domingo, 14 de janeiro de 2018

Batalha por Nampula

A eleição intercalar para a presidência do município da cidade de Nampula, programada para o dia 24 deste mês marca, efectivamente, a abertura do novo ciclo eleitoral em Moçambique, que deverá culminar com as eleições presidenciais e parlamentares do próximo ano. É, para todos os efeitos, uma espécie de antecâmara para o alinhamento do xadrez político moçambicano nos próximos anos, que agora se espera que venha a ser mais interessante com as mudanças constitucionais ainda na forja. A participação da Renamo traz um renovado espírito de competitividade para o processo. O efeito da Renamo ter boicotado as últimas eleições autárquicas, em 2013, foi que elas se tornaram apenas num duelo entre a Frelimo e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), de onde esta novel formação política saiu vencedora, à semelhança dos municí- pios da Beira, Gurué e Quelimane. Permanece uma incógnita que sorte teria recaído sobre esses municípios, numa eleição entre os três do topo. Tratando-se da terceira maior cidade do país, Nampula pode vir a ser um importante indicador sobre para que lado pende a balança em termos da tendência de voto para os próximos processos eleitorais e, por essa via, poder-se determinar qual será, de facto, a força política dominante no país. O processo político em Moçambique já não é o mesmo de há 24 anos, quando o país realizou as suas primeiras eleições multipartidárias. Muitos dos eleitores dessa época já não existem. Os jovens que nasceram em 1994 estarão agora a votar pela segunda vez, e a estes se acrescerão os nascidos em 2000, que estarão a votar pela primeira vez. Nenhum destes dois últimos grupos terá a sua tendência de voto condicionada por factores históricos, como poderá ter acontecido com os seus predecessores. Ambos devem tomar as suas decisões em função das circunstâncias que os rodeiam, incluindo a situação dos seus próprios progenitores (também ainda jovens). Este grupo de eleitores, com a excepção dos poucos já formatados ideologicamente, tomam as suas decisões também em função da sua crença quanto a quem lhes oferece maior confiança sobre a segurança do seu futuro e dos seus próprios descendentes. É por isso um terreno bastante competitivo, e os resultados do escrutínio de Nampula serão um indicador importante para o que se pode antecipar nas próximas duas grandes contendas. O que significa que para os três principais partidos políticos, Nampula não será uma simples eleição intercalar. É também um laboratório a partir de onde sairão as estratégias organizacionais de longo prazo.
Mas para os eleitores de Nampula, esta será mais uma oportunidade para expressar a sua vontade política sobre quem deve estar à frente dos seus destinos como munícipes. Para eles, a questão será quem oferece melhores garantias para continuarem com uma cidade limpa e bem organizada, onde serviços essenciais como transporte público, água e saneamento são tratados pelas autoridades com a devida seriedade e responsabilidade. Quem com eles dialoga, e não se põe com arrogância a vomitar ordens. E nisto, as suas experiências sobre as várias governações ao longo de anos serão cruciais para determinar quem fica com o troféu na mão. A seriedade deste escrutínio exige uma responsabilidade redobrada por parte das instituições de gestão eleitoral envolvidas, o que requer que demonstrem um elevado sentido de respeito pela vontade dos eleitores, e que vença quem justamente tiver obtido o maior número de votos nas urnas, em estrita conformidade com os requisitos da lei.

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