sábado, 5 de janeiro de 2013

A PROPÓSITO DO IDIOMA

 
Autarca idioma
Moçambique, cidade da Beira (Aruanga kuSena).
Jornal O Autarca nº 2339 – Quarta-feira, 02 Maio 2012, pág. 3/4.
ENSAIO
de Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya
A PROPÓSITO DO IDIOMA
FATOR POLÍTICO E ECONÓMICO [A. 1/3]
AICL - XVII Colóquio da Lusofonia. 30 de Março a 3 de Abril 2012
Intervenção a 1 de Abril 2012. Cineteatro Almeida. Concelho de Lagoa.
Arquipélago dos Açores. Ilha de S. Miguel. Portugal.
[Onze itens divididos em três partes: 1-5 / 6-8 / 9-11]
  1. Nota Prévia:
Ao refletirmos através da linguagem e comunicação sobre a atual crise financeira em Portugal versus crispação na sociedade portuguesa poderíamos inferir um “síndrome” de Ícaro, ou “glorificação” da queda da política económica do país. É potenciado assim, um desequilíbrio da linguagem nos meios de comunicação de massas. Ignorada a (metáfora) do efeito Dédalo (pai de Ícaro) na superação das dificuldades desenvolvendo resistências contra a crise abrindo campo à esperança coletiva. Pelo contrário, a própria comunicação investe sem sinais de “prudência” cum grano salis (pitada de sal) no doseamento da informação sobre essa crise e a austeridade em curso. Nesse contexto, institucionalmente, as manifestações culturais, académicas e da divulgação da língua portuguesa são adiadas sine die (sem data de retorno). Os apoios são draconianamente cancelados. Critérios de estatísticas do défice financeiro impõem-se na sociedade em Portugal.
  1. Notas introdutórias do idioma luso:
Por outro lado existem antecedentes evolutivos da língua portuguesa, na transição do colonial para o pós-colonial, na sua divulgação pelo mundo. Nunca é demais referir o papel incontornável, na década de 1960-70, da dinâmica dos movimentos de libertação das colónias portuguesas em África, nomeadamente de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
  1. Do colonial ao pós-colonial:
Após a conferência de Bandung (Indonésia 1955) os “ventos da história” varreriam o cenário colonial do mundo. Em pouco menos de uma década em diante surgiria a necessidade global de aprendizagem do português devido às colónias de Portugal em África esboçando-se em grupos pró-independência.
A partir de 1961 esboçam-se aproximações da URSS, demais países do leste europeu, além do PCF (Partido Comunista Francês), do rei marroquino Hassan (1929-1999) numa perspetiva anticolonial dinamizariam apoios a esses movimentos anticoloniais reunidos em Marrocos na CONCP. O movimento era secretariado pelo jovem moçambicano de 32 anos, Marcelino dos Santos (20 Maio 1929), estudante universitário de sociologia em Paris. A assim intitulada CONCP-Conferências das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas substituiria em 1961 a FRAIN-CP: Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas (Tunísia 1960) que somente integrava o PAIGC de cabo-verdianos e guineenses e o MPLA de angolanos. [Marcelino dos Santos: http://www.bookrags.com/biography/marcelino-dos-santos/ ]
Na Ásia, a Coreia do Norte de Kim Il Sung (1912-1994) e a China Popular de Mao-Tse-Tung (1893-1976) destacam-se no apoio aos movimentos de libertação africanos.
Essa necessidade do conhecimento da língua portuguesa nas universidades dos blocos comunistas surgia para fornecer intérpretes aos instrutores militares locais, junto dos primeiros guerrilheiros africanos que vinham para treino militar. Num curto período (1961) alguns estudantes universitários chineses (Pequim-Beijing) teriam aprendido a língua portuguesa do Brasil da era do Presidente Jânio Quadros (1917-1992). Mesmo com Macau em comum, a China, devido à sua política anticolonial não tinha relações diplomáticas, oficiais, com Portugal.
  1. Em 1963 a primeira visita à China:
A primeira delegação moçambicana da Frente de Libertação de Moçambique à China-Pequim (1963) foi chefiada pelo comandante Filipe S. Magaia (1937-1966). O grupo guerrilheiro do comandante Magaia, antigo subsargento do exército colonial português (1960) seria acompanhado na China Popular por intérpretes chineses com sotaque brasileiro. Entre 1967-1972 instrutores militares chineses (veteranos) ministravam aos moçambicanos treinos de estratégia e tática no sul de Tanzânia, Nachingwea , - campo de treino político-militar próximo da fronteira com o norte de Moçambique. Os intérpretes de português eram jovens universitários chineses. Decorria a revolução cultural chinesa (1966-1976) liderada pela madame Chiang Ching (1914-1991), esposa do líder chinês Mao-Tse-Tung.
Tanzânia na década de 1964 a 1974 torna-se a sede dos movimentos de libertação anticoloniais e anti- apartheid da África Austral. Em achega repare-se no pacto militar entre o Portugal colonialista e o Brasil da ditadura militar na questão da guerra colonial. Entre 1969-1974, esse pacto com o Brasil seria intensificado na gestão do seu Presidente, o General Emílio Garrastazu Medici (1905-1985). Segundo fontes da guerrilha moçambicana, em 1969, o Brasil teria enviado seus fuzileiros em auxílio a soldados-comandos portugueses, treinados por belgas em Beja – Alentejo, no combate contra a FRELIMO, no norte de Moçambique (Niassa).
Anos mais tarde surgiriam certos incómodos diplomáticos na aproximação do Brasil aos ditos PALOP, em particular com Moçambique após a independência em 1975. A era pragmática (1995-2011) dos presidentes FHC (1931) e Lula (1945) desanuviariam as relações. Na divulgação da língua portuguesa a partir de 1992, em Moçambique, a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) e a sua TV Record e Rádio Miramar, desempenharia a partir daí um papel importante. A aproximação “política” do Brasil com Moçambique, paulatinamente, seria feita através da pessoa do líder da IURD, o bispo carioca Edir Macedo (1945) no apoio ao partido no poder (FRELIMO) nas primeiras eleições multipartidárias de 1994.
A TV Globo do empresário também carioca, Roberto Marinho (1904-2003) seria relegada para segundo plano, após anos de cooperação solidária com a TVM – Televisão pública de Moçambique na década de 1986-1996.
  1. Língua instrumento político de unidade nacional – o caso de Moçambique:
A língua portuguesa emerge como idioma de unidade nacional por necessidade pragmática dos próprios movimentos de libertação das então colónias portuguesas em África. A diversidade linguística assim o exigia.
Além dos países de ideologia comunista (como da então Alemanha-RDA), organizações de alguns países nórdicos (Holanda e Suécia) e da Inglaterra dinamizam o estudo do português enviando professores para as escolas da FRELIMO em Tanzânia, Dar-es-Salaam e Bagamoyo (África Oriental). A Índia envia professores de origem goesa. Esse precedente será ampliado após a independência de Moçambique (1975) inserido em programas de alfabetização massiva do português. Participam voluntários de diversas nacionalidades como monitores de português, e em áreas sociais da saúde preventiva, nomeadamente vindos da Guiné-Conacri, Suécia, Holanda, Finlândia, Noruega, Dinamarca, França, Cuba. Alguns exilados políticos do Chile e do Brasil.
Mais tarde, com a abertura política a partir de 1994, programas de ensino do inglês utilizando a língua portuguesa como primeira plataforma seriam desenvolvidos com monitores dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, etc. Saliente-se também, que após a independência em 25 Junho 1975, alguns exilados africanos (anglófonos) em Moçambique ministravam o ensino da língua inglesa. Tal foi o caso em Quelimane (Zambézia) de Robert Mugabe do Zimbabué (ZAPU-Zimbabwe African People Union), mais tarde, Presidente do país. Por outro lado, a língua portuguesa seria “apre-endida” por exilados sul-africanos anti-apartheid do ANC (African National Congress) e zimbabuanos (ZAPU) com a instalação em Moçambique de campos de exilados. [Continua no próximo número 2].
O autor Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya [aliás João Craveirinha - 1947] é formado em Ciências da Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa (antiga Clássica). Em fase de defesa de tese de obtenção do grau de PhD (doutorado). É ainda pesquisador académico no estudo da Disseminação da Alimentação, dos Sons e Danças Tropicais tendo a Cultura Como Fator Económico de Desenvolvimento Humano. É autor literário em prosa e poesia. Foi designer gráfico, e é o pintor-autor da maior pintura mural de África localizada na praça dos Heróis em Maputo: comprimento 110 m x 5 m altura - um dos maiores murais de arte do mundo. JK viajou por 25 países de 1967 a 2009. Viveu em África, América do Sul (Brasil) e Europa. Fundou na década de 1990 uma Associação cívica-cultural (AAMO-Associação Africana de Moçambique em Portugal) e uma ONGD-MISSO (Semente) com sede provisória em Maputo a transferir para Quelimane ou Mocuba. Fatores políticos dificultaram a prossecução dos seus objetivos.
Em anexo: YouTube - Canal TV Kraveirinya: http://www.youtube.com/watch?v=27GA61iL9lQ
Jornal O Autarca nº 2339 – Quarta-feira, 02 Maio 2012, pág. 3/4.
ENSAIO
de Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya
A PROPÓSITO DO IDIOMA
FATOR POLÍTICO E ECONÓMICO [A. 2/3]
AICL - XVII Colóquio da Lusofonia. 30 de Março a 3 de Abril 2012
Intervenção a 1 de Abril 2012. Cineteatro Almeida. Concelho de Lagoa.
Arquipélago dos Açores. Ilha de S. Miguel. Portugal.
[Onze itens divididos em três partes: 1-5 / 6-8 / 9-11]
  1. Língua portuguesa, fator económico de desenvolvimento social em África:
Os antecedentes políticos da evolução da língua portuguesa partem inicialmente, de uma imposição colonial portuguesa tornando-se paradoxalmente no pós-colonial, uma língua de unidade nacional africana devido à riqueza da diversidade linguística das suas colónias de África. Nesse contexto e por empatia, a língua portuguesa amplia o seu raio de influência aos vizinhos francófonos da Guiné-Bissau, membros da União Económica e Monetária do Oeste Africano, de moeda comum - o franco CFA. Por sua vez, estes países integram a CEDEAO, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental – incluindo Cabo Verde. O arquipélago de São Tomé e Príncipe pela “proximidade” tem o Gabão, e a Guiné Equatorial observadora na CPLP.
Na África Austral existe a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, a SADC (Southern Africa Development Community) abrangendo Angola e Moçambique. Entre outros fatores advém daí o facto da República da África do Sul ser o terceiro país em África onde o português é mais falado sendo também uma das línguas oficiais. Está estimado em cerca de um milhão e meio, os usuários da língua portuguesa nas terras do Rand. São na sua maioria moçambicanos com dupla nacionalidade e emigrantes. A comunidade madeirense seria a segunda.
De notar que na transição para as independências, em Angola e Moçambique, os portugueses fugidos das situações políticas violentas refugiar-se-iam na Namíbia, Rodésia (Zimbabué) e na África do Sul. Alguns desses (re) emigrariam para a Austrália, Nova Zelândia, para o Brasil, Estados Unidos e o Canadá. No entanto, após a queda do apartheid (1991) muitos dos portugueses radicados na África do Sul regressariam a Portugal. Outros de novo para Moçambique.
  1. O Brasil em África, Moçambique e a língua portuguesa:
Não tem sido referenciado o papel (in) direto da divulgação do português (variante PB) através dos pastores evangélicos da IURD e da sua TV e Rádio Record do Brasil em particular nos ditos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Paradigmático é o caso de Moçambique com sinal aberto para a TV Record e Rádio Miramar. Moçambique foi o primeiro país de língua oficial portuguesa com implantação total da TV e Rádio Record em sinal aberto na capital Maputo e na cidade da Beira. A comunidade brasileira cresceria nos ditos PALOP através da IURD.
Segundo o diário económico digital português, em 2007 (26.10), já se posicionavam em Angola grandes empresas brasileiras como a Companhia Vale do Rio Doce, a Construtora Cowan, a Eaglestar, a Odebrecht, a OGX Petróleo e Gás, a Orteng Equipamentos, a Petrobrás, a PetroRecôncavo, a Queiroz Galvão, a RAL Engenharia, a Starfish, a UTC Engenharia, a Vitória Ambiental e a W. Washington. Outras empresas brasileiras seriam das áreas de construção civil, agroindústria, agropecuária, transportes, engenharia e projetos, imobiliária, energia e consultoria empresarial.
A Construtora Norberto Odebrecht opera na Guiné Equatorial que aguarda o “veredicto” sobre a formalização de sua adesão à CPLP. Esta prende-se com critérios de visibilidade de democratização política do país, por parte de Portugal. Em Moçambique na área dos investimentos brasileiros a Vale do Rio Doce parece liderar.
Segundo o Macauhub (26.01.2012), serviço de notícias em chinês, português e inglês, sedeado em Macau (China), empresas brasileiras já teriam investido em Moçambique mais de 5 biliões de dólares. A maior parte aplicada pela mineira Vale citando informação de António de Sousa e Silva, embaixador cessante do Brasil em Maputo. Sem dúvida, esta movimentação empresarial brasileira por África implica uma mobilidade dos recursos humanos brasileiros que ao se instalarem para execução das empreitadas divulgam a língua portuguesa de expressão cultural brasileira.
  1. Questões finais: - em que medida a implantação de um “Darwinismo Social” em Portugal afetará o desenvolvimento da Lusofonia?
Os titulares em epígrafe sugerem em pleno século 21 pressupostos de retorno às teorias distorcidas do darwinismo do século XIX (séc. 19). Foram teorias disseminadas por Francis Galton, Benjamin Kidd, Herbert Spencer a John Reid Rentoul (e outros) “adaptadas” às questões sociais (classes económicas) e genéticas (ditas raças superiores e inferiores) em que subsistiria o mais forte como mais apto (o rico), e o mais fraco (o pobre) entregue à sua sorte teria de desaparecer.
São teorias herdades de Thomas Malthus (1766-1834) sobre o controlo demográfico, pois segundo ele, o mais pobre teria de desaparecer por que seria a essência da natureza os mais fracos serem destruídos e deixarem espaço aos mais habilitados. Malthus sugeria ainda para combater o excesso populacional, que se negasse qualquer assistência social, alimentar e médica, aos mais desfavorecidos. Recomendava a abstinência sexual entre os pobres para diminuir a natalidade “causa dos males sociais.”
Segundo o sociólogo da cultura Raymond Williams, o filósofo britânico Herbert Spencer seria …«who first, in 1864, coined the phrase: ‘the survival of the fittest’» (H. Spencer seria… «quem pela primeira vez, em 1864, cunhou a frase: ‘a sobrevivência do mais apto.’»: Spencer apud Williams, p. 87 (…) “He opposed state aid to the poor on the grounds that this would preserve the weaker and less successful members of the race.Social Darwinism pp. 86-102. (...) “Ele [Spencer] opôs-se ao apoio social do estado aos pobres na base de que isso iria manter os mais fracos e menos capacitados membros da raça.” Williams, Raymond (1980). Problems in Materialism & Culture. London, New York: Verso. Selected Essays 277 pp. (Social Darwinism pp. 86-102). No cômputo geral trata-se da aplicação distorcida da teoria de Darwin da evolução das espécies a partir de uma seleção natural e de adaptação das plantas e animais ao meio ambiente.
Por outro lado, o académico Benjamim Isaac (1945) é categórico quando afirma que “não existem raças, mas racismo sim.” «Race Does Not Exist, Racism Does» [p.33]. Isaac, Benjamin (2006). The Invention Of Racism In Classical Antiquity. USA: Princeton University.
Nesse contexto, a ciência biológica prova que de facto existe uma única espécie humana. A reprodução sexual entre humanos de diferentes continentes comprova. Dessa relação surge um novo ser humano: o mestiço. O resto é superficial e ideológico gerador de preconceitos. A língua portuguesa e a comunicação devem elucidar que o fator socioeconómico é determinante no desenvolvimento humano, e não a superficialidade da cor da pele ou de outro item discriminatório, histórico ou atual.
Os aspetos do (re) emergente “darwinismo social” em Portugal tem relegando para terceiro plano a funcionalidade das instituições portuguesas que lidam com a cultura e por suposto com a língua portuguesa (neste caso) alicerce de comunidades usuárias deste idioma em cinco continentes. Será que a atual prioridade das instituições lusas seja somente os aspetos empresariais, de negócios e diplomáticos para sair da crise? A austeridade mais austeridade é a única fórmula? No cômputo geral, em pleno século XXI (21) estaríamos perante uma EUTANÁSIA SOCIAL evoluindo do “Darwinismo Social” dos dois séculos anteriores.
Neste contexto de austeridade, a questão de fundo seria a de reflexão sobre o papel real da língua portuguesa e a de saber “a lusofonia serve para quê?” Tem sido assim questionado o autor deste texto, dentro e fora de Portugal, por usuários da língua portuguesa. Por outro lado, e em paralelo temos a controvérsia da implementação do “acordo ortográfico” de 1990.
[Termina no próximo número 3].
O autor Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya [aliás João Craveirinha - 1947] é formado em Ciências da Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa (antiga Clássica). Em fase de defesa de tese de obtenção do grau de PhD (doutorado). É ainda pesquisador académico no estudo da Disseminação da Alimentação, dos Sons e Danças Tropicais tendo a Cultura Como Fator Económico de Desenvolvimento Humano. É autor literário em prosa e poesia. Foi designer gráfico, e é o pintor-autor da maior pintura mural de África localizada na praça dos Heróis em Maputo: comprimento 110 m x 5 m altura - um dos maiores murais de arte do mundo. JK viajou por 25 países de 1967 a 2009. Viveu em África, América do Sul (Brasil) e Europa. Fundou na década de 1990 uma Associação cívica-cultural (AAMO-Associação Africana de Moçambique em Portugal) e uma ONGD-MISSO (Semente) com sede provisória em Maputo a transferir para Quelimane ou Mocuba. Fatores políticos dificultaram a prossecução dos seus objetivos.
Em anexo: YouTube - Canal TV Kraveirinya: http://www.youtube.com/watch?v=27GA61iL9lQ
Jornal O Autarca nº 2339 – Quarta-feira, 02 Maio 2012, pág. 3/4.
ENSAIO
de Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya
A PROPÓSITO DO IDIOMA
FATOR POLÍTICO E ECONÓMICO [A. 3/3]
AICL - XVII Colóquio da Lusofonia. 30 de Março a 3 de Abril 2012
Intervenção a 1 de Abril 2012. Cineteatro Almeida. Concelho de Lagoa.
Arquipélago dos Açores. Ilha de S. Miguel. Portugal.
[Onze itens divididos em três partes: 1-5 / 6-8 / 9-11]
  1. Acordo Ortográfico:
O (novo) acordo foi assinado por “todos” países falantes do português em 1990. A ratificação tem sido adiada e foi avançada (2009) pelo Brasil, por Portugal e outros membros da CPLP. Angola e Moçambique ainda não ratificaram (Abril 2012). No referido acordo ortográfico a supressão das consoantes mudas é a tónica principal. O que não se lê elimina-se. Se pronunciamos o cê de facto esta consoante C mantém-se. No caso brasileiro do (PB) não se pronuncia por que é muda daí o fato (deles). Existem outros itens adicionais que não são a motivação deste apontamento.
A questão do acordo pode ser mais profunda do que parece, daí o “ruído” que tem surgido politicamente. Seria desejável com mais distanciamento e sem crispação, um dia, analisar até que ponto interesses ideológicos em conflito e empresas editoriais portuguesas terão pressionado os políticos, na ratificação do meio esquecido acordo ortográfico assinado em 1990. Nesse contexto seria interessante analisar qual o papel real, político, diplomático e económico de Portugal e do Brasil (inserido nos países emergentes dos BRICS). Trata-se de hegemonias ou de lusofonias? Portal da Língua Portuguesa http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php
10. Que fazer para alargar o âmbito do debate dos Colóquios da Lusofonia:
Dentro dos novos desafios da atual crise económica, do neoliberalismo da globalização em Portugal e no mundo, como dinamizar a língua portuguesa fator económico de comunicação a ter em conta nos areópagos internacionais.
Seria interessante contextualizar os alertas de estudiosos da língua portuguesa e da lusofonia como o do Prof. Patrick Chabal, de que a lusofonia possa ser vista por Portugal como uma “saudade do império colonial perdido.”
11. Na AICL-Associação Internacional Colóquios da Lusofonia, onde se enquadra a Sociologia da Cultura?
Se a ortografia não é a língua falada mas sim representação gráfica da palavra, como a fotografia de uma casa não é a casa, porquê, como diria Shakespeare “tanto barulho por nada?” Por outro lado, numa sociedade tudo evolui (ou involui). Aspetos sociológicos e culturais podem interferir no quotidiano, e a língua por isso vai sofrendo transformações que não se compadecem com a norma culta ou norma padrão instituída pelos gramáticos.
Aliás, ao longo dos tempos temos observado esse fenómeno mesmo com a língua portuguesa. Em nossa modesta opinião, entre a norma padrão e a evolução da sociedade deveria haver consensos de equilíbrio sopesando os prós e contras. É tarefa de todos a preservação da “saúde” da língua e da linguagem na comunicação escrita e falada. A democracia também se exige na língua pois esta não é dogma, e democracia é pluralismo. Daí as variantes da língua portuguesa. Obviamente terá de haver parâmetros reguladores para isso servem os gramáticos mas também os sociólogos da cultura. [Terceira e última parte].
O autor Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya [aliás João Craveirinha - 1947] é formado em Ciências da Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa (antiga Clássica). Em fase de defesa de tese de obtenção do grau de PhD (doutorado). É ainda pesquisador académico no estudo da Disseminação da Alimentação, dos Sons e Danças Tropicais tendo a Cultura Como Fator Económico de Desenvolvimento Humano. É autor literário em prosa e poesia. Foi designer gráfico, e é o pintor-autor da maior pintura mural de África localizada na praça dos Heróis em Maputo: comprimento 110 m x 5 m altura - um dos maiores murais de arte do mundo. JK viajou por 25 países de 1967 a 2009. Viveu em África, América do Sul (Brasil) e Europa. Fundou na década de 1990 uma Associação cívica-cultural (AAMO-Associação Africana de Moçambique em Portugal) e uma ONGD-MISSO (Semente) com sede provisória em Maputo a transferir para Quelimane ou Mocuba. Fatores políticos dificultaram a prossecução dos seus objetivos.
Em anexo: YouTube - Canal TV Kraveirinya: http://www.youtube.com/watch?v=27GA61iL9lQ
ANEXO:
Data Venia a Monteiro Lobato (a evolução da Língua Portuguesa).
Nesse aspeto Monteiro Lobato é paradigmático na sua obra Emília no País da Gramática (1934) do sítio do pica-pau amarelo, pp. 88- 91, capítulo XVIII (18) em GENTE DE FORA [novas palavras na língua portuguesa]. No conto a velha Dona Etimologia explicava às crianças sobre as origens e a evolução da língua portuguesa.
“— Pois é isso, meninada! — disse logo depois a velha. — Vocês já sabem como se formam as palavras da língua. Grande número veio diretamente do latim. Foi o começo, a primeira plantação. Depois começaram a reproduzir-se lá entre elas, ou a derivar-se umas das outras.” (…) “Uma língua não para nunca. Evolui sempre, isto é, muda sempre. Há certos gramáticos que querem fazer a língua parar num certo ponto, e acham que é erro dizermos de modo diferente do que diziam os clássicos.
— Que vem a ser clássicos? — perguntou a menina.
— Os entendidos chamaram clássicos aos escritores antigos, como o Padre Antônio Vieira, Frei Luís de Sousa, o Padre Manuel Bernardes e outros. Para os Carrancas, quem não escreve como eles está errado.
Mas isso é curteza de vistas. Esses homens foram bons escritores no seu tempo. Se aparecessem agora seriam os primeiros a mudar ou a adotar a língua de hoje, para serem entendidos. A língua variou muito e sobretudo aqui na cidade nova [Brasil]. Inúmeras palavras que na cidade velha [Portugal] querem dizer uma coisa aqui dizem outra.”(…)”O que sucede é que uma língua, sempre que muda de terra, começa a variar muito mais depressa do que se não tivesse mudado. Os costumes são outros, a natureza é outra — as necessidades de expressão tornam-se outras. Tudo junto força a língua que emigra a adaptar-se à sua nova pátria.
A língua desta cidade está ficando um dialeto da língua velha.
Com o correr dos séculos é bem capaz de ficar tão diferente da língua velha como esta ficou diferente do latim. Vocês vão ver.
— Nós vamos ver? — exclamou Narizinho, dando uma risada. — Então pensa que somos como a senhora, que vive toda a vida e mais
séculos e séculos?”
Devida vénia a Monteiro Lobato (1882-1948), escritor e contador de histórias brasileiro deixou-nos um legado muito importante sobre a questão da evolução da língua portuguesa. Em link anexo quem quiser ler em pdf a obra original na íntegra de Emília no País da Gramática de 1934. http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/lobato/Emilia_No_Pais_Da_Gramatica.pdf
O AUTARCA – 03/04/05.05.2012
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Encyclopedia of World Biography on Marcelino dos Santos

Nationalist insurgent, statesman, and intellectual, Marcelino dos Santos (born 1929) was instrumental in coordinating the Mozambican nationalist groups into the Front for the Liberation of Mozambique (Frelimo). The party fought a ten-year war which culminated in independence in 1975.Marcelino dos Santos was born in 1929, son of Firmindo dos Santos and Teresa Sabina dos Santos, and was raised in Lourenco Marques (now Maputo), Mozambique. When he left Mozambique in 1947 to continue his education at the Industrial Institute in Lisbon, Portugal, he already showed himself ready to carry a torch held by his father's generation. Firmindo dos Santos, a member of the African Association of Mozambique, had urged revitalization and unity among Mozambicans in their pursuit of justice and social equality. Young dos Santos, in a 1949 letter to the association from Lisbon, similarly urged members to put aside individual considerations and stand united. At the House for Students of the Empire in Lisbon, where colonial youths studying in Lisbon gathered in the late 1940s, dos Santos and others increasingly articulated their Africanist and nationalist sentiments through poetry and prose. Here dos Santos discreetly shared his ideals and aspirations with Amilcar Cabral, Agostinho Neto, and Eduardo Mondlane--men destined to become nationalist leaders in Guinea Bissau, Angola, and Mozambique, respectively. By 1950, however, the political atmosphere in Lisbon was tense. Neto was arrested, Mondlane moved to study in the United States, and dos Santos and others relocated in Paris.Activist in ExileIn Paris dos Santos lived among leftist African writers and artists affiliated with the literary journal Presence Africaine. He published poetry under several pen names--Kalungano in Portuguese language publications and Lilinho Micaia in the collection of his poetry published in the Soviet Union. In the 1950s his skill as a nationalist strategist and mediator sharpened as he urged Portuguese political exiles in Paris to broaden their opposition to the Salazar regime in Portugal and embrace the nationalist cause. The Anti-colonial Movement (MAC), formed in Paris in 1957, was in part a result of dos Santos' work among this exile community. At the All-African Peoples Congress at Tunis in 1960 a broader alliance emerged incorporating the nationalist movements of Angola and Portuguese Guinea.By 1961 nationalist groups proliferated, and all were galvanized by the outbreak of violence in Angola. Dos Santos had joined the Paris branch of the National Democratic Union of Mozambique (UDENAMO), the first nationalist party formed largely among Mozambicans living in exile, but he continued to actively pursue solidarity at the international level. At a meeting in Casablanca in April 1961 the Conference of Nationalist Organizations of the Portuguese Colonies (CONCOP) was formed. Dos Santos was elected permanent secretary charged with coordinating nationalist activity in an effort to force an immediate end to colonial rule. From CONCOP's headquarters in Rabat dos Santos assumed his role of explaining the nationalist struggle to an international audience.Party Spokesman Waged Battle for LegitimacyIn 1962 Eduardo Mondlane assembled representatives of Mozambican nationalist groups in Dar es Salaam, Tanzania, to attempt to forge a united front to undertake the struggle for independence, and dos Santos lent his support. The result was the foundation of the Front for the Liberation of Mozambique (Frelimo). Frelimo, the party which undertook and waged the war for independence from Portugal, held its first congress in Tanzania in September 1962. While continuing with CONCOP dos Santos increasingly turned his organizational and expository skills to sculpting Frelimo's political and military goals. By 1964, with the outbreak of the hostilities in northern Mozambique, dos Santos, as Frelimo's secretary for external affairs, became one of the movement's principal spokesmen. His powerful presentations before the Organization for African Unity, the Afro-Asian Solidarity Conference, and the United Nations helped win international recognition of the legitimacy of Frelimo's petitions for political, military, and financial support.With the tragic murder of Frelimo's president, Eduardo Mondlane, dos Santos was elected to Frelimo's temporary ruling triumvirate (dos Santos, Uria Simango, and Samora Moises Machel). In 1970 he became vice president under Samora Machel--a position he held throughout the war for independence. Working at Frelimo headquarters in Dar es Salaam and in the war zones, dos Santos focused on the key political aspects of the armed struggle. Using the bonds of friendship and the political skills he developed in the 1950s, he helped cement links of political cooperation throughout the war, during the difficult negotiations leading to the independence of Mozambique, and ultimately into the Herculean task of constituting a viable new nation.Architect of Independence Sought Internal StabilityWhen the Council of Ministers of the People's Republic of Mozambique was sworn to office on July 1, 1975, dos Santos assumed the key positions of vice president of Frelimo and minister for development and economic planning. After independence he held a number of important positions within the government and remained active as a member of Frelimo's Central Committee charged with political strategy. The challenge during the late 1970s and 1980s was to rebuild the country while defending Frelimo and the government from an armed takeover by the opposition group Renamo.From 1981 to 1983 dos Santos left government office to concentrate on strengthening the party. He returned to office in 1983 as governor of the province of Sofala in central Mozambique, and in 1989 served as president of the People's Assembly. During this time, he worked diligently to establish internal stability; some progress was finally achieved in October 1992 when a peace agreement was signed by Frelimo and Renamo.Through the mid-1990s he continued as theoretician within Frelimo's Central Committee, working to reform the country's economic and political structures from within. The long war against Renamo had left the former Portuguese colony bankrupt, earning it the dubious distinction of the world's poorest nation. Dos Santos often led delegations representing Mozambique at important international conferences, such as the Southern Africa-Cuba Solidarity Conference in May 1995.His essential contributions were in the area of international relations, deftly aiding Mozambique in its determined posture of non-alignment, and in the development of Frelimo policy designed to develop socialist programs to serve Mozambique's majority population.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Two otheг Tantra tгeatments агe gеnerally rеquired for beѕt resultѕ, thіs
hair Tantra must be used гesponsibly and maturеly.
The hair сleanser incluԁеs pгotеіn frοm pοmegranate or lemongгass, ωhich not
only heal the body but in doing so will cause over-porosity.

Before we learn to fеel energy wе have can create a clеan canvas.
Foг months aftеrwards I fеlt fаbulοus.
Diamonԁ dermabraѕion is quicklу becoming the stanԁaгd.
For greater гesults and impact than уou've ever imagined. Cut one orange in half and dip the cut end in sugar.

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