A MORTE DE FILIPE SAMUEL MAGAIA E AS DIVISÕES NA FRELIMO
Entretanto
morreu, assassinado, Filipe Samuel Magaia, chefe do Departamento de
Defesa e Segurança da FRELIMO, numa emboscada preparada pela facção de
Samora Machel. Foi uma cilada na Província do Niassa, cujo executor foi
Lourenço Matola, braço direito de Samora, que baleou Filipe Magaia,
quando este tentava atravessar um riacho de madrugada. Lourenço Matola,
após o crime, foi entregue à polícia tanzaniana. Nunca foi ouvida por
moçambicanos a razão pela qual tinha cometido aquele crime hediondo,
apenas Samora, Marcelino, Chissano e o próprio Mondlane sabiam desses
motivos.Quando nós, os “Quadros” destacados para aquela missão de
abertura de uma frente de guerra, recebemos tal bárbara notícia, tivemos
uma queda de moral e a tristeza que se notava em todos os rostos. Não
tínhamos outra saída senão a de permanecer com a facção, liderada por
Samora Machel, para evitar o confronto entre combatentes.Aceitamos
acatar as ordens do criminoso Samora Machel e seu grupo. A partir desse
dia começamos a notar alterações no seio das estruturas da FRELIMO até
ao 2º Congresso da Organização, realizado na Província do Niassa,
Congresso que não foi nada pacifico. Desse Congresso quase surgiram duas
FRELIMOS:
·
Uma, ligada a Eduardo Mondlane, Samora Machel, Chissano e Marcelino dos
Santos, apoiados por uma facção de militares predominantemente
Macondes;
·
Outra, dirigida por Uria Timóteo Simango (Vice-Presidente da “Velha
FRELIMO”), apoiado por Nungo, Lázaro Kavandame, entre outros. Era a mais
fraca porque a primeira tinha cortado praticamente todos os contactos
entre Simango e os combatentes. Vivia em Dar-es-Salaam ou era confinado
em Mbeya e por vezes deslocava-se ao estrangeiro.
Essas
duas divisões no seio da FRELIMO, evidentemente, não interessavam a
ninguém, já que a luta pelo poder sobrepunha-se à luta pela
independência. Foi isto que provocou a morte de Eduardo Mondlane e daí
em diante a facção de Samora Machel ganhou mais força do que a de Uria
Simango.
Com
a morte de Mondlane, começámos a assistir a novas “cenas públicas”.
Recordo-me que, quando estive, temporariamente, na Zâmbia em tratamento,
após o ferimento que tive no primeiro combate em Tete, Samora apareceu
em Lusaka com o seu braço direito, Alberto Joaquim Chissano. Estes
começaram a destruir toda a obra de Uria Simango, desde documentos
importantes sobre a criação da FRELIMO até às fotografias que se
encontravam nas instalações da Organização.
De
referir que por causa desses conflitos de luta pelo poder, Casal
Ribeiro, que era adjunto de Filipe Magaia, também desapareceu “sem
deixar rasto”. Este tinha sido um combatente bem notável. Foi ele que
dirigiu as primeiras operações na zona de Mutarara, em Tete, operações
que viriam a fracassar devido à falta de material bélico, isto em 1964.
Os
crimes praticados dentro da FRELIMO tiveram cumplicidades dos governos
Tanzaniano, com Mwalimo Julius Nyerere, e Zambiano, com Kenneth Kaunda,
porque era nos territórios destes que eles eram cometidos! Por isso
muitos moçambicanos pediram asilo no Kenya, no Uganda ou na Etiópia até
aos dias de hoje.
(Excertos do livro a publicar)
Ovar, 4 de Janeiro de 2010
Álvaro Teixeira (GE)
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