quinta-feira, 2 de março de 2017

Escândalo de espionagem russa assola Trump mais uma vez



Secretário de Justiça se encontrou com o embaixador russo durante cibercampanha do Kremlin

Jeff Sessions no Senado AP
O incêndio russo em torno de Donald Trump se acende de novo. As investigações sobre as supostas conexões entre a equipe do presidente e o Kremlin avançam com velocidade maior do que os contra-ataques lançados pelo republicano. As labaredas mais recentes foram acrescentadas na noite passada, quando o The Washington Post revelou que o atual secretário de Justiça, Jeff Sessions, falou duas vezes com o embaixador da Rússia nos EUA, Sergei Kislyak, em plena campanha eleitoral. Uma dessas conversas se deu em setembro no próprio gabinete do então senador Sessions, coincidindo com o momento mais forte do ciberataque do Kremlin contra o Partido Democrata.
O secretário de Justiça está agora encurralado. À noite, ele negou ter tido qualquer contato com algum funcionário russo “para falar sobre assuntos da campanha” e disse que os encontros que aconteceram se limitaram a questões relacionadas às suas tarefas como membro do Comitê de Serviços Armados. Em seus depoimentos no Senado, porém, quando foi sabatinado para poder ocupar o posto atual, ele se esquivou, em suas respostas, ao abordar essas conversas. Ao ser questionado sobre o que ele teria feito se soubesse da existência de alguma ligação de algum membro da campanha de Trump com o Kremlin, ele respondeu: “Não tenho conhecimento de nenhuma dessas ações. Não tive nenhum contato com os russos”.
O golpe ameaça ser devastador. Há três semanas, uma conversa com Kislyak levou à demissão do conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, homem de confiança de Trump e ideologicamente muito próximo do estrategista-chefe, Steve Bannon. A queda do general, que não revelou o conteúdo daquele encontro nem mesmo ao vice-presidente do país, inaugurou uma crise que se agudizou com a descoberta, poucos dias depois, de que outros membros da equipe de campanha de Trump tinham mantido uma série suspeita de contatos com agentes da inteligência russa.
A possibilidade, não demonstrada, de que o ciberataque russo tenha sido realizado com conhecimento da equipe do multimilionário gerou pânico na Casa Branca. Trump o negou com veemência e, colérico, desencadeou uma verdadeira guerra contra os meios de comunicação que estão à frente das investigações, o The Washington Post e o The New York Times, aos quase acusou de serem “inimigos do povo”.
A gravidade dos fatos e a convicção dos próprios serviços de inteligência norte-americanos de que o Kremlin se engajou profundamente nos esforços para derrotar Hillary Clinton colocaram o país diante de um cenário inédito. Crescem a cada dia as possibilidades de que o escândalo deriva para uma explosão fora do controle. O FBI e o Senado decidiram abrir investigações. E a comissão de inteligência da Câmara dos Representantes, com apoio de republicanos e democratas, chegou a um acordo na noite desta quarta-feira para iniciar as suas próprias investigações e focá-las no ponto nevrálgico do caso: “investigar as acusações de conluio entre os russos e a campanha de Trump”.
Em termos jurídicos, o envolvimento de Sessions no caso pode colidir com essas investigações. Sendo ele responsável pelo Departamento de Justiça e pelo FBI, sua permanência no cargo pode contaminar e até mesmo alterar as averiguações em andamento. Além disso, caso os indícios existentes contra ele tenham consistência suficiente para tanto, Sessions teria de ser interrogado pelos seus próprios agentes, o que aumentaria ainda mais a contradição.
Qualquer que seja o rumo do caso, Trump volta a estar acuado. A queda de Flynn mostrou que não existem muros altos o suficiente para poupá-lo. E o presidente sabe que os serviços de inteligência não confiam nele. Seus elogios constantes a Vladimir Putin e seu apelo, em plena campanha, a que se continuasse a entrar nos e-mails de Hillary Clinton acenderam o sinal. O então candidato estava estendendo a mão para um país rival que interferia no processo eleitoral para beneficiá-lo. O resultado desse comportamento, segundo o The New York Times, foi o de despertar entre os altos funcionários da área de inteligência de Obama a necessidade de que esses vínculos viessem a público, tanto para conter a intervenção do Kremlin quanto para garantir que, com Trump na Casa Branca, as investigações não fossem interrompidas. Esse objetivo começa a ser atingido.

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