Ocorre-me fazer as seguintes perguntas:
1. Por que Moçambique, com cerca de 36 milhões de hectares de terra arável e condições agro-ecológicas para o cultivo de maioria das espécies de plantas terrestres, incluindo boa disponibilidade de água para irrigação de campos agrícolas, não está sendo capaz de produzir alimentos suficientes para o consumo das suas populações, e depende da importação de cereais, principalmente de arroz e trigo?
2. Por que Moçambique, com vastas reservas de floresta nativa, incluindo espécies de plantas produtoras de madeira de excelente qualidade, e também de plantas medicinais, não tem indústria da madeira e fibra e outros produtos florestais, incluindo medicamentos, e depende quase exclusivamente de importação de medicamentos e de mobiliário doméstico, escolar, hospitalar e de escritório, ao mesmo tempo que exporta madeira em toros?
3. Por que Moçambique, com largas reservas naturais de carvão mineral e de quantidades bastantes de minérios de ferro, alumínio, crómio e urânio, entre outros, não está sendo capaz de desenvolver indústria siderúrgica e metalomecânica?
4. Por que Moçambique, com largas reservas naturais de hidrocarbonetos (carvão mineral, gás natural e petróleo), está a recorrer à exportação destes recursos energéticos e matérias-primas para a indústria petroquímica, e não tem planos claros para o desenvolvimento da sua própria indústria transformadora, incluindo a indústria química e de medicamentos?
5. Por que Moçambique, com a longa, extensa e altamente produtiva costa marítima, de cerca de três mil quilómetros, não está a desenvolver a sua indústria de captura e transformação de pescado em produtos alimentares, medicamentos, e outros produtos do mar?
6. E, por fim, por ondem andam e o que estão fazendo os graduados e pós-graduados moçambicanos nas diversas especialidades científico-técnicas, formados ao longo dos mais de 40 anos de independência nacional?
Ora, estou a pensar ser tempo de o Presidente da República, Filipe Nyusi, fazer o seguinte:
1. Convocar todos os—ou amostras bem representativas dos—graduados e pós-graduados moçambicanos das diversas especialidades científico-técnicas, residentes no país ou na diáspora, para lhes fazer as primeiras cinco perguntas colocadas acima e ouvir as suas respostas;
2. Solicitar que cada grupo de especialistas sugira caminhos para a melhor valorização dos seus conhecimentos e experiências pelo Estado moçambicano, em benefício da própria classe e da sociedade; e
3. Orientar os ministérios competentes a elaborar programas para a materialização das ideias recolhidas, com a participação activa dos autores dessas ideias.
Esta é a opinião que tenho, decorrente do facto de ter comigo que agindo da maneira descrita nos três pontos de acção precedentes, o desenvolvimento de Moçambique pode ser, efectivamente, melhor orientado e acelerado. As "conferências de especialistas" propostas na acção 1 acima poderiam constituir-se em embriões de associações de produtores de soluções para a aceleração do desenvolvimento integrado e sustentável de Moçambique. As acções 2 e 3 jogariam um papel importantíssimo no desenvolvimento e valorização conteúdo local em Moçambique.
Basta de sermos uma República de dependentes, quando há por aqui tudo o que é preciso para sermos auto-suficientes naquilo que podemos ser. O mercado moçambicano tem que ser desenvolvido por moçambicanos. Eu quero usar pasta dentífrica fabricada em Moçambique, contendo essências de "mulala"; quero que as plantas medicinais que ocorrem em Moçambique sejam transformadas em medicamentos comercializáveis; quero que os hidrocarbonetos (carvão, gás e petróleo) moçambicanos sejam usados como matérias-primas das indústrias energética e petroquímica moçambicanas; quero que as pedras preciosas moçambicanas façam nascer a indústria de joalharia moçambicana; quero que fauna moçambicana faça nascer a indústria moçambicana de curtumes; quero que a agricultura, a pecuária e as pescas moçambicanas façam nascer a indústria de alimentos moçambicana; enfim, quero que os recursos naturais e humanos de Moçambique sejam explorados e usados nas suas extensas cadeias de valor para o desenvolvimento integrado, efectivo e sustentável de Moçambique. Isto não é impossível. Aliás, é bem possível. Mas requer boa vontade, boas políticas públicas—que temos—e escrupulosa aplicação dos princípios de gestão, que muito tem faltado aos moçambicanos.
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