Danilo dos Santos, filho do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos, é sócio do Banco Postal de Angola. José Filomeno dos Santos, outro dos filhos do ex-Presidente, tem interesses no Banco Mais. João Lourenço (via governador do Banco Nacional de Angola, José Lima Massano) mandou fechar estes dois bancos. Acerto de contas, políticas e sobretudo pessoais, mostram que o Presidente não está preocupado em ser sério e deixou cair a máscara de parecer ser sério.
Por Orlando Castro
Vencedor das eleições fraudulentas e opacas de Agosto de 2017 que deram a vitória ao MPLA e ao seu cabeça-de-lista, João Lourenço pôs em prática a separação de poderes “made in MPLA”. Ou seja, lavra a sentença e depois ordena aos seus acólitos que arranjem maneira de, com algum lampejo de legalidade, encontrar articulado que permita dar sustentabilidade jurídica à decisão.
Mentor de muitas e inesperadas supostas mudanças políticas e económicas, com exonerações em catadupa e criação de comissões para tudo e mais alguma coisa, João Lourenço vai deixando cair a máscara. Substitui ministros e governados que escolheu há meia dúzia de meses, recorrendo à fossa séptica do MPLA. Mas, mesmo aí, está com dificuldades em encontrar moscas de “qualidade”, tendo mesmo de recorrer a metamorfoseados percevejos.
Teoricamente reformador, João Lourenço tem tentado de várias formas (preferencialmente seleccionando alvos familiares e outros bajuladores do anterior Presidente da República, dos quais – aliás – fez parte) mostrar-se diferente. Em teoria tem conseguido. O problema está na prática. Apresenta verbalmente um projecto para construir uma espécie de “Trump Tower”, os lacaios aplaudem, os escribas elogiam, os acólitos externos felicitam, os amigos dão fiado. Quando chega a altura da construção… afinal só vai construir uma mísera cubata de adobo.
E quando, numa atitude suicida, alguém o confronta sobre o assunto, João Lourenço diz que a culpa é da família de José Eduardo dos Santos, dos traidores que deixaram os cofres vazios, dos marimbondos, dos malandros e – resumidamente – de todos aqueles que ainda não perceberam que Angola continua a ser o MPLA e que o MPLA continua a ser o (único) dono de Angola.
Empossado a 26 de Setembro de 2017 como terceiro Presidente de Angola (Agostinho Neto foi o primeiro, entre 1975 e 1979, e José Eduardo dos Santos o segundo), João Lourenço segue os mesmos passos que os seus antecessores.
João Lourenço, numa atitude revanchista, tem como único alvo acabar com a família Dos Santos, culpando-a de tudo e dessa forma desvirar a atenção do Povo e da comunidade internacional para o seu projecto unipessoal de domínio total do país, ou seja, a ditadura. José Eduardo dos Santos fez o mesmo, sendo Jonas Savimbi e a UNITA o alvo. Agostinho Neto fez também a mesma coisa, inventando um golpe de Estado em Maio de 1977.
Assim, torna-se cada vez mais claro que, até prova em contrário (que nunca existirá), todos os que tenham ligações familiares com José Eduardo dos Santos são culpados.
Pouco antes da proclamação da independência angolana, feita em Luanda, pelo MPLA, e no Huambo pela UNITA e FNLA, a 11 de Novembro de 1975, João Lourenço iniciou a carreira militar na República do Congo, tendo feito a sua primeira instrução político-militar no Centro de Instrução Revolucionária de Kalunga.
General na reforma, e até Julho de 2017 ministro da Defesa Nacional, João Lourenço integrou o primeiro grupo de combatentes do MPLA que entraram em território nacional via Miconge, em direcção à cidade de Cabinda, após a queda do regime ditatorial português.
Depois de participar em vários combates na fronteira norte, no período de guerra civil que se seguiu à proclamação da independência, João Lourenço ainda fez formação em artilharia pesada e exerceu funções de comissário político em diversos escalões, antes de partir para a então União Soviética.
É nesse processo de qualificação das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) que, entre 1978 e 1982, reforça a sua formação militar, além de obter o título de mestre em Ciências Históricas, pela Academia Político-Militar V. I. Lenine.
Sempre sob as ordens de Eduardo dos Santos, de novo em Angola, assume, entre 1982 e 1990, vários cargos militares, envolvendo-se em diversos combates contra as FALA (forças da UNITA), sobretudo no centro do país, até ascender a general das FAPLA. Começa então um percurso político e de ambição pessoal dentro do MPLA que o levaria até secretário-geral do partido, entre 1998 a 2003.
Com José Eduardo dos Santos a anunciar a intenção de deixar o poder com o fim do conflito armado (2002), João Lourenço posicionou-se na corrida à sucessão, o que lhe valeu uma longa travessia no deserto, depois de o então Presidente decidir manter-se no poder. Começou aí a germinar um paciente e bajulador acerto de contas, consumado em 2017.
A ingénua e suicida reabilitação política aconteceu em Abril de 2014, quando é nomeado por José Eduardo dos Santos para ministro da Defesa Nacional, culminado com a imposição do líder, em congresso, em Agosto de 2016, como vice-presidente do MPLA, antecedendo a sua entrada, por proposta pessoal de Dos Santos, na corrida eleitoral para chefe de Estado angolano.
Na continuada guerra a todos quantos presuma que são da família de Eduardo dos Santos, ou tenham alguma simpatia pelo antigo Presidente, João Lourenço não só está a cuspir no prato que o alimentou (e à sua família) de forma farta e faustosa, como não perde uma oportunidade para morder as mãos de quem, durante décadas, o amparou.
É claro que nem sempre é ele a cuspir ou a morder. Vemos cada vez mais serem os seus famintos vira-latas a cumprirem as suas ordens…
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