07/12/2009
Na clandestinidade: Mboa escreve memórias da luta
Maputo, Terça-Feira, 8 de Dezembro de 2009
Notícias Matias Mboa abraçou a então Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) no longínquo ano de 1963. Fugiu de Moçambique com Samora Moisés Machel, com quem frequentou a escolaridade, na então Lourenço Marques, hoje cidade de Maputo. De dia ia para o trabalho e à noite se dedicava à busca do conhecimento o que, confessa, não era nada fácil, até porque trabalhava muito e ganhava pouco.Ganhava 850 escudos, 350 dos quais pagava a escola, 150 a renda de casa e o restante valor para despesas correntes.
Interrogado sobre a partir de quando começou a interessar-se pela política, Matias Mboa respondeu que na década 50 nalguns países africanos como por exemplo o Congo e o Gana, entre outros, já despontava o espírito independentista e tudo ganhou consistência quando já na década 60 Eduardo Mondlane – arquitecto da unidade nacional – visitou Moçambique, ido das Nações Unidas.
Segundo Matias Mboa esta visita consolidou a sua amizade com Samora Machel, seu companheiro de “aventura” pois ambos passavam por dificuldades, sobretudo económicas. E quando saíssem da escola percorriam longas distâncias a pé e iam falando de várias coisas, de entre as quais a visita de Mondlane, os movimentos independentistas africanos, entre outras. Ao grupo juntou-se mais tarde Simeão Massango, hoje a residir na Alemanha, mas com pretensões de regressar à “Pátria Amada”.
Mboa contou que algum tempo depois recebeu uma convocatória para a tropa colonial. Foi difícil, mas acabou entrando para o curso de sargentos tendo feito o juramento de bandeira.
Mas porque o fim não era a tropa colonial Samora começou a trabalhar para a minha saída da tropa. Ele instruiu-me a fingir que padecia de tuberculose, tossindo a toda a hora. Levaram-me ao Hospital Militar para a radiografia tendo me sido identificado um foco residual na base direita do pulmão, a ser considerado de acordo com a história clínica, contou Matias Mboa, anotando que na verdade não possuía nenhum foco, mas que era uma acção de Samora apenas para o livrar da tropa colonial.
A partir de então, segundo acrescentou, foi declarado incapaz de todo o serviço militar e inapto para o trabalho
Porque o movimento independentista já lhe dominava, empreendeu uma fuga, juntamente com Samora, para a Suazilândia, via Zitundo. Com o apoio do príncipe local a quem tinham contado a sua “aventura”, conseguiram algumas facilidades tal como um salvo conduta para abandonarem aquele país, para o Malawi, como naturais, sob a alegação de terem terminado o seu contrato de trabalho.
Na fronteira Samora foi posto de lado. Chegada a minha vez também fui afastado. Mal falávamos o inglês, e não sabíamos nada da língua local do Malawi tendo o agente fronteiriço descoberto que nós não éramos malawianos, mas sim moçambicanos. Passamos por situações difíceis e fizemos alguns exercícios até chegarmos ao Botswana, referiu, lembrando que durante meses viviam de chá, sob intenso frio.
A aventura prosseguiu com o envio secretamente, de uma missiva para Eduardo Mondlane, informando-o da difícil situação em que se encontravam. Eduardo Mondlane respondeu que tinha conseguido uma boleia num avião fretado pelo ANC, com destino a Dar-es-Salaam. Uma vez na Tanzania tiveram um encontro com Mondlane que lhes perguntou qual era o seu objectivo.
Respondemos que queríamos estudar, mas Mondlane disse que os estudos tinham que ser conciliados com os treinos militares. Tempo depois Samora ficou como chefe da base de Kongwa e eu como chefe do material e de segurança. Tempos depois, Mondlane ordenou o meu regresso para o sul onde fui nomeado representante político da Frelimo, na Suazilândia. Como tal, a minha tarefa era de mobilizar os jovens na então cidade de Lourenço Marques, em Gaza e Inhambane, e recrutá-los para aderirem à causa da luta de libertação nacional disse, lembrando que não foi trabalho fácil pois a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) estava constantemente em alerta para neutralizar qualquer tentativa de se juntar à causa da Frelimo.
No sul e sob forte vigia da PIDE, Matias Mboa produzia panfletos difundindo a causa da Frelimo e bandeira desta organização e, por outro lado, criava células secretas da Frelimo.
Fazíamos este trabalho em todo o lado, incluindo dentro da PIDE. Era um trabalho de alto risco porque a PIDE, essa temível polícia repressiva colonial, estava sempre em alerta, contou.
Residindo na Suazilândia, Matias Mboa recebeu uma carta de um amigo – Joel Maduna Xinani, comissário político da quarta região militar, convidando-o a se deslocar para Maputo, na altura Lourenço Marques. Uma vez nesta cidade foi nomeado chefe da quarta região militar abrangendo Maputo, Gaza e Inhambane.
Confesso que estava sob binóculos da PIDE. Eu era vigiado. Foi assim que um companheiro que me ajudou juntamente com Samora a fugir de Moçambique correu para a PIDE denunciar a minha presença no país e incluindo a minha localização em troca de 200 escudos. Fui preso e torturado na cadeia da Machava. Fui julgado e condenado a sete anos de prisão e mais seis meses de medidas de segurança, acusado de prática de actos terroristas. Devo dizer-lhe que o meu irmão que se encontrava no seminário foi expulso sob alegação de que no sacerdócio não se queriam terroristas, sublinhou.
CUMPRIDA A PENA ... DE NOVO AO TRABALHO
Maputo, Terça-Feira, 8 de Dezembro de 2009
Notícias Mas porque a intenção era Dar-es-Salaam voltou a empreender uma fuga juntamente com Jossefate Machel, abandonando o seu emprego no Banco Comercial de Angola.
Samora instruiu-me a regressar para o sul a fim de reassumir a chefia do sul do Save. Não tínhamos sede própria. Reuníamos em casas de amigos e a família Sumbane foi bastante prestimosa nesta matéria. Assim começamos a formar os grupos dinamizadores na clandestinidade e a mobilizar o povo para aderir ao objectivo da luta de libertação. Éramos muito fortes, referiu, vincando sempre que se trata de memórias constantes do livro que ontem saiu à rua.
E A VEIA DAS LETRAS?
Maputo, Terça-Feira, 8 de Dezembro de 2009
Notícias Segundo Mboa, este é o primeiro livro a ser publicado, mas muitos outros virão.
Interrogado sobre a quem dedica o livro, Matias Mboa fez saber que a sua esposa nasceu a 7 de Dezembro e a título póstumo decidiu homenageá-la.
É a ela que dedica esta obra, em reconhecimento de tudo quanto foi para mim, disse.
A capa do livro é da autoria de Malangatana Valente Nguenha e tem dois significados: a primeira bala disparada pela Frelimo no início da luta armada de libertação nacional e dos moçambicanos na clandestinidade, desarmados ante um inimigo fortemente armado.
O lançamento do livro de Matias Mboa contou com o patrocínio exclusivo da empresa Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM).
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Só por um motivo:-ter sido africano REALISTA, e não acreditar que comunismo tivesse algum dia lugar em África!
Porque é que não aparece na Oposição???Na luta pela instauração democrática!!!
É um cidadão muito válido, mas...
ainda que tenha dúvidas como conseguia enganar a PIDE!!!
Então é astuto...e isso demonstra inteligência!!!
Tem o meu apoio e admiração pelos princípios nacionalistas!!!
Obrigado Matias Mboa pela coragem que continua tendo e agora para a reposicao da verdade que tanto falta neste país.
Deus lhe dê mais saude. Creio que o teu livro suscitou-te inimigos que tudo farao para te abater a razao, desacreditando-o.
É destes mocambicanos nao lambe botas que Mocambique precisa.
Boas festas