“Nossa pátria será túmulo do capitalismo e da exploração”
“Avante
operários camponeses, unidos contra a exploração... sempre avante
unidos venceremos, socialismo triunfará”, hino da Frelimo
E
ainda vaticinam o triunfo do socialismo: “sempre avante unidos
venceremos, socialismo triunfará”. Ora, o socialismo não só não
triunfou, como também está no túmulo que estava reservado ao
capitalismo. Os exploradores que eles queriam combater, hoje, são eles
mesmos.
Está
a ficar mais claro que a Frelimo está dividida em facções. Neste
momento, parece não haver dúvidas que o partido está dividido em três: a
ala no poder; a do ex-chefe do Estado, Joaquim Chissano; e a dos
conservadores, encabeçada por Marcelino dos Santos e Jorge Rebelo.
O
surgimento de alas começa quando Chissano é obrigado a abandonar o
poder, em 2004. Curiosamente, a campanha para o efeito foi desencadeada
pela ala conservadora, que apoiou incondicionalmente o actual Chefe do
Estado. Ainda me recordo que após o empossamento de Armando Guebuza,
para o primeiro mandato, em Fevereiro de 2005, Marcelino dos Santos saiu
do pódio e correu para saudar os membros da Organização da Mulher
Moçambicana (OMM) que se encontravam a festejar, na Praça da
Independência. Entrevistámo-lo para ouvir o seu sentimento em torno do
novo Governo e a resposta foi peremptória: “Este é o governo do povo”.
Na
verdade, Marcelino estava a dizer que o anterior Governo nunca tinha
sido do povo, e que, naquele momento, estava a imergir o Governo do
povo. Seis anos depois, parece-me que Marcelino se apercebeu que estava
enganado, que o Governo do povo ainda não imergiu. o que imergiu, pois,
foi um governo de capitalistas. É, aliás, a partir dessa percepção que
decidiu sair das quatro paredes para gritar no deserto, no sentido de o
seu grito ter eco não só a nível do partido, mas também em todo o
território nacional. Se Marcelino decidiu gritar fora, é porque o seu
grito, internamente, não era ouvido, acabando por se saturar de lançar o
milho sobre pedras.
“O
capitalismo e o comércio privado são valores que podem pôr em risco a
unidade nacional, uma vez que criam ganância no seio das pessoas”, disse
Marcelino, ladeado por Mariano Matsinhe e Bonifácio gruveta, numa
palestra na Autoridade Tributária de Moçambique, o que motivou uma
reacção violenta do actual secretário-geral da Frelimo, Filipe Paúnde.
Terá ou não razão Marcelino? Com que base disse isso? Será novidade o
que Marcelino Disse?
Começo
pela última questão. Não há nenhuma novidade. Jorge Rebelo já havia
dito algo semelhante: “Dentro do governo existem ministros,
vice-ministros, directores nacionais... alguns destes estão a enriquecer
à custa do povo. Mas há também gente séria. O que me preocupa é ver
esses sérios e honestos a serem corridos de lá. Conheço, por exemplo, o
Dr. Ivo Garrido e sei que não é corrupto, nem está associado à
corrupção. Mas foi corrido do Governo. Eu não percebo porquê? Conheço
também o Dr. Eneias Comiche e sei da luta que desenvolveu
no Conselho Municipal visando acabar com esquemas de corrupção... ele
também foi corrido”.
E
quando questionado sobre as possíveis razões que levaram a que “gente
honesta” fosse corrida do Governo, Rebelo apontou a pessoa ideal para
responder à questão: “perguntem ao Chefe do Estado (Armando Guebuza)”.
Tanto
Marcelino como Jorge Rebelo têm razão de dizer o que dizem, e há bases
para isso. Eles estão a defender à letra os ideais que os levaram a
criar a Frelimo. É por isso que o próprio hino nacional já dizia que a
“Luta contra o imperialismo continua e sempre vencerá”, e que a “Nossa
Pátria será túmulo do capitalismo e da exploração”. Juraram que “Unidos
ao mundo inteiro” lutariam contra a burguesia. hoje, a Frelimo não só
deixou de lutar contra o imperialismo, como também implantou e defende,
de forma ferrenha, o imperialismo que dizia ser um cancro para a
humanidade, além de que a nossa pátria não só não foi o
“túmulo do capitalismo e da exploração”, como também se transformou num
campo de exploração do homem pelo homem pelas mesmas pessoas que
defendiam “túmulos para o capitalismo”.
Mais:
o hino do partido, que continua a ser entoado em reuniões de células,
dos comités distritais e Central, incluindo nas reuniões da Comissão
Política e nos congressos, incita os operários e camponeses a unirem-se
contra a exploração: “avante operários camponeses, unidos contra a
exploração”. E ainda vaticinam o triunfo do socialismo, um
sistema que eles abandonaram há mais de duas décadas: “sempre avante
unidos venceremos, socialismo triunfará”. Ora, o socialismo não só não
triunfou como também está no túmulo que estava reservado ao capitalismo.
Os exploradores que eles queriam combater, hoje, são eles mesmos.
Foi
neste contexto que em mensagem fúnebre da morte de Samora Machel, o
Comité Central da Frelimo “jurou combater a corrupção”, dizendo que se
comprometia “a apontar as armas também para dentro. Saberemos
neutralizar aqueles que enriquecem com a miséria”. Contudo, os que
juraram combater a corrupção são hoje os rostos do enriquecimento
ilícito. Ironia do destino!