No período da luta anti-colonial
Pretória
(Canalmoz) – Na nossa edição de ontem, fizemos referência à divulgação,
pelo Departamento de Estado norte-americano, do 28° Volume de
documentos relacionados com a política externa norte-americana no
período compreendido entre 1969 e 1976. Do vasto número de documentos,
consta o “memorando” de um encontro realizado na Casa Branca a19 de
Abril de 1975, entre uma delegação zambiana chefiada pelo presidente da
Zambia, Kenneth Kaunda, e o presidente norte-americano, Gerald Ford.
Kaunda fez-se acompanhar do ministro dos negócios estrangeiros zambiano,
Vernon Mwaanga, do assessor presidencial, Mark Chona, e do embaixador
zambiano nos Estados Unidos, Siteke Mwale. Presentes estavam ainda o
secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, e o seu
assistente para os assuntos africanos, Nathaniel Davis.
O
“memorando” deixa transparecer de forma clara a intenção de Kaunda em
obter apoio americano para a UNITA na sequência do golpe de Estado de 25
Abril em Portugal.
Kaunda
pretendeu criar a impressão entre os seus interlocutores de que a
Zâmbia não havia apoiado a UNITA antes desse golpe, mas que também “não a
havia ignorado”. Contradizendo-se, Kaunda disse depois que a Zâmbia
havia proposto o reconhecimento de Savimbi pela OUA, acrescentando que
os dirigentes do partido então no poder na Zâmbia, a UNIP, “haviam
ficado impressionados com a sinceridade e honestidade de Savimbi”.
Diz
o “memorando”que durante o encontro na Casa Banca, Kaunda alegou que
não era somente a Zâmbia que tinha essa opinião de Savimbi. Segundo ele,
Samora Machel partilhava da mesma opinião.
Rezam
os factos, que a Frelimo apostou sempre numa tomada do poder em Angola
pelo MPLA. Já depois da independência de Moçambique, a Frelimo enviou
tropas e equipamento militar para defender as forças de Agostinho Neto,
em Luanda. Em livro de memórias publicado recentemente, Sérgio Vieira
revelou que o governo moçambicano havia enviado para a capital angolana
os chamados “órgãos de Stalin” para assegurar a vitória do MPLA na
contenda que envolvia a FNLA e a UNITA e respectivos aliados.
A
uma pergunta do presidente Gerald Ford se havia “diferenças ideológicas
substanciais” entre os líderes angolanos, Kaunda respondeu que “o MPLA e
o seu líder, Neto, seguem a linha de Moscovo” e que “o MPLA é
financiado por Moscovo”.
Lê-se
ainda no “memorando” que Kaunda alegou que os líderes da África Austral
haviam concordado que Savimbi deveria ser o futuro presidente de
Angola, mas que a ideia “não havia ainda sido apresentada a Savimbi”.
Kaunda salientou que “independentemente do resultado das eleições a
terem lugar em Angola, Savimbi será o presidente”.
A
evolução da situação política angolana permitiu que Kaunda se
evidenciasse como o líder da África Austral que mais se opôs à
intervenção cubana em Angola, prestando à UNITA e ao seu líder, Jonas
Savimbi, todo o apoio da Zâmbia.
À
medida que os Estados membros da OAU iam reconhecendo o governo do MPLA,
Kaunda, num volte face, declarou-se inimigo figadal de Savimbi e da
UNITA, à semelhança daquilo que havia feito antes em relação ao COREMO,
movimento moçambicano amparado pela Zâmbia desde a sua fundação em 1965,
mas que depois do golpe de «25 de Abril», os seus líderes e quadros
militares seriam presos e muitos deles entregues pelas autoridades
zambianas à Frelimo para “julgamentos populares” em Nachingwea. Kaunda
fez questão de estar presente nesta base militar da Frelimo em
território tanzaniano para dar o seu aval aos ditos “julgamentos”. (Redacção)