A
eleição intercalar para a presidência do município da
cidade de Nampula, programada para o dia 24 deste
mês marca, efectivamente, a abertura do novo ciclo
eleitoral em Moçambique, que deverá culminar com
as eleições presidenciais e parlamentares do próximo ano.
É, para todos os efeitos, uma espécie de antecâmara para o
alinhamento do xadrez político moçambicano nos próximos
anos, que agora se espera que venha a ser mais interessante
com as mudanças constitucionais ainda na forja.
A participação da Renamo traz um renovado espírito de competitividade
para o processo. O efeito da Renamo ter boicotado
as últimas eleições autárquicas, em 2013, foi que elas se
tornaram apenas num duelo entre a Frelimo e o Movimento
Democrático de Moçambique (MDM), de onde esta novel
formação política saiu vencedora, à semelhança dos municí-
pios da Beira, Gurué e Quelimane. Permanece uma incógnita
que sorte teria recaído sobre esses municípios, numa eleição
entre os três do topo.
Tratando-se da terceira maior cidade do país, Nampula pode
vir a ser um importante indicador sobre para que lado pende
a balança em termos da tendência de voto para os próximos
processos eleitorais e, por essa via, poder-se determinar qual
será, de facto, a força política dominante no país.
O processo político em Moçambique já não é o mesmo de há
24 anos, quando o país realizou as suas primeiras eleições multipartidárias.
Muitos dos eleitores dessa época já não existem.
Os jovens que nasceram em 1994 estarão agora a votar pela
segunda vez, e a estes se acrescerão os nascidos em 2000, que
estarão a votar pela primeira vez.
Nenhum destes dois últimos grupos terá a sua tendência de
voto condicionada por factores históricos, como poderá ter
acontecido com os seus predecessores. Ambos devem tomar
as suas decisões em função das circunstâncias que os rodeiam,
incluindo a situação dos seus próprios progenitores (também
ainda jovens).
Este grupo de eleitores, com a excepção dos poucos já formatados
ideologicamente, tomam as suas decisões também em função
da sua crença quanto a quem lhes oferece maior confiança
sobre a segurança do seu futuro e dos seus próprios descendentes.
É por isso um terreno bastante competitivo, e os resultados
do escrutínio de Nampula serão um indicador importante para
o que se pode antecipar nas próximas duas grandes contendas.
O que significa que para os três principais partidos políticos,
Nampula não será uma simples eleição intercalar. É também
um laboratório a partir de onde sairão as estratégias organizacionais
de longo prazo.
Mas para os eleitores de Nampula, esta será mais uma oportunidade
para expressar a sua vontade política sobre quem deve
estar à frente dos seus destinos como munícipes. Para eles, a
questão será quem oferece melhores garantias para continuarem
com uma cidade limpa e bem organizada, onde serviços
essenciais como transporte público, água e saneamento são
tratados pelas autoridades com a devida seriedade e responsabilidade.
Quem com eles dialoga, e não se põe com arrogância
a vomitar ordens. E nisto, as suas experiências sobre as várias
governações ao longo de anos serão cruciais para determinar
quem fica com o troféu na mão.
A seriedade deste escrutínio exige uma responsabilidade redobrada
por parte das instituições de gestão eleitoral envolvidas,
o que requer que demonstrem um elevado sentido de respeito
pela vontade dos eleitores, e que vença quem justamente tiver
obtido o maior número de votos nas urnas, em estrita conformidade
com os requisitos da lei.
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