O capitão do Exército brasileiro na reserva e ex-deputado Jair Bolsonaro, de 63 anos, é a partir de hoje o Presidente da República Federativa do Brasil. Pelo menos uma dúzia de chefes de Estado e de Governo estão presentes. Entre eles estão o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e presidentes latino-americanos como Evo Morales (Bolívia), Ivan Duque (Colômbia), Sebastián Piñera (Chile), Juan Orlando Hernández (Honduras), Mario Abdo Benitez (Paraguai), Martin Vizcarra (Peru), e Tabare Vazquez (Uruguai).
Estiveram também presente o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, o primeiro-ministro do Marrocos, Saadedine Othmani, e o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca.
Momentos antes do início da cerimónia de tomada de posse, Bolsonaro partilhou um vídeo na rede social Twitter, no qual agradeceu o apoio ao seu trabalho e onde afirmou que pretende “mudar o destino” do Brasil.
Eleito em Outubro, na segunda volta, com o lema conservador “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, Jair Messias Bolsonaro, de extrema-direita, assume a pretensão de liderar um movimento conservador no maior país da América Latina, centrado na defesa da ordem civil inspirada na cultura militar, da moral cristã e no liberalismo económico.
Chamado de “mito” e “herói” pelos seus apoiantes e de “perigo para a democracia” por críticos e adversários, Bolsonaro está na política brasileira há 28 anos e, antes de vencer as presidenciais em 2018, foi eleito deputado (membro da câmara baixa) sete vezes consecutivas, sem nunca ter ocupado um cargo importante no parlamento.
Capitão do Exército reformado e defensor da ditadura militar – regime que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985 -, o novo Presidente brasileiro iniciou a carreira política como uma figura caricata de posições extremas e discursos agressivos em defesa da autoridade do Estado e dos valores da família cristã.
Bolsonaro é favorável ao porte livre de armas e defende que o combate à violência no Brasil, país que atingiu a marca de 63.800 homicídios em 2017, deve ser feito de forma violenta pela polícia.
Na política externa não nega inspirar-se no Presidente dos Estados Unidos da América, sendo notória a aproximação a Donald Trump, que já o convidou para uma visita oficial a Washington e que se faz representar na cerimónia de hoje, na capital brasileira, pelo secretário de Estado, Mike Pompeo.
Entretanto, o Partido dos Trabalhadores (PT), que governou o Brasil entre 2003 e 2016, o Partido Socialismo e Liberdade e o Partido Comunista boicotam a tomada de posse do novo Presidente brasileiro.
Os três partidos de esquerda, de oposição a Bolsonaro, tornaram público que os deputados eleitos por aquelas forças políticas não estarão presentes na cerimónia, em Brasília.
O PT, que teve como primeiro candidato Lula da Silva – antigo Presidente brasileiro e actualmente a cumprir uma pena de prisão – e depois Fernando Haddad, que colocou em causa o processo eleitoral depois de apurados os resultados, o Partido Socialismo e Liberdade e o Partido Comunista do Brasil têm 75 dos 513 deputados na Câmara Baixa.
É Presidente? Então é bestial
O embaixador do Brasil em Angola, Paulino Carvalho Neto, afirmou no passado dia 29 de Outubro que, com a mudança de Presidente, a política brasileira para Angola e para África vai manter-se, recusou a existência de partidos extremistas no país e negou que Jair Bolsonaro “seja fascista”. Pudera!
Numa conferência de imprensa na missão diplomática em Luanda, destinada a esclarecer dúvidas sobre o processo eleitoral brasileiro e o que será o futuro das relações do Brasil com África, Paulino Carvalho Neto assegurou que a ligação com Angola não será alterada e garantiu que as 35 embaixadas brasileiras em África continuarão a trabalhar em prol do desenvolvimento.
“As relações com Angola continuam e continuarão intensas e tradicionais. Já cooperamos com Angola em diversas frentes, na cooperação técnica, na saúde, na educação, além das relações comerciais, que são intensas, sem falar nas culturais, pois temos o Centro cultural Brasil-Angola em Luanda”, afirmou Paulino Carvalho Neto, embaixador em Angola desde Novembro de 2016.
Questionado sobre se a política brasileira para África, lançada pelo antigo presidente Luís Inácio Lula da Silva, estaria em perigo com a mudança de chefe de Estado, Paulino Neto disse que nada irá mudar.
“Não, de modo algum. O Brasil mantém e manterá relações intensas com todos os países. Temos uma prioridade básica inicial, como Angola tem aqui com os países da África Austral e subsaariana, [que é desenvolver as relações comerciais] na América do Sul. Mas mantemos e manteremos relações intensas com todos os países africanos”, disse, lembrando a rede de 35 embaixadas em África, que vai manter-se.
Sobre a política interna brasileira, Paulino Neto considerou “equivocados” os que pensam que o Presidente eleito está ligado à extrema-direita ou que é “fascista”.
Claro que não. Prova disso é que, por exemplo, as acções da maior fabricante de armas leves da América Latina, a brasileira Forjas Taurus, valorizaram 326,6% desde durante a campanha eleitoral de 2018. Além disso, ninguém com um longo e reiterado histórico de declarações racistas, misóginas e homofóbicas poderia ser fascista.
“No Brasil não há extrema-direita nem extrema-esquerda. Há partidos conservadores de direita e partidos de esquerda. O Presidente eleito é um liberal conservador, não é um político de extrema-direita, ao contrário do que muitas vezes é dito, equivocadamente”, sublinhou o embaixador Paulino Carvalho Neto, esperançado que as suas declarações cheguem ao seu novo patrão, Jair Bolsonaro.
“Como também o Partido dos Trabalhadores (PT) não é um partido de extrema-esquerda, é um partido de centro-esquerda e de esquerda nalguns momentos. Essa tendência de alguns sectores da opinião pública e de alguns meios de comunicação social verem aí algum extremismo parece-me absolutamente inadequada e não corresponde à realidade”, acrescentou o funcionário do Ministério das Relações Exteriores há cinco anos.
Para o diplomata brasileiro, Jair Bolsonaro já indicou que irá adoptar uma política liberal e privilegiar a iniciativa privada, facto que os analistas económicos afirmam que “poderá fazer crescer ainda mais” a economia brasileira, criando riqueza, emprego e mais investimentos. Crescimento esse que, refira-se, será ainda maior se conseguir implementar as suas políticas racistas, misóginas e homofóbicas mas que – é claro – não são fascistas mas, apenas e só, típicas (segundo o embaixador) de um “liberal conservador”.
“E isso tem também um efeito externo, pois as empresas brasileiras que estão presentes noutros países poderão investir mais”, sublinhou.
Sobre as acusações de “fascismo, xenofobia e racismo” feitas a Bolsonaro, o embaixador brasileiro afirmou tratar-se de uma visão “absolutamente equivocada”.
“Acho uma visão absolutamente equivocada essa ideia de usar a expressão `fascismo` sem saber exactamente do que se trata. Historicamente, o fascismo não foi isso e o Presidente eleito Bolsonaro está muito longe disso. É uma opinião, respeitável, mas equivocada. O discurso e a campanha política que [Bolsonaro] se fez no Brasil não corresponde a essas qualificações. É uma opinião que terá de estar baseada em facto, e os factos não favorecem essa opinião”, referiu.
Mourão, mais um “liberal conservador”
S egundo a publicação brasileira Exame, o general na reserva António Hamilton Mourão, vice do presidente Jair Bolsonaro, construiu a sua recente carreira política com ameaças de golpe de Estado e projectos de convocatória de assembleias constituintes sem o voto popular, bem como comentários racistas e ode à tortura. Tudo, reconheça-se, mais-valias próprias de um “liberal conservador”.
Mourão, de 65 anos, começou a ganhar notoriedade com a sua defesa da ditadura (1964-1985). Em 2015, criticou o governo e a “classe política”, o que lhe custou o comando da sua tropa e a transferência para um cargo burocrático.
Ocupou as manchetes em 2017 quando, num evento organizado por uma loja maçónica, advertiu que se as instituições não “resolverem o problema político (…), nós [os militares] teremos que impor isso”.
Três meses depois, em Dezembro, afirmou que o impopular presidente Michel Temer tentava permanecer no cargo até o final de seu mandato por meio do clientelismo político.
A opinião fez com que ele perdesse o seu novo cargo e em Fevereiro deste ano, após 49 anos nas Forças Armadas, pediu para ir para a reserva.
No seu discurso de despedida, descreveu como “herói” o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi, centro de detenção e tortura do regime militar.
Folha 8 com Lusa
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