sexta-feira, 17 de março de 2017

Mulheres temem violência e assédio sexual nas noites de Maputo


Cidadãs pedem o endurecimento das penas para os agressores, o reforço do patrulhamento policial, mais transportes e mais iluminação das vias públicas.
Plakat Ende der sexuellen Gewalt in Mosambik (DW/L.Matias)
Noventa por cento das mulheres e raparigas que circulam depois das 10 horas da noite nas ruas da capital moçambicana têm medo, dá conta um estudo elaborado pela ONU Mulher. O documento, recentemente divulgado pela agência especializada das Nações Unidas, afirma ainda que 60% das mulheres e raparigas que circularam à noite nos últimos 12 meses na cidade de Maputo foram vítimas de violência ou assédio sexual.
A DW África percorreu as ruas de Maputo no período noturno, ouvindo várias mulheres que se queixaram da insegurança. A maioria são trabalhadoras de casas de pasto, nomeadamente, restaurantes, pastelarias, bares e quiosques, e também estudantes. Carlota da Conceição é funcionária pública e entende que o fenómeno já tem uma consequência direta.
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Mulheres temem violência e assédio sexual nas noites de Maputo

"Temos visto casos em que meninas e jovens que estudam à noite, muitas delas que vivem em zonas suscetíveis de assaltos ou violência contra a mulher, param de estudar porque têm esse tipo de problemas”, dá conta.
Uma solução que não é opção para as mulher trabalhadoras, explica Felicidade Mazanga, empregada de uma casa de pasto na baixa da cidade. "Penso muito em desistir (de trabalhar à noite) mas não tenho como, principalmente com esta crise”, confessa.
Arminda Vasco Mosambik (DW/L.Matias)
Arminda Vasco Mosambik
Arminda Vasco, também trabalhadora de uma casa de pasto na baixa de Maputo, sofre o mesmo dilema. "Tenho que trabalhar porque tenho filhos que dependem de mim”, afirma.
Muitas mulheres saem do local de trabalho depois das 10 da noite, numa altura em que os transportes públicos já não estão a circular. Mesmo assim,  vão à paragem tentar a sua sorte.
Quando o transporte público não chega, são obrigadas a apanhar as carrinhas de caixa aberta vulgo "my love” ou caminhar a pé até a casa, chegando a percorrer mais de cinco quilómetros. No entanto, e com medo da violência, já adotaram alguns mecanismos de defesa, como por exemplo, "sair em grupos”.  No entanto, acrescentam, "às vezes não é possível porque trabalhamos em turnos. Por exemplo, hoje só estamos nós as duas”.
Que soluções?
Carlota da Conceicao Mosambik (DW/L.Matias)
Carlota da Conceição
Para Carlota Conceição o cenário é preocupante. "A sociedade deve parar e começar a ver o que deve ser feito em relação à proteção da mulher”, afirma. Já Arminda Mahumane, vendedora informal em Maputo, mas residente na vizinha cidade da Matola,  é a favor de medidas administrativas. Segundo esta cidadã, " devem haver mais leis. Por exemplo, os (homens) que violam mulheres deviam ser detidos.”
Arminda Jaime defende que devem "haver mais polícias para protegerem as ruas, sobretudo à noite”.
Na opinião da representantes da ONU Mulher em Moçambique, Florence Raes, para combater o fenómeno é preciso realizar mais palestras, reabilitar espaços recreativos e não só.
É necessária ainda que haja uma "reabilitação do espaço urbano para que não tenhamos tantos becos estreitos e sem iluminação”.
Farouk Simango (DW/L.Matias)
Farouk Simango
Associação Coalização da Juventude atenta
Uma das organizações que tem estado envolvida no combate ao fenómeno é a Associação Coalização da Juventude Moçambicana. À DW África, Farouk Simango, coordenador da organização, dá conta do trabalho que têm vindo a desenvolver neste sentido: "mostramos através de campanhas de sensibilização, através de eventos culturais, como música, teatro e desporto, que é importante eles saberem como se comportar e evitarem situações de violência e violação sexual”, afirma.

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