Le Pen é mais forte junto dos eleitores jovens e mais fraca junto dos pensionistas. O partido aumenta o apelo à juventude com uma mudança na sua imagem.
Há apenas alguns anos era difícil encontrar jovens dispostos a admitir que eram militantes da Frente Nacional (FN). Quando um jornalista foi à procura de membros da juventude partidária da FN durante a última campanha presidencial, a maioria só estava disposta a falar se os seus nomes fossem omitidos.
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Cinco anos depois, os jovens activistas que apoiam a candidatura de Marine Le Pen dizem que já não têm nada a esconder, à medida que ela avança para um primeiro lugar na primeira volta, a 23 de Abril.
“Isto gera discussões animadas”, diz Corentin Corcelette, estudante de Economia de 21 anos que, longe de manter em segredo as suas opiniões, afirma que na universidade conversa sobre as vertiginosas eleições presidenciais com amigos de todas as cores políticas.
Sentado no mesmo carro, enquanto percorriam Lyon para afixar cartazes “Marine Président”, o estudante de Biologia de 21 anos Rémi Berthoux também teve todo o gosto em dizer o nome ao jornalista. Juntou-se à FN há dois anos, contou com orgulho, “para defender os valores da França”.
Outrora limitados a ficar na sombra, os jovens apoiantes da Frente Nacional vieram para a rua, à medida que os eleitores da sua idade se alinham atrás de Le Pen. Sondagens diárias da empresa Ifop demonstram, de forma consistente, que a candidata consegue obter quase um terço do voto jovem à primeira volta, derrotando facilmente todos os adversários, embora ainda se preveja que perca a segunda volta, a 7 de Maio.
Le Pen tem mais sucesso junto dos eleitores com menos de 25 anos do que junto da população em geral, por uma margem que chega a 7 pontos percentuais. Isto é uma grande reviravolta face à sua primeira candidatura à presidência, há cinco anos, quando obteve 15% do voto jovem, uma percentagem cerca de três pontos abaixo dos seus resultados globais.
Desintoxicar a marca
Conquistar os eleitores jovens tem sido um êxito para a campanha de Le Pen no sentido de “desintoxicar” a marca Frente Nacional. No passado, quando os membros da FNJ, a juventude partidária da FN, afixavam cartazes, “faziam-no a meio da noite”, diz Sylvain Crepon, um investigador da Universidade de Tours que estuda a extrema-direita francesa. “Andavam com tacos de basebol para se protegerem e muitas vezes estavam acompanhados de skinheads”, prossegue. “Agora podem fazer isso em plena luz do dia, o que mostra que as pessoas já estão mais habituadas à FN. Tornou-se mais aceitável.”
Não havia qualquer taco de basebol nem skinhead à vista naquele fim de tarde do mês passado, em que um grupo de jovens bem-parecidos que incluía Corcelette e Berthoux pendurava cartazes de Le Pen nas ruas e no campus da universidade de Lyon. “Não nos vemos de todo como sendo de extrema-direita, mas como patriotas que estão desiludidos com os outros partidos”, adianta David Sedoff, um empregado de armazém de 26 anos.
Os dados demográficos são uma das grandes diferenças entre a vaga de extrema-direita na Europa continental e a ascensão de populistas na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, ocorrida no ano passado. O Presidente norte-americano, Donald Trump, e a campanha para tirar o Reino Unido da União Europeia sofreram pesadas derrotas entre os eleitores jovens, mas conquistaram vitórias com o apoio esmagador dos pensionistas.
No caso de Le Pen, os dados demográficos são quase exactamente o oposto. Ela obtém bons resultados junto de todas as categorias de eleitores jovens: os menores de 25 anos, os menores de 35 e os menores de 45. Os seus piores resultados são entre os pensionistas: os maiores de 65 anos são a única faixa etária em que Le Pen aparece consistentemente atrás dos rivais nas sondagens para a primeira volta.
Ao contrário dos seus primos anglo-saxónicos, os políticos populistas da Europa continental como Le Pen, o holandês Geert Wilders e o italiano Beppe Grillo transformaram os eleitores jovens no seu eleitorado mais importante. Eles alimentam-se do ressentimento de uma geração que parece ter poucas esperanças de conseguir igualar o nível de vida dos pais.
Em França, quase um quarto dos trabalhadores com menos de 25 anos estão desempregados, em comparação com uma taxa de desemprego nacional de 10%, segundo os dados oficiais do ano passado.
Mesmo os jovens que têm a sorte de arranjar emprego trabalham geralmente sob condições muito menos generosas do que as gerações anteriores. Mais de metade dos trabalhadores com menos de 24 anos só tem contratos temporários ou postos em empresas que trazem poucas garantias e direitos, em comparação com 85% dos trabalhadores franceses, que têm contratos a tempo inteiro com fortes protecções laborais.
Enquanto o tema de mudança dramática usado por Le Pen apela a muitos eleitores jovens, os seus avós beneficiam das pensões generosas do statu quo e estão preocupados com os efeitos que o plano de Le Pen para abandonar a UE e o euro poderá ter nas suas poupanças.
Os eleitores jovens também têm menos probabilidade de associar a Frente Nacional ao seu fundador, Jean Marie Le Pen, pai de Marine, que atingiu um máximo de 17,8% dos votos nas suas repetidas corridas à presidência e que nunca fez a transição para a corrente dominante.
Jean Marie Le Pen foi condenado repetidamente por ódio racial até que a filha o baniu do partido.
Mudança de visual
Desde então, Marine Le Pen reconstruiu cuidadosamente a imagem do partido e distanciou-se do pai. O site oficial da campanha e os cartazes referem-se a ela como “Marine” – sem o apelido – e ela evita o símbolo em forma de tocha do FN, usando em vez disso um novo logótipo, uma rosa azul.
Marine Le Pen costuma insistir nas questões económicas, apresentando a FN como defensora dos eleitores de classe operária deixados para trás na década que se seguiu à crise financeira global e culpando a União Europeia em geral, e o euro em particular, por tornar a França menos competitiva.
Contudo, a hostilidade para com a imigração e a desconfiança face ao islão continuam a ser princípios centrais do partido. Num país que tem a maior minoria muçulmana da Europa e que sofreu uma sucessão de ataques do islamismo militante nos últimos dois anos, a xenofobia da FN já não é o obstáculo para atrair eleitores jovens que costumava ser.
O site do movimento jovem FNJ declara orgulhosamente: “100% Frente Nacional! 0% imigrantes!”
“A Europa, a imigração, sou contra isso tudo”, declara Éric Barbosa, um padeiro de 20 anos, numa reunião da secção de Paris da FNJ.
A chegada relativamente recente da Frente Nacional enquanto força eleitoral de sucesso dá-lhe uma vantagem em relação aos partidos tradicionais no que diz respeito a atrair jovens activistas que procuram fazer carreira política.
A FN oferece mais oportunidades a jovens ambiciosos de deixarem a sua marca do que os partidos do pós-guerra de centro-esquerda e centro-direita, nos quais as vagas para ocupar cargos estão bloqueadas por titulares mais velhos e por veteranos. Os candidatos da FN às eleições locais e regionais são sistematicamente os mais novos da área e muitas vezes têm vinte ou trinta e poucos anos.
Isto implica uma entrada rápida na política de primeira linha para pessoas como Victor Birra, de 23 anos, um aluno de Gestão que aderiu à juventude FNJ há cinco anos e actualmente é o seu dirigente na região de Lyon. Birra descreve a juventude partidária como uma “academia para quadros da FN”, comparando-a aos grandes institutos públicos que tradicionalmente produzem grande parte dos políticos franceses. Mas as ambições futuras dependem, em primeiro lugar, de conseguir obter votos para Le Pen, admite Birra. “Estamos a lutar para vencer as presidenciais.”
Santana desafia Sampaio para debate televisivo sobre crise política de 2004
O antigo primeiro-ministro desafiou o ex-Presidente da República para um debate civilizado perante as câmaras de televisão sobre os factos ocorridos em 2004 e que resultaram no fim do seu mandato.
Pedro Santana Lopes desafiou Jorge Sampaio para um frente-a-frente televisivo para esclarecer todos os factos sobre o processo que resultou na dissolução da Assembleia da República e consequente convocação de eleições em 2004.
Se o Dr. Jorge Sampaio porventura quiser falar disto civilizadamente perante as câmaras de televisão, eu tenho todo o gosto”, afirmou na terça-feira à noite o ex-primeiro-ministro, no seu espaço de comentário na SIC Notícias.
O ex-presidente da Câmara de Lisboa comentava assim as declarações do ex-Presidente da República no segundo volume da sua biografia, da autoria do jornalista José Pedro Castanheira. Segundo a obra biográfica, Jorge Sampaio revela o seguinte: “Fartei-me do Santana como primeiro-ministro, estava a deixar o país à deriva, mas não foi uma decisão ad hominem. Ninguém gosta de dissolver o Parlamento e eu tomei essa decisão em pouco mais de 48 horas. Hoje faria o mesmo, porque era preciso”.
No mesmo espaço de opinião, Pedro Santana Lopes sugere que Jorge Sampaio tem “peso na consciência” por ter deixado caminho aberto à ascensão de José Sócrates, primeiro-ministro que se viu forçado a pedir a intervenção da troika e que está agora envolvido como principal suspeito da Operação Marquês.
Compreendo que Jorge Sampaio tenha peso na consciência porque a decisão dele é que pôs o país à deriva. Veja a semana em que o livro aparece, veja só. Eu acho que ele [Sampaio] deve viver nesse tormento. Essa dissolução deu origem aquilo de que andamos a falar todos os dias”, afirmou Santana Lopes.
No livro, o biógrafo de Sampaio, apoiando-se em revelações do próprio, sugere que o ex-Presidente da República desconfiava há muito dos planos de Santana Lopes e Durão Barroso. Para Santana Lopes, as alegações de que ele e Durão já tinham há muito tempo arquitetado que o primeiro sucederia ao segundo no cargo de primeiro-ministro, quando chegasse o momento de Durão rumar a Bruxelas, são “coisas de criança”.
Na mesma obra, o antigo Presidente da República garante que a dissolução “não foi vingança”, até porque “tinha boas relações pessoais” com Pedro Santana Lopes. “A minha relação com Santana era muito franca e cordial. Não tinha (nem tenho) nada de pessoal contra ele – tenho até estima. O Presidente tem de ter um diálogo com o primeiro-ministro na base da confiança e tive conversas muito positivas com ele. Pediu-me opinião várias vezes, dei-lhe conselhos francos, mas estive sempre preocupado com o desenrolar dos acontecimentos, que se precipitaram muito rapidamente até descambarem na confusão.”
A 28 de julho, Jorge Sampaio e Pedro Santana Lopes fizeram finalmente as pazes quando assinaram o memorando que permitia a atribuição de dez bolsas de estudo, no valor de cerca de 50 mil euros por ano, a jovens estudantes sírios. Para a história, no entanto, ficam as “memórias de um Governo curto onde aconteceu tudo“.
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observador.pt