quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

México abandona mediação no diálogo após convocatória de eleições

Venezuela. 

Após a decisão de Caracas de convocar eleições presidenciais até finais de abril, o México decidiu abandonar a mediação no diálogo entre Governo e oposição porque considera a situação "lamentável".
Presidency of Venezuela/EPA
O México anunciou esta quarta-feira que abandona a sua participação como mediador no diálogo entre o Governo venezuelano e a oposição, após a decisão de Caracas de convocar eleições presidenciais até finais de abril.
“A decisão do Governo venezuelano de realizar eleições no primeiro quadrimestre do ano é incompatível com o diálogo na [República] Dominicana. A data da eleição era uma das coisas mais importantes que aí se negociavam e não se tinha chegado a um acordo a esse respeito”, anunciou, através do Twitter, o ministro dos Negócios Estrangeiros mexicano.
Luis Videgaray considerou que o anúncio “é lamentável porque acaba com a seriedade do processo de negociação” em curso na República Dominicana. “Em consequência, o Governo do México retira-se deste processo”, disse o chefe da diplomacia mexicano.
Na mensagem, o executivo mexicano sublinhou o seu “maior reconhecimento” ao Presidente Danilo Medina e ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Miguel Vargas, da República Dominicana, por “convocar e conduzir de boa-fé o processo de negociação no seu país, em busca da reconciliação democrática na Venezuela”.
Luis Videgaray afirmou ainda que, apesar de se retirar do atual processo de negociação, o México “continuará a desenvolver todos os esforços diplomáticos possíveis para contribuir para que na Venezuela se restaure a democracia pela via pacífica e conforme decidam os venezuelanos”.
O Chile, o Paraguai e a República Dominicana são também mediadores no processo de diálogo entre o Governo venezuelano e a oposição. A Assembleia Constituinte da Venezuela, composta unicamente por apoiantes do Presidente, Nicolás Maduro, aprovou na terça-feira um decreto a convocar a realização de eleições presidenciais até ao próximo dia 30 de abril.
A aprovação, “por aclamação”, teve por base uma proposta do deputado e vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela, Diosdado Cabello. “É uma proposta que tem muito a ver com a pátria, com o amor a esta pátria”, vincou Diosdado Cabello.
O decreto aprovado será remetido ao Conselho Nacional Eleitoral, a quem cabe fixar a data das próximas eleições presidenciais, nas quais Nicolás Maduro deverá ser novamente candidato à Presidência da República.
A 18 de janeiro último, a aliança opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) suspendeu a sua participação no processo de diálogo com o Governo venezuelano, acusando o ministro do Interior da Venezuela, Néstor Reverol, de declarações “falsas e irresponsáveis”.
“Não haverá reunião da comissão de diálogo”, disse Henry Ramos Allup, secretário do partido Ação Democrática. Néstor Reverol afirmou que a localização do ex-polícia rebelde Óscar Pérez, assassinado a 15 de janeiro, foi possível graças à colaboração dos opositores que participavam no diálogo.
“Como podemos participar numa reunião quando o próprio Governo mente descaradamente e compromete quem assistirá a essa reunião”, questionou Henry Ramos Allup. Na operação policial, faleceu o ex-polícia rebelde e piloto de helicóptero Óscar Pérez, além de seis pessoas que o acompanhavam e dois alegados agentes.
“Apesar das tentativas para conseguir uma solução pacífica e negociada, este grupo terrorista fortemente armado, iniciou, de maneira mal-intencionada, um confronto com os organismos de segurança atuantes”, disse o ministro durante uma conferência de imprensa em Caracas, onde precisou que faleceram ainda dois polícias.
As declarações do ministro contrastam com imagens de vídeos divulgados através da Internet em que Óscar Pérez denuncia que pretendiam assassiná-lo. Num dos vídeos ouve-se Pérez chamar a atenção para a existência de civis e pedir aos militares que não disparem porque vai entregar-se.
A operação continua a ser referida como “um massacre” por várias organizações não-governamentais venezuelanas, que denunciam que foi inclusive usado um tanque de guerra militar para atacar a casa onde se encontravam os suspeitos.
O ex-inspetor Óscar Pérez era acusado de, em junho de 2017, ter usado um helicóptero do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (CICPC, antiga Polícia Técnica Judiciária) para disparar vários tiros contra a sede do Ministério do Interior e Justiça e arremessado quatro granadas contra o Supremo Tribunal de Justiça, que não causaram vítimas.
Era também acusado de, a 18 de dezembro, ter liderado um grupo de 49 homens que assaltou um comando da Guarda Nacional Bolivariana (GNB, polícia militar), de onde roubaram armas e munições e manietaram vários oficiais, em Laguneta de La Montaña, a sul de Caracas. Em nenhum caso houve vítimas.

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