Ao fim de três anos de sucessão geracional na liderança do Estado moçambicano, chama-nos à atenção a postura de Armando Guebuza, último estadista da geração libertadora, marcada por um silêncio que até certo ponto pode ser visto como uma virtude, face ao quadro em que o antigo estadista é retratado, sem o mínimo de gentileza até devido a um criminoso condenado em reclusão.
A última alternância na chefia do Estado, que se concretizou com a investidura do Presidente Filipe Jacinto Nyusi, em Janeiro de 2015, pode ser como distinta na história de Moçambique independente, em virtude de ter marcado o fim da geração do 25 de Setembro na liderança do país e da Frelimo.
Olhando para as condições do país não é uma transição de fácil gestão, pois qualquer posicionamento público sujeita-se às mais diversas leituras, sendo que por uma questão de conveniência a tendência dessas leituras é que sejam maliciosas.
São mais três anos em que foi e está sendo notório o silêncio de Armando Guebuza, que se tem a virtude de maturidade e de prudência, nos privou de conhecer o seu pensamento, o que lhe vai na alma, face às sentenças condenatórias que se proferem e se multiplicam, sem direito a justo julgamento.
O silêncio de Guebuza pode ter sido determinante para a firmeza da liderança de Filipe Nyusi, que não terá encontrado ruido algum que pudesse justificar qualquer perturbação na sua gestão. Tal como os anteriores estadistas, Nyusi lidera o país e a Frelimo no seu tempo e no seu contexto.
Guebuza falou quando necessário, embora tivesse motivos para falar muito mais, limitando-se. na maioria das vezes, a responder a perguntas quando interpelado por jornalistas, sobretudo em eventos públicos.
Mas não pode haver a mínima dúvida de que o silêncio do antigo Presidente fala bem alto e guarda-nos muitas surpresas que um dia as conheceremos, quando o antigo líder julgar oportuno, para dizer da sua justiça. Guebuza sabe perfeitamente que saber esperar é uma virtude e não é a ele que se deve ensinar o “Pai Nosso”. É um conhecimento por justa causa, adquirido e moldado ao longo de penosas décadas que começam em plena juventude, tal como a maioria dos nossos libertadores.
Ao longo de muito tempo nos sentimos pequenos demais para aparecermos em público e emitir alguma opinião sobre o maldito debate em volta da figura do antigo estadista, mas lá está, às vezes o armazenar por longo tempo de angústias leva ao último suspiro precoce, e não gostaríamos de correr esse risco.
Sem querermos o ilibar de eventuais percalços na sua governação, aliás nem nos pediu muito menos nos passou procuração para esta reflexão, recusa-se a calar o sentimento em nós, de que o antigo Presidente também executou obra, no seu tempo e no seu contexto, que ficará para sempre na história dos moçambicanos. Não queremos aqui e agora defender que não se fale disto e daquilo que possa envolver a figura do antigo estadista, mas tão-somente que havendo razões para julgamento, que lhe seja garantido julgamento justo e não seja usado para agendas obscuras, que buscam o fim único a neocolonização de Moçambique.
Não se pode proferir sentenças convenientes absolutamente injustas, apenas em cumprimento de agendas obscuras, pois não há dinheiro que pague a imagem de um homem, edificada por mérito próprio.
A quem de direito se determina hoje que venha à praça pública guilhotinar pessoas a qualquer preço, pontapeando-se as básicas normas de justiça, apenas para mostrar serviço aos patrões que vão investindo rios de dinheiro para alimentar os seus marionetes, que carregam a cruz do saudosismo de Moçambique antes de 25 de Junho de 1975. Esta meta, de difícil cumprimento face à nobreza dos moçambicanos, enquanto não for atingida, continuarão na forja bodes expiatórios.
E hoje que a Procuradora Geral da República veio a público denunciar falta de colaboração de Estados e Instituições internacionais no esclarecimento do processo das chamadas dívidas ocultas, o que dirão os mensageiros? Para eles até pode não ser matéria de notícia ou debate, pois tudo quanto fazem não o fazem por vontade genuína, mas sim para garantir um estômago sempre cheio.
Beatriz Buchili foi mais longe ao revelar que entre os Estados e Instituições internacionais que não querem colaborar fornecendo informações solicitadas, até figura alguém que suspendeu financiamentos a Moçambique, a pretexto das chamadas dívidas ocultas que entretanto não colaborar no seu esclarecimento. E o pedido de informação dura há mais de dois anos, sendo que o Fundo Monetário Internacional tem conhecimento pleno da situação estranha, mas faz vista grossa para ajudar a cumprir o plano de asfixia económica para forçar a mudança do regime.
E aqui exigem que o desfecho seja ainda hoje, e se não se publicar os nomes dos supostos implicados é porque se está a esconder algo.
Sobre as chamadas dívidas ocultas mau grado Afonso Dlhakama e a Renamo terem concretizado a ameaça de guerra, pois acabou legitimando a decisão oportuna e soberana de investimento nas Forças de Defesa e Segurança. Sem a concretização da ameaça de guerra não se sabe lá muito bem se hoje estaríamos a falar das malditas dívidas ocultas. A ameaça de guerra concretizada abriu portas para tudo o que se seguiu.
Caricato é questionar a “marginalização” do Parlamento nesse processo, quando bem se sabe que a ameaça de guerra concretizada tem também adeptos com peso significativo nesse mesmo Parlamento, adeptos a quem se devia (?) ter solicitado autorização para o equipamento das Forças de Defesa e Segurança, para a defesa da integridade territorial e da soberania! São coisas que só podem acontecer em Moçambique! Partilhar com o inimigo a estratégia de enfrenta-lo!
Vale lembrar que as Forças de Defesa de Moçambique foram “reformadas” num espírito de boa-fé que pesou no Governo depois do Acordo Geral de Paz, confiando na prometida desmilitarização plena da Renamo, que entretanto, durante décadas logrou fazer o boi dormir, mantendo a sua máquina de guerra intacta com direito a rejuvenescimento permanente!
Não negamos que nesse investimento não terá havido desvios de aplicação. O que defendemos são sentenças precoces, sem julgamento, em pleno Século XXI. E se houve desvios de aplicação não é líquido concluir que este e aquele foram os responsáveis sem o competente julgamento, porque o que parece pode não ser.
Haverá que saber esperar e confiar nas instituições, porque como defendemos, saber esperar é uma virtude. As instituições não devem ser confiadas apenas quando ilibam companheiros de certos ilícitos cometidos no exercício da liberdade de expressão e de imprensa.
A verdade inevitável é que um dia Guebuza vai quebrar o longo silêncio ensurdecedor e saberemos de tudo o que lhe vai na alma, dizendo da sua justiça. Disso temos a certeza absoluta, pode-se escrever. (x)
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