quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Sobre os 18 arguidos da PGR


Sobre os 18 arguidos da PGR
PGR escreveu anteontem, em comunicado, que tem 18 arguidos constituídos no âmbito do processo "Dívidas Ocultas". É a primeira vez que dá a informação da existência de arguidos no caso. A informação oficial, dada pela própria PGR, primeiro no Parlamento e depois em comunicado da mesma PGR, e sufragada no informe de Dezembro último pelo Chefe de Estado, era de que o caso estava entregue ao Tribunal Administrativo.
Bom, nada impede que corram, em paralelo, processos nas jurisdições administrativa e judicial. Mas nunca fora dito que estavam a correr. Só agora que as autoridades sul-africanas prenderam Chang e ameaçam extraditá-lo aos EUA.
Já agora, quem são os 18 arguidos constituídos pela PGR? Quando despoletou o caso Embraer, a PGR emitiu comunicado com nomes dos arguidos e dos tipos legais de crime que estavam na acusação contra os três, um dos quais de branqueamento de capitais. Isso foi a 6 de Dezembro de 2017. É perfeitamente verificável. E o valor da causa daquele processo eram 800 mil USD. E Zucula, Viegas e Zimba foram detidos e lhes arbitradas cauções no valor total de 14.5 milhões de meticais para aguardarem o curso do processo em liberdade, para além de outras medidas no âmbito do poder coactivo do Estado.
Nas dívidas ocultas, o valor da causa é de 2 biliões de USD. Há 18 arguidos, diz a PGR, mas nenhum deles está detido, que saibamos (por que não há comunicado igual ao que anunciou Zucula, Viegas e Zimba?). A nenhum foram arbitradas medidas especiais de coação, que se saiba publicamente - e o facto de Chang se movimentar à vontade até para o Dubai, epicentro de todo o escândalo das dívidas, parece ser disso evidência.
O comunicado da PGR foi tão tímido e defensivo ao ponto de não conseguir sequer confirmar se Chang era um dos seus 18 arguidos.
E nos crimes económicos, os riscos de dissipação do património, desarticulação das provas, comunicação entre os arguidos e até de fuga, são enormes.
Seguramente é esta falta consistência e coerência que não ajuda a angariar confiança dos cidadãos deste país e, já agora, das instituições dos outros países, na nossa Administração da Justiça.
O problema central neste caso näo é a falta de cooperação da América. Já é tempo de deixarmos de procurar no outro a razão do nosso insucesso. O problema é a ausência de coragem, perspicácia e arrojo das sucessivas lideranças do nosso Ministério Público, que se comportam como uma magistratura inerte, subserviente, burocratizada e burocratizante, que fogem ao confronto com as elites errantes deste país para garantirem uma reforma tranquila, quando abandonam os cargos.

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