Em conferência de imprensa, o sucessor de Hugo Chávez comparou o que lhe está a ser feito com o que foi feito na Líbia. Citou o músico dos Beatles e afirmou: "Querem destruir um país".
O sucessor de Hugo Chávez na presidência da Venezuela, cuja legitimidade foi desafiada recentemente pelo seu opositor Juan Guaidó e por vários países internacionais, voltou esta sexta-feira a reiterar a recusa de marcação de eleições presidenciais no país:
Se convocássemos eleições, eles iriam inventar qualquer coisa para não ir a votos, como aconteceu em 2017. Eles não querem eleições, querem um golpe de Estado, tipo [o do] Pinochet. Eles querem impor um Pinochet à Venezuela”, apontou.
Maduro queixou-se novamente da União Europeia, referindo: “A UE está condenada ao fracasso se continuar a ouvir a e a obedecer à extrema direita da Venezuela. Só pedimos à UE que nos oiça. Vamos fazer-nos escutar pela UE. Conseguiram tornar as relações internacionais com a Venezuela ideológicas, mas não podem perceber o que se passa neste momento na Venezuela”.
O sucessor de Chávez comentou ainda a posição do Grupo de Contacto Internacional, em que estão reunidos representantes de vários países internacionais — entre os quais, Portugal –, que defende a libertação de presos políticos no país e a marcação de eleições presidenciais no país: “Não estamos de acordo com a parcialização e teor ideológico do Grupo de Contacto, mas estou pronto para receber e restabelecer contacto com qualquer membro desse grupo. Dou as boas vindas ao Grupo de Contacto da UE, ainda que que esteja em desacordo com o seu teor ideológico e enviesado”.
Estou preparado para dialogar com qualquer pessoa, em qualquer momento, pessoalmente ou através de enviados” do regime, garantiu.
“Podem trazer um milhão de soldados”
Citando John Lennon para apelar à paz no país, Maduro agradeceu “a proteção de Deus” que evitou que fosse morto numa das alegadas tentativas de atentado de que garante ter sido alvo. E comparou a oposição de que tem sido alvo (motivada por acusações de fraudes eleitorais) com as investidas internacionais na Líbia: “Há pontos em comum entre a polícia que levou à destruição e desmembramento da Líbia e a política que estão a ensaiar e a aplicar na Venezuela”.
Neste momento, para Maduro, está em curso uma tentativa de “destruir países independentes com recursos natuais”, encomendada pelos EUA para “introduzir uma fonte de caos e de desmembramento”. Questionado sobre o que fará se chegassem tropas norte-americanas à fronteira entre a Venezuela e a Colômbia, Maduro respondeu: “Se vierem, que fiquem aí. Podem trazer um milhão de soldados. Que se protejam as mulheres colombianas das violações dos soldados norte-americanos”.
Sobre a crise económica decorrente das restrições à venda de petróleo a países ocidentais, nomeadamente os EUA, o sucessor de Chávez referiu: “O petróleo venezuelano terá sempre mercado. A aposta mesquina em travar a venda de petróleo ao mundo é, além de insensata, criminosa”. A crise atual na Venezuela decorre “de uma falta de sensatez total, que vem dos extremos, dos loucos que assaltaram o poder na Casa Branca, que impõem pressão, pressão e pressão à quinta coluna num país”.
Ajuda humanitária? “É um show barato. Não somos mendigos”
Um dos pontos mais vincados por Nicolás Maduro na conferência de imprensa desta sexta-feira em Caracas foi a garantia de que o Estado venezuelano está em funcionamento pleno e não é necessário intervenção humanitária no país. “O Estado venezuelano está a funcionar com todos e cada um dos seus poderes. Só há uma perturbação num poder, o legislativo, mas isso vai resolver-se com eleições”, apontou, reiterando a recusa da legitimidade da Assembleia Nacional liderada pelo autoproclamado novo presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó.
Se a palhaçada que foi assumirem uma presidência interina tivesse alguma vigência legal, já teriam que ter convocado eleições, como fiz em 2013. Foi a primeira coisa que fiz. Eles dizem que vão esperar 12 meses”, referiu.
Voltando à UE para a acusar de ainda “estar surda perante uma revolução de há 20 anos”, Maduro defendeu que foi montado “um showbarato” sobre a necessidade de ajuda humanitária no país para “intervir na Venezuela e humilhar os venezuelanos”. “A Venezuela não vai permitir o show de falsa ajuda humanitária porque não somos mendigos de ninguém”, disse ainda. Nos últimos dias, os militares venezuelanos bloquearam uma ponte que liga o país à Colômbia. O bloqueio foi visto pelos críticos de Maduro como uma tentativa de impedimento da chegada de ajuda humanitária ao país. O regime de Maduro vê a ajuda humanitária como uma desculpa para a intervenção militar externa no país.
O seu país, garante, “não está perante nenhuma crise humanitária” — esta foi “fabricada desde Washington para poderem intervir no nosso país”. Maduro expressou ainda apoio à posição do “grupo de Montevideo”, que inclui representantes de regimes da América Latina (entre os quais o Uruguai) que expressou recentemente “solidariedade ao povo e ao governo da Venezuela”, que consideram “legítimo”.