Os
resultados alcançados pela UNITA, maior partido da oposição em Angola,
nas eleições gerais de sexta-feira, que lhe conferem uma subida de oito
por cento relativamente a 2008, surpreendeu analistas políticos
angolanos próximos do MPLA.
A União
Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) segue, já perto do
fim da contagem provisória dos resultados, com 18,59 por cento dos
votos, num total de 1.020.393 de eleitores, um aumento, valores muito
acima dos alcançados nas legislativas de 2008, quando obteve 10,39 por
cento dos votos, num total de 670.363 eleitores.
Em
declarações à Agência Lusa, o presidente da Associação cultural Chá de
Caxinde, Jaques dos Santos, ex-deputado do MPLA, partido no poder,
manifestou-se "surpreso com a subida da UNITA".
"Estava à
espera que se mantivesse no mesmo patamar de 2008 e que a CASA (nova
coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola, liderada
pelo dissidente da UNITA, Abel Chivukuvuku) fosse usurpar parte desses
votos", disse Jaques dos Santos.
A mesma
surpresa é manifestada por Mário Pinto de Andrade, reitor da
Universidade Lusíada de Angola, e membro do Comité Central do MPLA, que
considera, nessa ordem de ideias, os resultados alcançados pela UNITA
"uma vitória".
"A UNITA
subiu na votação destas eleições, comparativamente a 2008, mas, apesar
da derrota, deve sentir-se satisfeita, porque se pensava que o 'fenómeno
Chivukuvuku', 'o factor surpresa' fosse roubar votos à UNITA, mas não",
sublinhou Mário Pinto de Andrade.
Por outro lado, os dois analistas mostraram preocupação em relação aos resultados alcançados pelo MPLA.
O MPLA
ganhou, segundo os últimos dados preliminares divulgados pela Comissão
Nacional Eleitoral (CNE), as eleições gerais de Angola, realizadas a 31
de agosto, com 71,96 por cento de votos de 3.948.230 de eleitores, dos
9.757.671 registados, quando faltam escrutinar cinco por cento dos
votantes.
Segundo Jaques dos Santos, "houve uma transferência de votos do MPLA para a UNITA e para a CASA-CE".
"O MPLA,
que é o meu partido, sou militante de base, tem de fazer uma reflexão
muito grande do que aconteceu. Não é com bailes e festas que se consegue
a adesão da população", disse Jaques dos Santos.
"O voto
conquista-se com gestos palpáveis para melhorar a vida da população e
não com passeatas", criticou o presidente da associação cultural,
acrescentando: "Vamos ver se temos outro comportamento e se o partido é
dirigido de outra forma, mais próxima das pessoas".
Já Mário
Pinto de Andrade apontou a necessidade de o MPLA analisar a perda de 10
por cento da população votante, referindo-se também aos votos em branco e
às abstenções, que considerou "um dado preocupante".
"O MPLA
ganhou bem, mas os resultados em comparação a 2008, não podemos nos
esquecer que o MPLA perdeu cerca de 10 por cento da população votante, é
preciso analisar também a questão dos muitos votos em branco, bem como
os votos de Luanda", frisou.
Por seu
turno, Jaques dos Santos considerou "impensável" o nível de abstenção
nestas eleições e os mais de 200 mil votos em branco, lidos como "uma
forma de protesto".
"O recenseamento geral teve cerca de 10 milhões de votantes e votaram mais de cinco milhões", assinalou Jaques dos Santos.
Apesar de
a CNE não avançar dados sobre a abstenção, é já possível antever, a
partir dos resultados preliminares, que mais de 40 por cento dos
eleitores não participaram na votação.
(RM/Lusa)