por Jeferson Miola
qui, 16/03/2017 - 11:51
O truque do Janot para implodir a candidatura do Lula
O que poderia ser celebrado como sinal de normalidade institucional –
os pedidos do Rodrigo Janot ao STF para abrir inquéritos das delações
da Odebrecht – na realidade é apenas um truque do procurador-geral para
[i] proteger o bloco golpista, em especial o PSDB; mas, sobretudo, para
[ii] viabilizar a condenação rápida do Lula e, desse modo, impedir a
candidatura do ex-presidente em 2018, isso se a eleição não for
cancelada pelos golpistas.
Janot seguiu fielmente Maquiavel: “aos amigos, os favores; aos
inimigos, a lei”. Os golpistas, cujos indícios de crimes são
contundentes, com provas de contas no exterior, jantares no Palácio
Jaburu, códigos secretos para recebimento de dinheiro da corrupção e
“mulas” para carregar propinas, serão embalados no berço afável do STF.
Lula, sobre quem não existe absolutamente nenhuma prova de crime, foi
denunciado por Janot e será julgado por Sérgio Moro, um juiz parcial,
que age como advogado de acusação. Ele é movido por um ódio genuíno e
dominado por uma obsessão patológica de condenar Lula com base em
convicções [sic]. Janot entregou a este leão faminto e raivoso a presa
tão ansiada.
Os fatores que permitem prospectar esta hipótese da sacanagem do Janot são:
1. as listas parciais divulgadas em 14
e 15/03/2017 implodiriam qualquer governo, quanto mais o apodrecido e
ilegítimo governo Temer – implodiriam, mas não implodirão, porque
estamos num regime de exceção;
2. foram denunciados nada menos que:
seis ministros [Padilha, Moreira Franco, Aloysio Nunes, Bruno Araújo,
Kassab e Marcos Pereira] + os dois sucessores naturais do presidente em
caso de afastamento do usurpador [Rodrigo Maia e Eunício Oliveira] + o
idealizador da “solução Michel” para estancar a Lava Jato, atual
presidente do PMDB [Romero Jucá] + o presidente do PSDB [Aécio
“tarja-preta”] + quatro senadores da base do governo + cinco
governadores + três deputados que apóiam Temer + três senadores da
oposição + dois deputados de oposição;
3. uma pessoa iludida poderia
concluir: “é uma decisão corajosa e imparcial do Janot”; afinal, ele
investiga personagens poderosos e, aleluia, inclusive o PSDB. Ilusão:
esta é, exatamente, a manobra diversionista do Janot;
4. os denunciados do governo golpista, todos eles, inclusive os sempre protegidos tucanos, têm foro privilegiado,
e por isso serão investigados pelo STF, e não nas instâncias inferiores
do judiciário [com minúsculo]. É verdade que Janot denunciou também
golpistas sem foro privilegiado. Esses, porém, são as “genis” Eduardo
Cunha e Sérgio Cabral, já presos; e Geddel Vieira Lima, que já está no
corredor do cárcere;
5. o supremo [com minúsculo],
demonstram estudos da FGV, é a instância mais lenta, mais politizada
[eventualmente mais partidarizada, para não dizer tucana] e mais
inoperante do judiciário. A primeira lista do Janot, por exemplo, entrou
no sumidouro do STF há dois anos [em março/2015], e lá dormita até
hoje, sem nenhuma conseqüência na vida dos políticos denunciados por
corrupção;
6. a composição ideológica do STF é
aquela mesma que, agindo como o Pôncio Pilatos da democracia brasileira,
lavou as mãos no processo do impeachmentfraudulento, e assim
converteu o supremo em instância garantidora do golpe de Estado que
estuprou a Constituição para derrubar uma Presidente eleita com
54.501.118 votos;
7. é fácil deduzir, portanto, qual
será a tendência do STF na condução dos processos dos golpistas. Se
esses julgamentos iniciarem antes de 2021, será um fato inédito.
A lista do Janot é um instrumento ardiloso da Lava Jato e da mídia
para a caçada do Lula. Janot faz como o quero-quero, pássaro que grita
longe do ninho para distrair os intrusos, afastando-os dos seus
filhotes.
As instituições do país estão dominadas pelo regime de exceção que
violenta a Constituição para permitir um processo agressivo e continuado
de destruição dos direitos do povo, das riquezas do país e da soberania
nacional.
O anúncio imediato da candidatura presidencial do Lula, abrindo uma
etapa de mobilizações permanentes e gigantescas do povo, é a urgência do
momento. É a garantia de proteção popular do Lula contra os arbítrios
fascistas do regime de exceção e, ao mesmo tempo, fator que pode
modificar a correlação de forças na sociedade.
O êxito dos protestos deste 15 de março, que levaram milhões de
trabalhadores às ruas em todo o país, é um sinal positivo da retomada da
resistência democrática e da luta contra o golpe e os retrocessos.
A democracia e o Estado de Direito somente serão restaurados no
Brasil com a mobilização popular intensa e radical, e a candidatura do
Lula é um motor para esta restauração.
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