domingo, 14 de janeiro de 2018

Nyusi: 3 anos sem ideias

Analistas avaliam terceiro ano do PR Nyusi não conseguiu se revelar

Por Argunaldo Nhampossa

Próxima segunda-feira, Filipe Nyusi completa três anos, após tomar posse como Presidente da República (PR) de Moçambique a 15 de Janeiro de 2015. Analistas ouvidos pelo SAVANA consideram que o discurso de esperança e de roptura de ciclo, proferido na tomada de posse “caiu por terra”. Fazem notar que os três anos foram marcados por uma fraca liderança, apesar do potencial que o chefe de Estado tem, principalmente, de se reinventar em momentos de crise. Entendem que houve um défice de ideias que pudessem imprimir uma nova dinâmica na Presidência da República. Numa altura em que só faltam dois anos para o fim do mandato, defendem os analistas, nada mais se pode esperar, porque o PR está a desiludir. O analista político José Jaime Macuane diz que, nos três anos de administração Nyusi, viu uma Presidência que apresentou grandes ideias, que mostrou que potencialmente poderia ter feito mais, mas ficou na narrativa de que as grandes ideias expressas, tanto na sua tomada de posse, como nos momentos subsequentes, não foram realizadas, porque estava a ser vítima de sabotagem na sua própria base de apoio. Para o académico, isto não abona a favor do chefe de Estado sob o ponto de vista de liderança, pois todo aquele que escolhe ser Presidente sabe o que lhe espera. Macuane diz que o PR deu uma imagem negativa de si mesmo e que a sua liderança não era suficientemente forte e revelava incapacidade de cumprir as promessas políticas feitas. Isso, segundo Macuane, teve consequências práticas, porque a questão da paz se arrastou mais do que se estava à espera e ainda continua neste terceiro ano do seu mandato. Fala da crise e da intolerância política, que se revela através da vandalização das sedes de partidos políticos, o que mostra que grande parte daquilo que era o esforço de reconciliação, democratização e direitos humanos não está sendo efectivado e isso tem, em grande parte, a ver com essa fraca liderança que se instalou. “A narrativa que queria justificá-la foi desastrosa, porque, depois de um Presidente que prometia ser um grande líder, vimos um líder mais fraco do que aquilo que havia sido prometido. Ainda faltam dois anos, há um potencial de coisas que poderiam ter sido feitas, mas não foram e, por isso, ele tem uma base muito grande para que faça diferença, apesar de isso depender da forma como vai demostrar a liderança”, precisou. Macuane destaca também pela negativa a escalada da violação dos direitos humanos, no mandato que se pretendia ser uma nova etapa de harmonia e desenvolvimento, tal como anunciou Nyusi a 15 de Janeiro de 2015. Diz o politólogo que está a ser um mandato histórico, em termos de violação dos direitos humanos, com o agravante de as instituições do Estado não mostrarem interesse, muito menos compromisso de investigá-las. A título ilustrativo, citou a questão das valas comuns em Manica, local para o qual foi despachada a Comissão Parlamentar de Inquérito, que, no entender do académico, trouxe “ explicações superficiais”. Apontou a crise dos refugiados de Kapise, em Malawi que, segundo Jaime Macuane foi gerido de forma irreprovável e dos esquadrões de morte. Diz estranhar a postura do chefe de Estado que, em nenhum momento, chegou a pronunciar-se de forma incisiva em torno da violação dos direitos humanos. “Um país que outrora foi sinónimo de pacificação, hoje se tornou num país com histórico de violência, violação dos direitos humanos e de incapacidade de resolução de conflitos em termos sustentáveis”, disse. Gastos exorbitantes O ano recém-terminado foi marcado por gastos exorbitantes do Estado para coisas supérfluas, numa altura de crise, contrariando o discurso inaugural que prometia orientar a sua política para racionalização da despesa pública. Para Macuane, a crise constitui uma oportunidade de ouro para se aprender a viver com recursos próprios, mas houve essa situação em que o executivo anunciava austeridade devido à falta de recursos em sectores sensíveis como educação e saúde, porém ao mesmo tempo, assistia-se à compra de jatos executivos e viaturas de luxo e dando justificações irresponsáveis. Macuane considera que há um desafio do lado ético do executivo, pois, quando se declara austeridade, deve ser para todos e num contexto de crise, impõe-se a redefinição da forma como são geridos os recursos. Entende que a aprovação do novo decreto, que introduz algumas medidas de austeridade, não é suficiente, pois, se não existe o lado ético, pode ser uma letra morta, isto porque o exemplo deve provir do próprio governo, que tem muitas despesas que bem vistas podem ser cortadas. Macuane diz que, nestes três anos, viu um Filipe Nyusi que mostra um potencial de ressurgir em tempos de crise, mas o problema é que depois não consegue realizar esse potencial. Tomou como exemplo a questão da paz, que foi antecedida de um intenso processo de resolução do assunto via militar, mas acabou se optando pelo diálogo, que levou o PR até à serra da Gorongosa para um encontro com o líder da Renamo. Lamenta, contudo, que o processo se arraste até hoje. “Eu ainda não sei se de facto é porque a abordagem é de preferência em relação a via pacifica ou porque a solução militar se revelou ineficiente e ineficaz. É uma dúvida que tenho. Só o futuro dirá se esta postura é pacifista ou não, mas o que retiro disto é alguma postura diferente do anterior mandato no sentido de cultivar uma maior aproximação e diálogo com a Renamo”, anotou. Macuane descreve Filipe Nyusi como um dirigente que tem uma grande capacidade de melhorar a sua imagem em momentos de crise e de encontrar soluções, “mas isso tem sido episódico, é preciso mais articulação, porque faltam apenas dois anos e a impressão que fica é que ele só resolve focos de crise e o país como tal continua em crise”. Considera que Nyusi tem que encontrar formas de realizar esse potencial que tem, tendo sublinhado que a marca do PR “é essa capacidade de se reinventar em actos e factos em momentos de crise”, porém falta-lhe a capacidade de tirar o país da letargia geral em que está e da crise estrutural. 'pÀFHGHOLGHUDQoD Quem também aceitou analisar os três anos de Filipe Nyusi na liderança do país foi o jurista e activista Ericino de Salema. “Quero desfazer equívoco de que o Presidente Nyusi é o autor da expressão segundo a qual “o povo é meu patrão. Não é nenhuma invenção do Presidente. Isso está na Constituição e qualquer Presidente tem como patrão o seu povo. Ser Presidente, é saber que há um emprego de alto nível, candidatar-se e, se ganhar esse emprego, é só servir, não se trata de favor”. Salema diz que Filipe Nyusi elevou muito a fasquia no acto de investidura e os seus três anos de governação tem sido um misto de avanços e estagnação. “Avanço, porque, amiúde, há algum discurso promissor, principalmente, quando fala de inclusão e meritocracia; Recuo ou estagnação, porque, em termos práticos, não há nada disso, nem o mínimo que se aproxima nisso”. A falta de uma visão clara em termos de projecto de sociedade é apontada por Salema como uma das marcas da administração Nyusi. Diz que ainda não conseguiu captar de facto qual é o projecto de sociedade do PR, considerando que o actual chefe de Estado passou à margem de uma grande oportunidade de se revelar como um líder e não conseguiu. “Os momentos de crise não são para clemência, são para grandes líderes se revelarem. O PR teve tudo para se revelar e não o fez e num mandato de cinco anos, os três primeiros são dedicados à governação pública, enquanto os últimos dois anos são para governação política, sobretudo, no contexto igual ao nosso, em que os restantes coincidem com os anos eleitorais”, disse. Ericino de Salema acha que já não se deve esperar muito de Nyusi nos anos que faltam, pois ele e o seu partido estarão focados na renovação do mandato do que eventualmente na efectivação do seu discurso e promessas, sobretudo no contexto de bloqueio financeiro do país pelo sistema financeiro internacional. Salema diz que o trajecto de Nyusi como técnico e gestor e pelo discurso de tomada de posse que proferiu fizeram lhe sonhar muito alto, mas chegados a esta fase, resta-lhe pouca esperança de mudança e não há motivos para ficar impressionado com a administração Nyusi. Com nostalgia, recorda que a 15 de Janeiro de 2015, em plena Praça da Independência, Nyusi disse que iria defender os direitos humanos, em particular a vida, mas, contrariamente ao seu discurso, os seus primeiros dois anos foram marcados por assassinatos políticos nunca vistos na história democrática do país em igual período de direção do país. Estas acções foram extensivas a membros do Conselho de Estado e até o líder do maior partido de oposição nacional foi alvo de dois atentados em plena luz do dia no decorrer de actividade política. Tal como Jaime Macuane, Ericino de Salema estranha que até hoje o PR não se tenha posicionado ou tecido qualquer comentário à volta do assunto. Essa atitude, de acordo com Salema, revela que a transição do discurso à prática está aquém daquilo que o PR prometeu. Sobre o desenrolar do processo de paz, o jurista considera que nada nos garante que a trégua vai se traduzir em paz efectiva, pois pode se assinar mais um acordo que não passe de simples acordo, tal como o de 5 de Setembro [acordo de cessação de hostilidades entre o líder da Renamo, Afonso Dhlakama e o antigo chefe de Estado Armando Guebuza] porque há questões de integração dos homens da Renamo, que são sérias e urgentes e não se sabe como serão ultrapassadas. No que diz respeito à crise que afecta o país, defende que o facto de o país não ter colapsado, apesar de estar na iminência disso, devido ao alto endividamento interno, mostra que há um forte potencial, faltando apenas uma liderança clarividente. “O potencial está lá e se não estivesse ou se fosse como alguns países daqui de África, estaríamos pior do que estamos, mas o facto de não termos colapsado mostra que há potencial e precisamos de uma liderança clarividente, ideias claras e progressistas”, observou. Para Salema, o novo decreto que regula os limites para as despesas dos funcionários públicos constitui um bom sinal, contudo diz desconhecer a utilidade do mesmo numa situação em que ninguém sabe qual é salário de um ministro, sob pena de se reduzir as regalias mas incrementar os salários a 100 ou 200% para obviar as limitações. Deste modo considera que a inexistência daquela informação que, na história do país, só foi revelada por Samora Machel, através do Boletim da República, torna tudo anedótico e exemplificou. “Quanto custou a ida da Primeira Dama, Isaura Nyusi aos EUA para receber material hospitalar avaliado em USD 40 mil USD? Será que não poderia se adquirir aquele material com os valores que custearam a viagem dela e sua comitiva?, questionou. Faltam ideias Quem também comunga da opinião de que faltam ideias ao Presidente da República é Eduardo Sitoe, director executivo do Centro de Estudos de Democracia e Desenvolvimento (CEDE). Sitoe considera que o Governo, no seu todo, foi menos fértil em ideias quando comparado com os anteriores. Diz que estávamos habituados a todo o tipo de experimentações, apesar de em algum momento terem faltado estudos, aprofundamento ou implementação de projectos como “revolução verde, sete milhões, um líder uma floresta, entre outros”. Pese embora as críticas a estas iniciativas, no mínimo, mostravam que havia ideias, o que difere da apatia do actual executivo, com a sua equipa que apenas tentou introduzir “tseke” e substituir o pão pela mandioca, o que dá uma sessão de falta de criatividade no pensamento. Sitoe, que também é docente de Ciência Política, diz que não se está a referir à construção ou asfaltagem de estradas, centros de saúde, escolas entre ouros, que são trabalhos rotineiros do estado, mas sim à capacidade de introduzir coisas novas. Sitoe diz que prefere dizer que o trabalho de Nyusi ainda não está a produzir resultados, ao invés de afirmar que o PR não tem marca própria. Porque, prossegue, ele experimentou ideias e projectos dos três primeiros presidentes da República. Falou das visitas às empresas públicas e ministérios, que se enquadram na ofensiva política e organizacional de Samora Machel. Sucede, porém, que as ofensivas de Nyusi não trouxeram resultados e, se houve, não foram revelados. Reconheceu que o PR é bom condutor destas ofensivas, mas o problema é que ficam se pelo caminho. De Chissano falou da frente diplomática, que foi o seu forte, o que ajudou o país a ter amigos e a sobreviver em tempos mais difíceis. Nyusi tentou esta via, mas não está a ter sucesso e lamentou a falta de pujança diplomática numa altura como esta, em que o país enfrenta uma crise de transparência, devido às dividas ocultas. “Se você é auto-suficiente, pode ser soberbo, mas se você não é auto-sufi- ciente e quer se tornar soberbo então isso revela imbecilidade”, disse. Sublinhou, de seguida, que Moçambique sempre foi uma economia de ajuda e não se passa desse tipo de economia para resiliência sem mais nem menos. De Guebuza apontou as presidências abertas, que eram guiadas por temas acimas referidos como “auto-estima”, “Cahora Bassa é nossa”, “jatropha”, entre outros. Nyusi faz as presidências abertas, mas estão desprovidas de conteúdo, diz Eduardo Sitoe, considerando que há muito trabalho intelectual que tem de ser feito, quer pelo Presidente quer pela sua equipa, no sentido de reverter esta situação. Saudou o facto de o PR ter conseguido assegurar que o país tivesse uma paz relativa, o que permitiu a retoma da produção nas machambas, regresso das crianças a escola e retoma da vida. Sentimo-nos órfãos Para a activista social Graça Samo, a recém-terminada quadra festiva pode ser vista como um retrato fiel dos resultados desta governação, que espelha o sofrimento do povo. Segundo Samo, quando há crise, dificilmente se vai dizer que as coisas estão boas, há muito desemprego, empresas a fecharem as portas, pouco investimento e isso tem repercussões muito fortes na qualidade dos serviços de saúde e na educação que acabam sendo precárias. “Esta situação contraria as promessas feitas durante a campanha eleitoral, visto que, durante aquele período, não falou de desafios mas foram promessas e o povo está espera”, precisou. Graça Samo, coordenadora do Secretariado Internacional da Marcha Mundial da Mulher, diz que nada mais resta se não dizer que o povo moçambicano se sente órfão e desamparado, porque enquanto vive debaixo de sofrimento o mesmo governo preocupa-se em prover luxo aos seus dirigentes. Diz Samo que ainda não há motivos para celebrar, porque, mesmo no capítulo da paz, ainda não há um acordo definitivo, porque o pais está em tréguas, cujos pressupostos são desconhecidos pelo povo.  Precisou que em 1992 foi assinado um acordo de paz que, depois foi parar na “caixa de lixo”, pelo que não há motivos para euforia, se não aguardar pelos resultados definitivos, que mesmo assim deixam os moçambicanos apreensivos porque desconhecem o teor das negociações. De acordo com a activista, são desconhecidos os prós e contras da descentralização, o qu

O “caso Valentina Guebuza” ainda não teve desfecho mas, os termos em que decorreu a investigação deixa muitas zonas de penumbra. Fala-se de várias diligências ignoradas e de procedimentos não seguidos. Diz-se, por exemplo, que o local dos factos não foi isolado e pessoas estranhas tiveram acesso antes da chegada da perícia policial; que as chaves da casa estiveram à guarda do advogado da família da vítima e não da polícia; que não foi feita a recolha de impressões digitais, exames de sangue, parafina, biologia forense, perícias ao local dos factos e que os relatórios dos laudos foram produzidos na base de presunções. No meio das investigações, o juiz de causa foi substituído e a decisão veio do Conselho Superior de Magistratura Judicial (CSMJ) onde Alexandre Chivale, advogado da família Guebuza, é membro. Ao SAVANA, Alexandre Chivale nega as acusações, e a defesa de Zófimo Muiuane não entrou em detalhes. Com o fim do julgamento, Zófi- mo Muiuane, acusado da autoria do assassinato a tiro da sua esposa, Valentina Guebuza, na noite de 14 de Dezembro de 2016, conhecerá a decisão do tribunal, ao nível da primeira instância, no próximo dia 23 de Janeiro, data marcada para a leitura da sentença. A investigação que durou cerca de um ano, juntou factos que desaguaram na acusação e pronúncia do réu. Contudo, ao que o SAVANA apurou, independentemente do veredicto da juíza de causa, a condução deste caso foi marcada por um conjunto de ví- cios que podem influenciar a decisão final. De entre várias alegadas falhas, criminalistas ouvidos pelo SAVANA indicam a prevalência de erros procedimentais, falhas de instrução, de condução, de metodologias de investigação criminal e da falta de exames fundamentais para a descoberta da verdade material. Contam as fontes que a busca da verdade material num crime desta magnitude [homicídio] não se resume a presunções ou pontos de vista resultantes de depoimentos de técnicos ou peritos de criminologia ou balística, mas sim, em exames periciais em laboratórios qualificados. Sublinham que, tendo em conta a sensibilidade dos direitos em causa, o direito penal não se compadece com presunções, deduções, analogias ou induções. Num crime de homicídio, um dos exames básicos que deve ser feito é o de Tanatologia forense, que consiste no estudo científico da morte. O exame investiga os mecanismos e aspectos forenses da morte, tais como mudanças corporais que acompanham o período após a morte. Este exame é possível depois da avaliação do local dos factos, das circunstâncias que rodearam a morte, informação clínica mais detalhada e acompanhada de resultados de exames complementares, para além de um estudo minucioso do cadáver. No entanto, consta que neste caso concreto, este requisito não foi cumCaso “Valentina Guebuza” Diligências que a investigação ignorou Por Raul Senda prido, tendo o relatório do laudo de peritos dos Serviços de Investigação Criminal (SERNIC) se baseado em presunções. Sublinham que não se explica que numa morte tão mediática, a polícia científica tenha descartado várias diligências quer na instrução preparató- ria quer na fase do contraditório. De acordo com estas fontes, exames de roupa tanto da vítima como do suspeito são fundamentais na busca de provas, facto que neste caso foi alegadamente ignorado. Outro exame que terá sido descartado, e que seria fundamental para determinar quem disparou a arma é o de parafina. “Cientificamente, só o exame de parafina é que determina quem disparou a arma. O resto é opinião de pessoas, e no direito penal não servem opiniões, mas factos comprovados”, disse um criminalista. Na investigação criminal a recolha de impressões digitais é meio de prova técnica essencial para a determinação das circunstâncias exactas em que tiver ocorrido um crime. Porém, consta também que a perícia policial não terá recolhido impressões digitais da vítima, do suspeito, no local dos factos, no gatilho da arma, no invólucro, no projéctil e nas almofadas que alojaram o invólucro. De acordo com os especialistas ouvidos peloSAVANA, o local do crime é um dos pontos mais importantes para a realização de diligências. Nessa linha, para garantir maior fiabilidade no esclarecimento dos factos, o local do crime deve ser isolado e preservado. Fora de peritos de investigação criminal, não se pode permitir que pessoas estranhas acedam ao local sob o risco de viciação de vestígios e até de destruição de provas. Chaves da casa No entanto, contrariando as exigências da criminalística, o local onde ocorreu o baleamento não foi isolado, os peritos do SERNIC não tiveram acesso imediato, sofreu modificações e alterações do estado inicial e as chaves da casa ficaram à guarda do advogado da família da vítima. A polícia científica só teve acesso ao local do crime depois de 24 horas e os peritos da balística forense deslocaram-se ao local duas semanas depois dos acontecimentos. “No julgamento, José Dorito Guardejá, técnico da criminalística, disse que a primeira inspecção foi feita à vítima no Instituto do Coração, pelo que, não houve preocupação imediata em, pelo menos, garantir o isolamento, preservação e protecção do local dos factos ”, concluiu a fonte. De meios forenses, SAVANA soube que na perícia criminal há outros elementos essenciais para a busca de provas. Trata-se de exames de biologia forense, a que se recorre em casos de homicídio onde uma equipe especializada de peritos faz a colecta de vestígios que podem ser fundamentais para se chegar à conclusão sobre as circunstâncias de um crime e, até mesmo, apontar o principal suspeito. São vestígios como roupas, sangue, fios de cabelos, pelos entre outros. Porém, este exame também foi ignorado. “Como é que na falta daqueles exames fundamentais para o esclarecimento do caso, a investigação chegou à conclusão de que o autor dos disparos foi fulano ou beltrano?”, questionou um especialista. Neste caso concreto, avança a fonte, a consequência directa da rejeição de vários exames durante a averiguação do crime foram as contradições dos peritos durante as audiências do julgamento. No julgamento do caso, a maioria dos peritos da balística disseram à juíza que os tiros foram à curta distância. Porém, os laudos dos relatórios de perícia, que também constam do processo, indicam que os tiros foram disparados a longa distância. Um dos criminalistas disse ao SAVANA que soube que durante a instrução preparatória, bem como contraditória, uma das partes pediu a inclusão de peritos independentes para a verificação da informação obtida localmente ou a realização de exames ignorados, mas que os requerimentos foram também indeferidos. “O que temiam os investigadores do caso para não aceitar a presença de peritos independentes ou a realização de exames de parafina, biologia forense, ADN e de impressões digitais? Porque é que não se permitiu acesso imediato ao local dos factos?”, questionou o especialista. Para este criminalista, muitas diligências requeridas por uma das partes durante a instrução contraditória não foram realizadas, porque se achou que se tinha encontrado o responsável do infortúnio, o que em direito penal é completamente errado. Penumbras em torno do processo A névoa que paira em torno do caso não se limita apenas à não realização de exames laboratoriais fundamentais para o esclarecimento de crime, mas a outros acontecimentos que podem ser alvo de questionamento. No início do processo, o caso estava a cargo do Juíz Salomão Paulo Manhiça. Foi este magistrado que acompanhou grande parte das diligências, incluindo a reconstituição dos factos no local do crime. Contudo, na fase final, o magistrado foi transferido para Segunda Secção Cível do Tribunal Judicial da Província de Maputo, tendo o processo passado para a direcção da juíza Flávia Mondlane. A transferência foi decidida pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ), do qual Alexandre Chivale, um dos advogados da acusação, é membro. Outro facto que não mereceu uma análise profunda foi a afirmação da Ajudante de Campo (ADC), segundo a qual, horas antes do infortúnio, ela terá recebido ordens da vítima para que ficasse atenta a qualquer movimento dentro do quarto do casal. Os depoimentos da ADC, foram repetidas por Mussumbuluko Guebuza que referiu, também em sede do Tribunal que, a finada advertiu-o para estar atento a qualquer situação que poderia acontecer por aqueles dias. Estes depoimentos levam algumas correntes a presumir que a vítima já sabia que algo de anormal podia acontecer. Também estranha-se o facto do Tribunal ter ignorado a falta da verdade do lado de Mussumbuluko quando este, afirmou que a vítima não tinha habilidades para o uso da arma de fogo enquanto esta passou pela carreira do tiro. Consta igualmente que no dia em que os peritos da polícia científica tiveram acesso à residência do casal foram recebidos por dois jovens. Foram estes que abriram as portas para a polícia. Porém, até hoje ninguém conhece a identidade destes. Para além disso, terá sido o assistente da família da vítima, Alexandre Chivale, quem entregou ao SERNIC os equipamentos e bens recolhidos na casa do casal, dois dias depois da ocorrência. Até hoje, não é do domínio público e nem consta no processo o relató- rio produzido pelos peritos que se deslocaram à casa pouco depois da ocorrência dos factos. Os nomes dos quatro peritos também não são conhecidos. No dia 04 de Janeiro de 2017, José Matsinhe e Mauro Chaguala, agentes do SERNIC, assinaram um auto de exame directo ao local dos factos, contudo o documento não indica o dia em que foi feita a referida inspecção, para além de que os outros agentes que faziam parte da equipa, nomeadamente José Miguel, José Guardajé e Moniz Macuiane não assinaram o referido documento. Os peritos do SERNIC não tiveram acesso ao coldre da pistola usada nos disparos, e o mesmo nunca foi localizado. 

E m contacto com o SAVANA, o advogado do réu, Amadeu Uqueio, recusou-se a tecer quaisquer comentá- rios directamente ligados ao processo de julgamento. Contudo, lamentou o facto da juíza ter recusado receber as alegações finais da defesa por escrito, afirmando que na sua óptica, teria sido uma oportunidade para a juíza analisar detalhadamente as referidas falhas da investigação. “Provou-se em tribunal que a investigação teve muitas lacunas que mereciam algum esclarecimento”, disse. Alexandre Chivale considerou que todas estas alegadas falhas de investigação são “falsas e infundadas”. Chivale nega que em algum momento tenha ficado com a chave da residência do casal, sublinhando que na altura dos factos encontrava-se fora do centro da cidade de Maputo. Também desmente que tenha feito a entrega do material recolhido no local do baleamento à polícia. “As chaves da residência da vítima sempre estiveram ao cuidado da família. Sempre que a polícia quisesse fazer trabalho no imóvel, a família da vítima abria as portas e, no fim, fechava. Isto não passa de manobras dilatórias”, disse. Para o causídico, as acusações visam sufragar a tese de que o local do crime foi contaminado com o objectivo de eliminar provas. Para Chivale, as acusações equivalem a uma situação em que uma das partes procura discutir o jogo (de futebol) depois dos 90 minutos. “Isso não cola”, acrescentou. Referiu que o facto de ser membro do CSMJ não teve nenhuma influência na troca do juiz do caso. “O CSMJ é um colégio que tem seus órgãos. Eu sou apenas um membro, não sou o CSMJ, não tenho nenhum poder decisório e nem de influenciar. Dizer que forcei a mudança do juiz não faz nenhum sentido. Ademais, o juiz Salomão Manhiça é que proferiu o despacho de pronúncia, a juíza Flávia apenas conduziu o julgamento”, frisou, para depois acrescentar que ao processo interessa a matéria do direito e dos factos. “isso é que é bom para o direito”, rematou Chivale.
TEMA DA SEMANA Savana 12-01-2018 5 6 Savana 12-01-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE A Escola Comunitária Luís CabralECLC informa aos alunos, pais, encarregados de educação e ao público em geral, que ainda tem vagas para matricular novos ingressos da 6ª, 7ª, 8ª, 9ª, 10ª, 11ª e 12ª classe por 500,00 meticais. Podendo obter mais informações na secretaria daquela escola sita na sede do bairro Luís Cabral, entrada a partir da Junta ou Maquinague ou pelos telefones: 847700298 ou 826864465 ou ainda 871232355. Matrículas para 2018 O Indicador do Clima Económico (ICE) em Moçambique melhorou ligeiramente em Novembro do ano passado, atingindo 9,6%, refere o último Indicadores de Confiança e de Clima Económico do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), divulgado esta semana. De acordo com o INE, a melhoria do ICE em Novembro ainda está aquém do máximo que este parâmetro já atingiu no país nos últimos anos, quando alcançou 103,8% em Fevereiro de 2015. A conjuntura favorável registada em Novembro de 2017 foi influenciada, principalmente, pelas perspectivas de subida de emprego e da procura para os próximos meses, continuando assim com sinais de recuperação da conjuntura económica. “Sectorialmente, contribuíram para consolidação do ICE, à melhoria da confiança em todas as actividades alvos do inquérito com excepção dos ramos empresariais do comércio e de transportes incluído a armazenagem [que diminuiu pelo quarto mês consecutivo] que registaram ligeiras quedas no mesmo período em análise”, referiu. Em Novembro, o indicador da perspectiva da procura continuou o comportamento favorável das previsões da procura pelo terceiro mês consecutivo, tendo o seu saldo se situado acima do observado nos últimos dezoito meses da sua série cronológica. A perspectiva favorável da procura no mês em análise resultou da subida das previsões da procura nos sectores de produção industrial, construção e de outros serviços não financeiros que, juntos, suplantaram os restantes sectores que registaram um sentido descendente da sua perspectiva de procura no mesmo mês em aná- lise. O indicador da perspectiva de emprego continuou em incremento no mês de Novembro, atingindo 98,2%, consolidando assim as previsões favoráveis de emprego pelo quarto mês consecutivo, tendo o respectivo saldo se situado acima da média da respectiva série temporal. Essa consolidação de aumento do emprego futuro deveu-se a uma apreciação positiva do indicador em todos os sectores excepto o sector de transportes e armazenagem que registou uma substancial queda no mês em análise. Em Novembro, o indicador de confiança do sector de alojamento, restauração e similares registou uma recuperação ligeira pelo segundo mês, tendo o respectivo saldo atingido o nível mais alto desde o mês de Novembro de 2015. “A recuperação da confiança no sector resultou da avaliação muito positiva do volume de negócios e da procura corrente no mês de referência, o que permitiu suplantar a avaliação desfavorável da perspectiva da procura”, diz o INE. A situação anterior terá sido justificada pelos contributos positivos de aumento de preços futuros e do ligeiro incremento da perspectiva da capacidade hoteleira. Indicador do Clima Económico melhora em Novembro E liseu Machava, antigo secretário-geral da Frelimo, afastado no XI Congresso do partido em Outubro de 2017, acaba de ser nomeado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, novo embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Moçambique junto de Cuba. Machava, que já ocupou o cargo de governador da nortenha província de Cabo Delgado, substitui Miguel Mkaima, que esteve em Cuba deste Junho de 2012, após seis anos em Portugal. Mkaima foi exonerado de Cuba em Outubro do ano passado. Machava despachado para Cuba SOCIEDADE Savana 12-01-2018 7 PUBLICIDADE Savana 12-01-2018 9 PUBLICIDADE COMUNICADO PROMOVENDO A INCLUSÃO FINANCEIRA E A VALORIZAÇÃO DO METICAL Com vista a garantir o cumprimento do preconizado no nº. 2 do artigo 56 da Lei nº 1/92, de 3 de Janeiro – Lei Orgânica do Banco de Moçambique, o Conselho de Administração, no uso das competências que lhe são conferidas pelo artigo 46 da referida Lei, deliberou fixar os dias 24, 25 e 26 de Janeiro de 2018, para a realização do 42º Conselho Consultivo do Banco de Moçambique (CCBM), na Cidade da Lichinga, Província de Niassa. O Conselho Consultivo é um órgão alargado de consulta do Conselho de Administração, que reúne ordinariamente uma vez por ano e extraordinariamente sempre que convocado pelo Governador do Banco, competindo-lhe: a) Apreciar questões de interesse relevante para as actividades do Banco e para a economia nacional; b) Apreciar questões sobre a organização e funcionamento do Banco; c) Apreciar assuntos que lhe forem expressamente cometidos pelo Conselho de Administração; e d) Fazer balanço de actividades e programar acções futuras. Assim, os primeiros dois dias, 24 e 25 de Janeiro de 2018, estão reservados para apresentação e análise de temas de carácter interno e o terceiro dia, 26 de Janeiro de 2018, será aberto ao público, com apresentação e debate do seguinte tema: “Comércio fronteiriço e seu impacto na economia local”. Dada a importância e natureza do tema e por forma a permitir a participação pública na referida sessão, informa-se aos interessados e ao público em geral o seguinte: a) Estão abertas inscrições para participação no evento; b) Os interessados poderão efectuar as suas inscrições, no período de 11 de Janeiro 2018 a 18 de Janeiro de 2018, no seguinte endereço electrónico: ccbm2018@bancomoc.mz c) Por razões organizativas, serão aceites apenas as primeiras 30 (trinta) inscrições; d) Todas as despesas referentes à participação no evento estarão por conta de cada participante. Maputo, 11 de Janeiro de 2018 CONSELHO LICHINGA, JANEIRO 2018 CONSULTIVO 10 Savana 12-01-2018 PUBLICIDADE SOCIEDADE A República Popular da Ucrânia abriu, recentemente, em Maputo, a sua primeira representação diplomática, em Moçambique, desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, em 1960 e formalizadas, em 1993. Convidado a explicar as razões que ditaram esta decisão, 24 anos depois, o Cônsul Honorário da Ucrânia, Abílio Soeiro, afirmou que a mesma surge como resultado da “diversificação das relações diplomáticas” daquele país do leste europeu, depois de, nos primeiros anos, ter privilegiado os seus parceiros regionais, com destaque para os países da Europa e do grupo G20. Em entrevista ao nosso jornal, Soeiro destaca que as relações diplomáticas entre os dois países “sempre foram muito cordiais” e que, no ano de pico (2014), o volume comercial total de bens e serviços fixou-se nos USD 34,6 milhões (USD 20,5 milhões em exportações ucranianas e USD 14,1 milhões moçambicanas), mas sublinha ainda existir um enorme potencial por explorar, nas áreas do turismo, educação, recursos minerais e na cooperação técnico-militar. O autor do livro “Obrigado Madiba” garante que tudo fará para defender os interesses mútuos dos dois países, procurando e fomentando as diversas oportunidades que possam beneficiá-los. Acompanhe, de seguida, os excertos editados desta conversa. O governo ucraniano abriu, recentemente, o seu Consulado Honorário na cidade de Maputo, a primeira representação diplomática, em Moçambique, desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, na década de 1960. Que significado tem este facto? Ucrânia, não sendo, na altura, um país independente, reconheceu a independência de Moçambique ainda em 1975, na sua qualidade de membro-fundador da Organização das Nações Unidas (ONU). Por sua vez, Moçambique foi um dos primeiros países de África a reconhecer a independência da Ucrânia, em Março de 1992. Os dois países passaram por períodos complicados da sua própria história, amadureceram e, neste momento, procuram a diversificação das relações bilaterais, pretendendo, entre outras coisas, marcar a sua presença nos mercados promissores. As relações bilaterais entre os dois países foram oficializadas, em 1993, entretanto, só este ano é que a Ucrânia decidiu abrir uma representação diplomática, em Moçambique. Que razões ditaram este facto? “Existem margens enormes de crescimento no comércio bilateral” Cônsul Honorário da Ucrânia em Moçambique ao SAVANA A diplomacia é uma espécie de dança, onde sempre é necessária a presença de um parceiro. Como tal, temos de entender que, quer Moçambique, quer Ucrânia, durante alguns anos, privilegiaram os seus parceiros regionais. Para Ucrânia, estes parceiros eram os países da Europa e do grupo G20. Neste momento, a Ucrânia está a diversificar a sua presença diplomática, quer ao nível global, quer no continente africano. Em 2016, obtivemos o estatuto oficial de Estado Observador na União Africana e possuímos 11 embaixadas, no continente africano, assim como estamos a desenvolver a nossa rede de Consulados honorá- rios. Um factor importante da cooperação entre Ucrânia e África é o comércio exterior. Em 2015, o volume comercial entre Ucrânia e países africanos ascendeu aos 4,4 bilhões de dólares, das quais as exportações de bens ucranianos totalizaram 3,8 biliões de dólares. Neste momento, a Ucrânia também participa activamente nas operações de paz da ONU, em cinco países africanos, nomeadamente, Libéria, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Sudão e Sudão do Sul. Naturalmente, esperamos aumentar e reforçar a nossa presença, em Moçambique, nos diversos níveis de cooperação bilateral, principalmente, no campo económico. Que avaliação faz a este período de cooperação (24 anos) entre os dois países? As relações diplomáticas entre os nossos países sempre foram muito cordiais. No entanto, a cooperação bilateral possui um enorme potencial, em vários domínios, desde turismo aos recursos minerais, passando pela educação ou produção industrial. O que, por sua vez, poderá trazer benefícios mútuos às nossas economias nacionais. Por exemplo, num dos melhores anos, em termos do comércio bilateral, em 2014, o comércio total de bens e serviços entre Ucrânia e Moçambique ascendeu aos 34,6 milhões de dólares. Olhando para as potencialidades de Moçambique e da Ucrânia que, neste momento, praticamente voltou aos níveis de crescimento económico da pré-guerra de 2014, podemos chegar à conclusão de que existem as margens enormes de crescimento, principalmente, no domínio do comércio bilateral. Cooperação militar Mas, qual é o nível de investimento ucraniano, em Moçambique e que produtos dominam nas trocas comerciais entre os dois países? De acordo com os dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, em 2014, no “pico” das relações comerciais bilaterais, o volume comercial total de bens e serviços entre Ucrânia e Moçambique perfez 34,6 milhões de dólares: as exportações ucranianas ascenderam aos 20,5 milhões de dólares e exportações moçambicanas foram de 14,1 milhões de dólares. Em 2015, o volume baixou aos 30,7 milhões de dólares e em 11 meses de 2016 totalizou 12,1 milhões de dólares: as exportações ucranianas a Moçambique foram de 2,6 milhões de dólares e as exportações moçambicanas à Ucrânia de 9,5 milhões de dólares. No que toca à nomenclatura dos produtos concretos, o Consulado, de momento, não possui estes dados de uma forma estruturada. Durante o período colonial, Moçambique e Ucrânia cooperaram na área militar, assim como na formação do capital humano. Neste momento, quais as áreas de cooperação entre os dois países? As áreas de cooperação devem ser e, naturalmente, serão definidas, quer pelos governos dos dois países, quer pelo seu tecido empresarial. Moçambique é um país em rápido crescimento e com diversos programas de modernização da sua economia em curso, como tal, podemos prever as possibilidades de cooperação bilateral nas áreas de educação, infra-estruturas, transporte, recursos minerais, defesa, bens manufacturados e serviços. Hoje já existe essa cooperação, mas de uma forma bastante tímida, algo que se espera que possa mudar nos próximos tempos. Na década 1960, a Ucrânia alocou diversas bolsas de estudos para os jovens moçambicanos. Neste momento, será que ainda existe esse programa? Ultimamente, a Ucrânia está engajada na alocação de bolsas de estudo aos estudantes estrangeiros. Ao atribuir essas bolsas é dada a preferência às áreas de educação pedagógica, arte, ciências humanas e sociopolíticas, jornalismo e informação, etc. Anualmente, cerca de mil bolsas são concedidas aos estudantes estrangeiros, suportadas pelo Orçamento do Estado da Ucrânia. Os estudantes estrangeiros podem escolher entre cerca dos 200 estabelecimentos de ensino superior da Ucrânia, que possuem uma licença correspondente em todas as especialidades, excepto as médicas. Neste momento, o programa de bolsas está focado nos “ucranianos estrangeiros”, ou seja, nos cidadãos de um país estrangeiro, mas de origem ucraniana, que pretendem estudar na Ucrânia. Actualmente, estudam pelo menos dois estudantes moçambicanos, na Ucrânia, o que é bastante pouco para o nível das capacidades educativas ucranianas. Esperamos que, futuramente, Moçambique possa beneficiar de um programa Por Abílio Maolela “A cooperação bilateral possui um enorme potencial, em vários domínios”, Abílio Soeiro A té que ponto a abertura desta missão diplomática, no país, e a sua nomeação para este cargo poderá dinamizar as relações entre Moçambique e a Ucrânia? O papel do Consulado é de facilitação, principalmente, aos empresários e governantes dos dois países, que pretendem levar avante os diversos programas bilaterais de cooperação em diversas áreas do interesse mútuo. Ucrânia está interessada em intensificar o diálogo político e diplomático, a busca de novos parceiros económicos e mercados para os produtos ucranianos. Moçambique é um dos parceiros tradicionais da Ucrânia no campo da cooperação técnico-militar. Como tal, qualquer dinamização futura dependerá das vontades e das capacidades bilaterais de estabelecer essas relações, certamente, mutuamente proveitosas. Tendo em conta que os dois países atravessaram momentos conturbados em termos políticos, assim como económicos, quais seriam as áreas prioritárias de cooperação? Moçambique é uma economia em rápido crescimento e com boas perspectivas para o seu desenvolvimento económico a médio prazo. Actualmente, o país aposta em diversos programas de modernização da sua economia. Como tal, podemos prever as possibilidades de cooperação bilateral nas áreas de educação, infra-estruturas, transporte, recursos minerais, defesa, bens manufacturados e serviços. Ucrânia possui o saber-fazer e também mantém e desenvolve a sua produção industrial que possa satisfazer a demanda diversificada da economia moçambicana: alimentos, meios de transporte, equipamentos da defesa ou sistemas de prospecção geológica. próprio, pensado nas necessidades dos seus estudantes. Os moldes concretos terão de ser acordados entre os organismos competentes dos dois estados e naturalmente dependerão do nível de cooperação bilateral entre os nossos países. Foi nomeado Cônsul Honorário da Ucrânia, no país. Como se sente por esta distinção e, na sua óptica, que razões ditaram a sua escolha? Sinto-me muito honrado e feliz com a escolha e confiança depositados em mim pelo governo ucraniano, através do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros. Como Cônsul, irei defender os interesses dos cidadãos ucranianos, em Moçambique, dando-lhes todo o apoio que possam precisar. Mas, também defenderei os interesses mútuos dos dois países, procurando e fomentando as diversas oportunidades que possam beneficiar quer Moçambique, quer Ucrânia. As principais razões que ditaram essa escolha foram múltiplas, desde o meu perfil como cidadão e empresário, passando pela minha disponibilidade e vontade de abraçar os novos desafios. Certamente para essa decisão também contribuiu a minha relação próxima e de amizade com a comunidade ucraniana residente em Moçambique. Não muito numerosa, formada por cerca de 150 adultos e possivelmente até 350 crianças, com um espírito próprio e ao mesmo tempo, absolutamente enquadrada na sociedade moçambicana. “Moçambique é um dos parceiros tradicionais da Ucrânia” Savana 12-01-2018 11 PUBLICIDADE COMUNICADO ALERTA SOBRE OS RISCOS DECORRENTES DE TRANSACÇÕES RELACIONADAS COM BITCOIN PROMOVENDO A INCLUSÃO FINANCEIRA E A VALORIZAÇÃO DO METICAL O BM no exercício das suas funções de supervisor do sistema financeiro, atribuídas pela Lei nº 1/92, de 3 de Janeiro, vem a público informar o seguinte: 1. Está a circular em território nacional uma moeda virtual descentralizada e convertível designada BITCOIN; 2. O BITCOIN está a tornar-se cada vez mais popular pela facilidade que esta possui de permitir a transacção de somas avultadas em dinheiro, para a aquisição de bens e serviços, transferência de fundos, realização de investimentos ou pagamentos; 3. Embora, por um lado haja benefícios, por outro há grandes riscos que devem ser acautelados, pois dada a sua natureza, esta moeda pode estar ligada a acções criminosas como o branqueamento de capitais, financiamento ao terrorismo, tráfico de drogas, entre outras; 4. É importante clarificar a diferença entre o BITCOIN e o dinheiro electrónico (e-money). O dinheiro electrónico é geralmente aceite como meio de pagamento por outras pessoas que não sejam o emissor, e é convertido por dinheiro quando solicitado. A emissão de moeda electrónica está prevista na legislação de vários países, incluindo Moçambique, como uma actividade autorizada às Instituições Financeiras; 5. Assim, o Banco de Moçambique vem esclarecer que: O Banco de Moçambique afirma o seu compromisso em apoiar as inovações financeiras, inclusive as baseadas em novas tecnologias que tornem o sistema financeiro mais seguro e eficiente. Maputo, 08 de Janeiro de 2018 a) Não regula, não fiscaliza, nem supervisiona, quaisquer actividades e transacções efectuadas através de BITCOINS; e b) Não se responsabiliza por quaisquer efeitos resultantes de transacções relacionadas com BITCOIN, pois esta moeda: i. Não têm enquadramento legal e não é emitida pela autoridade monetária nacional, o Banco de Moçambique; ii. As empresas que negoceiam o BITCOIN não são reguladas, autorizadas ou supervisionadas pelo Banco de Moçambique; iii. Não oferece segurança, estando vulnerável a fraudes e a outro tipo de crimes perpetrados com recurso a meios informáticos; iv. É altamente volátil, ou seja, o seu preço varia com muita frequência; v. Permite a realização de transacções em anonimato, favorecendo actividades criminosas. 12 Savana 12-01-2018 Savana 12-01-2018 17 NO CENTRO DO FURACÃO É inédito. Em Angola não há memória de um Chefe de Estado responder às perguntas de jornalistas de forma directa, sem pré-condições. Foram cerca de cem jornalistas angolanos e estrangeiros que tomaram parte da primeira entrevista colectiva, que assinalou os 100 dias de João Lourenço ( JLo) na presidência do país. Durante a entrevista desta segunda-feira, que durou cerca de uma hora, o Presidente garantiu rever os contratos de grandes dimensões assinados pelo antigo Executivo e desvantajosos para o Estado, como o porto de águas profundas do Dande. Na entrevista, João Lourenço negou qualquer crispação com o Presidente José Eduardo dos Santos (Zedú), que é o líder do partido (MPLA), considerou uma ofensa a forma como as autoridades portuguesas se recusam a remeter o caso Manuel Vicente (antigo vice-presidente) às autoridades angolanas. João Lourenço revelou também que está em curso uma auditoria às contas do Fundo Soberano e afirma que, numa altura em que o actual preço do petróleo está acima dos 65 dólares, valor estabelecido no Orçamento Geral do Estado, que é de 50 dólares o barril, o diferencial vai servir para financiar aqueles projectos não contemplados no OGE deste ano. Nas linhas abaixo, acompanhe a entrevista que é considerada pela generalidade da crítica como histórica. Se houve uma palavra que muito foi usada durante os 100 dias de governação foi “exoneração”, que ocorreu em várias instituições estratégicas do país. Apesar de denúncias de alegada má utilização de verbas, não mexeu no Fundo Soberano. Por que não mexeu, senhor Presidente? Vai mexer? E que dinheiro encontrou nos cofres do Estado? A exoneração é um acto normal de governação. É evidente que houve muitas exonerações, mas houve tantas quantas eram necessárias. Em relação ao Fundo Soberano [Era gerido por José Filomeno dos Santos, filho do antigo chefe do Estado, que, no entanto, foi exonerado por João Lourenço nesta quarta-feira], não diria que vou exonerar, mas pode vir a acontecer. Gostaria de informar que foi contratada uma empresa idónea para realizar um diagnóstico às contas do Fundo Soberano. Na sequência do trabalho dessa empresa, o Ministério das Finanças apresentou uma proposta de medidas a tomar e de passarmos a ter um controlo mais efectivo dos dinheiros postos à disposição do Fundo Soberano. Estamos a analisar as medidas propostas e é muito provável que nos próximos dias elas venham a ser implementadas. Nesses primeiros 100 dias de goverPresidente angolano falou com os jornalistas numa entrevista inédita JLo espera que Zedú cumpra promessa de sair em 2018* nação, de forma geral, na sociedade angolana perpassa a ideia da existência de um mal estar entre o actual Presidente e o ex-Presidente da República. Existe ou não crispação entre o Presidente João Lourenço e o Presidente José Eduardo dos Santos? Talvez estejamos a olhar com olhos diferentes. Não sinto esta crispação nas nossas relações. As nossas relações são, sobretudo, de trabalho. Relações entre o presidente de um partido e o seu vice-presidente e relações entre o presidente do partido que me apresentou como candidato e hoje Presidente da República. Nas minhas funções de Presidente da República, baseio-me, sobretudo, na Constituição e na Lei. Em princípio, nada está acima da Constituição. O presidente do partido, enquanto presidente do partido, fundamenta a sua acção em algo que se chama Estatutos do partido. Estamos em campos distintos e acredito que se cada um de nós cumprir bem com o seu papel não haverá crispações. Tudo farei, enquanto Presidente da República, para não prescindir de nenhum dos direitos que a Constituição da República me confere para que possa cumprir o mandato que o povo me conferiu nas eleições de 2017. Nos últimos anos, o país investiu muito em zonas económicas especiais e em pólos de desenvolvimento, mas os resultados práticos não são ainda visíveis. Como pensa relançar estes passos e que incentivos conta oferecer? Vamos apostar bastante no empresariado privado, nacionais e estrangeiros. A actividade privada deve ser a principal responsável para a criação de bens e serviços. A Zona Econó- mica foi concebida num modelo em que a gestão ficava a cargo do Estado. Consideramos que este modelo, conforme disse, e confirmo, não deu os resultados que seriam de esperar. Por esta razão, vamos melhorar aquilo que está mal. De que forma? Privatizando todas as unidades estatais que não sejam lucrativas a favor do sector privado. Dois centros do poder A questão da bicefalia continua na ordem do dia a todos os níveis da sociedade. Tem necessidade de ser presidente do MPLA para materializar o seu programa de governação? Não há nada que me obrigue a ser presidente do meu partido para poder ser Presidente da República. Aliás, de alguma forma, esta questão já foi levantada. Sinto-me bem na situação em que me encontro. O Presidente José Eduardo dos Santos comprometeu-se a abandonar a vida política activa este ano, 2018. Só a ele compete dizer se o fará, se vai cumprir com este compromisso, quando é que isso poderá acontecer. Só a ele compete dizer, não me compete a mim. Quanto a isso, não tenho razões de estarem impacientes, porquanto do ano 2018 decorreram apenas oito dias. Oito dias não são nada. Vamos aguardar os próximos dias. O preço do petróleo, enquanto principal matéria-prima e produto de exportação do país, tem estado acima dos 60 dólares. Especialistas estimam que até ao final do ano o preço se vai manter. O que pensa fazer com este diferencial? Vai manter a estratégia do Governo anterior de canalizar para o Fundo Soberano? O excedente vai reforçar o Orçamento Geral do Estado. Há programas e projectos que não foram contemplados por escassez de recursos. Se vierem estes recursos a mais, com certeza que vamos introduzir nos programas e projectos a serem executados. Como reage quando lê sobre alegada perseguição aos filhos do anterior Presidente da República? Alegada perseguição? Foi isso que disse? Porquê? Apresente factos. Penso que esta é uma forma incorrecta de se analisar o problema. Na verdade, não sou director da TPA. Quem rescindiu o contrato com a empresa [Nota do SAVANA: Semba Comunicação tem como sócios os irmãos Welwitshea ‘Tchizé’ e José Paulino dos Santos ‘Coreon Du’, filhos do ex-chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos] que geria o Canal 2 e a TPA Internacional foi a TPA. Nós não perseguimos pessoas. Tanto quanto sabemos, a razão da rescisão desse contrato é que era bastante desfavorável. Foi assinado numa determinada conjuntura e hoje é diferente. Constatou-se que os contratos são bastante lesivos aos interesses do Estado. E se não for o Estado a defender os seus interesses, quem o fará? Tem de ser o Estado, nesse caso a TPA, que nesse domínio representa o Estado, e a TPA não fez outra coisa senão defender os seus interesses, os interesses do Estado. O que foi orientado fazer é corrigir o que está mal. Vamos continuar nessa senda de continuar a corrigir o que está mal. Este Executivo está empenhado em procurar fazer esta correcção sem olhar às pessoas que estão à frente deste ou daquele projecto. Os contratos são prejudiciais ao Estado. Dei, há bocado, o exemplo do porto de águas profundas da Barra do Dande. Mas, se o contrato é lesivo aos interesses do Estado, com certeza temos de defender e fazer algo para que tenhamos moral de exigir boas práticas aos cidadãos ou aos privados. Só o pode fazer, se for o primeiro a dar o exemplo. Não foram pessoas que foram perseguidas, mas situações que comprovadamente são lesivas ao interesse público, do Estado. Acreditamos que a grande maioria dos cidadãos apoiou a medida. Caso Manuel Vicente O Governo entende que o caso Manuel Vicente seja transferido para Angola, à luz dos acordos da CPLP, mas as autoridades portuguesas defendem o contrário. Vai manter essa posição? A que preço? A responsabilidade está do lado de Portugal. Como se costuma dizer, a bola está do lado de Portugal. O processo está a decorrer em Portugal. Dizia e bem que existe um acordo judiciário no quadro da CPLP que permite que este e outros processos a decorrer em Portugal possam ser transferidos para a jurisdição de Angola. Esse procedimento foi feito por Angola, mas Portugal, lamentavelmente, não satisfez o nosso pedido, alegando que não confia na justiça angolana. Consideramos isso uma ofensa, não aceitamos esse tipo de tratamento e, por esta razão, essa é a nossa posição. Vamos aguardar pacientemente o desfecho desse caso em Portugal. Não temos pressa. Sabemos que os processos na justiça levam algum tempo. Temos paciência suficiente para aguardar esse mesmo desfecho. Qualquer posição nova de Angola vai depender muito do desfecho desse caso. Por isso, não interessa adiantarmos absolutamente mais nada sobre o caso Manuel Vicente versus relações Angola-Portugal, enquanto não houver o desfecho que a Justiça Portuguesa der ao caso.  Não queremos e nem estamos a pedir que ele seja absolvido. Não estamos a pedir que o processo seja arquivado. Não somos juízes. Não temos competência para dizer se o engenheiro Manuel Vicente cometeu ou não cometeu o crime de que é acusado. Mas que isso fique bem claro! A intenção não é livrar o engenheiro Manuel Vicente, a intenção é que o processo siga os seus trâmites, que pode chegar até à fase de julgamento,  mas que isso seja feito aqui pela justiça angolana e aqui em Angola. O senhor Presidente da República defende o aumento das exportações e isso implica uma maior capacidade de quadros. Como está a execução da construção do Porto do Dande e se o contrato de exploração se vai replicar para todo o país? O porto de águas profundas do Dande não iniciou ainda as suas obras. A pergunta não foi muito clara, mas se bem entendo, quer saber se o modelo de adjudicação praticado para o Porto da Barra do Dande vai servir para outros tipos de obras públicas. É evidente que não. Não só para outras obras públicas, mas mesmo para o caso concreto deste projecto do Porto da Barra do Dande, vamos procurar rever todo o processo, no sentido de, enquanto é tempo, e porque o projecto não começou ainda a ser executado, corrigirmos aquilo que nos parece ferir a transparência, na medida em que um projecto desta dimensão, que envolve biliões, com a garantia soberana do Estado, não pode ser entregue de bandeja, como se diz, a um empresário, sem submissão de concurso público. Quer este projecto em concreto, quer as obras públicas da dimensão deste terão um modelo de adjudicação bem diferente, aberto, que vai permitir que quem estiver em condições, desde que concorra e vença, obviamente, poder executar a obra.  Ao longo da campanha eleitoral falou muito da despartidarização das instituições públicas. A esta altura, alguns sectores da sociedade dizem não ver sinais disso, até porque tem estado a resistir a nomeações de governadores e secretários do MPLA. Quando é que vamos começar a assistir a isso? Primeiro gostaria que me dissesse qual é o seu entendimento de despartidarização da sociedade. Quer dizer que a totalidade dos funcionários públicos em Angola é militante do MPLA? Acho que não. Isto é um falso problema. É evidente que não tendo havido nenhuma coligação, não havia razões para tal, pois o partido vencedor venceu de forma tão convincente que não dava para nenhuma coligação. Constituiu Governo com os cidadãos angolanos que entendeu. Não tendo feito esta coligação, o Executivo é constituído pelos cidadãos que entendemos terem competência para desempenharem os cargos que desempenham, independentemente da sua filiação partidária. É evidente que não podíamos indicar como Vice-Presidente da República o presidente da UNITA, da CASA-CE  ou FNLA ou alguém da oposição. Não podia ser o meu Vice-Presidente. Os partidos concorrem e durante a campanha eleitoral lutam para vencer as eleições e para constituir Governo. Não fizemos coisa diferente do que fazem os outros países. Não vou citar exemplos concretos, mas em princípio quem vence eleições, constitui Governo. Chamamos o Fernando Heitor para um banco e poderíamos não ter feito. Não éramos obrigados a fazê-lo. Fizemo-lo, mas nada nos obrigava a pôr o Fernando Heitor na posição em que se encontra hoje. Agora não se pode dizer que quem é da oposição não tem direito a emprego. Pode chegar a um certo ní- vel e pode ser director, mas é evidente que não será ministro, vice-presidente e muito menos Presidente. As relações entre Portugal e Angola têm sido significativamente afectadas pelo caso que corre em Portugal a respeito do caso Manuel Vicente. Que passos pensa dar, no caso do julgamento começar como está previsto agora em Janeiro? Que consequências imediatas é que podem daí decorrer para as relações já de si muito tensas entre Lisboa e Luanda? Dizia, há bocado, que temos toda a paciência do mundo. Se o julgamento começa agora em Janeiro, em Dezembro ou se começa no próximo ano, vamos continuar à espera do desfecho dessa situação. Que medidas é que serão tomadas no caso de o desfecho não ser favorável a Angola? É evidente que não posso revelar. A seu devido tempo, Portugal tomará conhecimento das posições que Angola vai tomar. O que é preciso fazer para que as relações entre Angola e Portugal voltem aos níveis de um passado recente? Queremos um gesto: é remeter o processo a Angola, satisfazer o pedido de Angola, para que as autoridades judiciais tratem do caso. Não estamos a pedir o arquivamento do processo. Estamos a pedir simplesmente que o processo seja remetido a Angola. Os membros do Executivo já declararam os seus bens? Se  não o fizerem, que medidas serão tomadas? O senhor Presidente já fez a declaração de bens?  A informação que tenho é que os membros do Executivo já deram entrada da sua declaração de bens. Só que, como também deve saber, a declaração de bens é entregue em envelope fechado, lacrado e ninguém pode abrir o envelope, salvo por decisão de um Tribunal. Só quem se meter em problemas e for parar à justiça, a sociedade saberá que bens é que este membro do Governo tem e declarou e quais são os que efectivamente ele tem.  Liberdade de expressão e a liberdade de imprensa A sociedade tem elogiado a abertura dos órgãos de comunicação social e o seu relacionamento com os jornalistas. Há um assunto que já leva muitos anos, que é a extensão do sinal da Rádio Ecclésia. Como é que pretende lidar com este problema? Os bispos da Igreja Católica já falaram com o Presidente? Este é um velho problema, mas considero hoje um falso problema. É um falso problema porque defendemos a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa e não o dissemos apenas no período de campanha para a obtenção de votos, mas porque sinceramente entendemos que devemos não só defender, mas também promover as liberdades de expressão e de imprensa. É evidente que para que a Rádio Ecclésia possa expandir o seu sinal em todo o território nacional não haja necessidade de nenhum pronunciamento do Presidente da Repú- blica, mas podemos reconhecer que por razões que não importa adiantar aqui, a Ecclésia não conseguiu fazer essa mesma extensão. Consideramos que, desde que se respeite a Lei, sobretudo a Lei da Radiodifusão, a Lei 4/17, a Ecclésia pode perfeitamente expandir o seu sinal a todo o territó- rio nacional. Se tem os investimentos feitos para que assim possa parecer, pode começar de imediato. Se não tiver, que se prepare e que faça os investimentos necessários na certeza de que, da nossa parte, não encontramos problemas absolutamente nenhuns em que a Rádio Ecclésia estenda o seu sinal a todo o território nacional. A rádio está ligada a uma Igreja que consideramos séria e secular e, talvez, com essa expansão do sinal nos possa a ajudar a estancar a proliferação de seitas que surgiram nos últimos anos no nosso país com práticas contrárias à nossa cultura e que atentam à pró- pria vida humana. No que me cabe, a Rádio Ecclésia tem as mãos livres. Que estenda o seu sinal a todo o território nacional. “Temos de passar a acções concretas” Quando é que vamos ver concursos públicos em empresas como a Sonangol, Endiama? Quando é que veremos cidadãos nacionais a concorrer para estas empresas? A função pública é que abre concursos. As empresas, em princípio, não abrem concursos. Não são bem concursos. Os cidadãos apresentam os seus currículos que são analisados e em função disso são ou não admitidos, porque embora sejam do fó- rum público, elas não deixam de ser empresas. O estatuto da Sonangol é mesmo de empresas públicas, tem um regime de qualquer empresa. A única diferença é quem são os accionistas destas empresas, se são do Estado ou particulares ou privados. No ano passado, foi apresentado o Programa Intercalar do Governo e, recentemente, o Programa de Estabilização Macroeconómica. Analisando profundamente os dois programas notam-se medidas de austeridade. Ainda é possível falar da diversificação da economia? Não só é possível, como é absolutamente necessário. A nossa salvação está aí. A austeridade não significa não diversificar a economia. Antes pelo contrário, é precisamente a austeridade que nos obriga a diversifi- carmos a economia. Angola não tem outra saída senão diversificar a sua economia. Tudo isso já se falou e já correu muita tinta. Temos de passar a acções concretas no sentido de fazer com que as nossas exportações não se baseiem apenas no crude, portanto no petróleo bruto, mas quando falarmos de exportações, falemos sobretudo de outros produtos. As exonerações na Sonangol foram por questões profissionais ou de confiança política? Por confiança política, o que isso quer dizer? A pessoa exonerada não era da oposição. Não estou a ver por que razão exoneraria por falta de confiança política. As exonerações, regra geral, não são justificadas. O nosso país está independente há 42 anos. Não recordo nenhum Presidente ter vindo a pú- blico justificar-se porque exonerou A, B e C. Em 42 anos, foram exonerados não sei se milhares, mas pelo menos centenas de membros do Governo ou ministros. Porque é que tenho de me justificar por ter exonerado o PCA de uma empresa pública? Isso não faço. Aliás, não é por mero acaso quando as exonerações são feitas o que vem a público, regra geral, é: por conveniência de serviço é exonerado fulano de tal. Mas se quer mesmo a resposta, foi por conveniência de serviço. Qual é a situação entre o Governo angolano e o Vaticano na possibilidade de assinatura de uma concordata? A única coisa que posso dizer é que existem negociações entre o Governo angolano e o Estado do Vaticano. Estas negociações decorrem. Não conheceram ainda o seu desfecho, portanto, vamos aguardar. No essencial, existe entendimento. Haverá uma ou outra coisa em que ainda não se chegou a acordo. Vamos continuar a trabalhar para que esses pequenos impedimentos sejam ultrapassados. Está a gostar de ser o nosso Presidente? No mínimo seria ingratidão, se não gostasse daqueles que me elegeram. Eu não sou ingrato. Obviamente que estou a gostar. É trabalhoso, mas quem corre por gosto não se cansa. Na qualidade de Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas, quais são as principais ameaças a enfrentar? Felizmente o regime do “apartheid” caiu há bastante tempo. Era a principal ameaça não só para Angola, mas de uma maneira geral para o continente, com destaque para a região da África Austral. O “apartheid” foi enterrado bem lá para o fundo, não vai levantar nunca mais. Angola tem o orgulho de ter contribuído para isso, para o fim do “apartheid”. Outra ameaça…considero que a principal ameaça ainda é o terrorismo internacional. Falando assim muito vagamente, o terrorismo é uma ameaça real, em relação ao qual todos os Estados devem estar permanentemente atentos. Portanto, Angola não é nenhuma excepção. Estamos atentos à eventualidade de o terrorismo querer estender os seus tentáculos ao nosso país. A 30ª Cimeira da União Africana vai ter lugar de 22 a 29 de Janeiro, em Adis Abeba, Etiópia, e tem como tema “Vencer a luta contra a corrupção: um caminho sustentável para a transformação de África”. O senhor fez da luta contra a corrupção uma grande prioridade. Quais são as estratégias que adoptou para obter os resultados pretendidos? A estratégia para garantir o êxito nesta luta contra a corrupção só tem duas palavras: coragem e determinação. Vamos buscar forças no sentido de não nos faltar esta coragem e determinação. Tem dito que a Justiça é um pilar fundamental do Estado de Direito. Há um acórdão do Tribunal Constitucional que proíbe que a Assembleia Nacional fiscalize os actos do Governo. Como será doravante enquanto Titular do Poder Executivo? O Tribunal Supremo é o tribunal que em ordem de precedência protocolar deveria estar em  terceiro como órgão de soberania, e não um tribunal especial, que é o Tribunal Constitucional. Existe alguma perspectiva de alteração desta situação? O Executivo que dirijo não teme a fiscalização pelos deputados da Assembleia Nacional. A fiscalização é salutar quer esta seja feita pela Assembleia Nacional, quer a fiscalização mais geral, feita pela sociedade. Afinal de contas nós, querendo ou não, os nossos actos são fiscalizados pela sociedade, pelos eleitores que nos colocaram neste lugar. E vamos ter que prestar contas a eles daqui a cinco anos, sensivelmente. Portanto, não há como fugir à fiscalização. Não é uma questão de querer ou não. Nós aceitamos a fiscalização a ser feita nos moldes em que a Constituição e a lei estabelecem. Há uma interpretação à Constituição feita pelo Tribunal Constitucional. Os acórdãos do Tribunal Constitucional são de aceitação por todos, devem ser respeitados. Mas apenas para dizer que nos moldes previstos quer na Constituição, quer na lei, que permitem pelo menos a fiscalização no quadro da avaliação e aprovação da Conta Geral do Estado pela Assembleia Nacional, nós, o Executivo, estamos cem por cento abertos para que isso seja feito. Aliás, eu venho da Assembleia Nacional antes de passar pelo Ministério da Defesa. Fui deputado (às vezes ainda me sinto deputado). Portanto, se os deputados querem fiscalizar a nossa acção, essa fiscalização é bem-vinda. Quanto à hierarquia dos tribunais, eles constituem um poder próprio. Deixemos que esta discussão seja feita primeiro ao seu nível, pelos órgãos de justiça, e depois chegue à minha mesa. Os próprios órgãos, os tribunais superiores, cheguem a um entendimento antes de qualquer proposta chegar à minha mesa e eu aí me poder pronunciar a respeito.                           *Entrevista na íntegra foi retirada do jornal de Angola. Edição, antetítulos, título e entretítulos são da responsabilidade do SAVANA João Lourenço, presidente de Angola Savana 12-01-2018 EVENTOS 14 Mais de 80 jovens, que terminaram os seus cursos profissionais nas especialidades de electricidade instaladora, pedreiro, pintura civil e serralharia civil promovidos pelo Instituto de Formação Profissional e Estudos Laborais Alberto Cassimo (IFPELAC) - Delegação de Cabo Delgado, receberam kits para o início de auto emprego, no distrito municipal de Mueda, na província de Cabo Delgado. Trata-se de filhos e/ou dependentes de Combatentes da Luta de Libertação Nacional que, durante três meses, foram capacitados em matérias do “saber fazer”, em electricidade instaladora, pedreiro, pintura civil e serralharia civil que beneficiaram de kits de ferramentas, cujo objectivo consiste em estimular iniciativas empreendedoras dos jovens recém formados. A cerimónia de distribuição dos Kits contou coma presença de membros do Governo distrital, presidente do Conselho Municipal de Mueda, líderes de movimentos associativos, formandos, encarregados de educação, entre outros convidados. Intervindo na ocasião, o presidente do Conselho Municipal de Mueda, Cristiano Patrício André, saudou aos presentes e, em particular, aos beneficiários e candidatos ao auto emprego pela dedicação demonstrada ao longo da formação profissional, tendo realçando a responsabilidade que os jovens têm tido, desde o processo de formação até à recepção dos kits, com vista a responderem aos desafios que o distrito enfrenta. “Este é o momento de mudarem o rumo do nosso distrito a partir dos kits em vossa posse, pois rareia a existência de mão-de-obra qualificada”, apelou Cristiano Patrí- cio André. Num outro desenvolvimento, o edil de Mueda apelou ao IFPELAC para intensificar as suas acções, naquela parcela da província, com a diversificação de cursos profissionais, tais como o de canalização, de forma a responder ao problema de escassez de técnicos daquela especialidade. Por sua vez, a administradora do distrito de Mueda, Maria Constância Nhalivilo, felicitou aos jovens que acabavam de receber certificados de conclusão de cursos, bem como a recepção de kits de ferramentas, para o início da actividade de geração de renda. Apelou para a conservação das Jovens desafiados a enveredar pelo auto-emprego Escritório Sede: Caixa Postal – 263 – Songo PBX: +258 252 82221/4 | Fax Geral: +258 252 82220 Escritório de Maputo: Edifício JAT I – Av. 25 de Setembro, 420 – 6º andar Caixa Postal: 4120 PBX: +258 21 350700| Fax Geral: +258 21 314147 52 10. 831. ACA. P MI -11-2013 ferramentas atribuídas e referiu que estes devem servir de elementos catalisadores para a indução do emprego e geração de renda, para o seu próprio sustento e dos seus dependentes. No cumprimento do plano quinquenal do Governo, urge a necessidade de se apostar na formação de jovens e esta cerimó- nia é o testemunho da resposta aos desafios da empregabilidade, sobretudo, dos candidatos ao primeiro emprego, onde lhes são atribuídas ferramentas para o incentivo às alternativas da criação e manutenção de empregos, asseverou Maria Nhalivilo. Pediu ainda aos   jovens recém formados para se organizarem e registarem-se em associações empreendedoras, de modo a concorrerem a determinados serviços que demandam no distrito, visto que existem certos requisitos para a elegibilidade dos concorrentes a concursos públicos. Savana 12-01-2018 EVENTOS 15 PUBLICIDADE Savana 12-01-2018 19 OPINIÃO 562 Email: carlosserra_maputo@yahoo.com Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com A prazo, o que vai ser determinante para o crescimento do PIB – e dos padrões de crescimento inclusivos – vão ser os ganhos de produtividade. Da forma que as coisas estão, há motivos para duvidar que a produtividade vá crescer apenas por si mesma. Grande parte da economia mundial está agora sujeita a tendências económicas positivas: o desemprego está a cair, as lacunas na produção estão perto de ser totalmente colmatadas e, por motivos que ainda não são claros, a inflação continua abaixo dos objectivos da maioria dos bancos centrais. Por outro lado, o crescimento da produtividade continua baixo, a desigualdade de rendimentos está a aumentar e os trabalhadores com um nível educativo mais baixo enfrentam dificuldades para encontrar oportunidades de emprego atractivas. Depois de oito anos de estímulos agressivos, as economias desenvolOs ingredientes que faltam ao crescimento Por Michael Spence e Karen Karniol-Tambour* vidas estão a sair de uma fase alargada de desalavancagem que naturalmente oprimiu o crescimento do lado da procura. À medida que o nível e a composição da dívida foram mudando, as pressões para a desalavancagem foram diminuindo, permitindo uma expansão mundial sincronizada. Ainda assim, a prazo, o que vai ser determinante para o crescimento do PIB – e dos padrões de crescimento inclusivos – vão ser os ganhos de produtividade. Da forma que as coisas estão, há motivos para duvidar que a produtividade vá crescer apenas por si mesma. Faltam vários itens importantes, o que lança dúvidas tanto sobre o crescimento da produtividade em larga escala como sobre uma mudança para padrões de crescimento mais inclusivos. Em primeiro lugar, o potencial de crescimento não pode ser alcançado sem capital humano suficiente. Esta lição é supostamente uma vivência dos países em desenvolvimento, mas aplica-se também às economias desenvolvidas. Infelizmente, em grande parte das economias, as competências e as capacidades não parecem acompanhar as rápidas mudanças estruturais nos mercados de trabalho. Os governos provaram ou não terem vontade ou não serem capazes, de actuar agressivamente em termos de educação e reconversão de qualificações ou na redistribuição dos rendimentos. E, em países como os Estados Unidos, a distribuição dos rendimentos e da riqueza está tão distorcida que as famílias com baixos rendimentos não conseguem investir em medidas que lhes permitam adaptarem-se às rápidas mudanças nas condições de trabalho. Em segundo lugar, a maioria dos mercados de trabalho tem uma grande lacuna de informação que precisa de ser colmatada. Os trabalhadores sabem que as mudanças estão a chegar, mas não sabem como é que as exigências ao nível das competências estão a evoluir e, por isso, não conseguem basear as suas decisões em dados concretos. Os governos, as instituições de educação e as empresas não deram uma orientação adequada nesta frente. Em terceiro lugar, as firmas e os indivíduos tendem a ir para onde as oportunidades estão a surgir, os custos de fazer negócio são baixos, as perspectivas para o recrutamento de trabalhadores são boas e a qualidade de vida é elevada. Os factores ambientais e as infra-estruturas são críticos no sentido de criar esta dinâmica e condições concorrenciais. Por exemplo, as infra-estruturas baixam os custos e melhoram a qualidade da conectividade. A maior parte dos argumentos a favor do investimento em infra-estruturas foca-se no negativo: queda de pontes, auto-estradas congestionadas, transporte aéreo de má qualidade e por aí em diante. Mas os políticos devem olhar para além da necessidade de acompanhar a manutenção destas vias. O objectivo deveria ser investir em infra-estruturas que criem novas oportunidades para o investimento do sector-privado e inovação. Em quarto lugar, investigação em ciência, tecnologia e biomedicina, financiada por fundos públicos, é vital para conduzir a inovação no longo prazo. Ao contribuir para o conhecimento público, a investigação de base abre portas para que o sector privado inove em novas áreas. E independentemente de onde é conduzida esta investigação, ela vai produzir efeitos colaterais na economia local que está nas redondezas. Quase nenhuma destas quatro considerações é uma característica significativa do enquadramento político que prevalece actualmente na maioria dos países desenvolvidos. Por exemplo, nos EUA, o Congresso aprovou a reforma fiscal que pode produzir um aumento E ra uma construção antiga e sólida, erguida no alto da Malanga. Porém, por falta de manutenção, a sua notá- vel robustez cedia espaço a que o tempo marcasse nela a sua passagem. A brancura das paredes dava lugar a um cinzento amarelado, onde se notavam claramente as manchas deixadas pelas chuvas ao longo de vários anos. No entanto, no seu conjunto, apresentava-se com saúde para continuar de pé ainda longos anos. Era uma casa de 3 divisões. No seu quintal, embora não muito espaçoso, cabiam à vontade 3 limoeiros entremeados por 4 ou 5 pés de piripíri e uma papaeira. Como construções subsidiárias, estavam a cozinha de blocos sem reboco e a casa de banho multifuncional. O chão do quintal era de areia solta, cinzenta. Quase sempre que a Ermelinda João olhava para isto tudo, ao amanhecer, ocorria-lhe uma frase recorrente – “É isto que estou a colher, como fruto de dezenas de anos de trabalho árduo, de perseverança e sacrifícios consentidos, e de sonhos e amores imolados à nascença no altar da decência e da conveniência social.” Naquele final de tarde de Maio, sentada na sua cadeira de rodas a aquecer-se com os últimos raios de sol, Ermelinda João tinha as mãos em concha, recolhidas no regaço, e olhava de modo abstracto para tudo o que se estendia à sua frente: era um horizonte cujos limites eram feitos apenas pelo céu e pelo chão. Naquele momento, decidiuLimão com piripiri verde e sal -se a ir avante com o projecto que vinha acalentando havia já alguns anos. Fechou os olhos e sobrevoou o caos organizado do mercado da Malanga, plantado mesmo numa das margens no final da Avenida 24 de Julho, adejou sobre as casas e armazéns junto ao cais, passou em voo raso sobre as águas da baía, sobrevoou a Catembe, viu-se na Bela Vista e pousou suavemente num bosque de Catuane, onde se notava perfeitamente a subtil fragrância das árvores de sândalo. O chão era atapetado por folhas destas e de outras árvores. Ermelinda João era, então, menina e moça, que, de cesto na mão, colhia cogumelos para a refeição do dia e, nas entrelinhas, frutos silvestres, dentre os quais adorava os de palmeiras bravas. Na sua casa, passavam também pela ementa o peixe seco que lhes vinham trazer da lagoa Pati, e, de tempos em tempos, uma gazela caçada junto ao rio Maputo. Apesar de o pai possuir umas duas ou três dezenas de gado bovino, era raríssimo que na sua mesa provassem da sua carne. Como veio a perceber-se ao longo da vida, a carne de vaca não era para ser consumida; era moeda de troca. Reviu-se na adolescência a frequentar a primária, que, por razões óbvias, só existia na Vila de Bela Vista, onde teve de ir morar com uma tia. Viu-se na travessia da Catembe para Lourenço Marques, viu-se a frequentar as aulas de corte e costura na Casa Singer, na Avenida Manuel de Arriaga, reviu-se nos primeiros namoros, nos primeiros desamores, nas primeiras desilusões, e reviu-se na jura que fez a si própria de caminhar pelos seus próprios pés. Por volta de 76 teve o seu primeiro matrimónio, do qual resultaram os dois únicos filhos que teve. Depois veio o resto, e o resto resumiu-se a uma luta tenaz e perseverante contra tudo o que eram as adversidades da vida. Aprendeu a viver o prazer da sua solidão assumida e quando se instalou no alto da Malanga e nela abriu a sua pequena loja de confecção de vestidinhos e calções para meninos, fonte garantida – apesar de parca – da sua subsistência, sentiu-se realizada na sua plenitude. Ermelinda João não tinha, contudo, muito por onde se queixar, não obstante, bem vistas as coisas, ter motivos – e até de sobra – para isso. Limitava-se a olhar para as suas pernas já inúteis, para a sua cadeira de rodas, para a sua casa sólida com manchas de infiltração de água, para o seu quintal, para os seus 3 limoeiros, piripíris e papaeira, aquecendo-se ao sol, e dizia – “Estou a colher aquilo que plantei, com trabalho árduo, com perseverança, com sonhos e amores imolados à nascença no altar da decência e da conveniência social”. Quando se preparava para levantar voo de regresso a casa, sentiu uma palmada ligeira no ombro, e alguém lhe disse: – Avó, já cheguei. É tempo de entrar para casa, para lhe servir o jantar. Já está a esfriar aqui fora. – De onde vens? – Venho da escola, avó. Hoje ainda é sexta. Amanhã é que estaremos juntas todo o dia. – Óptimo! A cidade de Maputo vive ainda aquele limbo clássico, vírgula entre a festa e o remanso digestivo, na expectativa de um fôlego mais vigoroso. Este mês e Fevereiro serão, para muitos, um apertar-cintos duro. Apesar disso, a 24 de Julho continua a ser a montra da vida. Os mais jovens estão na crista do espanto e da conquista, elas afoitas em seu esperar, eles avançadores em seus jeitos de O limbo de Maputo apresamento: cada passo é uma aposta na descoberta, na expectativa do ainda não sentido. Pelo contrário, os mais velhos exibem o hábito, o viço é sua vestimenta de cada coisa, o cansaço a proa de tudo. Roupas pesadas e quentes, ícones eró- genos cobertos ou descaídos, barrigas salientes, calvícies sonoras, cabelos pintados, gestos iguais, nada surpreende, tudo é conhecido. O combóio não mais se espanta com os carris. adicional do investimento privado, mas que vai fazer pouco para diminuir a desigualdade, restabelecer e redistribuir o capital humano, melhorar as infra-estruturas ou expandir o conhecimento científico e tecnológico. Por outras palavras, a reforma ignora os principais ingredientes necessários para estabelecer a base para padrões de crescimento futuro sustentáveis e equilibrados, caracterizados por trajectórias elevadas de produtividade económica e social, apoiadas tanto pelo lado da oferta como da procura (incluindo investimento).   Ray Dalio descreve  um caminho que pode ser caracterizado pelo investimento em capital humano, infra-estruturas e numa economia de base científica, como o caminho A. O caminho alternativo, o B, é caracterizado pela falta de investimento em áreas que vão impulsionar directamente a produtividade, como as infra-estruturas e a educação. Apesar de as economias estarem actualmente a favorecer o caminho B, é o caminho A que produziria um crescimento mais elevado, mais sustentável e inclusivo, enquanto amenizava a dívida persistente que está associada à dívida soberana elevada e às responsabilidades que não geram dívida em áreas como as pensões, segurança social e os cuidados de saúde financiados publicamente. Pode ser uma ilusão, mas as nossas esperanças são que neste novo ano, os governos façam esforços mais concretos para irem do caminho B de Ray Dalio para o caminho A. *Michael Spence, laureado com o Prémio Nobel da Economia, é professor de Economia na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque, e conselheiro no Instituto Hoover. Karen Karniol-Tambour é a líder da área de pesquisa de investimentos na Bridgewater Associates. 20 Savana 12-01-2018 OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane O presidente Donald Trump e Haley insistem que os custos das operações da ONU estão insuflados e que há margem para alguns cortes. Mas o mundo recebe um retorno estrondoso com o investimento nas Nações Unidas. Este Natal, a prenda que os Estados Unidos deram ao mundo foi um corte de 285 milhões de dólares no orçamento corrente das Nações Unidas (ONU). Tecnicamente, o orçamento corrente da ONU é o reflexo de um consenso entre os 193 Estados-membros, mas os Estados Unidos foram claramente o grande motor deste corte. De facto, Nikki Haley, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, acompanhou o anúncio, feito na véspera de Natal, com o aviso de que os EUA estariam a olhar para mais reduções. Ebenezer Scrooge não teria feito melhor. Os cortes orçamentais vão fazer com que seja muito mais difícil para as agências da ONU evitarem guerras, ajudarem milhões de pessoas que estão deslocadas por causa dos conflitos, alimentarem e vestirem crianças famintas, lutar contras as doenças que surgem, fornecer água potável e saneamento e promover o acesso à educação e dar cuidados de saúde para os pobres.  O presidente Donald Trump e Haley insistem que os custos das operações da ONU estão insuflados e que há margem para alguns cortes. Mas o mundo recebe um retorno estrondoso com o investimento nas Nações Unidas e os Estados-membros deviam estar a investir bem mais, e não menos, nas suas organizações e programas. Consideremos os valores. O orçamento corrente da ONU para um período de dois anos – 2018 e 2019 – será de 5,3 mil milhões de dólares – menos 285 milhões de dólares que no orçamento de 2016 e 2017. Os gastos anuais serão de cerca de 2,7 mil milhões de dólares. A percentagem norte-americana vai ser de 22%, ou cerca de 580 milhões de dólares por ano, o equivalente a 1,80 dólares por americano, por ano. O que é que os americanos recebem por esses 1,80 dólares por ano? Para começar, o O conto de Natal de Trump Jeffrey D. Sachs* orçamento corrente das Nações Unidas inclui as operações da Assembleia-Geral, do Conselho de Segurança e do Secretariado (incluindo o escritório do Secretário-geral, o Departamento de Assuntos Económicos e Sociais, o Departamento de Assuntos Políticos e o pessoal administrativo). Quando uma ameaça grave à paz surge, tal como o impasse actual entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, é o Departamento de Assuntos Políticos das Nações Unidas que muitas vezes facilita a diplomacia nos bastidores, algo que é vital.  Além disso, o orçamento corrente da ONU inclui verbas para o Fundo para as Crianças da ONU (UNICEF), para o Programa para Desenvolvimento da ONU, para a Organização Mundial de Saúde, para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados, para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, para as entidades regionais (para a Ásia, África, Europa e América Latina), para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, para o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (para resposta a desastres), para a Organização Meteorológica Mundial, para o Gabinete da ONU para a Droga e Criminalidade, para a ONU Mulheres (pelos direitos das mulheres) e muitas outras agências, cada uma especializada em dar resposta a crises, conflitos, pobreza, desalojamento, riscos ambientais, doenças ou outras necessidades públicas. Muitas das organizações da ONU recebem contributos adicionais “voluntários” de países que estão interessados em apoiar iniciativas especializadas de agências como a UNICEF e a Organização Mundial de Saúde. Afinal, essas agências têm um mandato global único, legitimidade política e a capacidade para operar em todas as partes do mundo. A estupidez do ataque norte-americano à dimensão do orçamento da ONU é  mais evidente através da comparação com o orçamento do Pentágono. Os EUA gastam actualmente cerca de 700 mil milhões de dólares por ano em defesa, ou cerca de dois mil milhões de dólares por dia. Assim, o orçamento corrente total das Nações Unidas, por ano, representa cerca de um dia e nove horas da despesa militar dos Estados Unidos da América. A percentagem dos EUA para o orçamento corrente da ONU equivale aproximadamente a sete horas dos gastos do Pentágono. Que desperdício. Trump e Haley estão a apertar o orçamento das Nações Unidas por três motivos. O primeiro é para agradar à base política de Trump. A maioria dos norte-americanos reconhece o enorme valor da ONU e apoia-a, mas a ala mais à direita do eleitorado do Partido Republicano considera que a ONU é uma afronta aos Estados Unidos. O  Pew Survey, de 2016, indica que a aprovação pública dos norte-americanos em relação às Nações Unidas era de 64%, com apenas 29% a ter uma opinião desfavorável. Mas, por exemplo, o Partido Republicano do Texas pediu repetidamente para os EUA deixarem a ONU. O segundo motivo é para que haja poupanças em alguns programas, o que é necessário em qualquer organização. O erro é reduzir o orçamento geral em vez de se proceder a uma relocalização de fundos e a um aumento da despesa dos programas de necessidade vital que lutam contra a fome e as doenças, apostam na educação das crianças e evitam conflitos. O terceiro motivo, e o mais perigoso, para reduzir o orçamento das Nações Unidas é enfraquecer o multilateralismo em nome da “soberania” norte-americana. Trump e Haley insistem que os EUA são soberanos e, por isso, podem fazer o que querem, independentemente da oposição das Nações Unidas ou de qualquer outro grupo de países. No seu discurso recente na sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas sobre Jerusalém, onde a maioria dos Estados-membros rejeitaram o reconhecimento unilateral feito pelos EUA de Jerusalém como capital de Israel, Haley disse ao resto do mundo: “os Estados Unidos vão colocar a sua embaixada em Jerusalém. É isso que a população americana quer que façamos e é a coisa acertada a fazer. Nenhuma votação realizada pelas Nações Unidas fará diferença em relação a isso”. Esta abordagem à soberania é extremamente perigosa. Obviamente, repudia o direito internacional. No caso de Jerusalém, as resoluções adoptadas pela Assembleia-Geral e pelo Conselho de Segurança declararam repetidamente que o estatuto final de Jerusalém é uma questão de direito internacional. Ao anunciar descaradamente o direito de anular o direito internacional, os EUA ameaçam as fundações da cooperação internacional conforme a Carta das Nações Unidas.  Ainda assim, outro perigo grave é para os Estados Unidos. Quando a América deixar de ouvir os outros países, o seu vasto poder militar e arrogância vão levar a frequentes desastres auto-inflingidos. Os que defendem a “América Primeiro”, como Trump e Haley, não aceitam quando os outros países se opõem à política externa norte-americana; mas estes outros países estão frequentemente a dar bons e francos conselhos, que os EUA seriam sábios em dar atenção. A oposição do Conselho de Segurança à guerra no Iraque, liderada pelos americanos, em 2003, por exemplo, não tinha como objectivo enfraquecer os Estados Unidos, mas protegê- -los, assim como ao Iraque e ao mundo, da raiva da América e da sua cegueira quanto aos factos. “Bah! Treta!” disse Scrooge. Mas a questão de Charles Dickens era precisamente que Scrooge era o que mais perdia com a sua arrogância, mesquinhez e insolência. *Jeffrey D. Sachs, professor de Desenvolvimento Sustentável e de Políticas e Gestão de Saúde na Universidade de Columbia, é director do Centro para o Desenvolvimento Sustentável de Columbia e director da rede de soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. O que está em causa nas intercalares em Nampula é saber se, de facto, o nível de organização do processo garante a desejada fiabilidade ao processo. Daqui decorrerá a legitimidade do futuro edil de Nampula. Se o nível de organização tiver fraquezas produzidas, induzidas e consentidas então estaremos perante mais uma evidência de orquestração, mais um forte indicador de mudança urgente. Uma vez mais colocar-se-à o debate sobre quem ou o que tem que mudar: o eleitorado, os membros da CNE (Comissão Nacional de Eleições) e do STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral) ou o peso dos partidos políticos? A máquina eleitoral, pelo percurso dos membros ou pelo historial real de como cada um chegou ao poleiro, já dá (ou dava) mostras de que o modelo adoptado, à partida, era inEntre calares e barulhos nas intercalares em Nampula coerente com a filosofia de isenção e não favorecimento de resulados. Podemos dizer que foi o modelo possível, modelo apaziguador de tensões. Mas, se as missões desestruturantes já foram cumpridas cabe, pois, enveredar por missões estruturadoras de democracia que se compadecem com os valores defendidos por uma instituição eleitoral que se preze; não por uma “forjadora”. O que aqui está em causa não é mais do que a organização. Mas a organização tem níveis. Pode ser boa ou má, o que põe de lado, tecnicamente, a existência de qualquer tipo de “desorganização organizada”. Entretanto, esta última tem o seu valor político, tem o seu saudosismo, tem a marca política e de tempo que lhe é inerente. Em Nampula as eleições intercalares estão à porta e já se fala de irregularidades. Será que os seus actuais níveis de organização vão a tempo de produzir um Presidente do Município com legitimidade? A preparação dos partidos políticos foi feita tomando em conta o respeito pela vontade dos eleitores? E as entidades (de topo) responsáveis pelo processo reequacionaram e assumem o significado de conceitos como imparcialidade, isenção, transparência? As eleições intercalares em Nampula têm sido assumidas como estando minimamente organizadas. O apelo do Presidente da CNE é que os participantes se comportem de acordo com os padrões socialmente aceites, mas, entretanto, não transpira para fora daquele orgão o padrão que se impõe aos seus colaboradores, incluindo as sansões aos “crimes dolosos” e a firmeza com que se deseja que as mesmas sejam aplicadas. Que não apareça alguém a dizer que o país ainda está a ganhar experiências no assunto das eleições. Infelizmente, na África subsariana, em particular, multiplicam-se exemplos dando conta de que o “político” exerece forte influência sobre o “técnico”. A fraude eleitoral é o primeiro passo para a eclosão de conflitos pós-eleitorais. Como se trata da eleição de um edil talvez não se coloque a questão em termos de tensão político-militar. Pode ser que crie algum “barulho” e, no final, a lei será obrigada a impôr-se descompassada com a legitimidade. Cá entre nós: há irregularidades nas intercalares em Nampula. É urgente que as mesmas sejam esclarecidas para o bem da democracia e da imagem do país. Esperamos que a CNE em tempo oportuno se pronuncie publicamente e sem subterfúgios de ordem alguma. A denúncia de irregularidades por parte da Renamo e do MDM pode e deve servir de alerta para a existência de baixos níveis de organização e de controlo do processo eleitoral. A fiabilidade do processo pode estar em causa. 22 Savana 12-01-2018 DESPORTO A inda não se sabe quando é que o campeonato nacional de futebol irá arrancar e muitos menos a data da realização da Assembleia-Geral da Liga Moçambicana de Futebol (LMF), reunião que discute e aprova as actividades e o orçamento da prova. O facto deve-se as incertezas existentes nas negociações entre a direcção da LMF e alguns patrocinadores, com destaque para a Linhas Aéreas de Moçambique, que não quer ceder à pressão política, devido as dívidas acumuladas junto daquela companhia de bandeira. Em entrevista ao RM Desporto, o presidente da LMF, Ananias Couane, disse que para além desse dossier, a sua instituição está a espera da marcação da Supertaça Nacional, uma competição que é organizada pela Federação Moçambicana de Futebol. O braço-de-ferro entre a LMF e a LAM vem desde o princípio do ano passado e foi o maior responsável pelo arranque tardio do Moçambola. Aliás, em Julho, aquela companhia área ameaçou suspender a emissão de bilhetes das equipas do Moçambola, facto que não aconteceu porque, por um lado, o assunto foi encaminhado ao Gabinete do Primeiro-Ministro e, por outro lado, a LMF conseguiu recuperar a dívida da Televisão de Moçambique de cerca de 30 milhões de MT decorrentes das transmissões televisivas. Devido a estas questões, Couane projecta o arranque da prova para o mês de Março e a realização do sorteio para o dia da Assembleia-Geral. Entretanto... Apesar de toda esta incerteza, os Clubes já estão no terreno a arrumar as suas casas. Depois da União Desportiva de Songo, Costa do Sol, 1º de Maio de Quelimane, UP de Manica e Sporting de Nampula terem arrancado com os trabalhos, na semana finda, esta semana, foi a vez do Maxaquene, Ferroviários de Maputo e de Nampula, Liga Desportiva de Maputo, Ferroviário e Desportivo de Nacala e Incomati de Xinavane abrirem as oficinas para mais uma época futebolística, que se perspectiva mais difícil que a anterior, devido as questões fi- nanceiras. Do norte ao sul e do zumbo ao índico, os clubes remodelaram os seus planteis, tendo dispensado mais de 10 atletas, com o Clube de Chibuto a ser o maior protagonista, ao contratar 20 novos jogadores. Aliás, esta atitude não constitui novidade. Anualmente, os clubes contratam e dispensam mais de uma dezena de atletas, sem falar da constante troca de treinadores. Ferroviário de Maputo com 15 reforços A maior emoção da abertura da época, viveu-se, esta segunda-feira, no Clube Ferroviário de Maputo, durante a apresentação do plantel e da sua respectiva equipa técnica para a presente época, a ser liderada pelo ex-treinador do Costa do Sol, Nelson Santos. Clubes trabalham debaixo de incertezas Liga Moçambicana de Futebol ainda não sabe quando arranca o Moçambola-2018 Por Abílio Maolela Com uma casa cheia, o Ferroviário de Maputo apresentou 13 caras novas, das 15 projectadas (duas ainda por contratar) e uma promoção, num total de 28 jogadores que irão constituir o plantel, capaz de regressar aos títulos. Lembre-se que há três anos que a “locomotiva” não ganha o Moçambola (o último foi conquistado, em 2015, por Carlos Manuel) e há sete anos que não vence a Taça de Moçambique, depois de Nacir Armando ter ganho a quinta Taça para aquele “colosso” da capital do país, naquela que foi a primeira final a ser disputada no Estádio Nacional do Zimpeto. Para alcançar os seus objectivos, o Ferroviário de Maputo foi ao mercado buscar alguns nomes sonantes, com destaque para os ex-canarinhos Loló e Kito, Liberty (ex-LDM) e o regressado Jeitoso (ex-Cape Town City), que afirma ter voltado para jogar, pois, é um jogador de selecção. Do plantel da época passada, destaque vai para a permanência de Diogo, Chico, Sidique, Germano e Timbe. Os adeptos, assim como a direcção do clube “locomotiva” exigem títulos, enquanto o treinador e os jogadores pedem apoio para concretizarem esse objectivo. Maxaquene em mais um triagem dos “não experimentados” Enquanto o Ferroviário de Maputo apresentava o seu novo plantel, o Maxaquene fazia mais uma triagem aos jovens que procuram um lugar na fina flor do nosso futebol. São mais de 20 candidatos que, desde segunda-feira, se exibem no degradado relvado do Maxaquene, na baixa da Cidade de Maputo, sob olhar atento de Antoninho Muchanga, técnico confiado a difícil missão de manter, mais uma vez, os “tricolores” na primeira divisão. Recorde-se que, com o mesmo treinador, o Maxaquene terminou o Moçambola-2017, na 12ª posição com 34 pontos e um saldo negativo de três golos. Nas bandas da Matchiki-Tchiki, as portas abriram na semana passada, com a apresentação do técnico argentino, Leonardo Costas, que promete “muito trabalho” para alcançar os seus objectivos traçados: conquista do campeonato e da Taça de Moçambique. Tal como os outros, o “canário” foi ao mercado buscar 14 jogadores, depois de ter dispensado 13, um número considerado alto, tendo em conta a participação da equipa na Taça CAF, onde joga com o Jwaneng Galaxy FC, do Botswana, entre os dias 10 e 11 de Fevereiro. Diferentemente da época passada, este ano não há nomes sonantes, no É com este plantel que o Ferroviário de Maputo pretende regressar aos títulos A internacional moçambicana de basquetebol, Leia Tânia do Bastião Dongue, anunciou, esta semana, a sua retirada do campeonato angolano, para continuar a sua carreira profissional, na Espanha, ao serviço do Gernika Bizkaia, um clube da primeira liga, sediado na cidade de Bilbau, no norte daquele país ibérico. O anúncio foi feito pela atleta, esta segunda-feira, em Maputo, numa conferência de imprensa, na qual esteve presente o seleccionador nacional, Nasir Salé. Dongue, que deixa para trás o 1º de Agosto, de Luanda, após quatro anos e meio, revelou que o vínculo contractual com a sua nova equipa é válido até ao final da época (termina em Março) e, posteriormente, “vamos ver quais serão os próximos planos, mas que passam pela minha permanência na Europa”, frisou. A atleta justifica a sua saída do campeonato angolano, pelo facto de ter “ganho tudo”, em África, desde as ligas nacionais (moçambicana e angolana) até as Taças dos Clubes Campeões Africanos, Leia Dongue a caminho da liga espanhola ninho do “canário”, destacando-se apenas a contratação de Raul (ex-Ferroviário de Nampula) e Chawa (ex-Chibuto). Chibuto renova com 20 reforços Se, em Maputo, os números rondam entre 13 a 15 reforços, em Chibuto a realidade é diferente. O polémico Artur José Semedo fez uma lavagem quase completa do balneário, ao contratar 20 jogadores, numa clara demonstração de ambição pelo título nacional. Aliás, o Vice-presidente do Chibuto para a área de Administração e Finanças, Junneid Lalgy, citado pelo Desafio, afirma que “há três anos que integra o role de candidatos ao título”. Recorde-se que na época passada, o Clube de Chibuto terminou a prova na sétima posição com 43 pontos. A campeã União Desportiva de Songo contratou 14 jogadores, com o objectivo de revalidar o título, conquistar a Taça de Moçambique e qualificar-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões Africanos. Enquanto isso, o Ferroviário da Beira abre as suas portas na próxima segunda-feira, depois de ter apresentado a dupla João Chissano e Mano-Mano para esta época, com o campeonato nacional na mira. Outros clubes que também já abriram as suas portas são os Ferroviários de Nampula e de Nacala, o Incomati de Xinavane, o 1º de Maio de Quelimane, o Desportivo de Nacala e o Sporting de Nampula, apesar de algumas incertezas, devido a ausência do cérebro do clube, Mussito Júnior. sem deixar de lado os títulos individuais. Lembre-se que, na carreira, Leia Dongue colecciona, entre outros títulos, cinco campeonatos moçambicanos (três pelo Desportivo de Maputo e dois pela extinta Liga Muçulmana), dois campeonatos angolanos, quatro Taças dos Clubes Campeões de África (dois pelo 1º de Agosto, um pelo Desportivo e outra pela Liga Muçulmana) e dois prémios de Jogadora Mais Valiosa, ao nível continental (2014 e 2015). A internacional moçambicana, de 26 anos de idade, explica ainda que vai à Espanha para “internacionalizar” ainda mais a sua carreira, devido a visibilidade que aquele campeonato tem. “Sonho em jogar na WNBA (Women’s National Basketball Association), porém, é preciso seguir etapas. Penso que o campeonato europeu, em particular o espanhol, tem mais visibilidade que o africano”, disse a atleta, sublinhando que teve convites da Turquia, França e Sérvia, outros países com tradição no basquetebol. Questionada sobre os valores envolvidos no negócio, a atleta remeteu a resposta ao seu agente, Prudep Management, uma agência espanhola do desporto, especializada na representação exclusiva de atletas femininas de basquetebol de alto nível. Em relação a sua afirmação no campeonato espanhol, Dongue garantiu que não terá grandes dificuldades porque teve uma formação quase excelente, liderada por Nasir Salé, e “sempre trabalhamos aquilo que o mundo trabalha”. “Mesmo, em 2016, não tive problemas. A linhagem será a mesma: trabalhar, disciplina e o resto vai acontecer no campo”, disse. O Gernika Bizkaia foi fundado em 1996 e ascendeu a Liga Feminina Baloncesto, em 2014. Nas primeiras duas épocas na primeira liga (2014/15 e 2015/16) terminou a fase regular no sexto lugar e na época passada terminou nos quartos-de-final da prova. Na presente temporada, com 15 jornadas disputadas, o Gernika Bizkaia ocupa a quinta posição com 24 pontos, quando ainda há 11 jornadas por disputar. Nasir Salé considera acertada a escolha feita pela atleta moçambicana, pois, há uma grande diferença entre o basquetebol moçambicano e o angolano. Referir que esta será a segunda passagem de Leia Dongue pela Espanha, depois de, em 2016, ter sido emprestada pelo 1º de Agosto ao Cáceres Extremadura, da segunda divisão. Abílio Maolela 2 Savana 12-01-2018 SUPLEMENTO Savana 12-01-2018 3 SE TIVESSES QUE SALVAR UM DESTES SERE VIVOS, DIZ HONESTAMENTE QUAL DESTES SALVARIAS Savana 12-01-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculos (Fotos) Vão apertar C om as dificuldades que o país atravessa já ouvíamos que neste novo ano as coisas vão apertar. Para os mais sabidos dizem que este ano a situação vai piorar, comparativamente com o anterior. Nisso é sempre bom ouvir quem tem algo de novo a dizer sobre o ambiente que nos espera no decorrer deste ano, pois logo no inicio já começamos a sentir as dificuldades. Os gestores de bancos não escondem as suas preocupações. Procuram a todo o custo ver de que maneira podem permanecer da melhor forma, num ambiente turbulento que tanto se fala. Por isso que o antigo PCA do Moza, Prakash Ratilal tranquiliza o vice Governador do Banco de Moçambique, Victor Gomes. Como se estivesse a dizer que apesar das críticas públicas, valeu apena terem tirado o Moza do fundo do poço. Outros mesmo com o ambiente caótico que vamos ter que enfrentar neste ano nem mostram-se indeferentes. Aproveitam os momentos para lançar umas gracinhas. Como se as dificuldades não lhes atingissem. É o que está acontecer nesta segunda imagem onde o antigo estadista, Joaquim Chissano, aproveita para uma conversa com a Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, Conceita Sortane, que reage com um sorriso. Mesmo sem ter admitido que existem fraquezas nas primeiras classes, resumiu todos os problemas de aprendizagem em uma só palavra - preocupante. Mesmo com o ambiente de preocupação encontramos algumas pessoas que nem por isso deixam de dar uma gargalhada. Talvez não têm com que se preocupar. Mesmo que não seja o caso devem ter encontrado algo que despoletou a chocalhada. Vejam como Luísa Diogo, PCA do Barclays Bank Moçambique partilha a risada com Salim Valá, Presidente da Bolsa de Valores de Moçambique. Deve ter descoberto um ambicioso programa de reposicionamento competitivo com vista a responder às oportunidades que as dificuldades podem trazer. Será que há algum negócio do banco por tramitar via Bolsa de Valores? Deve ser isso. Praticar desporto não é actividade para todos. A correria da vida muita vezes não deixa espaço para a prática de exercícios físicos. Mas para mostrarem que mesmo com a correria da vida é sempre possível improvisar para exercer a actividade física. As jovens cantoras Marlene e Dama do Bling não se deixam levar pelo público e aproveitaram a relva do Estádio Nacional do Zimpeto para mexer um bocado no esqueleto. Saber que alguém exerce ou exerceu uma actividade semelhante a nossa dá o prazer de estar ao lado dessa pessoa. É uma forma de recordar os tempos passados. Foi o que fez a antiga basquetebolista, agora vice-ministra da Juventude e Desporto, Ana Flávia Azinheira quando soube que a atleta que jogava num dos clubes de Angola, Leia Dongue, estava na área. Da para perceber que as duas são bem altas. Outra coisa que chama atenção são os penteados que as duas ostentam. É a moda. Já ouvi por aí que o penteado da vice-ministra da Juventude e Desporto tem é chamado de penteado da crise. Não precisa estar no cabeleireiro constantemente. Sinal de que as coisas vão apertar mesmo. Preparem mais um furo nos cintos.

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