05 de Maio 10h44 - 37 Visitas
A União Europeia também se juntou às vozes que têm estado a manifestar solidariedade e expressar condolências pela morte do líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
Em comunicado enviado à nossa redacção, a organização escreveu:
“Afonso Dhlakama faleceu em tempos de grandes desafios para Moçambique. Ele desempenhou um papel histórico no processo que culminou no Acordo de Paz de Roma de 1992 e foi um actor fundamental na transição democrática do país. A sua determinação ficou mais uma vez demonstrada ao empenhar-se nas negociações de paz e reconciliação com o Presidente Nyusi que se iniciaram em 2016.
A UE apresenta as suas condolências à família e aos amigos do Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, bem como a todos os moçambicanos que hoje lamentam a sua perda”.
Por outro lado, a “União Europeia incentiva o Governo e a Renamo a continuarem com o seu compromisso firme e sustentado, para que seja rapidamente alcançado um acordo global para uma paz duradoura”, e acrescenta que vai continuar a apoiar Moçambique no rumo da paz e da prosperidade para todos os seus cidadãos.
Afonso Dhlakama: O ocaso de uma vida de resistência
Afonso Dhlakama, que morreu na quinta-feira, aos 65 anos, vítima de doença, autointitulava-se "pai da democracia", passando quase toda a sua vida a fazer resistência armada contra a rival Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
Afonso Macacho Marceta Dhlakama, líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), nasceu a 01 de Janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava, em Sofala. É filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde.
Afonso Dhlakama assumiu a liderança da Renamo aos 26 anos, sucedendo a André Matsangaíssa na condução de uma guerrilha que se assumiu como frente de resistência contra o sistema comunista instaurado em Moçambique pela Frelimo, após a independência, em 1975.
Escapou várias vezes, algumas de moto, seu veículo preferido, ao cerco das forças governamentais durante a guerra civil de 16 anos, até se impor como interlocutor do partido no poder nas negociações que levaram à assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, em 1992.
Após o fim da guerra civil, Afonso Dhlakama candidatou-se pela Renamo a cinco eleições presidenciais, que decorreram em simultâneo com as legislativas, tendo ele e o seu partido perdido em todas: 1994, 1999, 2004, 2009 e 2014.
Não reconheceu a derrota em nenhuma delas e ameaçou voltar à luta armada.
Acentuando muitas vezes o seu discurso com ameaças de retorno à guerra, regressou em 2012 às matas da Gorongosa, distrito que acolheu as principais bases da Renamo, dirigindo os confrontos entre o braço armado do partido e as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas.
Na sequência dos confrontos, Afonso Dhlakama assinou o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares com Armando Guebuza, na altura Presidente da República, que deu lugar às quintas eleições gerais de 2014.
Depois de perder as presidenciais de 2015, frente a Filipe Nyusi, da Frelimo, organizou comícios em que ameaçava governar nas províncias do centro e norte do país onde obteve a maioria de votos.
Nesse ano, a sua comitiva sofreu dois ataques armados nunca assumidos, tendo saído ileso e desaparecido nas matas do centro do país, de onde reapareceu na cidade da Beira, capital da província de Sofala.
Após uma invasão da sua residência na Beira, Afonso Dhlakama desapareceu para se refugiar novamente na Serra de Gorongosa, seguindo-se mais um ciclo de violência militar com as Forças de Defesa e Segurança, até à declaração de tréguas em Dezembro de 2017, que perduram até hoje.
O líder da Renamo chegou a entendimento com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, para a submissão à Assembleia da República de uma proposta de revisão pontual da Constituição da República visando o aprofundamento da descentralização.
Afonso Dhlakama apresentava a descentralização como fundamental para uma paz duradoura em Moçambique.
No final das conferências de imprensa, Afonso Dhlakama cumprimentava, sorridente, cada jornalista, tratando por "amigo", mesmo que nunca o tenha visto antes, deixando uma imagem meiga para um político que, várias vezes se revelou provocatório nas suas declarações e posições públicas
LUSA – 04.05.2018
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