quarta-feira, 9 de maio de 2018

McCain prepara o funeral

McCain prepara o funeral e Trump não está convidado

O senador republicano impediu, em 2017, o fim do programa Obamacare, o que lhe valeu severas críticas do Presidente norte-americano.
O senador John McCain numa conferência de imprensa sobre a Lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA), em Washington, Outubro de 2017
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O senador John McCain numa conferência de imprensa sobre a Lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA), em Washington, Outubro de 2017 REUTERS/AARON BERNSTEIN
O senador republicano, John McCain, de 81 anos, começou a preparar a sua cerimónia fúnebre, junto com os amigos mais próximos e conselheiros, e terá expressado que não quer o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, presente.
De acordo com um artigo publicado, no sábado, no jornal New York Times, fontes próximas do congressista norte-americano terão informado a Casa Branca de que, segundo a vontade de McCain, em vez de Trump, deverá ser o vice-presidente Mike Pence, ex-governador do Indiana, a representar a actual Administração americana no funeral – que se realizará na Catedral Nacional em Washington. Já o ex-Presidente e rival Barack Obama – contra quem McCain perdeu nas eleições de 2008 –, assim como George W. Bush, contra quem concorreu nas primárias em 2000, estarão convidados para participarem na cerimónia e também para dizerem algumas palavras, segundo o jornal espanholEl Mundo.
Orrin Hatch, senador republicano do Utah, reagiu em delcarações à estação televisiva CNN, nesta segunda-feira, dizendo que é "ridículo" que John McCain, senador dos Estados Unidos desde 1986, não queira o actual Presidente Donald Trump no seu funeral: "Ele é o Presidente dos Estados Unidos. Ele é um homem muito bom." Não obstante, Hatch acredita que McCain "entrará para a história como um maravilhoso senador" e que "deve ter os desejos cumpridos em relação a quem comparece ao funeral".
O senador tem um cancro do cérebro, diagnosticado em Julho de 2017, e tem vindo a receber pessoas do círculo íntimo em casa, no Arizona. Em Abril, McCain foi operado devido a uma infecção intestinal. As visitas servem, essencialmente, para partilhar memórias e "tratar de assuntos inacabados".
O jornal New York Times falou com alguns dos amigos mais próximos de McCain, incluindo o ex-vice-presidente democrata e amigo de longa data Joe Biden – cujo filho morreu com o mesmo tipo de cancro – , tendo em conta que o próprio se recusa a dar entrevistas.
Entre confissões e desejos, McCain terá pedido a Biden para este "não abandonar" a política, cita o New York Times. Quem irá preencher o seu lugar no Senado terá sido também um dos temas em discussão, com alguns dos seus associados a expressarem vontade de que seja uma "pessoa McCain" a ocupá-lo como, por exemplo, a sua esposa Cindy McCain, segundo o mesmo jornal americano.

Uma relação conflituosa com Trump

Não é novidade que o presidente Donald Trump e o senador republicano John McCain têm uma relação conflituosa. Conhecido no Senado como o "dissidente", McCain foi um dos responsáveis do Partido Republicano que mais criticaram Trump.
Durante a campanha presidencial de 2016, Donald Trump, por sua vez, humilhou McCain por este ter perdido contra Obama nas eleições presidenciais de 2008 e pôs em causa o estatuto de herói durante a Guerra do Vietname. "Ele não é um herói de guerra porque foi capturado e eu prefiro as pessoas que não se deixam capturar", disse, em 2015, citado pelo jornal El Mundo
Em 1967, durante uma missão militar, o avião de McCain foi abatido durante um bombardeamento em Hanói, capital do Vietname, tendo McCain sido capturado e torturado. Quando os captores descobriram que era filho de um oficial de alto escalão da Marinha dos Estados Unidos, ofereceram-se para o libertar. Porém, McCain recusou a libertação por não querer violar o código de conduta militar e abandonar os companheiros, decisão que, posteriormente, ajudou a sua entrada para o Partido Republicano, principalmente junto do eleitorado mais conservador e militar, segundo o jornal espanhol. Acabou por ser libertado em 1973.

O último livro: A Onda Inquieta

Recentemente, como forma de manter o seu legado e memórias, McCain participou num documentário da HBO e co-escreveu aquele que o próprio reconheceu ser o seu último livro.
Intitulado A Onda Inquieta ("The Restless Wave", em inglês), que será lançado no próximo mês de acordo com o New York Times, o livro tece críticas a Trump, mas também ao próprio McCain, que se mostra arrependido por não ter escolhido o ex-senador Joe Lieberman para candidato a vice-presidente na eleição presidencial de 2008, em vez da conservadora Sarah Palin.
O republicano do Arizona afirma, num excerto, que não sabe "por quanto mais tempo" estará aqui e apela à união dos americanos.
Texto editado por Victor Ferreira

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