sábado, 29 de setembro de 2018

Polícia Judiciária escondeu trunfo da bala no caso do homicídio de Luís Grilo


ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Investigadores omitiram causa da morte do triatleta para evitar que os suspeitos se desfizessem da arma do crime

Assim que o corpo de Luís Grilo foi encontrado numa estrada de terra batida, em Avis, a mais de uma centena de quilómetros da casa onde morava, em Vila Franca de Xira, os investigadores de homicídios da Polícia Judiciária perceberam que tinha sido executado com um tiro na cabeça. Na informação que divulgou publicamente, a polícia referiu que o triatleta tinha sido vítima de morte violenta, mas omitiu o pormenor da bala.
Mais importante: de todas as vezes que interrogou Rosa Grilo, a viúva agora suspeita do homicídio, a PJ nunca lhe disse que sabia a verdadeira causa da morte do homem de 50 anos. Os jornais publicaram notícias dando conta que Luís Grilo tinha sido morto à pancada, facto que nunca foi desmentido pela polícia. E a suspeita terá acreditado que a decomposição do cadáver escondeu a real causa da morte. A polícia ficou em vantagem.
O objetivo, de acordo com uma fonte próxima do processo, era evitar que os suspeitos se desfizessem da arma do crime e fazer com que a mulher se sentisse acima de qualquer suspeita, enquanto os investigadores recolhiam os restantes indícios — acima de tudo biológicos — que levaram à resolução do crime.
O projétil foi recuperado dentro do crânio da vítima e através de testes científicos foi ligado à arma do crime, uma pistola 7,65 mm que estava legalizada e registada em nome de António Joaquim Félix, oficial de justiça, suposto amante de Rosa Grilo e alegado coautor do homicídio e profanação do cadáver de Luís Grilo. A arma foi recuperada nas buscas desta semana e é uma das principais provas contra os suspeitos. “A componente científica teve um papel vital na solução do caso”, frisa a mesma fonte.
O corpo de Luís Miguel Grilo foi encontrado a 24 de agosto, um mês depois de ter desaparecido, nu e com um saco de plástico preto enfiado na cabeça. Estava desfigurado devido à decomposição natural e ao efeito do projétil no crânio. “O objetivo era dificultar o reconhecimento”, explicou Paulo Rebelo, diretor da Polícia Judiciária de Lisboa. O saco de plástico tinha vestígios de ADN da viúva e havia traços de sangue da vítima na casa do casal.

DINHEIRO E PAIXÃO

Além de Rosa Grilo, foi detido António Joaquim Félix, funcionário do Ministério da Justiça, com quem a mulher manteria uma relação extraconjugal há alguns anos. As motivações do crime foram “financeiras” e “sentimentais”, como explicou Paulo Rebelo. Ou seja, Rosa e António terão decidido matar Luís Grilo porque eram amantes sem ninguém saber e porque Rosa queria livrar-se do marido e herdar os bens dele — era dono de uma empresa de informática e tinha algum dinheiro em poupanças. Deixou ainda um seguro de vida.
Luís Grilo desapareceu a 16 de julho deste ano e o alerta foi dado à GNR pela própria mulher, que fez cartazes com a fotografia do marido e as frases: “Onde estiveres, aguenta-te. Vamos encontrar-te, não vamos desistir.” Organizou e participou em grupos de busca. O corpo seria encontrado por acaso, cerca de um mês depois do alerta, numa estrada de terra batida perto da casa onde os pais de Rosa Grilo moram. A mulher tinha dito à policia que o marido saíra de casa para fazer um treino de bicicleta, tese que foi posta em causa pelo treinador, Nuno Barradas, uma vez que Luís Grilo tinha tido uma prova duríssima dias antes do desaparecimento e não gostava de de treinar na estrada, muito menos sozinho.
Ainda assim, os amigos e familiares da vítima nunca suspeitaram da viúva e atribuíram o crime a “um acidente”, “a um desentendimento na estrada” ou “um assalto que correu mal”. A PJ demorou dois meses a juntar as peças: Luís Grilo foi morto a tiro a 15 de julho, em casa, um dia antes do desaparecimento ter sido comunicado às autoridades. Os dois cúmplices enrolaram o corpo num tapete, taparam a cabeça da vítima com um saco e percorreram 140 quilómetros para abandonar o cadáver numa estrada deserta. Foram detidos dois meses depois e ontem, à hora do fecho desta edição, estavam a ser interrogados por um juiz do tribunal de Vila Franca de Xira. Arriscam a pena máxima de 25 anos de prisão pelo crime de homicídio qualificado, uma vez que a polícia acredita que o crime foi premeditado. 
A PJ ainda não sabe quem é que puxou o gatilho.
Este artigo foi publicado na edição impressa do Expresso de 29 de setembro de 2018.

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