sábado, 29 de setembro de 2018

O partido de Bolsonaro tenta impedir a circulação de VEJA


PSL quer que o Ministério Público do RJ também apure como a revista teve acesso aos dados do processo de separação do presidenciável e sua segunda esposa

O PSL, partido do presidenciável Jair Bolsonaro, apresentou na noite de sexta-feira, 28, uma notícia-crime ao Ministério Público do Rio de Janeiro pedindo a retirada das bancas da última edição de VEJA em razão de reportagem de capa da revista, que traz informações do processo envolvendo a separação dele e de sua segunda esposa, Ana Cristina Siqueira Valle, em 2008.
A reportagem revela que Ana Cristina acusou o deputado de ocultar patrimônio, receber “outros proventos” além dos salários de deputado federal e de militar reformado, de furtar um cofre no Banco do Brasil com joias e dinheiro pertencentes a ela e de ser um marido de “comportamento explosivo” e de “desmedida agressividade”.
O Ministério Público do Rio, em nota, não diz qual será o encaminhamento do pedido do PSL para recolher os exemplares de VEJA, e também não esclarece se efetivamente tomará alguma providência neste sentido.
O PSL também pediu a apuração de como a reportagem teve acesso a um processo que estava arquivado e tramitou em segredo de Justiça. Em nota, o MP-RJ afirma que a representação foi recebida pela 7ª Promotoria de Investigação Penal da 1ª Central de Inquéritos do MPRJ, onde “serão analisados os fundamentos para requisição de instauração de inquérito policial”.
Independente da apuração do MP-RJ, o corregedor-geral de Justiça do Rio de Janeiro, desembargador Claudio de Mello Tavares, instaurou uma sindicância administrativa “para apurar eventual envolvimento de servidores e/ou magistrados na concessão irregular de vista dos autos a terceiros”, já que, segundo ele, só podem ter acesso a processo de família as partes e seus advogados.

Histórico

A última vez que VEJA teve sua circulação proibida foi em dezembro de 1968, quando os militares mandaram apreender todos os exemplares da revista cuja capa trazia, poucos dias depois da decretação do Ato Institucional número 5 (AI-5), uma foto do então presidente Arthur da Costa e Silva sentado sozinho no Congresso. A imagem era um símbolo perfeito do momento em que o regime militar entrava em seu período mais duro.
Houve outros momentos em que se tentou — sem sucesso — recolher VEJA das bancas. Em 1992, quando a revista publicou a capa “Pedro Collor conta tudo”, em que Pedro Collor revelava detalhes da sociedade secreta entre o então presidente Fernando Collor e seu tesoureiro PC Farias, houve uma tentativa. O presidente Collor entrou na Justiça com uma ação cautelar para apreender as fitas com a entrevista gravada e tentar inviabilizar a publicação da reportagem – mas ele acabou recuando dessa ação.
Na eleição presidencial de 2014, o estafe da campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT) também tentou restringir a circulação de uma edição de VEJA em razão de reportagem às vésperas de uma eleição presidencial. A capa, com as fotos de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o título “Eles sabiam de tudo”, informava que o doleiro Alberto Youssef dizia que os petistas tinham pleno conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras.
O PT pedia a retirada do site e do Facebook do conteúdo e da propaganda da revista com a reportagem, alegando que ela tinha o objetivo de interferir na eleição. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deu uma liminar para suspender a propaganda, mas manteve a revista em circulação.

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