domingo, 30 de setembro de 2018

Mudou de nome, apoiou Trump e quis abolir a emenda que proíbe a escravatura. O que se passa com Kanye West?


Foi um fim de semana longo para Kanye West, perdão, para Ye. O rapper mudou de nome, discursou a favor de Donald Trump e defendeu a abolição da 13º emenda da Constituição, que proíbe a escravatura.
Randy Brooke/Getty Images
“Anteriormente conhecido como Kanye West. Eu sou YE.” Foi desta forma que, no sábado passado, o rapper norte-americano anunciou ao mundo, via redes sociais, o seu novo nome. Já não seria uma notícia pequena para um só fim de semana, mas está longe de ter sido única associada ao artista: Kanye (ou YE) participou também no programa Saturday Night Live (SNL) onde, depois das atuações, discursou a favor do presidente dos Estados Unidos — o que lhe valeu apupos vindos diretamente da audiência — e, já no domingo, publicou uma fotografia com um boné com o slogan da campanha de Trump (“Make America Great Again”), defendendo que a 13º emenda da Constituição dos Estados Unidos da América, que aboliu a escravatura, deveria ser, ela própria, “abolida”.
Por partes. O nome “Ye” é um diminutivo de Kanye e também o título do seu mais recente álbum, lançado em junho deste ano. Há ainda outra explicação: em junho, o rapper explicou à estação de rádio Real 92.3, numa entrevista que visava promover o novo disco, que Ye era a palavra usada com mais frequência na Bíblia. “Na Bíblia significa ‘tu’. Então, eu sou tu, eu sou nós. Passei de ser Kanye, que significa o único, para ser apenas YE — um reflexo do nosso bem, do nosso mal, da nossa confusão, de tudo. Sou um reflexo de quem somos”, disse, citado pela Sky News. Mudar o nome aos 41 anos poderá ser, no mínimo, confuso, sobretudo quando se é uma estrela à escala internacional. Talvez por isso a Vulture tenha escrito: “Kanye West Is Just YE Now Because Sure, Fine, Whatever”.
No mesmo artigo da Vulture, lia-se que era preciso esperar pelo SNL para ver se Adam Driver introduzia o artista como Kanye West ou como Ye. O certo é que, após a performance, o novo nome tornou-se secundário: depois de atuar, o artista fez um discurso de apoio a Donald Trump: “Muitas vezes falo com uma pessoa branca sobre isto e ela pergunta ‘Como é que podes gostar do Trump, ele é racista!’. Se estivesse preocupado com o racismo, ter-me-ia mudado da América há muito tempo. Não tomamos as nossas decisões apenas com base no racismo. (…) Se alguém me inspira e eu conecto com essa pessoa, não preciso de acreditar em todas as suas políticas”.
O comediante Chris Rock foi uma das pessoas que filmaram, em direto, as atuações e o discurso do rapper. No Instagram, numa das “stories” publicadas, é possível ouvir o artista a rir, ao mesmo tempo que diz “Oh meu Deus”. Também com base em vídeos referentes à última edição do SNL, é possível ouvir Ye a dizer perante a audiência que, nos bastidores do programa, houve quem pedisse ao rapper para não usar o chapéu com a mensagem “Make America Great Again”.
Tudo isto aconteceu no sábado, alguma coisa haveria de sobrar para domingo, dia em que Ye publicou uma fotografia no Twitter com a seguinte mensagem: “Isto representa o bem e a América a tornar-se completa outra vez. Não vamos mais terceirizar para outros países. Construímos fábricas aqui, na América, e criamos empregos. Proporcionaremos empregos a todos os que estão livres de prisões à medida que abolimos a 13ª emenda. Mensagem enviada com amor”. A 13º emenda da Constituição dos EUA aboliu oficialmente a escravatura e a servidão involuntária (à exceção, no último caso, de punição por crime cometido). Durante a tarde, o artista, que foi criticado pelo comentário, voltou a falar do assunto: “Não abolir, mas vamos alterar a 13º emenda”, sem explicar como nem em que sentido.
Entretanto, o ator Chris Evans, mais conhecido por interpretar a personagem “Capitão América”,  dirigiu duras críticas ao rapper,afirmando que não há nada mais “enlouquecedor” do que argumentar com uma pessoa “que não sabe de história, não lê livros e emoldura a sua miopia como uma virtude”. “O nível de conjecturas sem desculpa que encontrei recentemente não são apenas frustrantes, mas regressivas, sem precedentes e absolutamente aterrorizantes”, continuou.
Esta não é a primeira vez que os comentários do rapper causam polémica. Numa entrevista ao TMZ, em maio deste ano, o artista sugeriu que 400 anos de escravidão foram “uma escolha”: “Quando ouvimos dizer que a escravatura durou 400 anos. Quatrocentos anos? Soa a uma escolha”. Mais tarde, após uma onda de polémica, o artista defendeu-se, também através do Twitter, explicando que se referia “a uma prisão mental”.
A pergunta “O que se passa com Kanye West?” não é nova. Também em maio, um artigo do britânico The Guardian levava o título “O que aconteceu à estrela mais complexa do rap?”.

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