quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Ossufo Momade será um líder completamente a mercê da ala militar


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Ainda não é claro se o novo Presidente da Renamo vai continuar a residir na serra, mas é provável que isso venha a acontecer, o que confirmará que os generais são quem tem a voz no comando. Ou seja, Ossufo Momade será um líder completamente a mercê da ala militar, numa etapa crucial da história do movimento, nomeadamente a da sua transformação em partido político não armado. Aliás, a sua eleição é também prova de que ele foi já “domesticado” por esse generalato.
Originário de Nampula e de etnia macua, também antigo membro do exército governamental antes de transitar para a Renamo nos anos 80, em Maio, quando chegou à Gorongosa para assumir a pasta interina, Momade era ainda olhado sob certa desconfiança e seus passos milimetricamente teleguiados, como se viu quando em Junho foi frustrado um encontro com o PR Filipe Nyusi na Beira. Apesar de ter o ar de durão, Ossufo Momade não tem o carisma e a espontaneidade de Dhlakama.
Mas a escolha dos militantes da Renamo não terá sido para encontrar o candidato que mais se parecesse com o antigo líder (por aí, a preferência talvez recaísse sobre Elias Dhlakama).
Foi claramente para encontrar quem tinha credenciais firmes de “open mindedness”, alguém capaz de ouvir e dialogar, fazer pontes entre as várias franjas de opinião interna e sobretudo garantir uma convergência entre as chamadas ala política e militar da Renamo.
“Momade já é deputado há muitos anos e também um general de mão cheia”, recordou um analista político, realçando que ele era a figura ideal para conduzir a transformação final da Renamo num partido político completamente descasado do seu ADN bélico. Um dos grandes desafios internos de Momade é assegurar que a Renamo não se parta entre a corrente que votou em si e os “dhlakamistas” (onde se destaca a aguerrida deputada Ivone Soares e também António Muchanga), apoiantes de Elias Dhlakama, que arrecadou quase metade dos votos, demonstrando um grande nível de respeitabilidade interna.
Os "dhlakamistas" preferiam Elias como a figura que podia fazer apelo ao carisma do irmão, mais através do apelido e das parecenças físicas e menos por sua nunca provada postura e capacidade de liderança. Elias foi olhado sob desconfiança. Viveu integrado no exército governamental saído de acordo de Paz de Roma de 1992 e esteve sempre afastado da luta política da Renamo nos últimos anos.
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Comentários
  • Egidio Vaz Excelente comentário Marcelo Mosse. E excelente análise. Isso é análise, não mero comentário.
  • Joao Mazivila Antonio Parabéns, ele mereceu a confiança dos membros
  • Samuel Simango Uma análise acertada
  • Francey Zeúte Excelente analise. parece-me de facto o desafio de Ossufo é impedir que a Renamo se fracture entre os pro Elias Dhlakama e os do seu lado. Um congresso sem muito alaridos pode significar que a Renamo está concentrada para voos mais sérios em virtude também da impopularidade da Frelimo. Vamos aguardar.
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  • Tirso Sitoe "Ainda não é claro se o novo Presidente da Renamo vai continuar a residir na serra, mas é provável que isso venha a acontecer, o que confirmará que os generais são quem tem a voz no comando"... Marcelo Mosse penso que aqui levantas um ponto para que os jornalistas que encontram-se na Serra, possam questionar ao novo líder da RENAMO sobre sua preferência em termos de residência para poder comandar o barco.
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  • Caido Zubaida Zubaida Uma escolha bem merecida. A RENAMO só podia ter o Issufo como lider isto porque ele mostra um equilíbrio entre a ala militar e os não militares. Assim como é uma figura capas de enfrentar a FRELIMO em benefício da democracia no pais assim como do povo moçambicano. (ZUBA "S).
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  • Milagre Paulo Valeriano Manuel Bissopo voltou a perder,devia deixar o cargo de secretario geral a disposição para o bem dele e um ponta de lança que não marca desde beira
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  • Da Cruz Temos um longo e penoso caminho neste país, por causa das conotações tribais e étnicas que damos à estas coisas.
    Não que não seja verdade ou necessário mas assusta sempre que fazemos referências a esse aspecto. África está longe de se livrar dessas linhagens e muito mais longe de analisarmos se ele é liberal, dá direita ou esquerda (tudo a nossa maneira claro).
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  • Marino Soma Muito boa analise estimado MM, mas essa transição é necessária sempre com os 2 olhos bem abertos....
  • Marino Soma Quando se fala quem quem manda são os generais....do outro lado, na frente, o lema é o mesmo só muda o nome....antigos combatentes
  • Solomone Manyike Parabens aos congressistas!
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  • Carlos Dick Pascoal Que futuro se reserva para o atual secretario geral da Renamo?
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  • Rildo Rafael ADN bélico e característica dos moçambicanos...Marcelo Mosse...Issufo Momad é escolha dos guerilheiros ou dos membros?
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  • ID Eddy A espada de Dâmocles a sibilar na voz de EV.
  • Carmona Uanicela A eleição de Ossufo Momad, é uma vitória para Renamo na medida que passa de um partido tribal para partido nacional.....
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A qualquer momento saber-se-á o resultado da contenda eleitoral da Renamo de ontem ao fim da tarde. Só não se sabe até agora porque os cerca de 25 jornalistas que estão a cobrir o Congresso haviam deixado a serra da Gorongosa no final de manhã de ontem, por volta das 11 horas, para se concentrarem na vila-sede, que dista uns 24 km. A partir das 11, o Congresso prosseguiria à porta fechada e só por volta das 17/18 horas é que o processo eleitoral começaria.
Mas ao meio da tarde começou a chover torrencialmente e a via para a serra, de terra batida, esburacada e atravessando riachos, ficou impedida. Ninguém conseguiu regressar. Por outro lado, lá do alto da serra falar por telefonia móvel é um martírio. Só com sorte se consegue encontrar um bocado de rede. Esta manhã, um dos jornalistas presentes na caravana disse-me que eles já estavam de abalada para a serra. Portanto, a qualquer momento saber-se-á quem é o novo Presidente da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique.
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