Sempre a meter...
Tal como foi, em Roma, no tempo de Joaquim Chissano, quando do Acordo Geral da Paz, a Renamo não deixou clara e vincada a sua exigência de ver integrados os seus militares nas Forças de Defesa e Segurança, quer dizer, nas Forças Armadas de Moçambique, FADM, na Polícia da República de Moçambique, PRM, e no Serviço de Informação enão custou nada para a Frelimo que não só expulsou os militares da Renamo incorporados nas FADM, com o falso pretexto de passagem à reforma, como também não permitiu que um só militar da Renamo integrasse a PRM e SISE. Esses episódios não aconteceram de tal modo por acaso, mas obedeceram a um plano definido a fim de driblar a Renamo e o tem conseguido com sucesso. A Renamo deveria ter tirado a devida e competente lição sobre a postura política de má-fé da sua contraparte.
O mesmo aconteceu com o acordo de Cessação das Hostilidades Militares, assinado no pontificado de Armando Guebuza, algo que nenhum partido que aspira chegar ao poder deveria aceitar, por ser nulo e ultrajante, tanto assim que nem uma única vírgula desse entendimento foi levado em conta pelo governo. Algo igual está a voltar a acontecer neste momento. Filipe Nyusi convenceu ao coordenador interino da Renamo de que a Frelimo não quer ver os militares da Renamo no SISE. A Renamo parece ter respondido com “Amen”, para os cristãos, e “Siavuma”, para os falantes das línguas bantu, conformando-se, assim, com os desígnios dos tipos da Frelimo.
O modus faciendi da Renamo – a maneira como faz as coisas – continua sendo o mesmo, facilitando o seu contraparte, para não ter que chamar por outros menos elegantes, faz exigências lógicas mas depois desacelera tudo. A Renamo corre e corre cada vez mais veloz, parecendo que vai cortar a meta e atira-se ao chão, finge desmaiar, deixando todo o público boquiaberto. Qualquer acordo, firmado entre a Frelimo e Renamo, que não inclua a reestruturação do STAE e SISE, de nada vale porque deixa de fora e ilesos os perturbadores da paz.
É um segredo aberto que o STAE é o promotor das fraudes eleitorais que atribuem, sempre, vitórias esmagadoras, retumbantes e convincentes ao “glorioso” partido Frelimo e ao seu “imbatível” candidato. Esquecer-se desse importante factor é o mesmo caminhar certo para o cadafalso. Somente a falta de vontade de vencer uma eleição pode obrigar a tal maneira de agir. No presente momento do país, recusar fazer parte do SISE é hipotecar a democracia epaz. Aceitar a proposta ou pedido para se ter mais paciência, para não integrar o SISE, é um absurdo que se pagar com sangue de inocentes. É dar carta branca para que o povo continue a ser degolado por bandidos e assassinos a soldo do regime corrupto da Frelimo.
Em democracia, os serviços secretos servem ao Estado que reflecte os interesses todos, porém, o SISE é mais um instrumento de repressão que defende a Frelimo e a ele se recorre sempre que estiver em apuros. Integrar o SISE seria uma garantia de que os opositores políticos do regime da Frelimo e a outros com eles confundidos já não seriam mais raptados e assassinados. Fazer parte do SISE seria o fim dos esquadrões da morte. Teríamos a certeza de que ninguém corre mais o risco de ser morto ao sair de um café, durante a ginástica matinal, ao descer de uma aeronave, numa perigosa emboscada ou arrastado do seio da família, aos pontapés e morto em lugar desconhecido.
Ao não integrar o SISE significa que esses cenários continuam activos. A morte traiçoeira está sempre à espreita. O perigo de ser raptado, quebrados os membros superiores e inferiores e depois jogado numa ravina na Estrada Circular de Maputo está à espera de quem fala demais, como eles nos designam.
Se não quer ser aniquilado por bandidos, há dois caminhos a seguir: 1.Integra o bando dos criminosos, para não por ele ser atacado; ou 2. Desbaratar e acaba com bando. Outro caminho como “vamos esperar ou tenhamos paciência” não existe. Ficar na esplanada confiante nada mais de mal lhe vai acontecer é dormir sob a sombra da bananeira. Poderá ser surpreendido e trucidado. A surpresa significa que não lemos, com atenção, todos os cenários.
O conformismo vai perpetuar a instabilidade. É interessante procurar saber os reais motivos da recusa da Frelimo da reestruturação do STAE, acoplando-o à CNE, Comissão Nacional de Eleições. A Frelimo é relutante em manter o STAE integrado no governo por saber que só desse modo pode controlá-lo e dar-lhe ordens. Se estiver sob as ordens da CNE a chance de manipulá-lo fica reduzida.
O SISE planifica quem deve seguir hoje, amanhã ou depois e os esquadrões executam, por isso, a relutância da Frelimo para não fazer mistura. Ceder a essa chantagem é péssimo para a democracia. O segredo da invencibilidade da Frelimo reside no SISE e STAE.
A Frelimo compara-se à estória bíblica de Sansão cuja força residia nos seus compridos cabelos. Em sono, a sua namorada, Dalila, lhe cortou os cabelos e Sansão virou um homem como qualquer outro, sem a sua extraordinária força. De igual modo a Frelimo poderá ficar como um partido qualquer, se lhe cortarem, também, os seus cabelos que são o STAE e SISE. Assim, a Frelimo resiste em abrir os cordões dos órgãos que a mantém no poder e a torna, aparentemente, invencível! Não será fácil tirar a Frelimo do poder.
Não serão os seus novos acólitos "especializados" em jogar pedras para os outros nem com os atentos em insultar e maldizer os outros que vão parar a Frelimo. Será o povo mesmo com raptos e assassinatos. A Renamo continua a assinar documentos que lhe tiram o tapete dos pés. Quando vai aprender?
A Renamo deveria, neste momento, liderar o movimento de congregar todas as forças da oposição, porém, infelizmente, continuamos a ver a Renamo a frente dos sectaristas, malcriados e boçais que pensam ter encontrado uma fonte que jorra água benta que mata a sede pelo resto da vida.
Os sectaristas e oportunistas que preenchem, às corridas, as fileiras da Renamo, esqueceram-se, por completo, que o seu "inimigo" deve ser o partido Frelimo porque é ele que detém o poder político, económico e de estado. O MDM a quem calúnias e difamam é, também, partido da oposição com o qual deveriam estabelecer alianças estratégicas com vista a alcançar o poder.
Com esta postura da Renamo, ninguém vai ficar admirado ou escandalizado quando, a 10 de Outubro próximo, anunciarem que a Frelimo voltou a esmagar a oposição, de maneira impiedosa. Será o preço da obra que a oposição tem estado a encomendar - a sua própria derrota.
Sim, a oposição vai ser cilindrada porque, ao invés de se organizar para uma luta vitoriosa, anda a morder-se parece uma matilha raivosa e desnorteada.
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