quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Triatleta assassinado. A chave do mistério estaria, afinal, dentro de casa /premium

Triatleta assassinado. A chave do mistério estaria, afinal, dentro de casa /premium

27 Setembro 2018
Durante 2 meses, a PJ admitiu todas as hipóteses: acidente, desaparecimento voluntário ou crime. O corpo acabou por apontar para um caso passional. A mulher e outro homem são os principais suspeitos.
Os inspetores da Polícia Judiciária chegaram a Cachoeiras, concelho de Vila Franca de Xira, logo pela manhã. Levavam uma lista de diligências para cumprir — e a incerteza sobre se, ainda nesta quarta-feira, fariam detenções. A operação, rodeada de um enorme sigilo, tinha um primeiro alvo: Rosa Grilo, a mulher do triatleta encontrado morto na berma de um caminho de terra, em Avis, no final do mês de agosto.
Não era a primeira vez que falavam com ela, bem pelo contrário. Ao longo de 10 semanas, a viúva de Luís Grilo prestou declarações várias vezes no processo que investigava o desaparecimento e a morte do marido, como testemunha. Mas agora, era diferente. Com a lista de diligências, os inspetores levavam também a convicção de estarem perante o autor do crime. Ou um dos autores — além de Rosa Grilo, havia um outro alvo: um homem com quem a suspeita terá uma relação “de grande proximidade”, conta fonte da PJ ao Observador, e cuja identidade não foi revelada.
A operação desta quarta-feira serviria para tirar todas as dúvidas. Durante todo o dia, depois de buscas feitas nas casas de ambos, os dois suspeitos foram confrontados com dúvidas, pontas soltas e indícios encontrados pela investigação. As respostas que deram — ou não deram — terão acabado por os expô-los e os elementos recolhidos pelos inspetores bastaram para que fosse dado o passo seguinte: já a noite tinha caído quando foram emitidos dois mandados de detenção. Rosa Grilo e o tal outro homem foram detidos logo de seguida e levados para a sede da Polícia Judiciária em Lisboa, suspeitos do homicídio e da ocultação do cadáver de Luís Grilo.
Rosa Grilo, mulher do triatleta Luís Grilo, fotografada durante o funeral, a 30 de agosto (GUSTAVO BOM/Global Imagens)

O desaparecimento que ninguém compreendia

Durante semanas, o caso foi um quebra-cabeças, não só para a Polícia Judiciária, como para os amigos mais próximos do triatleta. Ninguém conseguia explicar um desaparecimento tão inusitado. Pistas sobre como foi aquele dia 16 de julho, só as contadas por Rosa Grilo, agora apontada como alegada coautora do crime. Foi a própria mulher de Luís Grilo que contou ao Observador os contornos do suposto desaparecimento do marido. Tudo teria acontecido por volta das 16 horas, quando Luís, um engenheiro informático de 50 anos, se despediu para um treino de bicicleta que deveria demorar, no máximo, duas horas.
Foi a própria mulher de Luís Grilo que contou ao Observador os contornos do suposto desaparecimento do marido. Tudo teria acontecido por volta das 16 horas, quando Luís se despediu para um treino de bicicleta que deveria demorar, no máximo, duas horas.
“Estávamos de férias, mas como eu ia fazer um exame no dia seguinte, que exigia alguma preparação e acompanhamento, ele ficou comigo em casa. Senão, estaríamos fora. Excecionalmente, foi treinar àquela hora“, contou, na altura. Rosa revelou também que, quando o marido saiu de casa na sua bicicleta Cannondale vermelha e preta, não levava documentos — apenas o relógio, para marcar os tempos, e o telemóvel, que costumava acondicionar numa bolsa de plástico no interior da roupa de treino, para proteger o aparelho do suor. Teria avisado que não ia demorar: às 18 horas tinha um treino de natação marcado com o filho do casal, um rapaz de 12 anos.
Rosa garantiu ao Observador que Luís se “despediu normalmente”. Quando as duas horas previstas passaram, não estranhou logo a demora. “Era normal prolongar um pouco o treino”, explicou na altura. Só participou o desaparecimento à GNR de Castanheira do Ribatejo quatro horas depois — quando, segundo disse, começou a anoitecer e as chamadas que, insistentemente, alegava ter feito ao marido continuaram sem resposta.

As buscas na zona de Cachoeiras arrancaram logo na noite do desaparecimento, mas só no dia seguinte os meios foram reforçados. Além do pedido de localização celular do telemóvel, foram destacados cerca de 20 militares da Guarda Nacional Republicana — incluindo binómios homem-cão. A Polícia Judiciária viria a juntar-se às operações e houve ainda a ajuda dos Bombeiros e até de uma associação cinotécnica (com vários cães). Isto além do grupo de amigos de Luís, que percorreu, dia e noite, durante semanas, toda a zona — desde os percursos mais óbvios, até aos mais descabidos.
Os amigos de Luís Grilo afixaram três outdoors para ajudar a encontrar o triatleta (JOÃO PORFÍRIO / OBSERVADOR)
Em entrevista ao Observador, Rosa Grilo dizia não ter palavras para agradecer a mobilização em torno do desaparecimento do marido. “O grupo de amigos dele é muito grande. São atletas amadores, muito unidos. Ficaram sensibilizados e vieram todos para cá — e quando digo todos, digo os filhos, as mulheres, as famílias todas. Eram imensas pessoas, nem sei como agradecer a esta gente toda“, disse na altura. Tal como os amigos mais próximos, também Rosa se mostrava incrédula pela falta de pistas. “Já percorremos tudo num raio enorme, os sítios onde ele costumava andar e até saindo um pouco das estradas. Mas nada…”.
"O grupo de amigos dele é muito grande. São atletas amadores, muito unidos. Ficaram sensibilizados e vieram todos para cá – e quando digo todos, digo os filhos, as mulheres, as famílias todas. Eram imensas pessoas, nem sei como agradecer a esta gente toda".
Rosa Grilo, em entrevista ao Observador, na altura do desaparecimento
Além de procurarem no terreno, os amigos afixaram panfletos e cartazes por toda a zona circundante — desde a porta da igreja, às paragens de autocarro. Neles podia ler-se a mensagem: “Onde estejas, aguenta. Não vamos desistir e vamos encontrar-te”. O número de contacto que aparecia nesses papéis era o de Rosa Grilo. Foram ainda afixados três outdoors, colocados estrategicamente à beira da estrada — um em Alverca, outro na Arruda dos Vinhos e outro em Castanheira do Ribatejo, entre Areias de Cima e Areias de Baixo. Os dias passaram a semanas e todos continuaram sem notícias.

A “quase-certeza” de que teria sido um acidente

Esses primeiros dias de buscas trouxeram uma mão cheia de nada. Houve quem dissesse ter visto um ciclista na estrada para o Carregado (mas sem adiantar pormenores de relevo sobre a pessoa que dizia ter visto), uma vidente portuguesa residente na Irlanda deixou um comentário na página de Facebook de Luís Grilo dizendo ter a localização precisa do corpo e houve ainda o relato de uma professora que dizia ter visto Luís, no dia do desaparecimento, pelas 18 horas, a discutir com um homem na Arruda dos Vinhos, a cerca de 20 quilómetros das Cachoeiras. Supostas pistas que acabar por revelar-se becos sem saída.
Os cartazes estavam espalhados por toda a zona circundante (JOÃO PORFÍRIO / OBSERVADOR)
As dúvidas eram muitas, mas havia, entre a maioria, uma convicção: o desaparecimento estaria ligado a um acidente ou a um acaso. “Ou ele está raptado em algum sítio, ou viu alguma coisa que não devia ter visto, ou estava no sítio errado à hora errada…”, especulava, na altura, Vítor Cunha, amigo e companheiro de equipa de Luís Grilo. Estava certo de que a hipótese de fuga estava fora de cogitação. “Não há um indicador de problemas, nem financeiros, nem de saúde, nem a nível familiar. Nada”.
As dúvidas eram muitas, mas havia uma certeza: o desaparecimento estaria ligado a um acidente. "Ou ele está raptado em algum sítio, ou viu alguma coisa que não devia ter visto, ou estava no sítio errado à hora errada…", especulava na altura Vítor Cunha, amigo e companheiro de equipa de Luís Grilo.
Também José Gabriel Quaresma, jornalista da TVI e amigo de infância de Luís Grilo, alinhava na mesma teoria. “Ele pode ter sido atropelado, assaltado para roubarem a bicicleta, raptado por uma máfia… Mas mesmo que seja para roubar… demora-se pelo menos cinco minutos. Ninguém viu nada? É uma impotência total porque todas as hipóteses vão bater no mesmo: não há pistas”, disse na altura ao Observador. “Parece que veio um objeto voador não identificado, pegou nele e na bicicleta, levantou-os e desapareceu com eles”, sintetizou. O corpo viria, mais tarde, a aparecer. A bicicleta ficou por encontrar.
A própria Rosa Grilo admitia a hipótese de um acidente ao Observador — embora tenha sido algo vaga na resposta. “Ou foi algum atropelamento… não vejo outra razão. Não acredito que tenha saído por sua iniciativa”, disse apenas.
A primeira pista de maior porte chegou apenas ao terceiro dia de buscas, na quarta-feira à noite. Através do sistema de localização GPS, foi encontrado o telemóvel de Luís Grilo. Estava desligado, fora da bolsa de plástico onde costumava ser transportado e atirado para uma berma de estrada em Casais da Marmeleira — a seis quilómetros da casa do homem desaparecido.
A própria Rosa Grilo admitia a hipótese de um acidente ao Observador -- embora tenha sido algo vaga na resposta. "Ou foi algum atropelamento... não vejo outra razão. Não acredito que tenha saído por sua iniciativa", disse apenas.
Em simultâneo, as câmaras de videovigilância de uma fábrica, a cerca de 100 metros do local onde foi encontrado o aparelho, mostraram um ciclista a seguir em direção às Cachoeiras. As imagens foram captadas por voltas das 17h40, a cerca de 20 minutos da hora a que era suposto Luís Grilo ter regressado a casa — mas, ainda assim, não permitiam perceber, com exatidão, a identidade do ciclista.
A casa de onde Luís Grilo teria saído no dia 16 de julho para um treino de bicicleta (JOÃO PORFÍRIO / OBSERVADOR)
O facto de o telemóvel ter sido encontrado — e sobretudo a  forma como foi encontrado — mudou, porém, o rumo da investigação. Não só o perímetro foi reduzido — antes disso as buscas estendiam-se pelos concelhos de Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira —, como foi levantada, pela primeira vez, a suspeita de o desaparecimento estar associado a um crime. Por isso, o caso passou para a alçada da Polícia Judiciária.
Numa primeira fase, o processo ainda esteve a cargo da unidade de desaparecidos, segundo apurou, na altura, o Observador, tendo depois passado para a equipa de homicídios. Ainda que, tal como os amigos mais próximos, sem qualquer indício que apontasse noutro sentido, também a PJ acreditasse que a hipótese mais forte era a de ter havido um acidente e o corpo não ter ainda sido encontrado. Afinal, Luís Grilo era descrito como “um homem sem inimigos”.

A descoberta do corpo – e a reviravolta na investigação

A história ia caindo no esquecimento. O desaparecimento de Luís Grilo parecia ganhar o mesmo destino de tantos outros que ficaram por explicar. Até à manhã de 24 de agosto. Nesse dia, um acaso mudou o rumo à história. Luís Martins, habitante de Alcórrego, em Avis, “calhou” de passar numa estrada de terra batida, saída do caminho municipal 1070, ao fundo da qual encontrou o cadáver do triatleta. Não se apercebeu logo que era o corpo de uma pessoa e seguiu em frente. Pensativo, percorreu poucos metros. “Parei, voltei para trás, fui verificar. Afinal, aquilo era uma pessoa”, disse, na altura, ao Observador. Alertou “imediatamente” a GNR de Avis e desconfiou logo, sem saber que tinha encontrado o corpo do triatleta desaparecido, que não se tratava de um acidente.

O mistério passou a ser outro. O desaparecimento estava esclarecido. Luís Grilo tinha sido encontrado largado naquela berma de estrada de terra batida. O cenário pouco comum em que foi encontrado impunha novas perguntas: quem assassinou o triatleta e como o fez?
A cena do crime era complexa. O engenheiro informático estava despido e com um saco preto na cabeça. Tinha ferimentos do corpo que revelavam sinais de grande violência. O crânio estava parcialmente desfeito. Ao lado do cadáver, havia um tapete preto caído num dos arbustos.
O cadáver foi encontrado por um habitante de Álcorrego na berma de uma estrada de terra batida (Foto: OBSERVADOR)
A PJ sabia que estes elementos podiam ter sido propositadamente colocados no cenário do crime para desviar as atenções das autoridades. Mas sabia também que podiam ser símbolos com influência direta no rumo da investigação, explicados até pela psicologia forense. E, por isso, todas as hipóteses foram postas em cima da mesa: do roubo que acabou mal, ao acidente; do homicídio passional, à vingança. Ainda que a maioria dos símbolos parecesse apontar para a hipótese de um crime passional.

O corpo foi deixado com os braços abertos e os pés chegavam, praticamente, ao limite da estrada — a mais de 130 quilómetros do local onde tinha sido visto pela última vez e a 17 quilómetros de Benavila, onde vivem familiares de Rosa Grilo. Aquele local era, aliás, um destino para onde o triatleta costumava pedalar, a partir de Vila Franca de Xira, e onde, depois, pernoitava em casa de familiares. Muitas vezes, a mulher acompanhava-o de carro.
Além de o local do crime estar relacionado com Rosa Grilo, o facto de Luís Grilo ter sido deixado sem roupa sustentava a tese de um crime passional. “Em casos de crime passional, o indivíduo, masculino ou feminino, pode ser deixado ou completamente nu ou com a zona púbica destapada, justamente para uma espécie de castigo”, explicou, na altura, Carlos Poiares, psicólogo e diretor da Escola de Psicologia e Ciências da Vida da Universidade Lusófona. Também o saco preto na cabeça e o tapete ao lado do corpo pareciam indicar que o homicida tinha uma relação de proximidade, amorosa ou familiar, com Luís Grilo. O saco e o tapete podiam ter sido utilizados para esconder o rosto da vítima, numa tentativa de o homicida se proteger da própria culpa. Seria como se não quisesse olhar para a cara de quem estava a matar.
“Em casos de crime passional, o indivíduo, seja masculino ou feminino, pode ser deixado ou completamente nu ou com a zona púbica destapada, justamente para uma espécie de castigo”
Carlos Poiares, psicólogo e diretor da Escola de Psicologia e Ciências da Vida da Universidade Lusófona
Mas o saco e o tapete podem também ter tido uma função mais prática. Luís Grilo foi agredido com muita violência na cabeça. Se isso tiver acontecido antes de o corpo ter sido levado para ali, então o autor (ou autores) do crime pode ter procurado uma forma de impedir que ficassem vestígios de sangue no carro usado para o transportar.
À medida que se iam abrindo novos rumos na investigação, alguns factos apresentados na altura do desaparecimento foram também sendo postos em causa. O treino que Luís Grilo teria feito antes de desaparecer deixou dúvidas ao próprio treinador, que foi até inquirido pela PJ. Dias depois de o corpo ter sido encontrado, o técnico revelou ao Jornal de Notícias que, afinal, o treino feito naquele dia não só não era assim tão habitual como era até “estranho”. Luís Grilo não costumava treinar em estrada a seguir a uma competição. Estava, aliás, em período de recuperação, depois de uma prova que tinha feito na Alemanha. Este facto pode ter tido algum peso na investigação da PJ, que não deixou de considerar importante saber se o treinador “tinha conhecimento prévio de todos os treinos ou só acompanhava semanalmente ou mensalmente”, para verificar até que ponto estas considerações seriam importantes.
O facto de Luís Grilo não ter o hábito de treinar na estrada nas semanas seguintes a uma prova levantou suspeitas sobre a tese apresentada pela mulher (FOTO: Facebook)
As hipóteses em cima da mesa não diziam apenas respeito ao móbil do crime. A PJ procurava também saber se Luís Grilo tinha morrido às mãos de um único homicida ou se foi morto por duas ou mais pessoas. A vítima tinha uma boa capacidade física, resultado da sua atividade de triatleta. As marcas no crânio pareciam revelar que Luís também teria batido no agressor, que teria de ter uma robustez física equivalente à do triatleta para matá-lo. Era pouco provável ser uma mulher, assumindo que teria sido apenas uma pessoa a cometer o crime.

As entrevistas da viúva, agora suspeita do crime

Nos dias que se seguiram à descoberta do corpo — e com a certeza que de, afinal, estávamos perante um cenário de crime, Rosa Grilo voltou a falar com os jornalistas. Em duas entrevistas, à SIC e à TVI, recusou de forma peremptória qualquer envolvimento na morte do marido. “Não tenho nada a ver com isso”, disse à estação de Queluz. “O Luís faz-me muita falta, faz parte da minha vida desde sempre. Difícil é imaginar o resto da nossa vida sem ele”, acrescentou.


À SIC, criticou também os que, sem conhecerem o casal, avançavam teorias sobre o que teria acontecido. “Nesta altura, toda a gente fala tudo, as pessoas dizem tudo, sem fundamento, o que é uma coisa extraordinária. Nós não temos nenhuma pista, não há nada que aponte em direção nenhuma e as pessoas inventam as maiores barbaridades sem nenhum fundamento”, garantiu.
Mais que isso, em ambas as entrevistas (nas quais não aceitou mostrar a cara) manteve sempre a mesma tese: o desaparecimento de Luís Grilo era inexplicável, a morte ainda mais. “Honestamente, não acredito que alguém lhe tenha feito mal propositadamente ou que tenha sido uma coisa premeditada”, explicou, adiantando cenários possíveis: “O roubo correu mal por causa da bicicleta, não é a mais valiosa que ele tem, mas valia alguma coisa. Ou, então, atropelaram-no e as coisas depois correram mal.”

O tom da entrevista à SIC ficou mais ligeiro quando Rosa Grilo, responsável pela área administrativa da empresa de informática do marido, foi questionada sobre se seria possível que ele tivesse uma vida dupla que explicasse o que aconteceu. A mulher riu-se da ideia: “Impossível uma situação dessas, o Luís não tinha tempo quase para treinar!”.
Rosa Grilo negou sempre qualquer envolvimento no desaparecimento e na morte do marido (GUSTAVO BOM/Global Imagens)
As entrevistas foram dadas já depois do funeral do triatleta, no qual Rosa Grilo usou a camisola que o marido ganhou na última prova que fez, na Alemanha. A revelação foi feita por ela própria, na entrevista à TVI, quando lamentou que alguns a tivessem criticado por ter ido de branco.

De testemunha a detida – e o homem com quem teria uma relação amorosa

Depois da descoberta do corpo — e nas semanas que se seguiram –, Rosa Grilo foi chamada várias vezes pela Polícia Judiciária. Prestou declarações e esclarecimentos adicionais sempre que a PJ teve dúvidas sobre determinado indício ou informação entretanto recolhida pelos investigadores e sempre na qualidade de testemunha. À SIC, ela própria confirmou essas conversas: “Percebo que eles estão a trabalhar, estão a fazer o melhor que podem e tenho estado sempre em contacto com eles, e sinto-me muito útil porque isto é desesperante”.
As inquirições acabaram por ser determinantes para o desfecho conhecido esta quarta-feira. A história contada desde o início, nos detalhes e explicações pedidos pelos inspetores, começou “a não bater certo”. As pontas soltas foram indicando o caminho e novas diligências terão permitido começar a construir uma tese radicalmente diferente da apresentada pela viúva. Pelo caminho, acabou por surgir a figura de um outro homem e a suspeita de uma relação extraconjugal.
O ambiente é de estupefação e revolta entre os que conheciam Luís Grilo. Ao Observador, um dos amigos do triatleta que estiveram envolvidos nas operações de busca disse que "nunca mais" falará sobre o assunto.
Por essa altura, era já dado como certo que o crime dificilmente teria sido cometido apenas por uma mulher. A violência das agressões, revelada pela autópsia, e o facto de o corpo ter sido transportado para o local onde foi encontrado (sobretudo tendo em conta a compleição física da vítima) apontavam mais para a presença de um elemento masculino, que tivesse a capacidade de o fazer. Novas diligências acabariam por levar a PJ a concluir que esse outro elemento masculino seria o tal homem alegadamente próximo de Rosa Grilo, numa relação que, até aqui, ninguém conheceria.

Também por isso, a notícia das detenções terá apanhado todos de surpresa. Ao Observador, um dos amigos do triatleta que estiveram envolvidos nas operações de busca recusou fazer comentários sobre as novas descobertas, dizendo apenas que “nunca mais” falará sobre o assunto e que isto foi “a maior fraude” da vida dele. O sentimento entre os que conheciam Luís Grilo é, sobretudo, de revolta, depois de ultrapassado o choque pela notícia da morte. Aparentemente, nunca tinham ouvido falar ou suspeitado de problemas no casamento do amigo, muito menos da existência de uma terceira pessoa.
A suposta relação entre Rosa Grilo e esse homem também detido estará, naturalmente, relacionada com o alegado móbil do crime, mas para já não é conhecida a tese dos investigadores quanto ao motivo exato para o homicídio. As detenções desta quarta-feira não fecham, aliás, a investigação, que continuará a tentar apurar todas as circunstâncias que levaram à morte de Luís Grilo.
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