O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia Pavel Klimkin discursava na Suprema Rada e não pôde viajar para Bruxelas. Mas em Bruxelas os ministros das Relações Exteriores dos 28 países-membros do bloco consideraram que não era necessário que representantes seus viajassem para Kiev. Bastava enviar as instruções por vídeo.
A questão da adesão de Kiev à OTAN nas últimas semanas tem se revestindo de elementos de surrealismo. O último exemplo foi a disputa à revelia entre o embaixador de Kiev na União Europeia, Konstantin Eliseev, com o próprio ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier.
Apesar dos relatos dos jornais, ninguém gritou com ninguém diretamente, porque fisicamente Eliseev e Steinmeier não se encontraram. Mas o representante permanente de Kiev, de acordo com as normas diplomáticas, foi muito rude com o chefe da diplomacia da Alemanha, país que não é aconselhável tratar com esse tipo de expressões. O senhor Eliseev deu uma entrevista ao jornal Die Welt, na qual “colocou Berlim no seu lugar” e declarou que “não percebe porque o ministro das Relações Exteriores alemão exclui a possibilidade de entrada da Ucrânia para a OTAN”.
“Nenhum país tem o direito de indicar à Ucrânia qual é o seu caminho”, disse Eliseev. Alguns dias antes disso, Steinmeier, em entrevista à revista Der Spiegel excluiu por completo a adesão da Ucrânia à OTAN. Como normalmente os embaixadores acertam a linguagem com os respetivos ministérios das Relações Exteriores, a linguagem rude do representante permanente ucraniano pode ser perfeitamente considerada como uma resposta de Kiev a Steinmeier.
A revista Der Spiegel, aliás, informou que também a própria chanceler alemã Angela Merkel seria contra. De acordo com suas informações, Berlim se terá sentido ainda mais desconfortável depois da declaração do presidente ucraniano Piotr Poroshenko de que na Ucrânia iria ser realizado um referendo para a adesão à aqliança. Os alemães recordam que a questão da admissão ou não de um país não é decidida por referendo no país candidato, mas pelos chefes de Estado dos países-membros da aliança.
O secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg repetiu em Bruxelas, e depois em mensagem televisiva a Kiev, a sua declaração bastante nebulosa que a OTAN “não pode garantir a não-adesão da Ucrânia e da Geórgia à Aliança”.
Neste momento, contudo, o analista Serguei Mikhailov considera que a entrada não é possível devido ao próprio Tratado do Atlântico Norte, que impede a admissão de países que tenham disputas territoriais com seus vizinhos. A Ucrânia e a Geórgia, segundo elas próprias referem, têm esse desejo. Claro que, hipoteticamente, qualquer tratado pode ser contornado, mas o problema principal não está no tratado, mas no fato de não haver uma vontade política única entre os membros da aliança. Enquanto os dirigentes da França e da Alemanha não concordarem com essa adesão, a Ucrânia não será um país-membro, diz Serguei Mikhailov.
Apesar disso, muitos programas de cooperação com Kiev poderão ser instituídos e executados. Tais como, por exemplo, a anunciada instituição de quatro “fundos fiduciários” de ajuda a Kiev. Isso será uma “ajuda não-letal”. Mas se o próprio bloco não fornecer armamento a Kiev, isso poderá ser feito por seus países-membros individualmente.
Em geral, mesmo sem a Ucrânia aderir, a OTAN tem instrumentos que podem estragar a vida à Rússia e manipular Kiev como uma fonte permanente de tensão junto às fronteiras da Rússia. Na realidade, esse é o objetivo de todas as conversas acerca de um “casamento com Kiev”.
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