Quase nada, ainda!
Há exactos três anos, numa amanhã de sol ardente característico do verão de Janeiro, Filipe Jacinto Nyusi tomava posse como quarto Presidente da República de Moçambique.
Bastante ovacionado durante os cerca de quarenta minutos do seu primeiro pronunciamento público como o novo mais alto magistrado da nação, Filipe Nyusi conseguiu resgatar a esperança de milhares de moçambicanos que tinham acumulado “milhas” de frustração em resultado de a governação anterior não ter correspondido e respondido às mais básicas prementes preocupações das populações.
Razões para tanta decepção colectiva são milhares, das quais pontificam o regresso à guerra e o quase inexplicável endividamento público na ordem de 2.2 mil milhões de dólares. É igualmente consensual o entendimento de que durante os 10 anos da governação de Armando Guebuza, o nicho dos “donos” do país dobrou ou triplicou a sua riqueza e, no sentido contrário, os moçambicanos de segunda, de terceira ou simplesmente indigentes, viram o seu nível de pobreza a dobrar ou mesmo a triplicar.
Portanto, com o seu primeiro discurso, Filipe Nyusi encarnou Moisés à chegada ao Egipto para libertar os filhos de Israel da escravidão. Aliás, Filipe Nyusi disse naquele dia, de viva voz e alto som, que “reafirmo que o meu programa de governação se inspira nos moçambicanos, para servir os moçambicanos! É um programa de mudança e uma razão de esperança”.
E perante aplausos, acrescentou: “é isto que nós queremos: um governo assente numa ética que coloca a vida e a dignidade humana acima do lucro. Um programa que coloque a saúde e a educação de qualidade acima de um poder de consumo ilusório.
Um governo que privilegie a paz, a paz e ainda a paz e promova o diálogo acima de disputas domésticas pelo poder”.
Perante este nível de promessas, na verdade, imprescindível no jogo político, os moçambicanos não poderiam exteriorizar outro sentimento, senão o de que as coisas iriam mudar para o melhor possível.
Entretanto, três anos depois, parece que a esperança está a ruir e o desalento começa a tomar conta da maioria dos moçambicanos.
É verdade que muito se tem aplaudido os esforços de Filipe Nyusi, com apoio do seu irmão doutro lado, Afonso Dhlakama, na busca da paz, mas, talvez pela complexidade do processo, o país ainda não conseguiu fechar este dossier. Fora deste pacote, pouco há por se assinalar em termos de avanços, tendo eloquente discurso lido na manhã de 15 de Janeiro de 2015, como farol.
Na verdade (é consensual este sentimento), continuamos a assistir uma governação sem ética; corrupta; despesista; que assiste impávida (e talvez promove) a assassinatos selectivos; que defende (não o interesse público) mas o individual; que promove o nepotismo na administração pública e não o mérito e profissionalismo e que promove a falta de transparência na exploração de recursos naturais.
Continuamos a assistir a um governo que insiste em fazer ouvidos de mercador para a triste realidade de milhares de pessoas que continuam a percorrer trinta quilómetros para ter acesso a uma unidade sanitária de serviços mínimos (a mesma que, de noite, recorre à luz do telefone celular para visualizar questões essenciais num serviço de parto); continuamos a assistir crianças que aos 12 anos são obrigados a recorrer ao curso nocturno porque de dia não existem vagas para a 6ª classe; continuamos a assistir às mais degradantes formas de transporte público de passageiros, com estudantes e trabalhadores a serem os mais sacrificados, numa altura em que o governo continua a comprar verdadeiras máquinas de promoção do despesismo, exibição do poder e do luxo.
Ora, por mais genuíno e sincero que o discurso seja, o facto é que os resultados é que contam. São os resultados que nos podem permitir medir o compromisso.
E para o caso em apreço, outra opinião não podemos ter: ainda não vimos quase nada, senhor presidente.
Dizia Menotti del Picchia, jornalista, tabelião, advogado, político, romancista, cronista brasileiro que “a política é a arte de conciliar os interesses próprios, fingindo conciliar os dos outros”.
Até parece ser o caso!!!
MEDIA FAX – 15.01.2018
Os três anos da governação do sr Filipe Nyusi, como presidente da República de Moçambique e chefe de Estado mostraram uma certa viragem na interpretação da realidade das coisas neste país.
Os feitos da sua governação tiveram uma significação mais teórica do que activa e prática por força das acções de hegemonia e reclamação de posse do país por parte dos ideólogos e donos da Frelimo que travaram o avanço das diversas iniciativas do presidente para a verdadeira identidade, independência, unidade nacional, país uno e indivisível e espírito de inclusão. Esses ideólogos assaltaram a Justiça, FDS e instituições estatais a seu favor. Todos crimes que envolvem os esquadrões de morte não são esclarecidos. Isso prevaleceu nos últimos 3 anos de governação do presidente Nyusi.
O presidente Nyusi tentou trazer uma abordagem séria sobre os diferentes assuntos nacionais mas os donos da Frelimo travaram, clamando Moçambique ser sua propriedade privada.
O presidente nyusi definiu transparência e seriedade como pontos de referência na sua governação. Assim, ele atacou auto-suficiência em produção agrícola, o povo acatou e já não há poder de venda de excedentes. Continuam os camponeses a serem prejudicados na comercialização. Quem dita preço e quantidade é o comprador e não o produtor. Vejam como se ensaca a cebola em Malema, uma verdadeira humilhação ao produtor.
A economia entrou num colapso por causa de dívidas ocultas cujos autores o presidente não quer entregar a justiça em clara satisfação duma minoria em prejuízo da maioria que está a sofrer.
O presidente deu o primeiro tiro na luta cerrada contra corrupção só em palavras sem acções concretas porque não conseguiu ordenar a seriedade em todas instituições o combate deste mal. A corrupção já engoliu a província de Nampula e todos actos de corrupção reportados por várias vias não se conseguem deliberadamente provar e há um forte proteccionismo.
A corrupção e todos males que existem em Moçambique partem dentro do partido Frelimo mas o presidente não conseguiu tentar reduzir para influenciar a gestão geral.
As eleições internas de Abril 2017 mostraram a verdadeira face da decadência interna da Frelimo nos acontecimentos de Malema, Nacala Porto em Nampula, Gile e Quelimane na Zambézia, em que a ala radical do partido que não se mostra favorável a mudanças para o refrescamento do funcionamento do partido, simplesmente montou um esquema de manobras para bloquear a entrada de reformadores na hoste do partido que consistiu na exclusão da massa de base do partido para manter pessoas ultrapassadas, não alinhadas aos actuais desafios para a sobrevivência do partido.
A indicação de gestores sobretudo administradores distritais na base de redes para comerem juntos foi muito saliente. Muitos administradores e administradoras são muito incompetentes e só servem de fonte de comer com chefes e não competência técnica. A massa pensante questiona o critério de indicação de administradores que mostra basear-se no nepotismo e clientelismo. Em Cabo Delgado o presidente testemunhou a incompetência de várias administradoras mas continuam impunes.
Há avanços na área de estradas, hospitais, escolas, e água mas duma forma deficiente. Hoje canta-se esses ganhos mas deixa - se exclusão que é a consequência directa da corrupção no país.
Os ideólogos radicais da Frelimo autorizaram ao presidente Nyusi para dialogar e negociar devido a baixa moral combativa que as FDS mostraram no teatro de guerra, motivada por elevado nível de corrupção.
O presidente tem a tarefa espinhosa de aliviar o regionalismo que caracteriza a governação da Frelimo. Portanto, o trabalho importante é a Frelimo aceitar ir a oposição para se reorganizar de modo a caminhar para o bem-estar geral. Tem de eliminar a continuidade dos males que caracteriza o modus operandi da Frelimo.
Nota 14 ao presidente Nysi.