TEMA DA SEMANA 2 Savana 10-03-2017
Asaga no Movimento
Democrático de Mo-
çambique (MDM)
parece estar ainda longe
do fim. Um mês depois de o
membro da Comissão Política
do Partido ter lavado roupa suja
em público, denunciando perseguições
internas no partido, devido
à sua intolerância contra a
corrupção, o contundente edil de
Nampula não retira o pé do acelerador.
Com a mesma frontalidade
de há um mês, Mahamudo
Amurane, em exclusivo ao SAVANA,
reitera que o que disse,
publicamente, é aquilo mesmo e
remete qualquer esclarecimento
ao presidente do MDM, Daviz
Simango. O edil deixou claro
que, para ele, o interesse público
é mais importante que o MDM
e esse é que tem sido o princípio,
pelo menos, no município que
dirige. “Isso é lógico, é visível,
tenho trabalhado assim e vou
continuar”, afirma, frisando que
o Estado nunca pode ser partidarizado.
Critica os servidores
públicos que, em nome de disciplina
partidária, encobrem actos
que lesam o interesse público em
benefício de agendas partidá-
rias. “Temos de nos contradizer,
sim, quando se justifica. Temos
de nos posicionar com frontalidade
para defender os interesses
da maioria”, diz Amurane, para
quem esse é o caminho que este
país precisa de seguir, ao invés de
se estar amarrado a questões políticas.
Interpelámo-lo, semana
finda, em Tete, onde durante dois
dias participou da III Sessão Ordinária
da Associação Nacional
dos Municípios de Moçambique
(ANAMM).
Que balanço, que ilações desMahamudo
Amurane ao SAVANA
“O povo é mais importante que o MDM”
ta III Sessão Ordinária da
ANAMM?
Nesta terceira sessão, trouxemos
debates sobre assuntos que precisamos
aprofundar. Mas para realmente
avançarmos com processos
de defesa dos associados, é preciso
que a Associação liberte-se por
completo do Governo central. É
preciso que mesmo as suas estruturas
emirjam dos seus associados,
não tem de ser um processo em que
se está muito acoplado ao Governo
porque fica muito difícil fazer
toda a pressão necessária para interesses
dos associados que são os
municípios. Mas esta mensagem
ficou clara e registada e espero que
ao longo dos próximos tempos,
quando já estivermos a avançar as
nossas ideias em termos de debates
no nosso Congresso, possam
estas ideias serem afloradas, de tal
forma que a Associação Nacional
dos Municípios se constitua, realmente,
numa organização que defende
os interesses dos municípios
porque há muitas questões que
precisam ser tratadas.
Como quais?
Repare que, neste mandato em
que faltam dois anos para o seu
término, nós vínhamos com a
expectativa de termos os serviços
de saúde e educação primários já
transferidos e, neste momento, já
estaríamos noutro patamar. Inclusive
foram convidadas as partes
do Governo que lidam com esta
matéria das autarquias, através da
Direcção Nacional da Administração
Estatal e Função Pública,
para que pudessem vir explicar
por que motivos ou qual é o estágio
da aplicação da Lei que regula
sobre todo o processo de
transferência dessas competências
e das funções a nível da educação
primária e da saúde primária (mas
gazetaram). Mas fora estes temas,
há vários aspectos candentes que,
ao nível dos associados, precisamos
de fazer toda a pressão, de tal
forma que, os interesses sejam, realmente,
acautelados e resolvidos,
atempadamente, e sem problemas
maiores em termos de paixões políticas
porque nós estamos a falar
de defesa dos interesses dos muní-
cipes que são moçambicanos. Não
estamos a falar de um outro povo,
estamos a defender o mesmo povo
que o Estado tem a obrigação de
prover todo o tipo de serviços.
Então, existe esta autonomia administrativa
e financeira ao nível
dos municípios, mas é preciso que
os serviços sejam descentralizados.
E há também uma questão
que importa: a falta de capacidade.
Este é um discurso apenas de bode
expiatório que não constitui a verdade
porque não somente nós, ao
nível das autarquias, os técnicos
que temos, alguns deles, vieram
de várias instituições do Estado,
como Saúde, Obras Públicas,
Saúde e a maior parte deles já se
integrou nos municípios. Significa
que quando forem transferidos
os serviços da saúde primária e da
educação primária, naturalmente,
nós vamos trabalhar com estes
técnicos que lá estão. Naturalmente,
vamos orientar segundo aquilo
que são os programas da direcção
que lá estiver, nesse caso, dependendo
daquilo que foi o manifesto
eleitoral em cada uma das autarquias.
Portanto, não constitui verdade
que não haja competência; o
país tem capacidade em termos de
técnicos, então, tendo esses servi-
ços, nós vamos absorver esses técnicos
e, naturalmente, vamos encaminhar
aquilo que são as nossas
orientações e esperamos que eles
possam acatar para o cumprimento
cabal daquilo que são as nossas
promessas junto das nossas populações.
Está a dizer que a ANAMM não
tem sido um verdadeiro defensor
dos interesses dos municípios?
Mas é claro que não tem tido esse
papel, não tem essa força, justamente,
por estar demasiado dependente
do Governo central. O
que nós estamos a dizer é que esta
Associação assuma o seu papel e
que as suas estruturas emirjam dos
próprios associados, desde toda
a composição até ao presidente
que deve ser um indivíduo que
defenda, efectivamente, os interesses
dos municípios e não ir lá
com capa de que vai defender os
interesses dos municípios, quando
tem outra agenda ou é obrigado a
assumir outra agenda porque não
se pode contradizer com o Governo
central.
Tirar camisa partidária e defender
interesse público
Até que ponto as cores partidá-
rias têm falado na ANAMM?
Falam muito, lógico. Como podem
perceber, a composição do
próprio secretariado da presidência
tem a ver com as cores
partidárias, justamente, porque
a maior parte das autarquias estão
nas mãos da Frelimo e a sua
(ANAMM) estrutura foi composta
na base dessa lógica. Mas o
facto de um presidente de município
ser do partido A ou B… ele
deveria deixar a sua camisa partidária
e ir defender aquilo que são
interesses dos municípios. Eu, por
exemplo, fui eleito, como sabem,
por um partido, mas quando lá
cheguei, a lógica é essa: defender
os interesses dos munícipes. E
tenho trabalhado com todos os
munícipes, independentemente,
de qual for o partido a que pertencem
e a ANAMM também
deveria olhar esta composição.
Por exemplo, se há um presidente
que os associados julgam que é
melhor ou capaz de ir apresentar
as questões que tem que ver com
o interesse do município, aí não
tinha que a ver a lógica de qual o
partido que mais governa. Tinha
de ser uma eleição ao nível dos
associados que devem chegar à
conclusão de que o presidente do
município X ou Z tem melhores
condições para defender interesses
dos associados. Portanto, nós
temos de deixar essa lógica de que
eu sou o partido tal, então, tenho
de defender a posição daquele
partido. Esta sociedade nunca
vai evoluir, nunca vai avançar,
justamente, se nós não tirarmos
essas camisas partidárias quando
estamos nas posições governativas.
Nós temos é que olhar aquilo
que é o interesse dos munícipes,
no caso dos municípios e, quando
você é um governante de nível
nacional, tem de ser o interesse
nacional, independentemente, de
que partido você é. O que está a
contar, neste momento, no nosso
país, é que não podemo-nos contradizer
em relação às posições
dos nossos partidos. Isso, na minha
opinião, é muito errado. Nós
temos de nos contradizer, sim,
quando se justifica essa contradi-
ção. Temos de nos posicionar com
frontalidade para defender os
interesses da maioria, do povo,
Por Armando Nhantumbo
- o membro da Comissão Política do partido e edil de Nampula diz que a sociedade nunca vai evoluir enquanto não se tiram as camisas
partidárias
Nós temos de deixar essa lógica de que eu sou do partido tal, então, tenho de
defender a posição daquele partido, Mahamudo Amurane
TEMA DA SEMANA Savana 10-03-2017 3
para o desenvolvimento desta sociedade.
E é esse o caminho que
este país precisa de levar, ao invés
de se estar amarrado a questões
políticas porque a política, na verdade,
serve quando já é apresentado
um programa, a partir do momento
em que a pessoa é eleita, no
caso do município, então, é preciso
olhar quais são os interesses para
o desenvolvimento da cidade, para
trazer melhores oportunidades de
emprego, a cultura, o desporto e
tudo que tem a ver com o desenvolvimento
sócio-económico de
uma comunidade e de um país no
geral.
Dito por outras palavras, no
município de Nampula, por
exemplo, o interesse público é
mais importante que o próprio
MDM. Ou não?
Muito maior. Isso é lógico, é visí-
vel, tenho trabalhado assim e vou
continuar, tanto é que, quando
eu lá cheguei, procurei as pessoas
mais competentes possíveis e
convidei todos eles, inclusive da
Renamo, para fazerem parte do
meu Governo, mas não para fazerem
política, mas sim para mostrar
aquilo que poderiam ser as suas
capacidades. Eu estou a trabalhar
com gente da Frelimo, gente do
MDM, do PAHUMO não temos
nenhum elemento, mas não olho
qual é o partido da pessoa, olho
sim que é técnico, é competente,
para levar a cabo uma determinada
situação em termos de provisão
de serviços aos munícipes e é isso
que os governantes deste país precisam
de fazer.
E não teme que isso crie fracturas
internas no MDM e fragilize
o próprio partido, numa altura
em que se afinam as máquinas
para as próximas eleições?
Mas temer porquê? O partido já
apresentou uma proposta nesse
sentido de que temos de trabalhar,
primeiro, em despartidarizar o
Estado. O Estado nunca pode ser
partidarizado e essa é a lógica que
toda a comunidade, tanto nacional,
como internacional, tem vindo
a apelar. Então, Moçambique
precisa é de técnicos, completamente,
distanciados daquilo que é
a posição do partido. A lógica em
Moçambique e na África em geral
tem de ser esta: nós estamos lá
para prover serviços que, realmente,
são do interesse da maioria.
Mas desde aquela entrevista na
qual denunciava perseguição no
seu partido, alegadamente, porque
não compactua com corrup-
ção, na opinião pública, comenta-se
que está de saída do MDM.
Sim ou não?
Não vou responder a essa pergunta.
É uma pergunta traiçoeira. Já
há especulações, a nível nacional,
e o senhor já está fazendo essa
especulação, por isso, eu não vou
responder. Em relação aos meus
pronunciamentos, que o senhor
terá acompanhado, são esses e eu
defendo tudo o que mencionei
naquela entrevista e, portanto, vai
continuar a ser. Agora, não vou
responder se sim, se não, se aonde,
se aquele, todas essas especulações
não existem. Se quer saber alguma
coisa a respeito do Mahamudo
Amurane, em relação àquelas
matérias, vai naquela entrevista e
o senhor interpreta como julgar
melhor.
Porquê não participou da recente
Sessão da Comissão Política
do MDM, que decorreu, justamente,
na cidade em que é edil
e eleito em nome deste mesmo
partido?
Pergunta ao presidente do MDM.
Tudo que tem a ver com as matérias
que eu veiculei, que eu já
deixei claro, o senhor querendo
analisar, investigar sobre aquelas
matérias, vá àquela matéria, estude
e faça as suas interpretações. Não
cabe a mim.
Agora referimo-nos à sua ausência
do conclave do partido e não
à entrevista?
Eu não vou comentar essa pergunta.
Não vou comentar, nem
vou responder.
Enquanto o edil não responde, o
que está a acontecer é que se está
a estabelecer uma ligação de causa
e efeito entre as suas declara-
ções, uma semana antes, e a sua
ausência na Sessão.
Você é que está a interpretar nesse
sentido.
Neste mês de Março assinala-se
o nono aniversário da constitui-
ção do MDM, em 2008. O que
acha dos nove anos deste partido
que surgiu de desentendimentos
políticos entre o presidente da
Renamo, Afonso Dhlakama, e o
edil da Beira, Daviz Simango, na
altura pela Renamo?
Não vou responder essa pergunta,
não sou presidente do partido, sou
muito novo, então, essa pergunta
você coloca ao Daviz Simango
que ele vai saber responder…
Perguntamos-lhe na qualidade
de militante do MDM.
Por isso que estou a dizer que coloca
essa pergunta ao senhor Daviz
Simango, ele vai saber responder
essa pergunta. E o meu muito
obrigado.
Então, voltemos à ANAMM. No
primeiro dia desta III Sessão,
disponibilizou-se a liquidar a
dívida de mais de um milhão de
meticais que o município da Ilha
de Moçambique, governado pela
Frelimo, tem com a ANAMM.
Achou inteligente a recusa da
Ilha?
F
alemos da paz. Há quem defende que a
ANAMM devia estar presente no actual
debate sobre a descentralização. É da mesma
opinião?
Mas é claro, a ANAMM é uma estrutura que
representa os municípios e, sendo os municípios
parte integrante desta sociedade e que segundo
estatísticas, 35% da sociedade moçambicana está
na cidade, faz sentido que em toda a discussão
política sobre a descentralização, os municípios
sejam envolvidos e, neste caso, quem nos representa
é a ANAMM. E é por isso mesmo que acabei de
referir que a ANAMM tem um problema que
precisa ser resolvido que é a dependência muito
forte do Governo central e ela, provavelmente, não
esteja lá por causa deste motivo: a dependência. Se
fosse uma agremiação que, na verdade, representasse
os municípios e independente, poderia colocar lá as
suas posições de forma independente, colocando
as opiniões a nível das comunidades em primeiro
lugar e em segundo lugar a nível dos associados.
Portanto, é esta questão que nós estamos a defender
em como a ANAMM precisa de ser muito
proactiva e ter uma capacidade mais alargada em
termos de defesa dos interesses dos municípios.
Por falar da descentralização que, na verdade,
é uma das pedras angulares para a paz em
Moçambique, como é que tem acompanhado
os últimos passos dados pelo presidente da
República e o presidente da Renamo sobre estas
matérias?
Eu tenho acompanhado com preocupação porque
o debate deve ser levado com muita seriedade,
envolver toda a sociedade moçambicana, todas
as forças vivas para que realmente encontremos
uma plataforma que satisfaça a maior parte dessas
partes que compõem a sociedade moçambicana.
Não pode, em nenhum momento, por exemplo,
haver debate de duas forças políticas, no caso, a
Frelimo e a Renamo. Este não é um modelo muito
adequado e esse seria o envolvimento de todas
as forças e haver discussão desapaixonada desta
questão e avançarmos com clareza o que de facto
é necessário fazer-se, neste país, porque esse é um
facto e toda a gente sabe e acha que, realmente, a
lógica para o melhor funcionamento deste vasto
território passa realmente pela descentralização.
Não é só uma questão política, é que a nível
administrativo não funciona. Você pode ter uma
empresa multinacional, mas se ela é gerida de
forma centralizada, isso não funciona. Há decisões
que são tomadas a nível local e há assuntos que
são tratados a nível local. Então, a questão da
descentralização, não é só política, do ponto de
vista de funcionalidade, é também uma questão
administrativa para que este país possa funcionar
melhor. Porquê nós não avançamos? Porque a Lei,
no modelo actual, não permite a descentralização,
seja a nível político, administrativo e financeiro.
Então, é preciso tocar no instrumento legal, que é
a Constituição da República, para que possamos
acomodar esses elementos da descentralização.
Precisamos de ir mais longe. A questão de eleição
dos governadores, esta tem de ser uma realidade.
Agora o modelo que eu tenho acompanhado
sobre se a Renamo precisa, neste momento, a
indicação dos seus 6, não sei 4, ora 5 governadores,
isso não funciona. Não é de um modelo baseado
na indicação que nós precisamos porque não vai
resolver, antes pelo contrário, vai adiar a solução.
Vamos ao ponto essencial: discutirmos, alterarmos
a Lei e aí avançarmos às eleições e eleição directa
dos governadores para que haja Assembleias
também funcionais a nível das províncias.
Nem a recente integração de diplomatas baseados
em Maputo trará resultados?
Não terá resultados se for no sentido de satisfazer a
reivindicação da indicação de governadores. Com a
indicação de governadores, fica claro que, afinal de
contas, não é para defender interesses da maioria,
é para defender interesses de grupo, ou seja, de
partidos, neste caso, da Renamo e da Frelimo
e não da Nação. Mas é preciso usarmos esta
oportunidade, já que também houve a cessação das
hostilidades, para que se apresente clareza ainda
nesta legislatura. Agora, é verdade também que os
nossos parceiros internacionais, mesmo parceiros a
nível interno, que estão a fazer um bom trabalho,
em termos de pressão, continuem para que, de facto,
o Governo venha a ter a sensibilidade de avançar
com estas matérias que são extremamente sérias
para o funcionamento da nossa sociedade. Por isso,
eu continuo a acreditar que a melhor forma de nós
avançarmos é a descentralização efectiva.
A receita para a paz
Precisamos de ir mais longe
Não vou comentar se é inteligente
ou não. Você interpreta e você
transmita essa opinião ao público
em geral. O meu acto foi aquele,
sempre defendendo interesses colectivos.
Agora, o que aconteceu a
posterior, você então poderá dar a
matéria e cada um vai interpretar
como julgar melhor.
Porque não redireccionar o mesmo
apoio para o município do
Gurúè, que está nas mãos do
MDM e também com dívidas
para com a ANAMM? Aliás, no
caso do Gurúè, a factura será
menor ainda, porque a dívida é
de quase metade do que a Ilha
deve.
Também não vou comentar essa
pergunta porque o meu acto, e
eu já expliquei, é uma situação
histórica que nos deve levar à
consciência moral de que a Ilha
de Moçambique, primeira capital
e que ostenta o nome deste país,
esteja naquela situação de um dos
maiores devedores e que tem dos
problemas maiores, não fica bem.
Então, eu naquele momento pensei
nesse sentido e é por isso que
eu tomei aquela posição e, naturalmente,
levaria à Assembleia
Municipal e esperava que fosse
aprovado e julgo que poderia ser
aprovado e, naturalmente, nós irí-
amos resolver alguns problemas e,
neste caso, aconteceu uma inversão
contrária e você vê, interpreta
e conclui o que terá acontecido à
noite para se mudar essa posição
porque se fosse questão de haver
recurso (como defendeu o edil
da Ilha), ontem mesmo teria sido
indicado que “nós estamos preparados
para honrar com aquilo
que são as nossas obrigações”, mas
acontece 24 horas mais tarde, então,
o senhor pode colocar toda a
situação e interpretar como julgar
TEMA DA SEMANA 4 Savana 10-03-2017
Está instalado o braço-de-
-ferro entre o Governo e a
Associação Moçambicana
de Empresas Petrolíferas
(AMEPETROL). Em causa estão
os preços dos combustíveis praticados
actualmente pelas gasolineiras,
definidos pelo executivo.
As empresas petrolíferas dizem que
o preço actualmente praticado pelas
gasolineiras está muito longe de
responder aos custos de importação.
A situação atinge contornos dramá-
ticos pelo facto de o Governo não
conseguir honrar com os seus compromissos.
É que, para colmatar o défice resultante
da desvalorização do metical,
o executivo aprovou um subsídio
para as gasolineiras não actualizarem
constantemente os preços dos combustíveis.
Porém, o apoio dificilmente
chega aos visados e, neste momento,
estima-se que o executivo moçambicano
tem dívidas na ordem dos 70
milhões de dólares com as gasolineiras.
Nesta terça-feira, 07, uma missiva de
duas páginas, elaborada pela AMEPETROL,
deu entrada no gabinete
do Primeiro-ministro (PM), Carlos
Agostinho do Rosário.
Antes de chegar ao PM, a missiva foi
dirigida à ministra dos Recursos Minerais
e Energia (MIRENE), Letícia
Klemens.
Na carta, a AMEPETROL diz que
se dirige ao Governo de Moçambique
para reiterar a difícil situação
que o sector e, por consequência, o
país, chegou, alertando para a possibilidade
da ruptura de produtos
petrolíferos nos diferentes terminais
marítimos, caso não sejam envidados
esforços no sentido de ser alterado
o actual sistema de compensação de
preços de combustíveis, que obrigam
a que os mesmos sejam fixados abaixo
do seu custo.
As gasolineiras dizem que o que
acontece actualmente com as companhias
gasolineiras é o mesmo que
comprar, por exemplo, um produto
por 100 meticais para depois vender
por 50 meticais.
Na sua explanação, a associação das
empresas petrolíferas frisa que a regulação
dos preços de venda dos
combustíveis, ou seja, o facto dos
mesmos não serem objecto de altera-
ção regular em função das oscilações
de preços verificados ao nível dos
mercados internacionais de produtos
refinados, tem vindo a fazer com que
a indústria petrolífera venha, há vá-
rios anos, a não suportar com recursos
próprios a importação.
Dizem as gasolineiras que a diferença
que o Governo paga para manter o
preço está muito abaixo das reais despesas,
facto que está a causar enormes
prejuízos à tesouraria das empresas.
“As perdas suportadas pela indústria
a partir de Junho de 2016 e no início
do ano de 2017 já apresentam um valor
acumulado bastante danoso para a
sustentabilidade financeira da indústria”,
lê-se na missiva ora na posse do
Primeiro-ministro.
Sublinham que a descapitalização
actual das empresas resulta, em grande
parte, da falta de actualização dos
preços dos combustíveis, situação que
até esta data já originou para indústria
um crédito no valor aproximado
de 70 milhões de dólares americanos
a serem pagos pelo Estado.
Acrescentam que, mensalmente, este
valor cresce entre sete a 10 milhões
de dólares.
Perante este cenário, as gasolineiras
dizem que é urgente que o Governo
pare de esticar a corda e deixe que o
mercado tome conta dos preços dos
combustíveis porque, se o actual sistema
de subsídio continuar nos mesmos
moldes, a indústria petrolífera
vai colapsar, criando danos incalculá-
veis para a economia do país.
Entende que o Governo, ao manter o
actual sistema, está a violar o Decreto
45/2012 de 28 de Dezembro aprovado
pelo próprio executivo.
O Decreto 45/2012 de 28 de Dezembro
estabelece a necessidade de
revisão dos preços de venda ao público,
numa base mensal, sempre que se
verifique uma variação do preço base
superior a 3%, ou caso haja uma alteração
ao nível dos impostos.
O referido Decreto inclui uma fórmula
para a fixação de preços que
engloba vários factores tais como
variação da taxa cambial e de preços
dos produtos refinados no mercado
mundial.
A última vez que o Governo actualizou
os preços do combustível foi em
Outubro de 2016, onde o litro de gasolina
passou de 47 meticais para 50
meticais, enquanto o gasóleo passou
de 36 para 45 meticais o litro.
Por essa via, as gasolineiras apelam,
com extrema urgência, ao Governo
para que corrija as ilegalidades e aplique
a legislação em vigor de forma a
garantir a sustentabilidade da indústria
para que possa assegurar o normal
abastecimento de combustíveis.
Lembre-se que, no passado mês de
Janeiro, Moçambique confrontou-se
com uma falta de combustível em
várias cidades, com maior incidência
em Maputo, capital do país.
Na altura, o Governo, através do director
nacional de Hidrocarbonetos e
Energia no Ministério dos Recursos
Minerais e Energia, Moisés Paulino,
reconheceu a falta do produto, mas
negou que tenha derivado da ruptuta
de stock.
Gasolineiras dão ultimato ao Governo
Arrancou na última segunda-feira
a nova fase
das negociações entre o
Governo e a Renamo
rumo ao alcance duma paz efectiva.
Entretanto, diferentemente dos
anteriores processos, o novo modelo
negocial decorre longe dos
holofotes da imprensa e tem um
mês como horizonte temporal
para que todo o pacote sobre a
descentralização seja debatido e
aprovado pela Assembleia da República
(AR).
O processo do diálogo político
também abrange questões militares,
sobretudo na vertente da
desmilitarização dos homens armados
da Renamo.
O líder da Renamo, Afonso
Dhlakama, anunciou, na passada
sexta-feira, a prorrogação da tré-
gua militar por mais 60 dias, perí-
odo que vai até 4 de Maio.
Os cordos selados via telefónica
no eixo Maputo - Serra da Gorongosa
entre os dois líderes permitiram
a criação de dois grupos
especializados para tratarem de
matérias sobre a descentralização
e questões militares.
Depois de se terem reunido semana
passada com o chefe de Estado,
as duas equipas juntamente com
o grupo de contacto, composto por
sete embaixadores e altos comissários
acreditados em Moçambique, mantiveram
esta segunda-feira, numa estância
hoteleira da capital do país, o
seu primeiro encontro a sós.
A agenda tratada naquele encontro
não é do domínio público, pois havia
ordens expressas para não deixar
a comunicação social nas proximidades.
O grupo de contacto é chefiado
pelo embaixador da Suíça, Adrian
Hadorn, tendo como adjunto o embaixador
dos Estados Unidos, Dean
Pittman.
Integram o grupo os embaixadores
da China, Li Chunchua, e da Noruega,
Anne Lene Dele, e ainda os altos
comissários do Botswana e do Reino
Unido, Thuso Ramodimoosi e Joanna
Kuenssberg, respectivamente, e ainda
o representante da União Europeia,
Sven Kuhn Burgsdorff.
O grupo de contacto não participa
directamente nas negociações, mas
tem à sua responsabilidade o financiamento
da logística necessária para
o curso normal do processo. Contudo,
o grupo deverá ser informado
através de canais apropriados sobre o
curso das negociações.
$FRUGRSDUDRÀPGRFRQÁLWR
Depois de anunciar a trégua por mais
60 dias, o líder da Renamo acredita
que desta vez estão criadas as condi-
ções para que este processo tenha o
sucesso desejado.
Justificou que o processo está em pé
e mais forte do que nunca, para que
a paz não seja um simples calar de
armas, pois o povo anseia por uma
paz verdadeira, na qual o direito à livre
expressão, circulação e promoção
de um desenvolvimento económico
equilibrado seja uma realidade no
país.
Segundo Dhlakama, as partes estão a
envidar esforços para que o grupo da
descentralização trabalhe arduamente
para que conclua o mais rápido
possível as propostas de leis inerentes
a este assunto para que sejam submetidas
à AR, onde serão transformados
em leis até Maio, mês em que termina
a trégua e a V sessão daquele órgão
legislativo.
“Vamos puxar muito porque já perdemos
60 dias de Janeiro a Março
apesar de sabermos que muitos estavam
de férias”, disse.
Concluída esta fase, prosseguiu o lí-
der da Renamo, deverá seguir a cria-
ção de condições para a assinatura do
acordo de cessação das hostilidades
para que a paz seja definitiva.
Sublinhou Dhlakama que um dos
ganhos da descentralização é o facto
de a população de cada província passar
a eleger o seu governador.
Apontou também a autonomia financeira
que vai ajudar no desenvolvimento
local. Ou seja, através da lei
das finanças provinciais, vai se estabelecer
uma percentagem que cada
governo provincial, depois de cobrar
taxas e impostos, vai partilhar com o
Governo central.
No que diz respeito aos assuntos militares,
diz que, numa primeira fase,
o foco vai somente para o enquadramento
dos seus homens nos cargos de
chefia ao nível das Forças Armadas
de Defesa de Moçambique (FADM),
sendo que na Polícia da República de
Moçambique (PRM) e nos Serviços
de Informação e Segurança do Estado
(SISE) fica para mais tarde.
Entende Dhlakama que a questão do
enquadramento dos seus homens é
menos complexa, pois é um assunto
antigo e muito conhecido, uma vez
que resulta do não cumprimento do
Acordo Geral de Paz (AGP) assinado
em 1992.
'XDVYLRODo}HV
Durante os 60 dias da trégua terminada
semana finda, o líder da
Renamo reportou duas violações,
mas assegura que tudo está relativamente
calmo.
Disse que a primeira violação
verificou-se em Nhapassa, no
distrito de Báruè, na província
de Manica, quando as tropas governamentais
foram atacar a sua
base. A segunda diz ter acontecido
na última semana de Fevereiro,
na mesma província, mas
no posto administrativo de Machipanda,
tendo dois dias depois
as forças governamentais pedido
desculpas pelo sucedido.
Responsabilizou as Forças de
Defesa e Segurança (FDS) pelos
roubos de produtos que se têm
verificado nos mercados locais,
extorsão aos automobilistas na
via pública. Apesar destas situa-
ções, Dhlakama louva a postura
de Nyusi nesta matéria e diz que
este é um problema específico das
FDS e não do seu líder, pois esse
tem se desdobrado em emanar
ordens para mudar o cenário.
“Este problema é típico das
FADM e não de Nyusi, não sei
como são treinadas, mas não têm
disciplina. Roubam galinhas e
cabritos, sobretudo em Manica e
Sofala”, conclui.
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Governo e Renamo negoceiam longe dos holofotes
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Extratos da carta enviado ao Primeiro-ministro pela Associação
Moçambicana de Empresas Petrolíferas
TEMA DA SEMANA Savana 10-03-2017 5
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TEMA DA SEMANA 6 Savana 10-03-2017 SOCIEDADE
V
inte das 53 autarquias do
país não cumprem com as
suas obrigações estatutá-
rias enquanto membros da
Associação Nacional dos Municí-
pios de Moçambique (ANAMM).
Devem, ao todo, 4.661 mil Meticais,
uma dívida que corresponde
a 69% da receita própria anual da
ANAMM e, por as quotas serem a
principal fonte de receitas, a agremiação
está mergulhada numa grave
crise financeira.
A lista dos devedores, que correspondem
a 38% dos membros da
ANAMM, é liderada pela Ilha de
Moçambique (governada pela Frelimo),
na província de Nampula, com
uma dívida de 1.290 mil Meticais.
Na segunda posição está Gurúè, na
Zambézia (MDM), com uma dívida
de 716 mil Meticais; em terceiro
Manica, na província com o mesmo
nome (Frelimo), com 670 mil Meticais;
em quarto o município de
Montepuez (Frelimo), que deve 265
mil Meticais, só para citar alguns.
Como resultado do não pagamento
de quotas, por exemplo, a receita
própria que a ANAMM conseguiu
mobilizar, no ano passado, apenas
serviu para cobrir 27% das despesas
de funcionamento mínimo da Associação
e pagamento de parte das dí-
vidas de arrendamento de escritório
e dos anteriores secretários gerais.
Para a ANAMM, a acumulação da
dívida de arrendamento dos escritó-
rios e a dificuldade de mobilização
de recursos para a conclusão de um
edifício próprio, colocam a organização
numa situação bastante crítica.
A sustentabilidade financeira da
Associação Nacional dos Municí-
pios, que era apenas um, dentre uma
extensa lista de temas para a III Sessão
Ordinária da agremiação, havida
de 2 a 3 de Março corrente, na
cidade de Tete, acabou dominando
os dois dias do encontro que reuniu,
à mesma mesa, presidentes dos 53
municípios e Assembleias municipais
do país, incluindo parceiros de
cooperação e outros convidados.
Logo na abertura do evento, o presidente
da ANAMM, Tagir Carimo,
vincou que os preocupantes níveis
de insustentabilidade financeira em
que a Associação se encontra limitam
a capacidade da agremiação na
prestação de serviços aos associados
e até para o seu normal funcionamento.
De acordo com o também edil de
Pemba, só com a contribuição de
todos os seus associados é que a
ANAMM se tornará mais robusta
e presente na vida dos municípios
que, ao todo, albergam 35% do total
da população moçambicana, ou seja,
cerca de 8 milhões de moçambicanos.
“Temos falado com os nossos colegas
devedores, mas não há resultados”,
lamentou o presidente. Ao
que soubemos, apenas o município
de Gurúè já se comprometeu junto
da ANAMM a liquidar a sua dívida.
Localizado no extremo norte da
província da Zambézia, Gurúè, conhecido
também como a terra do
chá, é presidido pelo menos mediá-
tico edil do MDM, Orlando Janeiro.
Homem de baixa retórica, Janeiro
foi eleito, em Fevereiro de 2014,
numa fratricida segunda volta, depois
de o Conselho Constitucional
(CC) ter anulado a eleição de 20 de
Novembro de 2013 por diversas irregularidades
na contagem de votos
que tinham dado vitória a Hussen
Jussub, então candidato da Frelimo.
Olho por olho com os edis dos municípios
devedores, Tagir Carimo,
descrito como dos poucos buldozers
da Frelimo, à semelhança de Calisto
Cossa, da Matola, chegou a admitir
a hipótese de vir a negociar com
o Governo central para a retenção,
logo na fonte, do que os municípios
devem, nomeadamente, através dos
fundos que Maputo canaliza, anualmente,
às autarquias.
Tagir deu exemplo de algumas associações
congéneres da ANAMM,
mesmo ao nível da região, que são
robustas e apontou o comprometimento
dos associados como o segredo.
Aos parceiros, o presidente disse que
não é mais tempo de se dar peixe à
ANAMM, mas, isso sim, ensinar a
Associação a pescar.
“Apoiem-nos para que nos façamos
ao mar e pescar. Dar-nos tractor é
bom, mas se nos ajudarem a fortalecer
a nossa base tributária, é bom
para ficarmos mais sustentáveis”,
apelou.
Agrava também a situação financeira
da ANAMM a suspensão de
desembolsos do Contrato-Programa,
cujo valor era de cerca de 12
milhões de Meticais, devido à crise
económico-financeira que o país
atravessa.
Por mexer com tudo e todos, a paz
foi incontornável no discurso de
abertura de Tagir Carimo, que disse
que a história prova que os conflitos
armados em Moçambique afectam
mais os municípios. Por isso, destacou,
os municípios devem ser os
mais interessados pela paz porque
os conflitos passados mostraram
que os centros urbanos quase que
rebentam pelas costuras, por causa
do êxodo rural, com as comunidades
a fugirem do campo à busca de
locais seguros nas cidades.
O velho braço-de-ferro entre os
municípios e a Electricidade de
Moçambique (EDM), empresa pú-
blica acusada de não honrar os seus
compromissos, no que diz respeito à
transferência da Taxa do Serviço de
Gestão de Resíduos Sólidos, vulgarmente
conhecida por Taxa de Lixo,
foi outro tema candente na reunião
em Tete.
De acordo com o secretário-geral da
ANAMM, Eduardo Nguenha, que
apresentou o quadro geral da situa-
ção, depois de um rastreio realizado
nas autarquias, a irregularidade no
repasse, pela EDM, da taxa de lixo,
cuja cobrança é efectuada pela empresa
pública de electricidade por
estar indexada na factura de energia,
tem sido uma insatisfação recorrente
ao nível das autarquias. Em resposta,
a EDM disse tratar-se, fundamentalmente,
de problemas burocráticos
que é preciso ultrapassar.
Os desembolsos do Fundo de Estrada
para as autarquias mereceu
também atenção dos participantes,
com os municípios a queixarem-se
de atrasos gerados pelos próprios
técnicos do Fundo de Estradas. Em
resposta, o novo presidente do Fundo,
Ângelo Macuácua, empossado
em Janeiro último, disse ter tomado
nota das preocupações dos municí-
pios e que merecerão o devido tratamento.
Um dos temas fracturantes agendados
para a reunião da semana finda
era o estágio e perspectivas do processo
de transferência de funções e
competências pelo Governo central
para as autarquias, mas, à última da
hora, o Ministério da Administra-
ção Estatal e Função Pública (MAEFP),
que lida com assuntos autárquicos,
informou que não faria parte
do encontro.
Ficou assim adiado um assunto que
está no topo das preocupações dos
municípios, particularmente os geridos
pela oposição, que vêem na
recorrente justificação de falta de
condições de gestão para a descentralização
de serviços básicos como
saúde e educação primárias, como
um falso argumento que visa apenas
salvaguardar a hegemonia da Frelimo,
através dos redundantes poderes
estatais nas autarquias.
Ainda no conclave dos edis, o Instituto
de Estudos Sociais e Econó-
micos (IESE) apresentou o “Baró-
metro da Governação Municipal
(BGM)”, um instrumento que, de
acordo com explicações do pesquisador
Salvador Forquilha, pretende
medir o estágio de governação municipal
e identificar as necessidades
de capacitação para uma melhor
governação.
Na hora de encerramento da Sessão,
Tagir Carimo disse ter acolhido a
recomendação de fazer com que a
ANAMM passe de simples porta-
-voz para defensor dos interesses
dos municípios.
Edis e presidentes de Assembleias municipais, em foto família, em Tete
Municípios não pagam quotas
Um dos momentos insólitos
da III Sessão Ordinária
do Conselho Nacional
da ANAMM, que
decorreu sob o lema “celebrando o
20º aniversário da municipalização
em Moçambique”, foi a recusa,
pelo Conselho Municipal da Ilha
de Moçambique, da ajuda financeira
disponibilizada pelo Conselho
Municipal de Nampula.
Presidido por Saíde Gimba, da
Frelimo, o município da Ilha de
Moçambique é o líder na lista dos
devedores à ANAMM, com uma
dívida que ultrapassa um milhão
de Meticais.
Eis que, ao tomar conhecimento
do facto anunciado na Sessão de
Tete, o edil de Nampula, Mahamudo
Amurane, vindo do Movimento
Democrático de Mo-
çambique (MDM), manifestou
disponibilidade da sua edilidade
para liquidar a dívida da Ilha, mediante
uma carta-pedido que o
elenco de Saíde Gimba teria de
remeter ao Conselho Municipal
de Nampula.
O documento teria de ser submetido
à aprovação da Assembleia
Municipal de Nampula, segundo
explicou Mahamudo Amurane,
que se disse convencido que o órgão
daria um parecer favorável.
Estava assim aberta uma linha
verde para a Ilha de Moçambique
sair da ingrata posição de maior
devedor da ANAMM, uma linha
que pecou por vir da oposição e os
preconceitos dos intolerantes camaradas
frelos acabaram por falar
mais alto.
De acordo com o edil da chamada
capital do norte de Moçambique,
pesou para o seu gesto uma razão
histórica, nomeadamente, o facto
de a Ilha de Moçambique ter sido
a primeira capital moçambicana.
Para Amurane, não fica bem que
uma cidade histórica como aquela,
que graças à sua rica história foi
até considerada, pela Organização
das Nações Unidas para Educação,
Ciência e Cultura (UNESCO),
em 1991, como Património Mundial
da Humanidade, figure no
topo da lista de devedores.
Mas o anúncio criou um mal-estar
no seio dos edis da Frelimo que,
logo que Mahamudo Amurane
concluiu a sua alocução, largaram
por instantes os seus telemóveis,
onde estavam entretidos nas redes
sociais, sobretudo o whatsapp, para
incitarem que “a boa vontade” do
edil de Nampula não passava de
um “espezinhar” da “gloriosa” Frelimo
pelo MDM.
Uma vez que, no dia do anúncio,
a Ilha de Moçambique não reagiu,
os edis eram unânimes em afirmar,
nos corredores, que “eu não aceitaria”
o “presente envenenado” de
Nampula.
Dito e feito, a noite que se seguia
foi decisiva, até que, no segundo
dia, veio uma Ilha de Moçambique
que dispensava a ajuda financeira.
Saíde Gimba, o zeloso edil da Ilha,
justificou que, na noite anterior, se
tinha reunido, via skipe (plataforma
online de comunicação entre
pessoas afastadas, através de mensagens
instantâneas, chamadas de
voz e videochamadas), com o seu
elenco e, por unanimidade, decidiu
prescindir do apoio disponibilizado
por Mahamudo Amurane.
O edil, que no dia anterior se
manteve em silêncio, alegava, então,
que a sua edilidade já tinha
um plano para o pagamento de
todas as suas dívidas, incluindo da
ANAMM.
Convidado pelo SAVANA para
comentar sobre a recusa, Mahamudo
Maurane, para quem o seu
acto foi em defesa de interesses
comuns, disse que “…iríamos resolver
alguns problemas e, neste
caso, aconteceu uma inversão contrária
e você vê, interpreta e conclui
o que terá acontecido à noite
para se mudar essa posição porque
se fosse questão de haver recurso,
ontem mesmo teria sido indicado
que ´nós estamos preparados para
honrar com aquilo que são as nossas
obrigações´, mas acontece 24
horas mais tarde”.
Os camaradas de orgulho ferido pelo MDM
SOCIEDADE Savana 10-03-2017 7
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TEMA DA SEMANA 8 Savana 10-03-2017 SOCIEDADE
Oito meses depois da introdução
do subsídio às
panificadoras para impedir
a subida do preço
do pão, alimento básico para a
população residente nas grandes
cidades, o Governo diz que está
cada vez mais insustentável continuar
a subsidiar este produto.
Dados em poder do SAVANA
indicam que o Governo gastou, de
Julho de 2016 a Janeiro de 2017,
mais de 330 milhões de meticais
no apoio às panificadoras e agora
encara a situação como insuportável.
Ao SAVANA, Zulmira Macamo,
directora nacional do Comércio
Interno no Ministério da Indústria
e Comércio (MIC), reconheceu
que os incentivos às panificadoras
constituem um grande fardo
para as contas do Governo e que o
mesmo é praticamente insustentá-
vel para a realidade económica do
país e já se avança com a hipótese
do corte.
Contudo, Macamo contorna os
factos e diz que o Governo está a
pensar em retirar o subsídio de pão
às panificadoras, por ter concluído
que as razões que nortearam a sua
introdução foram superadas.
De acordo com a nossa entrevistada,
em Julho de 2016, altura em
que o subsídio foi introduzido,
registavam-se enormes instabilidades
da taxa de câmbio exteriorizadas
por uma desvalorização
acentuada do metical em relação
às principais moedas de referência,
mormente o dólar americano e o
rand.
Por seu turno, o preço de trigo no
mercado internacional também
estava em alta, facto que até certo
ponto sufocava os fabricantes de
pão.
Foi nesse contexto que, para que as
panificadoras não imputassem os
custos de produção ao consumidor,
o executivo decidiu dar o seu
contributo para manter o saco de
50 quilogramas de trigo nas moageiras
a 1250 meticais.
Sucede que, nos últimos tempos,
o preço do trigo no mercado internacional
está a cair e as taxas
de câmbio a mostrarem sinais de
estabilidade.
“Em Janeiro de 2016, cada tonelada
de trigo era adquirida a 190
USD no mercado internacional
e, em meados de Julho do mesmo
ano, cada dólar era cotado a 80
meticais. Hoje, a tonelada de trigo
custa 122 USD e um dólar está
abaixo de 70 meticais. Perante estes
factos, concluímos que alguns
factores que encareciam os custos
de produção do pão minimizaram-
-se”, disse.
Zulmira Macamo referiu que a
outra situação prende-se com a
falta de honestidade de algumas
panificadoras.
Conta que o Governo introduziu
o subsídio na farinha de trigo para
as panificadoras manterem o preço
e o peso do pão. Isto é, um pão de
250 gramas devia continuar a custar
7,50 meticais e de 200 gramas
seis meticais.
Sublinhou que, neste processo,
nem todas as panificadoras foram
abrangidas pelos subsídios.
A prioridade foi para as padarias
dos bairros onde vive a maioria
da população de baixa renda. As
panificadoras montadas em zonas
de classe média-alta não foram
abrangidas, porque se presumiu
que os consumidores têm poder de
compra.
Sucede que os panificadores
abrangidos pelos incentivos não
cumpriram com os acordos e mantiveram
o preço, mas diminuíram
o peso.
“Nas inspecções feitas pelos nossos
colegas da Inspecção Nacional das
Actividades Económicas (INAE)
foi possível concluir que muitas
padarias subsidiadas tinham diminuído
o peso do pão e enganavam
o consumidor. Também
notámos que as padarias que não
recebiam incentivos praticavam o
mesmo preço com o peso real. Isso
agastou-nos de tal forma que concluímos
que algumas panificadoras
estavam a ser desonestas”, disse.
A nossa interlocutora sublinhou
que, para além de reduzir o peso e
manter o preço, algumas panificadoras
produzem pão, mas não vendem
no circuito formal. Para ludibriar
a fiscalização, metem o seu
produto no circuito informal onde
se vende a preços especulativos,
chegando a custar nove meticais.
Frisou que, por causa dessas irregularidades,
algumas padarias foram
severamente sancionadas, mas
as más práticas ainda continuam.
Referiu que as irregularidades das
panificadoras não se limitam ao
peso.
Apontou a questão da inobservância
das normas mais elementares
de higiene no processo de produ-
ção de pão, o que põe em causa a
saúde pública.
A violação de normas de higiene
já desaguou no encerramento de
algumas padarias em todo o país.
Em contacto com o SAVANA,
Victor Miguel, presidente da Associação
Moçambicana dos Panificadores
(AMOPÃO), referiu
que a sua organização ainda não
foi formalmente notificada sobre
a intenção ou possível retirada de
subsídios governamentais, porém,
em caso do corte materializar-se, a
sua organização vai avaliar a nova
realidade e de acordo com a conjuntura
irá tomar a decisão ideal.
Miguel diz que não acredita que
os factores de produção permitam
manter o actual preço sem subsí-
dios porque, mesmo com incentivos,
os custos de produção continuam
altos e muitas panificadoras
mantêm a actividade por questões
sociais, visto que como negócio há
muito que deixou de ser rentável.
Victor Miguel classifica de má-
-fé a informação governamental,
segundo a qual, as panificadoras
subsidiadas estão a comportar-se
de forma desonesta na medida em
que reduziram o peso de pão.
Para o presidente da AMOPÃO,
as informações não são realísticas
para além de que a questão do peso
do pão é relativa e por várias vezes
não dependente da vontade humana
e isso já foi explicado e demonstrado
aos fiscais do Governo
A comercialização agrícola é uma
das questões que preocupam a população
moçambicana, sobretudo
aquela que tem a agricultura como
principal fonte de sobrevivência.
Em muitas zonas do país, a produção
agrícola é enorme, mas o
escoamento é deficitário, facto que
culmina com a deterioração dos
produtos enquanto noutras regiões
está-se a morrer à fome.
Por exemplo, na província de Manica
produz-se com muita abundância
várias culturas com maior
enfoque para o milho. Porém, na
vizinha província de Gaza, as comunidades
morrem de fome porque
a produção de Manica não é
escoada para Gaza, que fica mesmo
ao lado devido à falta de condições
de transitabilidade.
Questionada sobre os factos, a
directora nacional do Comércio
Interno reconheceu os factos, mas
diz que esforços estão a ser feitos
no sentido de minimizar esta triste
realidade.
De acordo com Zulmira, no Plano
de Acção para Produção de Alimentos
defendido pelo presidente
da República como prioridade, o
MIC, em coordenação com outros
sectores, definiu o Plano Operacional
da Comercialização Agrí-
cola 2017.
Trata-se de um instrumento que
irá garantir a absorção da produ-
ção agrária pelo mercado interno,
assegurar a comercialização de
todo o excedente agrícola, evitar
perdas de produção excedentária
por falta de compradores e assegurar
a distribuição regular de produtos
agrícolas, para além de fazer
a ligação entre os produtores e as
grandes superfícies que actuam nas
zonas urbanas.
Zulmira Macamo diz que para a
presente campanha agrícola, dados
do Ministério de Agricultura
e Segurança Alimentar (MASA)
prevêem um excedente de produ-
ção de milho na ordem de 2.200
mil toneladas.
Estas quantidades deverão sair das
zonas de produção nas províncias
de Niassa, Cabo Delgado, Nampula,
Tete e Manica para as regiões
onde a produção é deficitária.
Para que tal aconteça, segundo
a nossa entrevistada, o Governo
criou uma equipa multissectorial
que inclui técnicos dos ministérios
dos Transportes e Comunicações,
Obras Públicas, Agricultura e da
Indústria e Comércio.
Cada um destes sectores deverá
fazer a sua parte no sentido de se
conseguir a complementaridade da
cadeia de valores.
Também falou do “projecto Sustenta”
recentemente lançado pelo
PR, na província de Nampula, e
referiu que foram identificados
distritos com maior potencial produtivo,
zonas carenciadas, vias de
acesso prioritárias para o transporte
do excedente das zonas de produção
para as zonas de consumo,
linhas de financiamento à comercialização
agrícola, bem como o
mecanismo de transporte que será
usado e que não acarrete muitos
custos aos intervenientes.
Segundo a entrevistada, para evitar
problemas no escoamento, decidiu-se
que a produção da região
norte deverá ser comercializada na
região norte e em países vizinhos,
mas de forma organizada.
Também foram contactadas várias
entidades produtoras para apostar
na matéria-prima de produção nacional,
redes de supermercados e o
que restar será adquirido pelo Instituto
de Cereais de Moçambique
(ICM).
A mesma operação irá se verificar
na região centro onde a produção
será colocada nos mercados da região
centro e sul, bem como nos
países vizinhos e o excedente será
absolvido pelo ICM na qualidade
de comprador do último recurso.
Para responder a este grande desafio,
o Governo, em parceria com
sector privado, está a investir no
melhoramento de infra-estruturas
de armazenamento, conservação,
logística e transporte.
10 Savana 10-03-2017 PUBLICIDADE SOCIEDADE
Desde ano passado que
a sociedade civil pede
integração nas conversações
para a paz em
Moçambique, por entender que
o tema é demasiado importante
para ser reduzido apenas à Frelimo
e à Renamo, mas as partes não
abrem a mão. Pelo contrário, este
ano, optaram por chamar a comunidade
internacional para fazer
parte de um novo roteiro de paz.
Atenta aos factos, a sociedade civil,
reunida naquele que é conhecido
como o Painel de Monitoria
do Diálogo Político para a Paz,
diz que a Frelimo e a Renamo incorrem
em grave erro histórico ao
considerarem que as capacidades
dos moçambicanos limitam-se ao
que existe nos seus partidos e que
fora destes, somente estrangeiros
são capazes de abordar problemas
nacionais com sabedoria.
É mais um contundente repúdio
daquele Painel, desta vez dirigido
não só à Frelimo e à Renamo, mas
também à Comunidade Internacional.
Na nota enviada, esta segunda-
-feira, à nossa redacção, o Painel
começa por dizer que é com um
misto de esperança e apreensão
que vem acompanhando os últimos
desenvolvimentos nas conversações
sobre a paz no país.
Esperança porque a escalada de
guerra e os assassinatos a oponentes
políticos, população inocente
e cidadãos de diferentes opiniões
sobre os mais diversos assuntos
nacionais, amenizou. Apreensão
devido ao dilema de um diálogo
que se mantém num formato e
agenda excludente aos principais
factores de instabilidade política e
militar em Moçambique.
“Ao limitar as discussões a um
grupo de militantes da Frelimo e
da Renamo, com apoio de estrangeiros,
excluindo largos segmentos
da sociedade moçambicana, entre
os quais outros partidos parlamentares
e extra-parlamentares,
organizações da sociedade civil
(religiosas, empresariais, socioprofissionais
e outras), a Frelimo/
Governo e a Renamo, teimam em
manter o mesmo espírito de exclusão
que resultou no fracasso total
das tentativas anteriores (desde as
negociações de Roma) para uma
paz genuína e duradoura entre os
moçambicanos”, refere o Painel,
em documento assinado, dentre
vários membros, pelo economista
Roberto Tibana, pela presidente
da Liga Moçambicana dos Direitos
Humanos (LDH), Alice Mabota
e Salomão Muchanga, presidente
do Parlamento Juvenil (PJ),
a ruidosa organização que hospeda
o Painel.
Aqueles representantes da sociedade
civil consideram que se está
perante uma atitude consonante
com a estratégia dos beligerantes
de excluir, das discussões, outros
Painel de Monitoria do Diálogo Político reage ao novo roteiro de paz
2VJRYHUQRVSDVVDP PDVRVSRYRVÀFDP
Por Armando Nhantumbo
interesses económicos ligados aos
recursos naturais em detrimento
dos moçambicanos.
“O gás pode residir no mar, mas
o Governo que a ele dá acesso
é o Governo de Moçambique”,
lembra, encorajando assim aos representantes
dos governos estrangeiros
envolvidos neste processo a
respeitarem a soberania do povo
moçambicano e assumirem, objectivamente,
o sentido mais profundo
da sua missão que é de consolidar
a amizade entre os povos, pois
enquanto os Governos passam, os
povos ficam.
O Painel, para quem o presidente
da República e o presidente da Renamo
continuam a fazer da paz um
“filme” de suspense, em processos
negociais, é imprescindível o lugar
do povo, aquele que um dia Filipe
Nyusi apelidou como seu único e
exclusivo patrão, representado pelas
forças vivas da sociedade, para
avivar o que chama de estatuto
moral de Moçambique.
“Lembramos novamente aos beligerantes
e à comunidade internacional
que só com a inclusão
nacional pode-se fazer a paz definitiva
e só assim se pode acabar
com a pobreza virulenta e entorpecente
que assola Moçambique,
adiando rendimentos e sonhos de
gerações inteiras”, frisa o documento,
que acrescenta que só com
a paz podemos construir um país
de progresso e justiça social.
assuntos importantes da Nação,
cujo tratamento, na óptica da Frelimo
e da Renamo, lhes pode retirar
o monopólio dos processos e
poderes políticos no país.
Trata-se de assuntos como o sistema
eleitoral, cujos defeitos e
manipulação sistemática, estamos
a citar o Painel, tem sido uma
das causas imediatas dos ciclos de
instabilidade política e militar no
país.
Mas é através do sistema eleitoral e
das respectivas leis e regulamentos
que se tem efectivado a exclusão
de muitos moçambicanos do exercício
do seu direito constitucional
de participar, plenamente, na vida
do país, anota.
“Não é credível a proposição segundo
a qual as equipas criadas
têm capacidade e competência
para considerarem outras opiniões,
visto que o presidente da República
e o presidente da Renamo têm,
sistematicamente, ignorado propostas
genuínas de formas alternativas
e inclusivas de levar a cabo o
diálogo pela paz, tal como a proposta
a eles formalmente enviada
em Dezembro de 2016” critica.
Não comercializem a paz
Por outro lado, o Painel diz que
é de preocupar que representantes
diplomáticos de importantes
países estrangeiros, baseados em
Moçambique, tenham anuído em
participar e legitimar um processo
excludente e tão prenhe de limita-
ções, uma anuição que enfraquece
a confiança que os moçambicanos
possam ter no papel positivo que a
comunidade internacional poderia
desempenhar para assistir Mo-
çambique na fase crucial do seu
desenvolvimento político, social e
económico.
“O Painel repudia com veemência
a subalternização dos moçambicanos
na procura de soluções para
os seus problemas, bem como a
mentalidade subserviente dos que
assim procedem. Tanto a Frelimo
como a Renamo incorrem em grave
erro histórico ao considerarem
que as capacidades dos moçambicanos
limitam-se ao que existe
na orgânica dos seus partidos, e a
visão de que fora destas, somente
estrangeiros são capazes de abordar
os problemas nacionais com
sabedoria e forjar soluções sustentáveis”
condena.
Posto isto, o Painel chama aten-
ção para se evitar o que chama de
comercialização da paz em Mo-
çambique, dando-se primazia a
SDUDDTXHODSODWDIRUPDGDVRFLHGDGHFLYLO VXEDOWHUQL]DUPRoDPELFDQRVHFRQÀDUHVWUDQJHLURVpXPJUDYHHUURKLVWyULFRGD)UHOLPRHGD5HQDPR
Painel de Monitoria do Diálogo Político acusa Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama de continuarem
DID]HUGDSD]XP´ÀOPHµVXVSHQVH
Asemana foi ainda marcada
pelo repúdio do
Parlamento Juvenil, um
movimento de advocacia
em prol dos direitos e prioridades
da juventude, contra o que
chama de recorrente falta de ética
e probidade pública que tem sido
demonstrada pelo ministro dos
Transportes e Comunicações,
Carlos Mesquita.
Mesquita é dono da “Transportes
Carlos Mesquita, Lda.”, a empresa
que, recentemente, ganhou, por
ajuste directo, um polémico concurso
do Instituto Nacional de
Gestão de Calamidades (INGC)
para a prestação de Serviços de
Transporte e Carga para a Zona
Centro, com um orçamento de 20
milhões de Meticais.
Em carta aberta ao presidente da
Comissão Central de Ética Pú-
blica, na qual o PJ pede ainda a
tomada de posição por parte do
presidente Fiilipe Nyusi, aquele
movimento da sociedade civil,
que tem sido uma autêntica pedra
no sapato das autoridades governamentais,
diz que o “caso Mesquita”
é repugnante, mas também
não surpreende.
No documento de seis páginas, o
PJ menciona vários casos de conflitos
de interesses em que o ministro
está envolvido, incluindo a
sua manifesta tolerância perante
casos de corrupção em empresas
sob sua tutela, como as Linhas
Aéreas de Moçambique (LAM),
para depois exigir que Carlos
Mesquita se demita do cargo de
ministro dos Transportes e Comunicações.
Exige anulação da adjudicação
por ajuste directo à Empresa
“Carlos Mesquita Transporte
Lda.,” e a suspensão para verifica-
ção preventiva da legalidade dos
memorandos de entendimento
que estabeleceu com as concessionárias
a si associadas, como a
Cornelder, com quem, ano passado,
na qualidade de ministro do
pelouro, celebrou contratos sob
regime de exclusividade para a
exploração dos Portos da Beira e
de Quelimane.
Mas o PJ exige também que seja
iniciado um processo profundo
de verificação das denúncias, reforma
e restabelecimento da confiança
no sector dos transportes,
particularmente, nas LAM.
O Parlamento Juvenil quer que a
Comissão Central de Ética Pública
determine medidas apropriadas
para a eliminação de situações
que configurem conflito de interesse,
incluindo a apresentação de
queixa ou participação criminal
junto ao Ministério Público.
“Num país em que há crise para
a maioria e tudo para a minoria
elitista predadora, os gritos inconformistas
de milhares de mo-
çambicanos, veiculados quer através
das redes sociais, quer através
dos media, não podem continuar
a merecer total desprezo por parte
das entidades a quem compete a
garantia da ética e da probidade
na gestão da coisa pública. Este
é o espelho do Moçambique
que não queremos”, indica o documento
assinado por Salomão
Muchanga.
O Moçambique que não queremos
Savana 10-03-2017 11 PUBLICIDADE DIVULGAÇÃO
As mulheres e as raparigas merecem ter acesso à informação,
aos contraceptivos e ao aborto seguro
Por: Nazira Vali Abdula, Ministra da Saúde, Irina Schoulgin Nyoni, Embaixadora da Suécia e Pascalle Grotenhuis, Embaixadora dos Países Baixos
As mulheres e as raparigas devem ser livres de decidir se querem,
12 Savana 10-03-2017 SOCIEDADE
Oformato usado pela
Aliança Africana para
a Revolução Verde
(AGRA), através da
janela de apoio empresarial em
África, para o financiamento de
projectos ligados a inovações tecnológicas
e agro-negócios em Mo-
çambique, está a preocupar os governos
das províncias abrangidas
pelas iniciativas da organização.
Durante o simpósio de investimentos
em firmas e organizações ligadas
à inovação e desenvolvimento
rural em Moçambique, um encontro
que constituiu oportunidade
para interacção entre doadores internacionais,
Governo e empresá-
rios ligados ao desenvolvimento
rural, os Governos das províncias
de Nampula, Zambézia, Manica
e Inhambane foram unânimes em
afirmar que as iniciativas desenvolvimentistas
da Africa Enterprise
Challenge Fund (AECF) são bem
vindas para o país.
Acrescentaram que as iniciativas
estão em linha com os objectivos
do Governo de promover o desentrabalhar
com a AGRA há alguns
anos e, como resultado dessa parceria,
há projectos notáveis que estão
a ser desenvolvidos naquela província.
Dzucula apontou como exemplo
a existência de três empresas que,
através de um financiamento da
AEFC, estão envolvidas na produ-
ção, processamento e comercializa-
ção de moringa, frangos e ovos.
São projectos cuja concepção e instalação
contou com o apoio do Governo.
Contudo, quando chegou a
linha de financiamento da AEFC o
Governo foi excluído do processo,
visto que, apesar de ser parte interessada,
não foi comunicado.
De acordo com Dzucula, financiamentos
do género devem ser comunicados
ao executivo para efeitos de
monitoria e acompanhamento.
Dzucula queixou-se também de
que os financiamentos da AEFC
limitam-se apenas a projectos desenvolvidos
por empresas estrangeiras,
ignorando iniciativas de
agricultores nacionais.
“Acho que não é saudável para uma
boa parceria o Governo ser chamado
para estudos, atribuição de licenças,
planificação e elaboração de
projectos e quando chega o financiamento
ser preterido. Nós, como
Governo, sentimos que só servimos
para reboque, isso deve acabar”,
sentenciou Dzucula.
Dzucula destacou as potencialidades
da província de Nampula, com
os seus quatro milhões e quinhentos
mil hectares de terra arável, mas
dos quais quase metade está sub-
-aproveitada.
Apontou a produção de milho, soja
e mandioca como culturas mais favoráveis.
Dzucula apelou à AEFC para que
não limite os seus financiamentos
ao desenvolvimento de iniciativas
produtivas, mas também apoie no
desenvolvimento de infra-estruturas
de irrigação e de acesso a
mercados, como forma de permitir
completar a cadeia de valor.
Filomena Maiópue, directora provincial
de Agricultura de Inhambane,
revelou que tinha ficado surpreendida
ao tomar conhecimento de
iniciativas empresariais financiadas
pela AECF na sua província.
Segundo Maiópue, o Governo
provincial representa a autoridade
central da administração do Estado
naquele ponto do país e é responsável
pela preparação, supervisão,
direcção, execução e controlo do
Programa do Governo.
Nessa senda, todo o projecto que é
encaminhado para a província deve
ser do conhecimento das autoridades
locais.
Sublinhou que só uma boa comunicação
entre as partes pode abrir
espaço para uma parceria saudável
e sem desconfianças.
João de Lima, director provincial
dos Recursos Minerais e Energia
de Manica, disse que soube naquele
encontro que a AECF está
também a financiar projectos de
desenvolvimento de iniciativas inovadoras
com maior enfoque para a
produção de fontes alternativas de
energia.
Sucede que na província de Manica
há muitos empreendedores que estão
com actividades paralisadas ou
deficitárias devido à falta de fundos
para o desenvolvimento dos seus
projectos.
Apelou aos gestores da AEFC para
que, antes de desenvolver qualquer
projecto de financiamento, contactem
os Governos locais porque estes
é que têm a base de dados sobre
as empresas que se dedicam a esta
ou aquela actividade, as suas dificuldades
bem como a localização.
“Na província de Manica há agripara
incentivar o desenvolvimento
de iniciativas privadas.
Segundo Chand, toda a matéria-
-prima usada pela sua companhia
é importada porque no mercado
interno não existe.
No entanto, o Governo não dá
nenhum incentivo e a tabela fiscal
iguala-se a de outros produtos.
Anup Chand falou também da burocracia
exagerada na tramitação de
processos.
“Tudo o que a Curechem importa
como maquinaria e produtos
químicos visa garantir a produção
de adubos que são posteriormente
vendidos aos agricultores. Porém,
mesmo assim, o Governo não
toma em conta esses aspectos e, por
fim, o produto final fica mais caro,
prejudicando o agricultor que não
tem poder de compra bem como
o fabricante que fica sem mercado.
Pedimos para rever essas situações”,
apelou.
Lamentou a morosidade da banca
nacional na transferência de valores
aos seus fornecedores, facto que
quebra a confiança existente entre a
firma e os seus potenciais fornecedores
no estrangeiro.
A morosidade no reembolso do
IVA é outra preocupação dos investidores
do sector de agro-negócios.
Por seu turno, Boleslaw Stawicki,
gestor de programas da AEFC, explicou
que era objectivo principal
do simpósio ouvir diferentes sensibilidades
a fim de reorientar as
acções visando melhorar a renda e
a vida da população.
Sublinhou que a AECF tem como
foco o desenvolvimento sustentá-
vel, cujas premissas de actuação estão
alinhadas ao Plano Quinquenal
do Governo de Moçambique, no
que concerne à assistência às famí-
lias de baixa renda.
Acrescentou que, com as firmas
a operarem em pleno, os camponeses
do sector familiar nas zonas
rurais terão facilidades e uma das
atribuições da AECF é estimular
o desenvolvimento e a utilização de
tecnologias acessíveis em benefício
dos necessitados nas zonas rurais.
AECF é um dos maiores financiadores
de desenvolvimento rural em
África e vem desde o ano de 2011
apoiando firmas e organizações na
área da inovação em Moçambique
tendo investido cerca de 10 milhões
de dólares americanos.
Financiamentos da Aliança Africana para a Revolução Verde ao sector privado para agro-negócios inquietam executivo
Governos provinciais queixam-se de exclusão
Por Raul Senda
volvimento, contudo, apontaram
que as mesmas não estavam a ser
inclusivas.
Representados pelos respectivos
directores provinciais de Agricultura;
de Terra, Meio Ambiente e
Desenvolvimento Rural bem como
dos Recursos Minerais e Energia,
os Governos das quatro províncias
referiram que o Governo tem já
definida a estratégia de desenvolvimento
económico do país e que
todas as iniciativas privadas ou de
parceiros de cooperação devem ser
feitas em coordenação com o executivo.
Para tal, há necessidade de
uma boa comunicação.
Sob o lema: “Investimentos em empresas
inovadoras que contribuem
para a transformação sustentável
e sócio-económica em Moçambique”,
o encontro que decorreu sob
auspícios da AECF, organismo que
faz parte da AGRA, incluiu uma
visita dos participantes a alguns
campos de produção na província
de Maputo.
Paulo Dzucula, director provincial
da Agricultura em Nampula,
referiu que a sua instituição está a
cultores que apostaram na produ-
ção da jatrofa para biocombustível,
mas que neste momento estão com
sérios problemas devido à falta de
mercado e fontes de financiamento”,
disse, acrescentando que projectos
desse género são bem vindos,
mas devem ser bem coordenados
para evitar situações em que se escolhem
alguns em detrimento de
outros.
Os representantes dos governos
provinciais falaram também do
ambiente de negócios, afirmando
que o Governo central criou um
ambiente saudável e encorajador
para o desenvolvimento de iniciativas
privadas.
Apontam como exemplo as melhorias
na legislação bem como nos
incentivos fiscais.
No entanto, a classe empresarial ligada
ao sector de agro-negócios diz
que as aludidas melhorias não são
sentidas no seio dos investidores.
Anup Chand, director executivo do
Curechem Group, uma firma dedicada
à produção de agroquímicos
na província de Manica, disse que o
Governo moçambicano pouco faz João de Lima
Paulo Dzucula Filomena Maiópue
Anu Chand
O desenvolvimento de projectos agrários e o empoderamento das comunidades rurais é uma das apostas do AECF
Savana 10-03-2017 13 SOCIEDADE SOCIEDADE
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comunica o falecimento do seu esposo, pai, irmão
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no dia 7 de Março de 2017, no Hospital Provincial
de Maputo, cujo funeral será realizado no dia 11/3/17
no Cemitério da Moamba. Que o senhor o receba na
sua eterna glória e que descanse em paz entre os esplendores
da luz perpétua.
LÂZARO ZACARIAS TAMELE
FALECEU
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ASociété Générale (SG)
aposta na banca móvel
como a melhor forma de
inclusão financeira para
o país, defendeu Alexandre Maymat,
o responsável para África do
Grupo que se deslocou a Moçambique
para inaugurar a nova sede
do banco, instalada num dos novos
“arranha-céus” da Julius Nyerere.
Por seu turno, o Administrador
Delegado do banco, Laurent Thong
Vanh, referiu que a ambição do SG
MOÇAMBIQUE é oferecer a melhor
qualidade de serviço aos seus
clientes, sendo uma das prioridades
do banco em Moçambique as actividades
da Banca Corporativa e
Banca de Investimento, áreas em
que considera ter vantagem competitiva
devido à reputação e estabilidade
do Grupo a nível mundial. O
SC é consultor financeiro da Anadarko,
uma das empresas de gás enlações
que tiveram a presença do
ministro da Economia e Finanças,
Adriano Maleiane, Maymat reafirmou
ainda que o compromisso do
Grupo SG com Moçambique é sé-
rio e que “este novo edifício é símbolo
da decisão do Société Générale
se desenvolver em Moçambique
a longo prazo e que podemos fazê-
-lo porque somos um grande banco,
muito sólido, um dos maiores
da Europa e um dos três principais
bancos internacionais em África.”
O Société Générale, um dos maiores
grupos bancários mundiais, de
origem francesa, é hoje o accionista
maioritário do The Mauritius
Commercial Bank (MCB), com
65% do capital social. Este feito
surge na sequência da assinatura
de um acordo de parceria entre o
grupo e o MCB, a 18 de Março
de 2015. A operar em Moçambique
desde 3 de Outubro de 2015, o
seu portfolio congrega uma variada
com um resultado líquido de 4000
milhões de Euros. O total dos activos
representam 1.335.000 milhões
de Euros e o património líquido é
de 63.000 milhões de Euros.
Faz parte do grupo dos 30 “global
systemically important banks”
(bancos globais sistemicamente
importantes) e “too big to fail”
(grande demais para falhar) que
têm obrigações adicionais de capital
pela definição do Financial StaSG
aposta na banca móvel
bility Board.
Com mais de 148.000 funcioná-
rios, com sede em 76 países, dos
quais 17 africanos, o grupo acompanha
diariamente 30 milhões de
clientes em todo o mundo.
volvidas nas operações da bacia do
Rovuma.
O banco, até agora ocupando um
sector “niche” no mercado mo-
çambicano, associado historicamente
ao desenvolvimento açúcar
de Marromeu e à participação nas
importações de combustíveis para
Moçambique, quer crescer para
uma quota de mercado de 10%, o
que só é possível a curto prazo com
a aquisição de outro banco no país.
Porém, Thong Vanh negou que o
SG esteja interessado na aquisição
do Mozabanco embora o nome da
sua instituição figure entre os sete
potenciais compradores do banco.
O responsável África do grupo,
durante a estadia em Maputo,
avistou-se com os responsáveis do
banco central e teve também um
encontro com o presidente da República,
Filipe Nyusi.
Na inauguração das novas instagama
de soluções personalizadas
aos seus clientes, no apoio aos seus
projectos de investimento.
Baseado num modelo de banca
universal diversificado, o grupo SG
que combina a solidez financeira
com a estratégia de crescimento
sustentável, é uma referência única
no mercado nacional, por apresentar
redes internacionais bem desenvolvidas.
Não obstante a isso, o grupo em
Moçambique está empenhado em
acompanhar o crescimento econó-
mico do país, desenvolvendo servi-
ços bancários universais, orientando
clientes empresariais, bem como
clientes particulares. Para tal, já investiu
3 milhões de Euros (225 milhões
de meticais) na modernização
da sua plataforma informática.
Com renome internacional, o grupo
teve, em 2015, um facturamento
anual de 26 mil milhões de Euros
14 Savana 10-03-2017 Savana 10-03-2017 15
NO CENTRO DO FURACÃO
Nos últimos anos, sobretudo,
durante aquilo que
podemos chamar de segunda
e terceira guerras civis
(2012-2014 et 2015_?), para utilizar
a terminologia do historiador francês
Michel Cahen, vimos com insistência
que há uma extrema reivindicação da
descentralização, ou melhor, de partilha
de poder da parte da Renamo,
dos intelectuais e das organizações da
sociedade civil. Essa reivindicação é
justificada segundo diferentes razões
ou motivações dentre as quais, mais
democracia, mais poder do “povo”,
mais partilha do poder, entre outras.
Não podemos deixar de dizer que
grande parte dessas reivindicações
não são actuais, ou melhor, não são
exigências nem da Renamo, nem dos
hodiernos intelectuais ou das organizações
da sociedade civil, mas, sim,
defendo um processo histórico que
ultrapassa a Frelimo e que não pode
ignorar ou pretender distanciar-se
dele, pois o considero ontologicamente
constitutivo de um projecto
que se chama Moçambique. Ou seja,
não sendo produto apenas de veleidades
ou oportunismos do presentismo
ou, extensivamente, de tácticas
dos diferentes actores que são parte
integrante da economia política da
produção do discurso ou de captação
de capitais de diferentes tipos, é um
ônus que a história de Moçambique,
país imensamente plural, imensamente
arbitrário em termos de sua
composição, impõe-nos. Historicamente
não há outra solução para
Moçambique, pelo menos se quisermos
ser cônscios da nossa história,
que não seja repensar-se enquanto
espaço política e humanamente plural,
para usar palavras do filosofo
Levinas, onde as soluções passam
por se reconceptualizar o próprio
projecto político de Moçambique.
Tudo que pensarmos hoje para solucionar
o nosso drama não pode excluir
uma redefinição daquilo que
chamaríamos de espaço nacional,
onde a Frelimo deixaria de ser a única
produtora e gestora desse espaço.
A Renamo igualmente não se pode
considerar a única alternativa ao projecto
repetindo as mesmas práticas
do seu maior adversário, a Frelimo.
Minha pretensão neste ensaio é, por
um lado, desenvolver uma reflexão
sobre o que é que há de fundo em
todas essas reivindicações da descentralização,
sobretudo, aquelas feitas
pela Renamo e refutadas pela Frelimo,
por outro lado, retirar algumas
consequências sobre a forma como
estamos a pensar ou reivindicar a dita
descentralização. Uma das perguntas
que me parece pertinente seria o que
é que pretendemos com a descentralização
num contexto em que não
nos estamos a colocar a questão da
construção e de formação do Estado?
O que é que será discutir a questão
a descentralização sem pensar na refundação
do Estado (Agbese e Kieh
Jr.,2007)? Porque é que tenho a impressão
que a questão da descentralização
parece mais uma reivindicação
conjuntural que estrutural, uma
questão de divisão dos bens territoriais
ou do Estado entre as partes
envolvidas? Como é que podemos
descentralizar sem desconstruir a
própria estrutura administrativa e
territorial do Estado? A Frelimo, não
sendo o Estado, reconhecendo a sua
arrogância histórica de que o Estado
é a Frelimo, porque reduzir a descentralização
enquanto apenas divisão do
poder? Não será um excesso pensar a
descentralização de Moçambique enquanto
interesse da Frelimo e Renamo,
considerando que Moçambique
em que a sua existência funda-se
ou deveria fundar-se numa vontade
colectiva de fundar uma comunidade
política que seria socialmente útil
para os seus membros? Tenho a percepção
que há um afunilamento em
modelos que são historicamente localizados
e, por extensão, têm temporalidades
e regimes de historicidades
diferenciados (Hartog, 2013), como é
que podemos estar convencidos que
esses modelos propostos são respostas
às questões culturais e politicas
da nossa sociedade? Vimos durante
muito tempo a tentativa de implantar
práticas decalcadas de países como
Portugal para um contexto tão controverso
como Moçambique. Não
tenho a intenção de responder a estas
questões, neste ensaio, mas pretendo
tentar fazer uma reflexão interdisciplinar,
se assim podemos dizer, sobre
essa questão. Entendo que algumas
vezes o debate sobre a descentralização
tem vindo a ser tecnicizado,
juridicizado, ou seja, há uma tendência
a pensar que a descentralização é
uma questão de arranjo institucional
ou apenas de consagração jurídica de
revindicações políticas (A. Varinelo).
Há algumas excepções nesse desvio
do essencial quando abordamos a
questão da descentralização.
Dos fundamentos da descentralização
em Moçambique: Porque é
que descentralizamos?
Em quase todas as discussões que são
feitas sobre a necessidade de descentralização
em Moçambique, seja da
parte dos partidos seja dos intelectuais
ou membros da sociedade civil,
em toda a sua diversidade, constato
que há ausência de um dos aspectos
essenciais de todo esse processo, a
questão da construção e formação do
Estado. Ou seja, não vi em nenhuma
circunstância interrogações que colocassem
a questão da descentralização
como parte de um processo vasto de
construção e formação do Estado em
Moçambique mesmo que tenham
havido algumas insinuações ou reflexões
nesse sentido. É nestes termos
que julgo pertinente afirmar que a
questão da descentralização colocase,
para mim, não apenas como uma
solução para um problema imediato,
mas ele permite-nos interrogar igualmente
pensar-se no tipo de Estado
que temos, o tipo de divisão administrativa
ou o tipo de divisão territorial
que temos (Chevalier, 1986; Poggi,
2014) e por consequência o que é
que justificaria a descentralização.
Não se pode pensar a descentralização
enquanto substantivamente
solucionadora dos nossos problemas.
Em Janeiro de 2017, dois politólogos
franceses publicaram o seu “sociologie
politique du pouvoir local” (Sociologia
política do poder local_ tradução livre)
(Lefebvre e Douillet, 2017), onde um
dos argumentos centrais é o facto de
considerarem que a questão da descentralização
é uma questão política
de grande dimensão, pois, acrescento
eu, ela não toca apenas com a forma
como o poder (enquanto dominação
e controlo de espaços físicos ou não
físicos, humanos) é exercido, partilhado,
organizado. Para além disso,
é um aspecto que toca igualmente
questões ligadas à forma como o território
é organizado. Então, ao pensarmos
a descentralização é preciso
igualmente importante repensar-se
a forma como o próprio território é
estruturado política e administrativamente.
Muitos trabalhos seja na
ciência política seja na sociologia ou
mesmo antropologia política têm
demonstrado que as motivações para
a descentralização podem ser de vária
ordem, mas duas têm sido invocadas
de forma permanente, pelo menos,
pelos que pressionam ou estruturam
as agendas das reformas da descentralização.
A primeira é a questão da
eficácia da gestão da coisa pública e
a segunda é a democratização. Ou
seja, a descentralização é assim apresentada
como um progresso para a
democracia, pois considera-se que ela
atribui mais poderes aos eleitos locais
e que permite mais partilha do poder
(Rosavallon,2015; Gauchet, 2017, reduzindo
assim problemas associados
aos centralismos políticos e administrativos.
Podemos igualmente acrescer
que a questão da descentralização
enquanto democratização é vista
como aquela que cria os contra-poderes
em relação ao centro (Poupeau,
2015). Essas duas racionalidades em
relação à descentralização visam no
essencial, na teoria do Estado ou na
sociologia das reformas, permitir
que as relações entre as periferias e
o centro sejam menos de imposição
mas de negociação. No contexto de
Moçambique, tenho a impressão que
o que tem sido utilizado para justificar
a todo custo a descentralização
é o facto de se olhar para ela como
uma porta para democratização e de
criação de mais proximidade entre os
cidadãos e os seus servidores públicos.
Essa segunda reivindicação não
é apenas feita pela Renamo ou pelo
resto da sociedade (mormenente as
organizações da sociedade civil e os
intelectuais), mas igualmente pelos
ditos parceiros de cooperação. Mas,
será necessário tomar como dogma
a descentralização como base para
a democratização de um país, ou
ainda será a descentralização o único
mecanismo institucional e político
para partilhar o poder? Tenho muitas
dúvidas mesmo que historicamente
ela tenha mostrado virtudes
para tal. As minhas dúvidas levamme
igualmente a pensar que muitos
dos argumentam nesse sentido estão
dominados por uma lógica do banco
mundial, portanto, neoliberal, em
relação à própria concepção de democracia
e de eficácia de gestão da
coisa pública. Tendo dito isto, julgo
importante dizer que as duas razões
acima citadas são as que alimentam
aquilo que são os “mitos reformadores”
(Desage e Godard, 2005), o
que não quer dizer que não produzem
seus efeitos no funcionamento das
nossas sociedades. Ora, em relação a
Moçambique, é necessário ter muita
atenção em relação às justificações
públicas ou aquelas que são passadas
pelo discurso político dominante
seja da Renamo ou ainda da Frelimo,
principalmente. Ou ainda, é muito
complicado ver uma discussão que
articulasse as reais possibilidades democratizadoras
da descentralização
num contexto em que liberalização
política tem sido esvaziada.
Toda a exigência de mais democracia
em Moçambique via descentralização
não é recente, mas sabemos igualmente
que foi sempre um dos pontos
mais complicados do processo mais
amplo da construção do Estado poscolonial.
Tenho a percepção que a
justificação de mais descentralização
tendo como fundo de justificação
a questão da democratização não é
muito convincente, pois, historicamente,
nem a Renamo nem a Frelimo
já viram a descentralização como essencial
enquanto um verdadeiro processo
de transferência de competências
do Estado central para o local
ou colectividades locais dotando-as,
assim, de uma certa autonomia ou de
mais capacidade de acção. Penso que
o que está na base da “vontade” de descentralização,
pelo lado da Frelimo,
é a tentativa de levar a cabo reformas
falsamente descentralizadoras para
dar a impressão de que há vontade de
modernizar o Estado e abertura para
a democracia e uma outra racionalidade
que, na minha opinião, impulsionou
a Frelimo a proceder com a
descentralização, mesmo que parcial,
consiste na ideia de que é preciso descentralizar
para conservar o poder
de forma menos autoritária. É por
isso que a Frelimo não descentraliza,
ou raramente, os serviços públicos,
a cobrança de impostos, sobre onde
é possível arrecadar muitos recursos,
que de uma forma ou de outra
reforçaria os poderes e elites locais.
Por esta razão que penso que toda a
análise sobre a descentralização que
não a análise como parte integrante
do processo de construção do Estado
é menos profunda ou pelo menos não
toca no que deveria ser verdadeiramente
ser discutido, no seio de outras
questões pertinentes, como as colocadas
por Nuvunga na sua recentre
entrevista neste jornal. Essas motivações
são igualmente acompanhadas
pela preocupação de antecipar ou responder
a problemas de acomodação
dos seus membros leais, o que permite
o esvaziamento de todo o potencial
emancipador que poderia ter a descentralização
enquanto uma transformação
das estruturas políticas de
Moçambique. Nestas motivações, é
impossível ver a vontade de dar mais
poder ao local, permitir a emergência
de elites locais autônomas, mais
participação de pessoas entre outros
elementos que acompanham a ideia
mesmo de democracia (Todorov,
2012). Em relação à Renamo, penso
que as suas motivações não sendo
necessariamente de mais democracia,
elas buscam no argumento democratização
para reivindicar a descentralização,
o que não quer dizer
que ela não acredite totalmente num
Moçambique diferente do que temos
hoje. Mas o que é que há verdadeiramente
por detrás das suas exigências,
que são legítimas, sob o pano de
fundo? Penso que uma das questões
fundamentais que justifica o discurso
de mais descentralização por parte
da Renamo é sua impossibilidade de
aceder ao poder central ou ao Estado
e sua administração a todos os níveis,
que sustenta o seu pedido de mais
descentralização. Sociologicamente,
podemos dizer que o que está a motivar
a Renamo é a questão do acesso
ao Estado e, entrementes, ao poder.
A questão da democracia aparece
como um argumento para mobilizar
a sociedade à sua vontade de poder.
Vontade de poder não de per si ilegítima
por parte de um partido, aliás,
é esse o seu fundamento, mas se
ela não apresenta um verdadeiro programa
de reformas do Estado, dúvidas
ficam sobre o que é que ela pretende.
Todavia, penso que quer seja
a Frelimo quer seja a Renamo são
anti-democráticas no que concerne
à forma como Moçambique deve ser
gerido, mas ambos precisam desse argumento,
mesmo que seja para interesses
diferentes, para se posicionarem
dentro da sociedade. A grande preocupação
da Frelimo é a conservação
do poder sobre o Estado e a Renamo
é aceder ao Estado. Ambos partilham
de forma implícita a não democratização
do país, mas por motivações
que lhes coloca em oposição.
É nestes termos que é não menos
importante referir que em todas as
suas discussões, nenhum deles esta
verdadeiramente a discutir, por exemplo,
a reforma administrativa ou
territorial, que seria essencial, para
que a descentralização respondesse
ao imperativo democrático (Le goff,
2005) ou ainda que novos mecanismos
levariam os cidadãos a ser determinantes
na gestão da coisa pública,
para usar uma ideia exposta de Severino
Ngoenha exposta neste jornal e
na sua intervenção na STV. Nenhuma
descentralização com a estrutura
administrativa que Moçambique tem
pode levar à democratização, mormente
enquanto partilha alargada do
poder, diminuição da arrogância dos
partidos, mais participação dos cidadãos,
mais independência do sistema
de administração da justiça entre
outros aspectos. Ela pode permitir a
partilha de poder entre os partidos,
mesmo que isso não signifique mais
democracia dentro desses mesmos
partidos ou dos espaços geridos por
eles. Toda a descentralização com o
actual modelo de Estado (administrativamente
ultra-centralizado)
e mesmo de administração só pode
fortificar as máquinas partidárias,
torná-las mais distantes do ideal de
democracia, desapossar toda a criatividade
local à favor de um centralismo
à todos os níveis.
O filósofo, escritor de origem Húngara,
naturalizado francês, Tzvetan
Todorov num dos seus mais emblemáticos
livros “Les ennemis intimes
de la démocratie” (2012) (Os inimigos
íntimos da democracia-tradução
livre) mostra que as democracias não
são apenas destruídas pelos outros,
os de fora, mas os de dentro, aqueles
que falam em nome da democracia,
são os inimigos mais íntimos desta
última, sobretudo, quando isso permitir
que giram o poder enquanto
possessão. Olhando para o comportamento
de ambos partidos, não me
restam duvidas que tanto a Renamo
como a Frelimo são estruturalmente
a mesma coisa, pelo menos no que
concerne à sua relação à descentralização
e à democratização. Reinventar
Moçambique com a descentralização
sem reinventar mecanismos que fortifiquem
a capacidade de intervenção
dos cidadãos e de indivíduos fora
dos partidos pode resultar num centralismo
dominado por dois ou mais
partidos, o que destitui a própria ideia
de democracia, pelo menos no seu
significado mais radical, governo dos
destituídos de capitais (político, social,
cultural) (Dardot e Laval, 2016)
Porque é que a Renamo e Frelimo
coincidem no seu ideário íntimo em
relação à descentralização?
Esta questão é essencial porque as
consequências da anti-democraticidade
das revindicações de ambos partidos
de mais democracia concerne
a todos nós enquanto país. Se para
mim é impossível um pensamento
ou uma reflexão séria sobre a descentralização
sem um pensamento
rigoroso sobre o Estado e sua administração,
penso igualmente que é um
imperativo intelectual tentar compreender
as partes mais íntimas das
reivindicações e posturas da Renamo
e Frelimo, não que Moçambique seja
interpretado apenas segundo o paradigma
Frelimo-Renamo, paradigma
que considero menos operante para
compreender o Moçambique actual
se não complexificarmos, mas é preciso
reconhecer que essas duas forças
estruturam de uma certa forma a forma
como os processos políticos estão
a decorrer. Um dos aspectos centrais
da reivindicação da descentralização
pela Frelimo, mesmo que de forma
diferente, e da Renamo, como já
aludimos mais acima, é a questão
do poder. Não é a partilha do poder
com a pluralidade dos grupos que
constituem a sociedade moçambicana.
Aí é que está o essencial do seu
programa no que concerne às políticas
de reformas da descentralização.
Seja a Frelimo seja a Renamo estão
de acordo, mesmo que seja de forma
menos explícita, com um modelo de
Estado em que o controlo dos recursos
estatais, pouco importa o nível
em que tal ocorre, lhes permite o
controle das lealdades, o esvaziamento
de elites locais aptas a desafiar a
autoridade das estruturas partidárias
ou dos seus líderes. Ademais, ambos
estão de acordo que a descentralização
não signifique mais poder para
o local enquanto espaço de formação
de novas lideranças mais conectadas
às dinâmicas locais sem necessidade
de aparelhos partidários para o seu
sucesso, pois reduziria a capacidade,
mente o mesmo, muitas vezes, o seu
programa é não ter programa consistente
sobre Moçambique. É preciso
entender que ambos os partidos
entraram para uma menopausa em
termos de produção ou reinvenção
do imaginário nacional. A questão da
descentralização entra directamente
no coração daquilo que podemos
chamar de projecto e imaginário nacional.
Como é que podemos confiar
a esses dois indefereciáveis partidos
na sua etiologia, substância um projecto
tão profundo como esse, reinventar
Moçambique?
Descentralizar para responder a que
tipo de perguntas?
Estamos quase todos em Moçambique,
em uníssono, a dizer que a
descentralização é a solução para os
nossos problemas, para as nossas desavenças
ou perturbações. Não compreendo
como é que podemos em
toda uma sociedade de aproximadamente
26 milhões de pessoas acordar
sobre a pertinência da descentralização
como solução para um problema
que pode ser maior que o que se
pretende. Como um indivíduo (sentido
estritamente iluminista do termo)
de tendência intelectual marxista, sou
defensor de uma mais larga participação
das classes que não controlam
a máquina estatal em todos os processos
de uma sociedade. Portanto,
a democratização não me é indiferente.
Entretanto, sob o fundo não
estou contra a descentralização ou a
democracia, mas não estou de acordo
que toda uma sociedade aceite sem
preliminarmente interrogar-se que a
descentralização é útil ou inútil para
o nosso caso. Será a descentralização
um imperativo para resolver o que
temos como problema? Se o é, quais
os elementos sociais, antropológicos,
políticos ou outros que estão a ser discutidos,
para além do discurso da democratização,
ou como alguns dizem
da maior participação do dito “povo”?
Não estou contra que os membros da
sociedade civil ou os intelectuais possam
emitir suas opiniões, mas estes
últimos (os intelectuais) devem, na
minha opinião, radicalizar as suas
perguntas, as suas inquietações, as
suas preocupações. Não se podem
acomodar a um discurso ou práticas
discursivas na moda de que descentralização
é mais desenvolvimento,
mais democracia, mais eficácia, etc .
Por isso que para quem lê “ le procès”
de Kafka ou ainda “la montagne de
l’âme” do chinês Gao Xingjian, nobel
de literatura, entendemos que
o intelectual deve colocar questões
que incitem à reflexão e não ao comodismo.
É nestes termos que até
hoje, exceptuando pouquíssimos intelectuais,
conseguiram constatar que
ainda não estamos a colocar questões
sérias em relação à descentralização,
alguns tornam-se populistas nas suas
argumentações. Falando da revolta
métafisica no seu livro “l’home revolte”,
o escritor francês Albert Camus
propôs que a revolta enquanto
projecto de emancipação é o fundamento
de todo o humanismo, portanto
de todo projecto progressista.
Por isso que me pergunto, queremos
descentralizar para encontrar respostas
a que questões de fundo? A que
tipo de preocupações trans-históricas
queremos responder? Quem é que
está no centro desse processo? O que
é que quer dizer descentralização
num contexto em que a escola, a
universidade, a fábrica e outros lugares
de socialização são lugares cujo
conteúdo é desapossado de qualquer
produção do sujeito, enquanto sujeito
histórico transformador, para usar as
expressões de Levinas no seu “Humanisme
de l’autre homme” (1972)
ou enquanto reestruturação da sua
subjectivação como diria Touraine?
Eu estou persuadido que devemos rediscutir
a descentralização enquanto
ontologicamente bom para o nosso
problema, como fizemos em relação à
democracia e liberdades liberais, para
que possamos re-questionar a parte
interna do nosso projecto enquanto
Moçambique.
O que pretendo com o que estou argumentando
é uma postura crítica ao
facilitismo, em certa medida, com que
podemos estar a levar esta questão.
Não é minha responsabilidade propor
modelos ou dizer que há melhores
argumentos ou maus argumentos.
Cabe-me simplesmente tentar construir
uma postura reflexiva sobre um
processo que é sinuoso, problemático
e vazio enquanto projecto emancipatório
de uma sociedade que está
nas “malhas do poder” (Foucault) de
forças que estão fundamentalmente
mais interessadas em responder às
suas preocupações enquanto máquinas
partidárias do que com as preocupações
dos homens e mulheres de
Moçambique. Essa asserção é trivial,
mas o que não me parece trivial é dizer
que muitos dos que se pretendem
críticos ou reflexivos alimentam esse
sistema e fazem parte dele consciente
ou inconscientemente se desengajando
de um severamente critico em
relação aos espaços comuns ou ainda
aos discursos do Banco Mundial ou
FMI.
Para terminar, mesmo que seja
provisório, penso que tanto as
propostas como as discussões à volta
da descentralização são uma armadilha
para o essencial daquilo é o
problema de Moçambique. Ou seja,
o fundo do problema não está sendo
necessariamente colocado com o que
se tem chamado projecto de descentralização.
O pior não esta aí, o pior
está em estarmos numa crença cega
de que a solução dos problemas é a
descentralização sem discutir em
que tipo de Estado tal descentralização
ocorre, em que contexto administrativo
tal ocorre. Considero
que a questão da descentralização
pode ser um assunto pertinente, mas
não nos esqueçamos que ela foi e
deve ser uma resposta social, cultural
e politicamente construída e apropriada.
Não há respostas universais
nem concludentes. Há historicidades
e temporalidades diferenciais dos
problemas.
* Doutorando em Ciência Política
na sua lógica, de sua reprodução num
modelo autoritário e paternalista que
é típico em ambos partidos, mesmo
que na Frelimo seja qualitativamente
diferente com o autoritarismo e paternalismo
dentro da Renamo. Sobre
a cultura não democrática de
ambos os partidos muita coisa já foi
dita, todavia, entendo que é importante
referir que para a sobrevivência
desses dois partidos nos termos que
existem hoje precisam de um sistema
não-democrático ou pelo menos que
isso se limite ao discurso não efectivo
(Hermet, 1987). É complicado imaginar
uma revolução democrática
via descentralização sem que isso
implique uma revolução estrutural de
ambos partidos e de outros, coisa que
não estou convencido que quer a Frelimo
quer a Renamo estejam interessados.
Como é possível ver, o actual
processo de descentralização dominado
por estes dois partidos não pode
ter resultados democráticos, no sentido
de uma transformação radical das
relações de poder em Moçambique
e do funcionamento dos próprios
partidos. Olhando o objecto descentralização
e a forma como está sendo
orientado é possível constatar que a
descentralização do ponto de vista
destes dois partidos é fundamentalmente
inerente à sua crença que a
descentralização é apenas um mecanismo
para acomodar, manter ou exercer
autoritária ou paternalisticamente
o poder. Isso faz da descentralização
um conceito vazio porque se o termo
“povo” que é invocado não quer dizer
absolutamente nada, é preciso aceitar
que ambos jogam com as ansiedades
de uma sociedade desgastada pela
angústia, pela miséria, pelo analfabetismo,
que não se limitando ao
aspecto escolástico, ele estende-se
à ausência de uma reflexão sobre as
condições históricas e antropológicas
da emergência do problema Moçambique.
Olhando neste prisma, tenho me
interrogado sobre a ausência integral
seja da parte da Frelimo seja da
Frelimo uma vontade de reformar de
forma profunda a nossa estrutura administrativa
e territorial. Não tenho
uma resposta coerente sobre este aspecto,
porém estou persuadido que a
Renamo, por inconsciência ou vontade
estratégica, não coloca a questão
porque entende que chegando ao
poder central poderá geri-lo de forma
centralizada, basta ver a forma
como as suas estruturas partidárias
funcionam. E quanto à Frelimo é por
necessidade de continuar a justificar
que é o timoneiro de Moçambique
e que, portanto, gerir centralmente
o país permite justificar um mito de
Moçambique unido, num conceito
abstracto de “nação moçambicana”,
onde ela pretende-se igualmente a
única responsável pela sua produção.
Mais uma vez, constatamos que o
fundo destes dois partidos é o mesmo,
ou como alguns (Cahen e Sérgio
Chichava) falam, essencialmente, de
“inimigo como modelo”. Ademais,
sugiro que esses dois partidos não só
se imitam, mas eles co-produzem-se
porque o seu programa é essencialAs
armadilhas de descentralizar sem reformar estruturalmente o Estado
Régio Conrado*
A democracia permite que o povo eleja os seus dirigentes desde o nível local até ao central através do voto
16 Savana 10-03-2017 PUBLICIDADE SOCIEDADE
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