segunda-feira, 13 de março de 2017

O MDM É UM PARTIDO “PHAKAMA”

CENTELHA por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )

Na vida, os jogos es­tão preparados, mas ainda assim, cada um pode escolher a sua partida. Goe­the citado pelo Pe. Manuel Maria Madureira da Silva
“PHAKAMA”, segundo a explicação de um amigo, é um termo de origem changa­na que numa tradução livre significa árvore que nasce por cima da outra. Quer dizer: ár­vore parasita. A sua existência depende da árvore mãe. Pode até ser uma árvore frondosa e dar frutos suculentos, mas as suas raízes não estão assentes no chão (terra). A actual crise política que ameaça colapsar o “partido do galo” tem a ver essencialmente com a sua gé­nese.
O MDM é fruto da en­xertia da Renamo e que, desde a sua turbulenta criação, não soube fazer a diferença, senão perpetuar os defeitos da “per­diz.” Tal como a Renamo, o MDM não foi capaz de cons­truir uma única academia (es­cola política, para a produção do conhecimento) que ser­visse de local de reflexão dos problemas que afectam o país, pelo contrário, construí caste­los onde cada rei (edil) tem os seus servos. É por esta razão que o MDM circunscreve-se, hoje, às autarquias locais, de tal modo que o partido não tem um eleitorado próprio.
À semelhança da Renamo, o seu eleitorado construiu-se, não com base na sua epístola po­lítica (programa do partido), mas sim assente na influência ou popularidade de determi­nadas figuras intocáveis do partido.
Existe um perigo para este tipo de governação: a zanga de um dos reis (edis) faz es­tremecer a existência do par­tido, porque esses carregam  consigo os seus apoiantes. É
o velho problema do tribalismo, regionalismo e localismo que atacam os partidos da oposição. Como diria o meu amigo Nkulu: os membros e simpatizantes desses partidos, amam mais os párocos (os edis) em detrimento da paróquia (o partido). Infelizmente, os párocos passam, a paróquia fica. Mas há mais.
Substituem-se o papel de academias por congressos, estes por sua natureza são restritivos e muitas vezes servem para legitimar as ideias dos grupos dominantes que detêm o poder no seio dos partidos políticos. O exemplo disso são os mais recentes pronunciamentos do edil de Nampula que ameaça deixar o partido. Não quero acreditar que o mote da zanga entre Mahamudo Amurane e o seu partido seja por causa da corrupção que não é um fenómeno novo no país. Bem antes da sua tomada de posse como presidente do Concelho Municipal da Cidade de Nampula, Amurane sabia que teria de fazer cedências silenciosas e atender as fomes dos seus companheiros de trincheira.
Em África recusar estes costumes enraizados na sociedade moçambicana é cavar a própria sepultura política. Se estamos lembrados, Amurane exonerou alguns vereadores parasitas indicados pelo seu partido, mas não conseguiu ainda descentralizar e desconcentrar o poder local.
O braço-de-ferro que impõe contra a liderança do MDM acontece porque Amurane conseguiu sair do anonimato, tem obra feita, firmou-se politicamente e possui algumas gorduras financeiras. De contrário, teria sido excomungado e trucidado politicamente pelo sistema. É uma hipótese que tenho estado a meditar: se de facto o edil de Nampula decidir abandonar o partido, o futuro candidato do MDM dificilmente conseguirá resultados satisfatórios no processo eleitoral autárquico que se avizinham. Mas a existência de uma academia do partido abriria espaços de concorrência e formaria pupilos do amanhã e não vaidosos adamastores do presente.
Outro erro que o MDM comete é de entregar cargos de chefia a malandros, fanfarrões e sabichões que outrora foram varridos no palco da vida da Renamo. Conforme escreveu o padre Manuel Maria Madureira da Silva, o curriculum não mencionam as deficiências, razão pela qual confia-se cegamente cargos de responsabilidade a aselhas, corruptos, espiões, etc., que mais tarde criam um clima de crispação no partido.
Por outro lado, atribui-se, igualmente, cargos de chefia a pessoas que carregam um ódio visceral contra a Frelimo.
Como é óbvio, o ódio não ajuda a pensar positivo, pois distorce a mente e mina qualquer possibilidade de diálogo e reconciliação entre as partes. Como a falsa santidade não dura, quando a estiagem lhes acaba e o preço da fama lhes é caro, tornam- -se um animal perigo não só para o partido, mas também para o país, porque muito deles dirigem a coisa pública.
Eu não diria que o MDM tenha acabado ou que esteja à beira de colapsar (primeiro porque não sou vidente, além de que os furúnculos na carne humana não significam a sua amputação, pois os conflitos servem para amadurecer os processos de relacionamento e de decisão) mas uma coisa, porém, é certa: estão a ser criadas todas as condições necessárias através de decisões erradas e políticas aberrantes de “dividir para reinar”, para que o MDM deixe de ser a terceira força política do país.
Se na Renamo o poder está nas mãos do seu líder Afonso Dhlakama e dos seus familiares; no MDM são os irmãos Simango que comandam o game, pese embora, do ponto de vista no político, sejam anões comparativamente a alguns colossos do partido.
Não se conhece por exemplo nenhum pensamento político (frases marcantes) de Daviz ou de Lutero, ao contrário do que acontece com as lucubrações mentais e intervenções acutilantes de Araújo e de Amurane). Ignorantes? Longe de mim este pensamento.
Mas nesta altura de campeonato em que o presidente Nyusi aumenta o caudal da sua popularidade devido a métodos de governação samoriano virados para o povo, outra liderança no MDM e no parlamento (se o regimento o permitir) exige-se. Caso  contrário, a liderança e a actuação do clã Simango afastará os melhores militantes do MDM, basta que continue essa “ditadura” (eu sou, eu posso, eu mando). Enquanto for este o figurino, de familiarização do seu partido, como também acontece com a Renamo, haverá descontentamento e fricção.
Se é verdade que Dhlakama é um leão sem dentes e que a sua idade está a entrar  no poente para continuar a sonhar com a presidência da República, não é menos verdade que Simango deve se acostumar com a ideia de deixar o município da Beira, onde é um verdadeiro imperador, e vir instalar-se em Maputo para fazer política activa e não esconder-se por detrás da edilidade, se quiser que os prognósticos do meu conterrâneo Vaz estejam errados.
Não se engane pelos resultados que teve nos últimos anos, quando o MDM conquistou mormente algumas autarquias, porque o MDM só existe politicamente porque a Renamo assim o quer. O MDM é um partido “Phakama” da Renamo e a sua sobrevivência como tal, como várias vezes disse Dhlakama, depende da Renamo.
Eternos exemplos de comportamentos negativos e desviantes que conduzirão o MDM ao colapso seriam aqui elencados, mas, por ora, são muitos os afazeres académicos e profissionais que vencem com maioria absoluta o tempo que dispunha para escrever este texto.
Zicomo e um abraço nhúngue a Maria, a Lorena e a Eunice.
WAMPHULA FAX – 13.03.2017

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