Samora igual a Martin Luther King Jr.
Machel tinha valores que fariam do país um modelo para outros países
“Moçambique
é o que é e aquilo que será graças a estes dois chefes (Eduardo
Mondlane e Samora Machel)”, defende Jorge Rebelo, antigo combatente de
luta de libertação nacional e membro da Frelimo, como forma de exprimir a
grandeza e o papel destes dois líderes que deram a vida por um
Moçambique independente. Rebelo fez estes pronunciamentos numa palestra
proferida ontem, na Autoridade Tributária de Moçambique, por ocasião
do 34º aniversário da independência nacional que hoje se assinala.
Jorge
Rebelo disse que “Samora Machel tinha uma visão, princípios e valores
por ele defendidos e praticados, iguais a de Martin Luther King Jr.,
que, se tivessem sido seguidos integralmente, Moçambique seria um
modelo para todos os outros países.”
Samora,
segundo Rebelo, defendia que o racismo e o apartheid estavam
condenados a desaparecer para dar lugar a uma sociedade em que a cor da
pele não seria o critério, visão defendida também por Luther King Jr..
hoje, essa realidade consumou-se na África do Sul e nos Estados
Unidos.
Também
considerava que a governação “não era publicar leis ou decretos cujas
razões o povo não compreendia, mas todos deviam executar para não serem
punidos”. Daí que, para governar, na sua óptica, era preciso conhecer
os interesses do povo e estar constantemente ligado ao povo para melhor
escutá-lo e melhor resolver os seus problemas, sem minimizar o tamanho
do problema, seja do dia-a-dia, pois o povo elege-nos para servi-lo.
Parasitismo nas empresas estatais
Em
relação ao Aparelho do Estado, Samora dizia que “é o instrumento
fundamental para a implementação da política nacional de
desenvolvimento económico, mas que, para o efeito, as suas estruturas
têm que ser muito dinâmicas e operativas. Têm que ser o mais organizado e
o mais disciplinado, porque é onde a produtividade é mais elevada.”
Samora falava do contexto de uma economia centralmente planificada, no
entanto, segundo Rebelo, ainda hoje é visível a inércia deste sector,
estando este “bloqueado pelo burocratismo, incompetência, desleixo,
desinteresse, sabotagem aberta ou camuflada”. Como se não bastasse,
nas empresas estatais, são visíveis o parasitismo, a inércia,
indisciplina, baixa produtividade. Nas repartições públicas, os
assuntos mais urgentes arrastam-se semanas, meses e até anos sem
solução. Samora defendia a eliminação da mentalidade do subdesenvolvido,
que ainda se encontra em muitos trabalhadores e responsáveis a vários
níveis. É uma mentalidade que foi eliminada nos países mais avançados
independemente do seu sistema político e económico. Samora também
defendia que, no âmbito da unidade nacional, se devia juntar nas escolas
alunos e professores das diversas regiões do país, para que do convívio
quotidiano se perdessem os reflexos regionais, para se adquirir um
sentimento e consciência moçambicana. Mas para tal, era preciso
“eliminar, entre vários males, o tribalismo e o regionalismo que nos
impedem de assumir a grandeza do nosso país, não nos permitem
compreender a complexidade da nossa pátria e, sobretudo, dispersam as
nossas forças.”
Sobre
a corrupção, Samora Machel, segundo Rebelo, dizia “nunca utilizar o
cargo para obter benefícios pessoais porque, caso contrário, o
dirigente perde a autoridade política e moral e entra numa teia
infindável de compromissos”. Segundo Rebelo, Samora dizia que “quem tem
o bife na boca não pode falar.”
Rebelo
também recorda que Samora defendia ser preciso incutir a cultura de
prestação de contas, combater o burocratismo, a corrupção, a
criminalidade e o espírito do deixa-andar.
Poder, Democracia e Justiça
Rebelo
refere que o antigo estadista moçambicano dizia que as facilidades que
o poder cria podem corromper o homem mais firme, por isso, recomedava
aos políticos que vivessem modestamente e com o povo. Assim, incutia o
dever de não fazer do cargo incumbido para benefícios pessoais ou de
familiares. Samora considerava que a corrupção material, moral e
ideológica, o suborno, a busca do conforto, as escolhas, “cunhas”, o
nepotismo faziam parte do sistema de vida que estava a destruir.
Sobre
a democracia, Samora defendia a prática de uma democracia real, com
uma verdadeira liberdade de expressão e opinião, uma discussão profunda
acerca das decisões que tomamos, e que estas deviam ser democráticas no
conteúdo (interesses reais do povo) e na forma (o povo deve participar
da decisão e não sentí-la como imposta de cima para baixo).
E
quanto à Justiça, argumentava que o aparelho judiciário devia ser
reorganizado para que a justiça fosse acessível e compreensível ao
cidadão comum da nossa terra, contrário do que acontecia com o sistema
burguês que tornava o sistema de administração da justiça uma
complexidade desnecessária, de um palavreado deliberadamente confuso e
encoberto de uma lentidão e custos que criam uma barreira entre o povo e
a justiça. Ou seja, o sistema judiciário que existe no nosso país
serve aos ricos e só a eles é acessível. E o caminho, segundo Samora, é a
sua simplicação.
Emancipação da Mulher
Jorge
Rebelo também recordou que Samora considerava a emancipação da mulher
não como um acto de caridade, nem de uma posição humanitária, mas, sim,
uma necessidade fundamental da revolução, uma garantia da sua
continuidade, uma condição do seu triunfo. Pelo que não era possível que
a revolução triunfasse sem a libertação da mulher.
Educação
A
educaçao tinha um papel importante na visão do primeiro presidente de
Moçambique. Rebelo lembra que este considerava que o estudo “é como uma
lanterna à noite” que nos mostra o caminho. E dizia que trabalhar sem
estudar poder-nos-ia relançar no futuro, mas grandes eram os riscos de
nos enganar pelo caminho, de tropeçarmos e cairmos.