O ex-primeiro-ministro garante que o seu mestrado em ciência política foi tirado na Universidade Science Po e não na Sorbonne -- daí ser impossível esta última tirar-lhe o grau académico
“Nesta manhã de sábado cumpro o que se vem tornando uma habitual tarefa – desmentir a manchete do Expresso”, é desta forma que começa o comunicado que José Sócrates, através do seu advogado João Araújo, fez questão de enviar às redações às 19h deste sábado. Em causa está a manchete do semanário português onde se pode ler que a Universidade Sorbonne admite vir a anular o mestrado ao ex-Primeiro-Ministro.
Sócrates explica que o seu mestrado em Ciência Política foi tirado no Institut d’Etudes Politiques de Paris, mais conhecido como Science Po, e não na Universidade Sorbonne, daí afirmar: “[É] difícil tirarem-me o que nunca tive. O meu mestrado foi obtido em Sciences Po.”
No centro da análise que estará a ser feita pela universidade francesa está a suspeita do Ministério Público português de que o autor da tese de mestrado apresentada por José Sócrates seja Domingos Farinho, professor da Faculdade de Direito de Lisboa e ex-assessor do ex-primeiro-ministro. Farinho está referenciado na Operação Marquês por ter recebido, juntamente com a sua mulher Jane Kirby (irmã do advogado Mark Kirby), um total de 100 mil euros de uma empresa de Rui Mão de Ferro, também arguido da Operação Marquês. Este era um funcionário de Carlos Santos Silva, o alegado testa-de-ferrro de Sócrates, sendo que os fundos que serviram para pagar Farinho e Kirby terão saído das contas de Santos Silva.
A remuneração de 100 mil euros terão incluído igualmente um segundo livro sobre o tema do carisma que José Sócrates publicou como autor em outubro em 2016.
José Sócrates volta a reafirmar no seu comunicado, “pela enésima vez”, que Farinho “não escreveu nenhuma parte original” do referido trabalho académico, algo que o artigo o Ministério Público contradiz. Sócrates vai mais longe, reafirmando que a única influência de Farinho no processo de redação da tese “Perdre La ‘Confiance Dans Le Monde’ — Discussion sur la torture en Démocratie” limita-se à “ajuda de revisão, formatação e aparato técnico do texto”, algo “em tudo, semelhante às sugestões de dezenas da amigos” a quem deu a ler trabalho em questão.
Num artigo do Observador de outubro de 2015, Jean-Marie Donegani, o reitor da Science Po na altura, explicou que “o sr. José Sócrates concluiu a sua pós-graduação de M1 em 2011-2012 e em M2 em 2012-2013 no mestrado de ciência política de Science Po, com especialização em teoria política.”
No sistema universitário francês, é possível fazer o M1 sem prosseguir para o M2. Tal separação reside nos diferentes objetivos dos dois programas. Enquanto o primeiro tem uma componente mais geral, destinando-se a alunos já inseridos no mercado de trabalho – por exemplo, diplomatas e altos funcionários de organizações internacionais como a União Europeia, as Nações Unidas, entre outras, no caso do mestrado de Sócrates -, o M2, por seu lado, tem um programa mais específico e prepara alunos que estejam interessados em prosseguir para o doutoramento e para uma carreira académica.
Artigo atualizado às 00h05 de sábado, 17 de fevereiro. Joaquim Silva