Protestos, conversas e um jantar.
Protesto por escrito, conversas e um jantar. Eurodeputado falou com presidente do Partido Popular Europeu sobre o tema e conseguiu deitar por terra discussão em plenário do Parlamento Europeu.
O Partido Popular Europeu desistiu de levar o caso Centeno ao plenário do Parlamento Europeu. “Não há nenhum facto, neste momento, que suscite” essa discussão, diz ao Observador o eurodeputado Paulo Rangel, que admite a possibilidade de o tema voltar a ser levantado numa próxima visita de Mário Centeno a Bruxelas. A pressão do social-democrata levou Manfred Weber, presidente do Partido Popular Europeu, a deixar cair essa intenção da direita alemã.
A proposta de discussão do tema circulou por e-mail entre populares europeus, esta quarta-feira à noite, e chegou a entrar na caixa de correio de Weber, depois de o influente jornal Politico fazer eco das buscas ao Ministério das Finanças e da suposta intenção do ministro de se demitir caso fosse constituído arguido. Em causa, as notícias de um pedido de Centeno para assistir a um Benfica-Porto na tribunal presidencial do Estádio da Luz e de uma alegada intervenção de Centeno para acelerar um processo de isenção fiscal para uma empresa da família de Luís Filipe Vieira, presidente do clube.
A replicação, em Bruxelas, da informação que já corria em Lisboa fez soar alarmes e levou um eurodeputado alemão do PPE em particular – Werner Langen – a pressionar o presidente do partido para que levasse a discussão sobre o caso a plenário, na sessão da próxima semana do Parlamento Europeu, em Estrasburgo.
Num primeiro momento, Weber alinhou com a pretensão do seu compatriota. De tal forma que chegou a ser dado como certo que, esta quinta-feira, a proposta ia ser submetida a votação em conferência de presidentes – o equivalente em Bruxelas à conferência de líderes parlamentares da Assembleia da República, onde se discutem os temas a apresentar em plenário. Ao início da noite, o Expresso escrevia que o PPE queria “levar a plenário a discussão sobre o caso Centeno”. A proposta que chegou a Weber, escrevia o jornal, manifestava intenção de que fossem debatidas as “alegações contra o ministro das Finanças português e presidente do Eurogrupo”.
Protestos por escrito e conversa ao jantar
Nesse momento, Paulo Rangel já estava a tentar travar a sua própria família política e, na prática, a sair em defesa do ministro português. “Assim que soubemos que tinha havido uma agendamento” da proposta deste tema em plenário do Parlamento Europeu “fizemos um protesto por escrito”, que foi enviado ao presidente do PPE, confirma ao Observador Paulo Rangel. O eurodeputado quis “esvaziar o balão” da polémica e evitar que o tema Centeno chegasse ao plenário do Parlamento Europeu
À noite, Rangel e Weber voltaram a falar sobre o assunto no habitual jantar de preparação das sessões plenárias em que participam os comissários daquela família política, a direção do PPE e o próprio presidente. “Voltámos a conversar com ele e, nesse momento, o presidente do PPE disse-nos que, tendo em conta que era essa a nossa posição [do PSD, mas também do CDS, que integra a mesma família política europeia], e verificando que não havia consenso na conferência de presidentes para agendar a discussão, deixaria cair” a proposta.
A oposição foi geral. Ao Expresso, eurodeputados portugueses das várias forças políticas opuseram-se a essa ideia logo na quarta-feira. Ao Observador, fonte do PPE explica que a imagem negativa que o caso fazia pairar sobre o país foi uma das razões para o movimento que se criou contra a discussão do tema em plenário. Ao mesmo tempo, o facto de não ser ainda claro que razões levaram o Ministério Público a realizar buscas no Ministério das Finanças no final da semana passada davam pouca sustentação a quaisquer críticas que se pudesse fazer ao presidente do Eurogrupo.
Com estas movimentações, o eurodeputado teve de sair em defesa de um ministro de uma família política que não a sua, ficando contra os seus aliados de partido. “É sempre uma situação desagradável termos de discordar do presidente”, assume.
Ao contrário do que se previa, o tema não chegou sequer a ser abordado na reunião desta quarta-feira do Partido Popular Europeu. Na sua habitual newsletter matinal, o mesmo Político que lançara o alarme deixava claro que “o partido recusava discutir o caso Centeno”. À hora a que os eurodeputados do PPE se reuniram, já tinha ficado claro que Weber não estava disposto a provocar a discussão.
Mas isso não significa que o tema não volte a colocar pressão sobre o ministro português. “Mais tarde, quando o presidente do Eurogrupo vier a Bruxelas, nas suas funções normais, é possível que alguém suscite a questão”, diz Rangel, recordando que essa prática era habitual quando Jeroen Dijsselbloem era presidente do Eurogrupo.
Depois de segurar o seu ministro das Finanças – garantindo que “em circunstância alguma sairá do Governo” – o próprio primeiro-ministro António Costa reconheceu, no início da semana, que as notícias que envolvem o nome de Centeno estavam a gerar “muita repercussão” internacional. O Observador sabe que os próprios eurodeputados portugueses tiveram muito trabalho de “pedagogia” para explicar o que estava – e não estava – em causa nas buscas ao Ministério das Finanças e na ligação entre o ministro e o presidente do Benfica. Ser presidente do Eurogrupo “é um cargo muito sensível” e qualquer notícia que envolva o ministro português gera ondas de choque nas instituições europeias. Neste caso, considera Rangel, o tema é “altamente injusto para o ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo e, por isso, intervim”.