Américo Matavele
Li atentamente a tal Carta Aberta escrita por um “médico jovem e atento”. Achei-a interessante porque foi escrita com afinco e com uma certa dose de certeza e esperança. Certeza porque quem escreveu tinha um p...úblico alvo específico e inequívoco; esperança porque teve a certeza (sim, aquela certeza lá atrás), de que teria muitos seguidores que estariam solidários com a miséria que a pobre classe passa.
Para quem leu a carta há de ver que a classe médica flutua entre os que recebem bem, e ela aparece como aquela que, pobrezinha, está nas ruas de amargura, recebendo centavos, uma vez comparada com o alfandegário, com o juíz ou com um simples escrivão!
Assim, o pobre do médico fica como aquele que recebe o mais baixo salário dentre os profissionais da Administração Pública, tomando fé na referida carta.
No dia 14 de Dezembro de 2012, a AMM lançou um comunicado na sua página de Facebook (https://www.facebook.com/AssociacaoMedicaDeMocambique?ref=ts&fref=ts) do qual tiro o seguinte excerto:
“Em relação aos salários: Rejeitamos a proposta do Governo entre 50 mil a 107 mil, pois ao fim dos descontos (IRPS, e outros) o salário ficava entre 40 e 80 mil, com renda de casa inclusa. Significando que com a renda de casa de 13.500, o salário iria reduzir para 26500 a 66500. Para o Médico recém formado seria apenas uma subida de 4 mil meticais! Além do mais, o salário base estava entre 20 a 38 mil, o que significava um aumento de apenas 5 mil meticias para o médico recém formado, e uma reforma não digna para os médicos mais velhos.”
O que acho estranho, é que os médicos fazem-se como a cena descrita na Bíblia, concretamente no livro dos Primeiros Reis, capítulo 19, versículo 14, sobre Elias:
“Respondeu ele: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos; porque os filhos de Israel deixaram o teu pacto, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu, somente eu, fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.”
O que Elias não sabia, é a resposta contida no versículo 18:
“Todavia deixarei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou.”
Isto é, esqueceram-se os ilustres Hipócrotes que atrás deles vem mais funcionários, e que deviam entender este assunto salarial numa perspectiva mais abrangente, e não só olhar para o horizonte que lhes interessa.
Deviam, não só comparar os seus salários actuais com o dos alfandegários, mas também com o dos professores; não só com o dos juizes, mas também com o dos Técnicos Superiores de Relações Internacionais; não só com o de um simples escrivão, mas com o dos cadetes recém formados também! Ter uma visão completa desta picture!
Comparar só para chamar atenção, faz com que se confunda a opinião pública, sabendo que esta (infelizmente), só olha onde o dedo aponta, e vê o que o dono do dedo descreve como elefante, mesmo que seja uma nuvem com formato de um charuto. Não quer saber sobre criticar (embora com dados e exemplos que podem ajudar), e atira-se de corpo e alma numa situação que desde o seu princípio está viciada.
Tomara! Há gente que anda com pedras nos bolsos, não, nas mãos mesmo, e à espera de um motivo qualquer (plausível ou não), para atirá-las contra o “sistema”!
Já paraste para fazer as tuas contas?See more
Uma Associação Médica de Moçambique, que pretende ser inclusiva, transparente, dinâmica e pró-activa na interacção com todos os médicos e demais associações ligadas à saude.
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