A PGR pode ter caído numa armadilha processual sem saída com a prisão de Manuel Chang
No debate de ontem na STV, o meu amigo e ilustre Elísio de Sousadesarmou os meus pensamentos. Tiro chapéu por ter sido um dos poucos juristas a alcançar o que considero essencial deste caso, fora do populismo das vuvuzelas. Antes da prisão de Manuel Chang, conforme dissemos, a PGR tinha desenhado uma estratégia visando a protecção de todos os envolvidos para assegurar a sua impunidade e, o processo 01/2015 não tinha pernas para andar. Com a intervenção dos americanos e a prisão de Manuel Chang, a PGR ficou baralhada e se viu obrigada a dar andamento àquele processo e, na tentativa de continuar a proteger aos envolvidos dos tentáculos da justiça americana, constituiu-os arguidos. Processualmente muito óbvio e denunciado o que a PGR fez, mas não o mais inteligente e agora é que pode ter, real e irremediavelmente, comprometido a protecção daqueles cidadãos pois, mostra não ter uma estratégia processual consistente uma vez que, ao tentar ganhar Manuel Chang perde e expõe todos os 18. Isso é muito bom para o povo.
Manuel Chang pode ser extraditado ou solto, essa não é questão essencial deste caso. O que importa agora é que ele já foi usado e a PGR engoliu o anzol todo com a sua prisão e está processualmente exposta e fragilizada, dependendo da capacidade de pressão e vigilância da sociedade civil organizada em fazer o aproveitamento dessa situação ímpar a seu favor. É que, processualmente, da mesma forma que os 18 foram misteriosamente constituídos arguidos, podem ser milagrosamente inocentado por um despacho de abstenção vindo às ocultas da PGR. O que fazer?
Não basta extraditado Manuel Chang para termos um sistema judicial operante e se fazer justiça aqui e na América. Há outros crimes e interesses nacionais que a acusação americana não cobre. Se queremos justiça, a sociedade civil deve aproveitar a brecha que se pensa ser protecção dos 18 e requer a constituição em Assistente nesse processo para controlar e influenciar o processo daqui pois, para além de Manuel Chang, existem outros 17 arguidos por responsabilizar e congelar os seus bens de modo a recuperar os activos e ressarcir ao povo. Se esse TPC não for feito a nível interno pela sociedade civil, mesmo com o apoio dos americanos, de nada valerá extraditar Manuel Chang pois, a PGR nunca deixará de proteger os seus 17 e os americanos não mais poderão alcancá-los.
Para além de vuvuzelas para o povo aplaudir, é preciso usar a cabeça para trazer soluções que resolvam os problemas e não andar a agitar o povo só. Direito não é feitiçaria, é preciso desenhar uma estratégia para ludibriar o adversário.
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