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Escrito por Adérito Caldeira em 15 Março 2017 |
A jovem dona de casa e mãe de três filhos já havia tido malária em Novembro passado, na altura fez o tratamento normal e ficou curada. Há alguns dias a fraqueza voltou, a febre também e muito alta e até tinha alguma dificuldade em respirar. “Parecia uma gripe forte, o tempo muda todos os dias e por causa da rede(mosquiteira) dormimos com as portas um pouco abertas para apanhar fresco” contou-nos. Porém no segundo dia já nem levantar conseguia para a lida da casa, teve de ser levada pelo marido às costas para o posto de saúde. Não foi internada, porque camas vagas não existiam, mas lembra-se que o profissional de saúde que a atendeu pensou em aplicar-lhe uma dose intravenosa de quinino. Acabou por levar uma receita de comprimidos, quininos, que correspondem a chamada “terceira linha de tratamento” e é receitada para os casos de malária grave. “Pelo menos este ano ainda só fui eu que apanhei”, desabafa Arcina revelando que nos anos anterior até os mais pequenos não escaparam à “mosquita”, mas “temos sobrevivido”. Esta família de baixa renda, que habita uma casa de paredes de adobe com cobertura de zinco, tem uma casa de banho não convencional num bairro onde o saneamento não existe, por isso convive com charcos e outros focos de proliferação de mosquitos, pode-se considerar exemplar. A residência foi visitada durante a última campanha de pulverização intra-domiciliária, que segundo o Governo aconteceu em 774.379 casas em todo o País, 55.785 na província de Nampula. O casal possui três redes mosquiteiras impregnadas com inseticida de longa duração, recebidas numa das campanhas de 2015, portanto dentro do prazo de 3 anos de validade. Entretanto, embora o Ministério da Saúde indique no balanço do Plano Económico e Social que 3.536.539 redes mosquiteiras impregnadas com inseticida de longa duração foram distribuídas apenas em Nampula só no ano passado, a província continua a liderar os casos notificados de malária com cerca de 250 mil desde Janeiro, ainda assim menos casos do que em igual período do ano passado.
Casos de malária tendem a diminuir mas Moçambique continua a ser um dos mais afectados no mundo
Um
relatório anual da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o
paludismo, divulgado em finais do ano passado, estima que em Moçambique
houve uma redução de casos de malária entre 2010 e 2015, assim como da
sua letalidade graças ao uso da rede mosquiteira e a pulverização
intra-domiciliária. No início da década o número da casos notificados
rondava os 9,3 milhões e o total de mortos era de 18 mil e cinco anos
depois foram registados 8,3 milhões de novos casos e cerca de 15 mil
mortos.
Ainda assim o nosso País é um dos mais flagelados pela “mosquita” Anopheles no mundo, apenas atrás da Nigéria, República Democrática do Congo, Índia e Mali.
As
autoridades da Saúde indicam que a malária é a causa de 40% das
consultas externas, de 60% dos internamentos de crianças e de 30% das
mortes que ocorrem nas unidades hospitalares de Moçambique.
Além
disso um estudo do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça,
publicado em 2015 na revista científica Malaria Journal, revelou que os
mosquitos que transmitem malária mostraram-se extremamente resistentes
ao principal tipo de insecticidas usado. Apenas 5 a 20% dos mosquitos
Anopheles funestus, existentes no distrito de Manhiça, morriam ao fim de
uma hora de exposição à dose de piretróides recomendada pela OMS. Para
conseguir matar 50% dos mosquitos, os investigadores tiveram de os pôr
sobre uma rede mosquiteira com insecticida durante seis horas, mas numa
situação normal os mosquitos nunca ficam tanto tempo parados sobre a
rede.
Na altura o estudo referiu que o
“Programa Nacional de Controlo da Malária de Moçambique está actualmente
a melhorar o seu programa de monitorização da resistência, para
conceber e dimensionar novas estratégias de gestão. Estas acções são
urgentemente necessárias, uma vez que o objectivo do Programa Nacional
de Controlo da Malária e dos seus parceiros é alcançar a eliminação no
sul de Moçambique até 2020”.
A cidade e
província de Maputo têm os menores números de casos notificados de
malária. Não foi possível apurar se existe alguma meta para erradicar a
malária em todo o País.
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quarta-feira, 15 de março de 2017
Malária matou 288 pessoas e infectou mais 1,4 milhão em Moçambique, em menos de três meses
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