francesa vieram derrubar o presidente anterior e levaram ao poder o atual líder da República de Cotê d´Ivoire, Laurent Gbagbo, casado com uma cidadã de França. Esta foi uma intervenção direta".
No Chade, os franceses tentaram salvar o regime de Idriss Deby, na Líbia tudo fizeram para afastar do poder Muammar Kadhafi. Com isso, Paris, ao provocar a intervenção ocidental na Líbia e tendo assumido um papel ativo na intrusão, acabou por causar a ira e o descontentamento dos tuaregues, devendo agora pagar por isso um elevado preço, constata Evgueni Korendiassov, do Instituto de Pesquisas das Relações Russo-Africanas.
"O desmantelamento do regime de Kadhafi e a sua posterior execução instigaram os ânimos extremistas tanto no norte da África, como nos países situados no sul do deserto Saara. Os tuaregues que faziam parte do Exército Nacional da Líbia e não traíram o seu líder, encontraram refúgio no Saara, tendo trazido para lá uma grande quantidade de armas, munições e equipamentos militares. Hoje, eles constituem um núcleo dos grupos de jihadistas do Mali".
A situação tem vindo a agravar-se pelo fato de se iniciar, pelos vistos, a nova partilha de esferas da influência no continente africano, frisa Leonid Fituni, chefe do Centro de Pesquisas Estratégicas e Globais junto do Instituto de África.
"Temos constatado o agudizar da situação político-militar à escala do continente. Não é um fenômeno casual por existirem formas e motivos concretos de intervenção em diversas regiões. A título de exemplo, veja-se o caso da Líbia ou a intervenção mais branda em outros países. No entanto, é evidente a intensificação de uma nova batalha pela África que se torna alvo da concorrência de vários países no processo de redistribuição dos interesses globais".
A julgar pela situação criada, Paris não pretende desistir do seu papel na vida dos africanos.

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